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Democracia

Na cultura da bacharelice, pobre, nem preto, não podem ser “dotôres”

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Por Rosane Borges, para Jornalistas Livres 

 

Todo dia é uma declaração desconcertante. Todo dia é um deboche. Todo dia é um despautério. Todo dia é quase sempre igual, pelo menos desde 1º de janeiro. A cada mergulho, um flash, com a ressalva de que não estamos saindo “bunitos” na foto. Dos gabinetes oficiais se fazem ouvir absurdos dos absurdos, o inominável, o impensável…

Não há área ou departamento que saia incólume dos desmandos do “governo de plantão”. Está tudo dominado pela sandice e pela maldade: da economia à cultura, da justiça ao meio ambiente, da educação aos direitos humanos (não é à toa, que a crônica satírica insiste em dizer que a ministra é dos delírios humanos),

Declarações recentes do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, são uma mostra de como a banda almeja tocar. Para quem não está lembrado, Vélez declarou em entrevista, entre vários despautérios, que: 1) pretende incluir a disciplina educação moral e cívica no currículo do ensino fundamental – para os estudantes aprenderem o que é ser brasileiro e quais são “os nossos heróis” e que 2) a universidade não é para todos, pois representa uma elite intelectual “para a qual nem todo mundo está preparado ou para a qual nem todo mundo tem disposição ou capacidade”.

Tudo o que Vélez disse nesta entrevista provoca arrepios, mas me deterei no segundo tópico. Não há nada de novo no novo que se apresenta, nem sequer a roupagem. Ao anunciar que a Universidade deve estar reservada para uma elite intelectual, o ministro nos redireciona para um passado remoto que não passa, aliás, todo o programa desse governo flerta com o Brasil colonial, nos fazendo “contemporâneos de nossa escravidão”, para usar expressão do psicanalista Tales Ab’Saber.

Não é o conservadorismo o princípio que move a turma de Brasília, mas a política do atraso, que se apresenta como ordenadora de toda a plataforma do governo. A propósito, o jornalista Elio Gaspari escreveu na Folha de São Paulo (30/01) que, no Brasil, os conservadores são planta exótica de uma vegetação em que se alastram as árvores do atraso, cujas raízes estão fincadas no terreno do Brasil de séculos passados. A bem da verdade, Gaspari diz que foram Ronald Reagan e Margaret Thatcher as autênticas figuras do conservadorismo que o mundo político acolheu. Diz ainda o jornalista:

Fernando Henrique Cardoso gosta de relembrar uma cena na qual o historiador Sérgio Buarque de Holanda discutia o tamanho de algumas figuras do Império e ensinou: “Doutora, eles eram atrasados”. Foi a gente atrasada que levou o Brasil a ser um dos últimos países a abolir a escravidão e a adotar o sistema de milhagem para os passageiros de aviões, deixando a rota Rio-São Paulo de fora.”

Gaspari coloca na conta do atraso e dos atrasados o que aconteceu em Mariana e Brumadinho, responsáveis por travarem os projetos de segurança das barragens que tramitam nas casas legislativas.

Educação, atraso e imaginário da escravidão: bacharelismo das sociedades pós-colonias

 

Não se tem como discordar que a figura do atraso só permanece vivíssima entre nós porque anda de mãos dadas com o imaginário escravocrata, tão presente no nosso presente. Lembremos Mia Couto: “é sempre o mais antigo que nos governo, sujeito a novas racionalidade.”

Um breve recenseamento em torno das matrizes culturais do pensamento e da intelectualidade brasileiros nos permite observar o quanto ser doutor, bacharel (título outorgado apenas a médicos, advogados e engenheiros), se constituiu como uma diferenciação social importante num contexto de decadência da Coroa portuguesa.

Autores como Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Silvano Bonfim ensinam que os portugueses alimentavam em seu povo uma “mística imperialista já sem base”, reforçada com a chegada da família real. Aturdido com uma realidade incontornável perante a Europa que dizia para o nosso colonizador “isto não te pertence mais”, Portugal se aferrava a uma exagerada necessidade de se impor na colônia como supercivilizado à europeia. Estes pensadores consideram que esta condição rebaixada fez da colonização brasileira a mais aristocrática do que no restante da América, uma espécie de imposição, por meio de alguns símbolos e sinais, da força e do poder que já não mais detinham.

Resultado inescapável: aristocratização exacerbada, horror ao trabalho manual, legalismo e messianismo (os bacharéis tinham a tarefa de instaurar o progresso) foram os principais elementos que formaram a intelectualidade luso-brasileira. Como parte desta política, foi proibida a criação de universidades e escolas superiores na colônia. A elite intelectual estava apartada do povo, cuja função era emprestar seu saber universitário à monarquia.

Educação, um bem de todos

 

As poucas e lentas mudanças nesse expediente chegaram muito recentemente. Foi apenas no final do século 20 e início do 21 que tivemos a consubstanciação de políticas que pensaram e agiram em acordo com um país que ser quer civilizado. Expansão das universidades públicas, instituição de ações afirmativas, entre outras medidas, dialogam com políticas emancipatórias. Estas, partem do entendimento de que a educação é um direito de todos e que um país desenvolvido só o será com uma malha ampla de pessoas (bem) formadas, onde o ensino, a pesquisa e a extensão sejam o tripé para a melhoria das condições de vida, em todos os sentidos.

Institutos de pesquisa, órgãos multilaterais, repetem exaustivamente que quanto mais tempo de estudo tiverem os cidadãos, melhor para o país. A Espanha dá testemunho exemplar a este respeito. Na passagem do franquismo para a democracia, houve um aumento significativo no ingresso de crianças e jovens pobres ao ensino fundamental e superior, o que melhorou a situação do país:

Ao longo dos anos sessenta, de acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), somente 6% dos espanhóis terminava o segundo grau e só outro 6% conseguia um título universitário. Nos setenta, essa porcentagem subiu a 9% e 10%, respectivamente. Mas nos oitenta, já 24% da população terminava o COU (Curso de Orientação Universitária) e 16% ia além e se formava na universidade. Algo estava acontecendo. A universidade ficou lotada de jovens da geração do baby boom, provenientes – pela primeira vez em grande quantidade – dos dois lados da trincheira econômica. (Jornal EL País Brasil).

Contrariando as experiências exitosas no Brasil, o ministro insiste em fazer da Universidade pública um ambiente monocromático e classista a serviço de uma elite que descende das práticas senhoriais (consolidada pela cultura da cana de açúcar), porque tem compromisso com o atraso. Nesta cultura dos rapapés, aos desvalidos (pobres e pretos), restavam apenas se contentar em trabalhar naquilo que a lógica escravocrata permitia, sem que pudessem participar das decisões da vida nacional, tarefa só dos doutores e da monarquia.

Tudo somado – reformas da previdência e trabalhista, mudanças na área de educação – podemos concluir que está dada a largada para um modus vivendi ao estilo século 18 e 19, se tanto.

Democracia

Urgente! The Intercept Brasil acaba de vazar áudio de Deltan Dallagnol

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Via The Intercept Brasil

Na manhã do dia 28 de setembro de 2018, a imprensa noticiou que o ministro do STF Ricardo Lewandowski autorizara Lula a conceder uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Em um grupo no Telegram, os procuradores imediatamente se movimentaram, debatendo estratégias para evitar que Lula pudesse falar. Para a procuradora Laura Tessler, o direito do ex-presidente era uma “piada” e “revoltante”, o que ela classificou nos chats como “um verdadeiro circo”. Uma outra procuradora, Isabel Groba, respondeu: “Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”

Eram 10h11 da manhã. A angústia do grupo – que, mostram claramente os diálogos, agia politicamente, muito distante da imagem pública de isenção e técnica que sempre tentaram passar – só foi dissolvida mais de doze horas depois, quando Dallagnol enviou as seguintes mensagens, seguidas de um áudio.

28 de setembro de 2018 – grupo Filhos do Januario 3

Deltan Dallagnol – 23:32:22 – URGENTE
Dallagnol – 23:32:28 – E SEGREDO
Dallagnol – 23:32:34 – Sobre a entrevista
Dallagnol – 23:32:39 – Quem quer saber ouve o áudio
Dallagnol – 23:33:36 –

Leia a matéria completa no site do The Intercept Brasil:

https://theintercept.com/2019/07/09/vazajato-audio-inedito-deltan-dallagnol/

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Censura

Senadora do PSL cassada por caixa dois ofende jornalista por fazer seu trabalho

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Os bolsonaristas, muitas vezes eleitos com apoio da Grande Mídia, agora deram para atacar e ameaçar jornalistas que não passam pano para ilegalidades. Incensada pela imprensa tradicional de Mato Grosso quando aceitou a delação premiada do ex-governador Silval Barbosa (MDB) e o condenou a 13 anos e 7 meses em 2017 (mas permitiu o cumprimento da pena em casa), por exemplo, a então juíza Selma Arruda foi apelidada de “Moro de Saia”. Sob os holofotes favoráveis dos jornais, Selma se aposentou da magistratura e se candidatou, com o apelido na propaganda eleitoral, ao cargo de senadora pelo Partido Social Liberal (PSL), o mesmo de Bolsonaro. Ganhou fácil!

Depois disso, sua relação com o “modelo” não mudou. No último dia 19 de junho, por exemplo, durante depoimento do ex-juiz e atual ministro da justiça e segurança pública, Sérgio Moro, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a senadora fez questão de dizer que “É absolutamente normal juiz conversar com o Ministério Público”. Moro respondeu com elogios: “É normal uma discussão de logística. Tem aqui a senadora Selma, que atuou muito destacadamente como juíza lá no Mato Grosso, teve várias operações, é normal depois da decisão proferida haver uma discussão sobre questão de logística, quando vai ser cumprida, como vai ser cumprida, e eventualmente pode ter havido uma mensagem nesse sentido. Isso não tem nada de revelação de imparcialidade ou conteúdo impróprio”, disse. Nenhum dos dois comentou, nem de leve, a condenação unânime do Tribunal Regional Eleitoral, em abril, à perda do mandato por caixa dois. Ela e seus dois suplentes, também cassados, não conseguiram mostrar ao tribunal a origem de R$ 1.2 milhão gastos na campanha.

Com a revelação do caixa dois, as relações da senadora com o jornalismo sério passaram a uma nova fase. Enquanto o Tribunal Superior Eleitoral analisa em segunda instância se ela deverá ou não deixar o cargo, Selma aproveitou as câmeras da TV Senado para insinuar que a atuação do jornalista Glenn Greenwald, vencedor dos maiores prêmios mundiais de jornalismo, não é profissional, mas guiada por interesses políticos. “O sujeito que vazou é marido do suplente do Jean Wyllys. Ele é intimamente ligado, né. Politicamente, óbvio que é uma estratégia para colocar em dúvida a atuação do juiz e do Ministério Público”, afirmou. Sobre as suas intenções políticas ou as de Moro quando ainda estavam na magistratura, não houve uma única palavra.

Na imprensa matogrossense, a antigamente sempre disponível magistrada passou a escolher com quem conversar. Na semana passada, por exemplo, foi procurada pelo jornalista Lázaro Thor Borges, do jornal “A Gazeta“, o maior diário do estado, para comentar uma reportagem, com dados oficiais obtidos a partir da Lei de Acesso à Informação e do Portal da Transparência, sobre salários de servidores públicos acima do teto constitucional. Via aplicativo de mensagens, a senadora respondeu com xingamentos e, novamente, insinuações de interesse político acima do jornalístico. “Tadinho, você é ridículo. Nem li nem sei do que você está falando. Sua opinião não faz efeito na minha vida e nem na de nenhum matogrossense”, escreveu a parlamentar. Borges, educadamente, respondeu apenas: “tudo bem, senadora”. Mas ela não parou por aí. Além de chamá-lo novamente de coitado e mandar “catar coquinho”, ainda o chamou de “retardado”, ao que Borges respondeu: “É só meu trabalho, senadora”. 

A reportagem, publicada no dia 22 de junho e que infelizmente não está disponível online no portal do jornal, trazia o valor mensal líquido de R$ 53,8 mil desde de março desse ano, mais de R$ 14 mil acima do teto de R$ 33,7 mil recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. De acordo com a matéria, apenas 11 dos 84 magistrados aposentados do Superior Tribunal de Justiça de Mato Grosso receberam acima do teto em abril, mês do levantamento.   Os ataques da parlamentar ao jornalista foram repudiados em editorial do jornal, que publicou os prints das telas do celular mostrando as grosserias da senadora. Os as respostas mal criadas ao profissional também sofreram grande condenação do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso, em nota também assinada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Está passando da hora de TODOS e TODAS jornalistas se unirem para barrar o crescimento do fascismo e as das ameaças aos profissionais, à liberdade de imprensa e à própria democracia.

 

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Democracia

Deputado do PSOL que chamou Sérgio Moro de “ladrão” já havia chamado Eduardo Cunha de “gângster”

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Por Rafael Duarte I Agência Saiba Mais

O deputado do PSOL Glauber Braga (PSOL/RJ) desestabilizou os parlamentares governistas nesta terça-feira (2), na Câmara dos Deputados, ao dizer que o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro passará para a história como um “juiz ladrão e corrompido”.

As palavras duras do parlamentar mexeram com os brios dos colegas que participaram da sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para defender o ex-juiz das graves acusações de interferência no julgamento do ex-presidente Lula reveladas pelas mensagens trocadas entre ele e procuradores da operação Lava Jato.

Moro se esquivou da maioria das perguntas e voltou a tentar criminalizar o site The Intercept Brasil, que vem divulgando a conta gotas as mensagens. Acuado, o ex-juiz deixou a sala da comissão sob os gritos de “ladrão” e “fujão”. A sessão foi encerrada após um tumulto generalizado:

– “A história não absolverá o senhor, da história o senhor não pode se esconder. E o senhor vai estar no livro de história como juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão. A população brasileira não vai aceitar como fato consumado um juiz ladrão e corrompido que ganhou uma recompensa pra fazer com que a democracia brasileira fosse atingida. É o que o senhor é: um juiz que se corrompeu, um juiz ladrão”, disse já sob os gritos da tropa bolsonarista.

 Após o discurso, as redes sociais do deputado foram inundadas de xingamentos e mensagens de apoio. Ele agradeceu a solidariedade e voltou a provocar tanto Sérgio Moro como a militância que o defende:

– Obrigado pelas inúmeras mensagens de apoio ! E pra turma da extrema-direira que veio aqui desabafar, infelizmente não posso me desculpar. O herói de vocês feriu a democracia brasileira e recebeu a recompensa de Bolsonaro. E em linguagem bem popular, juiz vendido é juiz ladrão ! Boa noite. Fiquem bem!”, escreveu.

Esse não é o primeiro discurso de Glauber Braga que repercute no Congresso e na imprensa. Em 2016, durante a votação para a abertura do processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, o voto do deputado do PSOL também foi um dos mais comentados. Na ocasião, ele chamou de “gângster” o então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, atualmente preso, em Curitiba. E evocou figuras históricas da democracia brasileira:

– Eduardo cunha, você é um gangster e o que dá sustentação à sua cadeira cheira a enxofre. Eu voto por aqueles que nunca esconderam o lado fácil da história. Voto por Marighella, voto por Plinio de Arruda Sampaio, voto por Evandro Lins e Silva, voto por Arraes, voto por Luís Carlos Prestes, voto por Olga Benário, voto por Brizola e Darcy Ribeiro, voto por Zumbi dos Palmares, voto não.

Perfil

Glauber Braga é advogado, natural de Nova Friburgo (RJ), tem 37 anos e está filiado ao PSOL desde 2015. Ele exerce o quarto mandato na Câmara Federal. O primeiro assumiu como suplente, em 2007, quando ainda militava no PSB, e os demais foram exercidos como titular da vaga.

Braga ocupou a liderança da bancada do PSOL em janeiro de 2017. No ano anterior, disputou a eleição para prefeito de Nova Friburgo e ficou em 2º lugar.

Progressista, Glauber Braga realiza um mandato participativo defendendo bandeiras em defesa da democracia e direitos humanos. Está na linha de frente da luta no parlamento contra a reforma da Previdência.

O parlamentar do PSOL foi relator da Comissão Especial de Medidas Preventivas Diante das Catástrofes Climáticas, que gerou a primeira Lei Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres Naturais (12.608): o Estatuto de Proteção e Defesa Civil. O estatuto foi sancionado pela Presidência em abril de 2012.

Em 2018, Glauber Braga foi escolhido pelo júri especializado do portal Congresso em Foco como o melhor parlamentar do Brasil.

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