Maduro questiona suposta ajuda humanitária: “Com quem Trump se solidarizou até hoje?”

Ato em solidariedade ao povo venezuelano, em São Paulo, fevereiro de 2018
Publicado originalmente em Brasil de Fato | São Paulo

O presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um pronunciamento público na capital Caracas na tarde deste sábado (23). Durante quase duas horas, o líder chavista questionou a suposta ajuda humanitária imposta pelos Estados Unidos e defendeu a soberania do povo venezuelano. “Com quem [o presidente estadunidense Donald] Trump se solidarizou até hoje? Ele odeia os povos da América Latina e Caribe. Por isso quer construir o muro [na fronteira com o México]”, lembrou.

:: O que está acontecendo na Venezuela? ::

Milhares de pessoas acompanharam o discurso do presidente, que aconselhou a população a “abrir os olhos”, já que “a operação dita de ‘ajuda humanitária’ quer meter militares no nosso país, para roubar nossas riquezas.” O mandatário convocou a comunidade internacional a se solidarizar com o país e exigir que “Trump tire as mãos da Venezuela” – baseado nos princípios da Organização das Nações Unidas (ONU).

Rompimento com a Colômbia

Ao final do discurso, o presidente eleito anunciou a ruptura de relações diplomáticas e políticas com a Colômbia, estabelecendo um prazo de 24 horas para que embaixadores e cônsules deixem a Venezuela.

As fronteiras com o país vizinho foram fechadas diante da ameaça de intervenção dos Estados Unidos.

Brasil e UE

Maduro afirmou ainda que o governo venezuelano foi procurado pela União Europeia (UNE), que ofereceu medicamentos para o país: “Eles nos procuraram oficialmente. Aceitamos a ajuda e vamos pagar por ela”.

Da mesma forma, o presidente disse estar disposto a aceitar o arroz, açúcar e leite em pó ofertados pelo Brasil. “Pagamos por todos os alimentos que estão no estado de Roraima”, sustentou, argumentando que os venezuelanos não devem ser “tratados como mendigos”.

Histórico

Herdeiro político do ex-presidente Hugo Chávez, Maduro chegou ao poder em meio à comoção pela morte do líder que, além de impulsionar a chamada Revolução Bolivariana, colocou o país petroleiro no mapa geopolítico mundial. A ausência de Chávez, no entanto, fortaleceu a oposição, que não deu trégua ao governo Maduro, primeiro não reconhecendo sua vitória, passando por tentativas de tirá-lo do poder por meio de referendo ou promovendo boicotes e protestos.

Petróleo

Com mais de 2,9 bilhões de barris por ano, os EUA são os maiores importadores de petróleo do mundo. Cerca de 500 milhões de barris vêm da Venezuela, cujas reservas são dez vezes maiores que as estadunidenses.

O país latino-americano é considerado estratégico, do ponto de vista logístico, porque o custo de importação é inferior àquele importado do Golfo Pérsico, por exemplo, com tempo reduzido entre a produção e a entrega.

Na Venezuela, o Estado controla a produção, a distribuição e o destino da renda do petróleo, e é visto como um impedimento à dominação econômica e política dos EUA no continente.

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