Hoje ocorreu em Heliópolis, Zona sul de SP, a Vigésima Primeira caminhada da Paz.
Há 21 anos morreu assassinada em frente a EMEF Campos Salles, onde estudava, a jovem Leonarda, de 16 anos. A partir desta grande tristeza a comunidade passou a se organizar para todo ano na data de sua morte percorrer as principais ruas do bairro com mensagens de paz.
Adeilva Delmonte, 43, cordenadora do Movimento dos Sem-Teto de Heliópolis a Caminhada é parte importante da história da região e tem papel de destaque na melhoria das condições do bairro desde o início dos anos 2000: “-Os moradores daqui não conseguiam arrumar emprego por que quando diziam que moravam em Heliópolis não se dava oportunidade. Aqui era muito perigoso, então se morasse em Heliópolis era bandido. Na verdade aqui tem muita gente boa, moro aqui há 23 anos e tenho orgulho de morar em Heliópolis; uma comunidade que luta pelos seus direitos.”
Segundo a moradora o caso de Leonarda foi um marco: “Era muita violência. Uma menina de 16 anos foi assassinada com um tiro no rosto na porta da escola. Por isso a UNAS se mobilizou com as escolas da região e criou a Caminhada pela PAZ. Eles desenvolvem um trabalho muito bonito que só tem a crescer. Eu sou professora de educação infantil e de alfabetização de adultos. Agora foi criada também uma Caminhada no Parque Bristol. Agente luta por saúde educação e para ter passo livre para onde nós quisermos.”
No entanto desde o Golpe de 2016, sobretudo desde a eleição presidencial, o risco de retrocessos é eminente: “-Não é porque moramos aqui que a gente não é capaz, não é humano. A paz é para todos ou não será para ninguém. A gente lutou tanto para ter um bairro educador, todos unidos com respeito e dignidade e parece que esse governo quer acabar com tudo isso.” Em suas palavras: “- Piorou demais! É um governo que não quer pobre em universidade, que não quer médicos para todos, que quer cortar o Bolsa Família do pessoal carente, não tem coisa pior… Nossos direitos a férias, décimo terceiro, aposentadoria…O governo anterior havia conseguido resolver o problema da fome aqui, no Nordeste…Agora está voltando. É desemprego, é jovem que não consegue emprego. Tem muito menino aí de 23 anos que não consegue trabalho de jeito nenhum. Vai fazer o que? Vai pegar numa arma. A gente não quer mais armas, a gente quer mais livros!”
A caminhada é organizada pelo movimento Sol da Paz e conta com a participação de lideranças da comunidade, crianças das escolas da região, da Unas – principal organização comunitária de Heliópolis – movimentos sociais e educadores.
A preparação da caminhada compreende a inclusão de todos. O movimento Sol da Paz cujo símbolo é um girassol está presente em quase todas as alegorias e materiais do ato. Durante o mês de Maio, em todos os períodos escolares é feito uma pausa e um minuto para refletir sobre a paz.
Para o Educador Social do CCA (Centro para Crianças e Adolescentes) Heliópolis da Unas, Gilmar Pereira da Hora, 33, a Caminhada é uma oportunidade de conscientização da comunidade: “É um momento que paramos para protestar por paz, pra agradecer pela paz. É muito importante, foi à partir da Caminhada pela Paz que a violência diminuiu 100%, diminuiu estatisticamente. A mortalidade infantil diminuiu demais”.
Gilmar demonstra, como todos os envolvidos nesse ato, muito orgulho do trabalho realizado pela população da região: “Essa caminhada marca um novo ciclo para a comunidade. As crianças do CCA se empenharam demais nesses 3 últimos meses.Tudo que está aqui foi feito por eles, não foram os adultos que fizeram, toda parte de artes plásticas, o acabamento e as ideias; tudo foi feito por eles. Partimos desse evento trágico que foi a morte da Leonarda para dar um basta em tudo que acontecia em Heliópolis.”
Texto; Joana Brasileiro e João Bacellar
fotos; João Bacellar