Já se vão mais de 2.000 milhões de hectares no Pantanal Matogrossense. Os números da Transpantaneira, Amazônia, Rondônia, Pará e Goiás, se combinados, ultrapassam os 4 milhões de hectares facilmente. Pará, Amazônia e Pantanal somam 60% de todo o fogo no Brasil sendo o Pantanal o bioma mais afetado com 5.935 focos. Os números de focos de incêndio do Pará já superam os do ano passado com quase 30.000 focos, mas o Pantanal sofre mais por ser um território 36 vezes menor.
A Marinha do Brasil, o IBAMA, ICMBio e o corpo de bombeiros tentam conter os focos de incêndio que se concentram na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) próxima do Sesc, na Transpantaneira e em Porto Jofre que fica na fronteira do Mato Grosso com o Mato Grosso do Sul e em Barão de Melgaço. Essas instituições, juntas, vêm tentando no dia a dia da batalha contra o fogo, articular de forma inteligente ações que reúna suas expertises, mas sempre batem de frente com o mesmo problema: o Governo Federal. Mais precisamente o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que já deixou clara sua posição de alinhamento com os interesses dos latifundiários e fazendeiros locais, responsáveis por praticamente toda a queimada e fogo que consome o Pantanal.
O Governo Federal mente ao dizer que o fogo é natural, que existe um contingente de 2.000 homens e mais de 70 aeronaves no apoio ao combate.
Na semana que passamos no Sesc Pantanal visitando o aeródromo do Sesc para acompanhamento de ações, apenas dois helicópteros faziam sobrevoo de reconhecimento nas áreas citadas. Um helicóptero esquilo e um Black Hawk que apresentou problemas elétricos e teve de ser levado para o Aeroporto de Cuiabá em Várzea Grande. O bimotor do Corpo de Bombeiros ainda fazia sobrevoos de observação dos focos sob controle. Apenas duas aeronaves. Não um contingente de 70 como o Governo Federal anuncia em seu site oficial.
Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres
O Corpo de Bombeiros não pode dar informações oficiais por ordem federal e estadual, mas quando questionado em “off” não têm dúvidas quanto à origem das queimadas. É uma ação deliberada de abertura de pasto. Assim que o fogo sai do controle eles são chamados. E o fogo não pode ser controlado como o agronegócio acredita ser possível. Ele parece vivo. Pula de um lado da estrada para o outro lado dando continuidade à sua força.
Seu Joacir Crovis do Nascimento é do Município de Barão do Melgaço, mora próximo ao Rio Pirigara e foi chamado para trabalhar em uma das fazendas que, de acordo com os bombeiros, foi a responsável pelo início do foco agressivo que se iniciou no dia anterior do lado esquerdo da estrada e pulou para o outro lado. Ele conversou conosco:
“O Fogo parece que é vivo. Fica debaixo da terra dormindo, aí o pessoal taca gasolina, querosene pra abrir pasto e nem o aceiro resolve. Aí ele acorda e parece que tem raiva. Olha lá ele brigando.”
Seu Crovis aponta para a beira da estrada a uns trinta metros de nós e podemos ver a “raiva” do fogo. Uma labareda aparece como a força de um lança-chamas. O vento dá vida ao que o homem começou de forma criminosa.
Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres
É possível conseguir informação técnica sobre o Pantanal e as queimadas através do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Defesa, mas lá, no foco de tudo, onde a crise realmente acontece, é impossível. O medo de falar é visível e nem chega a ser algo que se faça esforço para esconder.
Pedimos para acompanhar uma equipe do ICMBio do Sesc Pantanal até o aeródromo e a resposta foi taxativa:
“Amigo. Se alguém souber que a gente falou com vocês ou com qualquer outra agência ou jornal a gente perde o emprego na hora e o nosso coordenador também cai. Não era nem pra eu estar trocando ideia aqui. Me desculpa. Por mim eu falava, mas não posso. Eu já falei até demais.”
A “Lei da Mordaça” é real. A exoneração do chefe de Assessoria de Comunicação (Ascom) do Ibama foi um aviso do Governo Federal. A exoneração da chefe da Ascom do ICMBio foi outro aviso aos servidores que colocam a vida em risco e que é um risco de morte de fato. Já aconteceu.
Um brigadista veio a óbito após ter 80% de seu corpo queimado em uma mudança de direção do fogo que o pegou desprevenido. Welington Fernando Peres tinha 41 anos e morreu tentando salvar animais em Chapadão do Céu em Goiás.
Welington, assim como seus companheiros brigadistas, não podia falar com a imprensa. O Governo Federal decretou dessa forma.
O que nós questionamos aqui é, quantos brigadistas, animais e casas precisaram pegar fogo para que o Governo admita que está jogando com a vida de seres humanos além de pôr em risco espécies endêmicas únicas da natureza e do bioma pantaneiro.
Quando a administração de Salles vai admitir que entrou em campo para perder?
Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres
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