por Raissa Ebrahim – Jornalistas Livres
Milhares de pescadoras e pescadores estão no limite da fome e da espera! O (des)governo Bolsonaro agora diminuiu o número de pessoas que terão direito a receber um auxílio de cerca de R$ 2 mil como “compensação” pelos mais de três meses sem vendas de peixes e crustáceos desde que o petróleo invadiu o litoral e o crime socioambiental segue impune. Isso porque o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento atualizou a lista das trabalhadoras e dos trabalhadores que vivem em municípios diretamente atingidos e que possuem o Registro Geral da Pesca (RGP), que não é atualizado desde 2012. O número caiu de 156 mil para 65 mil. Em Pernambuco, a queda foi de 7 mil para 4 mil pessoas, sendo que o estado tem 30 mil pescadoras e pescadores.
Parece um paradoxo, mas é real: as mais prejudicadas são as mulheres de lugares onde o petróleo não chegou. É isso mesmo! pescadoras de lugares como itapissuma, terra da caldeirada e da ostra, não terão direito a nada. Nada! Sendo que ninguém está vendendo, independente de onde pesca e onde vive. Nem o salmão, que vem do Chile, escapou, quem dirá o sururu e o marisco pescados localmente.
Enquanto isso, o governo Paulo Câmara segue empurrando o problema pra Brasília e para os parlamentares pernambucanos pra que pressionem o congresso pela aprovação de emendas que mudem esse quadro. Mas é preciso compartilhar a realidade: o Governo de Pernambuco não decretou situação de emergência, que permitiria acionar fundos específicos pra fazer o dinheiro chegar aqui, e também não chamou pescadoras e pescadores pra fazerem parte do comitê estadual de crise.
Por quê? A categoria quer respostas! E, enquanto elas não vêm, é o lobby do turismo quem tem falado mais alto. Se a vida de milhares de famílias, incluindo crianças e idosos, e os milhões de reais que a pesca movimenta anualmente não são argumentos plausíveis, então não sabemos mais o que vale e o que não vale. Enquanto isso, quem vive da pesca artesanal continua comendo o que vem do mar, porque não tem outra comida na mesa porque não há renda e os congeladores estão cheios de mariscos estocados.
Isso significa que, além da exposição ao petróleo, essas famílias estão sendo vítimas da insegurança alimentar e tendo a soberania alimentar e milenar sendo posta em risco. E não há sequer um sistema de monitoramento público permanente de saúde coletiva que olhe por pessoas, que oriente, que aconselhe, que colete, que produza um histórico pra daqui 10, 20 anos.
Se isso não te toca, se esse hino cantados pelas mulheres hoje na audiência pública na ALEPE não te faz repensar os rumos desse sistema, eu sinto muito por te dizer que você abandonou o senso de humanidade e deveria ser excluído da terra. A luta não é por dinheiro, não é por esmola. A luta é por direitos, é por segurança e por território. A luta de homens e mulheres das águas é pela própria história!