Conviria que FHC não pedisse hoje de Dilma a grandeza que lhe faltou em um episódio crucial de sua trajetória política
Em janeiro de 1997, três anos depois da posse de Fernando Henrique Cardoso no Planalto, a Câmara dos Deputados aprovou a reeleição do presidente da República, governadores e prefeitos. Para entrar em vigor já no pleito seguinte, em cada caso. Em junho do mesmo ano, o Senado ratificou a decisão. Como tanto se disse à época, mudaram-se as regras no meio do jogo.
Entre uma votação e outra, a Folha revelou que dois deputados acreanos do PFL (hoje DEM), Ronivon Santiago e João Maia, receberam R$ 200 mil cada um para votar pela reeleição. Expostos, renunciaram.
No ano passado o jornalista Fernando Rodrigues lembrou que “dezenas de congressistas teriam participado do esquema. Nenhum foi investigado pelo Congresso nem punido.”
Fernando Henrique Cardoso, que nesta segunda-feira (17/8) cobrou da presidente Dilma Rousseff um “gesto de grandeza” — ou renunciando, ou confessando “em voz franca” que errou — não teve a grandeza de renunciar à disputa do segundo mandato a que passou a ter direito em meio a uma maracutaia.
Nem jamais admitiu que isso tenha sido em erro. Apenas em 2007, acossado numa sabatina, reconheceu — a contragosto — que “provavelmente” houve compra de votos pela reeleição. Mas negou, agora sim em voz franca, que o governo federal, o PSDB ou “muito menos” ele próprio tenham tido parte com a armação.
Armação da qual, de toda forma, ele foi o beneficiário por excelência. E em relação à qual, ainda que não tivesse movido uma palha para desencadeá-la, tinha o “domínio do fato”, como diria o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, ao condenar José Dirceu no julgamento do mensalão sem provas específicas.
Conviria, portanto, que FHC não pedisse hoje de Dilma a grandeza que lhe faltou em um episódio crucial de sua trajetória política.
Quanto mais não seja, porque ainda falta demonstrar que também ela se reelegeu na esteira de um malfeito.