Candidato a governo de SC perde adesão de três partidos ao declarar voto em Bolsonaro

PC do B anuncia hoje retirada de aliança com candidato que apoia Bolsonaro. Fotos do Ele Não em Florianópolis: Alice Simas

 

Merísio e Bolsonaro: associação oportunista de candidato ao fascismo implode coligação

Ele liderava as últimas pesquisas para candidato a governador em Santa Catarina, mas resolveu ampliar a vantagem sobre os demais declarando seu voto em Bolsonaro em pleno horário eleitoral. Em vez de crescer na onda do fascismo no Sul do Brasil, como pretendia, Gelson Merísio (PSD) provocou a implosão da aliança de partidos em seu favor a uma semana da eleição. Hoje, o terceiro dos partidos mais à esquerda que integram a eclética coligação “Aqui é trabalho” anuncia a retirada do apoio a sua candidatura. Ainda pela manhã, o Partido Comunista do Brasil deve emitir nota oficial lamentando o equívoco dessa aliança partidária. Em atendimento aos apelos da base e à indignação dos coletivos feministas e forças de esquerda, a sigla decidiu seguir o posicionamento do Podemos e do PDT, que também repudiaram o voto de Merísio e, na prática, vão abandonar o barco.

Hoje pela manhã, a denúncia do The Intercept sobre uma rede oculta de hidrelétricas mantidas pelo deputado Merísio, baseada em longa reportagem investigativa, deu aos partidos contrários ao voto bolsonarista do aliado, razões ainda mais fortes para abandoná-lo na disputa. Segundo a reportagem, o candidato da coligação “Aqui é Trabalho” mantém uma rede de negócios oculta, com indício de uso de laranjas, que garante para sua mulher, seus filhos e seus aliados a participação em ao menos oito pequenas centrais hidrelétricas. Pelo menos duas dessas centrais são beneficiadas por incentivos fiscais milionários assinados pelo cunhado Antônio Gavazzoni enquanto secretário da Fazenda de Santa Catarina, tendo como grandes aliados ocultos nessa rede de negócios os empresários da família Vaccaro. Conforme a denúncia, o deputado precisa ser eleito porque essa parceria tem potencial de gerar muitos milhões de reais aos três nos próximos anos. Caso isso ocorra, as empresas também podem se beneficiar da sua influência na liberação de licenças ambientais e nas negociações com o governo federal no mercado de energia, aponta ainda.

O primeiro e maior constrangimento as forças democráticas que, através de Merísio, se associaram indiretamente ao candidato fascista ocorreu na grande marcha do Ele Não, realizada neste sábado em Florianópolis e em outras seis cidades de Santa Catarina, com a participação de 40 mil manifestantes. Estremecendo os Bolsonaristas, que fizeram um protesto pífio no dia seguinte, com cerca de 500 eleitores apenas, o protesto puxado pelas mulheres funcionou como campo de pressão para que a parte à esquerda terminasse de desfazer a coligação, formada por 15 partidos (PSD/ PP/ PSB/ DEM/ PRB/ PDT/ SD/ PSC/ PROS/ PV/ PHS/ Podemos/ PRP/ PPL e PCdoB), cada qual alinhado a diferentes candidatos à Presidência, como Alckmin, Ciro Gomes, Álvaro Dias e Haddad. Essa esquizofrenia determinada por interesses oportunistas em nível regional começa pelo cabeça da coligação, Gelson Merísio, cujo partido declarou apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) nas convenções de junho. A própria sigla comunista encontra uma dificuldade dramática de explicar como apoia sua candidata à vice Manuela d´Ávila na chapa presidencial de Haddad, mas no pleito estadual não acompanha a candidatura a governador de Décio Lima (PT).  Décio liderou com larga vantagem as pesquisas até meados de setembro, quando Merísio e Mauro Mariani (MDB/PSDB) encostaram no político do PT e começaram a abrir uma relativa diferença, mas ainda estão embolados os três na margem do empate técnico, com em torno de 20% cada um.

UM CAFÉ COM ANGU DE CAROÇO

Durante Café das Mulheres, Ângela Albino adiantou que partido romperia com a aliança

No final da tarde deste domingo, o efeito das manifestações já apareceram durante o Café das Mulheres promovido por Ângela Albino com cerca de cem convidados, a maioria do gênero feminino. A candidata à deputada federal pelo PCdoB, hoje suplente na Câmara de Deputados, adiantou em conversas com grupos particulares que o partido retiraria o apoio a Merísio por sua recente decisão de referendar “O Coiso” para a Presidência da República.  Segundo colocado nas pesquisas eleitorais, na quinta-feira, 27/9, Merísio declarou seu apoio pessoal a Bolsonaro, que tem 40% das intenções de voto no Estado. O anúncio foi feito durante o programa eleitoral da coligação, acompanhando a manifestação oportunista dos aliados mais à direita desse pacto estapafúrdio de siglas.

“Não há possibilidade de rompimento formal, por isso o rompimento é politico”, afirma João Ghizoni, ex-candidato a deputado estadual que teve seu nome impugnado há menos de uma semana. Na prática, além do apoio à chapa PT/PCdoB para Presidência, que já estava dado, o partido vai apoiar de forma não declarada os candidatos a governador, Décio Lima e a senador do PT, Lédio Rosa e Ideli Salvatti. Ghizoni foi atingido por uma decisão intempestiva e discriminatória do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, que acatou recomendação do Ministério Público Eleitoral e indeferiu sua candidatura, ignorando uma liminar posterior concedida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O TRF 4 havia reconhecido a inocência de Ghizoni e validado sua condição de candidato ficha limpa. “Estou indignado!  Meu nome foi excluído da urna eletrônica apressadamente e sem qualquer fundamento legal, uma vez que o Processo estava em grau de recursona Justiça Federal, onde foi concedida a liminar”, afirma em nota o político comunista (Leia abaixo).

Ao contrário de outros partidos, como o Podemos e a Juventude do PDT, que imediatamente manifestaram seu repúdio e se retiraram, o PCdoB emitiu nota no dia seguinte à manifestação de Merísio pró-Bolsonaro lamentando o seu posicionamento, mas afirmando que preservaria a aliança porque se tratava de uma decisão pessoal que não representava a coligação. Conforme o comunicado, para o partido era mais importante manter a estratégia de conquistar um vaga de titular na Câmara de Deputados (com Ângela Albino) e renovar a vaga na Assembleia Legislativa (com o candidato à reeleição a deputado estadual, César Antônio Valduga).

Uma avalanche de protestos à presença do PCdoB nessa coligação, que já vinha sendo apontada como espúria pelos setores de esquerda antes da aproximação com o bolsonarismo, tomou conta das redes sociais. Durante as manifestações antifascistas de sábado na capital, a militância do partido compareceu em peso, com muitos cabos eleitorais erguendo bandeiras da candidata Ângela Albino. A cobrança das lideranças feministas e a pressão da esquerda vieram forte, e a projeção de Haddad e Manuela na campanha eleitoral falou mais alto.

(Nota anterior do PCdoB, que será revista hoje com retirada oficial do apoio a Merísio)

PCdoB-SC diverge da posição de Merísio no apoio ao candidato Bolsonaro

 27 de setembro, 2018

O PCdoB reitera o seu compromisso com a democracia, o estado democrático de direito e a construção de um novo projeto capaz de conduzir o Brasil ao desenvolvimento econômico, humano e social, através da candidatura Haddad-Manuela, do PT e PCdoB.

A democracia, o desenvolvimento soberano e a valorização do trabalho, a defesa dos direitos sociais e o respeito aos direitos humanos são valores inalienáveis para o PCdoB e não se coadunam com aqueles expressos e difundidos pelo candidato à presidente, a quem até o presente momento só coube difundir o ódio, a intolerância, o preconceito e o desrespeito com o nosso país.

O Partido Comunista do Brasil em Santa Catarina, desde as primeiras tratativas visando a formação de uma ampla aliança em torno da candidatura de Gelson Merísio ao governo, teve por premissa o respeito à pluralidade e diversidade de forças e palanques que vieram a compor a chapa estadual.

É nessa condição que seguimos no arranjo regional com Gelson Merísio, que reúne melhores condições de liderar o programa de trabalho que Santa Catarina precisa e onde o PCdoB poderá buscar seus objetivos de superação da cláusula de desempenho, a eleição de uma deputada federal e a manutenção de sua cadeira na ALESC.

Contudo, manifestamos publicamente nossa divergência acerca da posição adotada pelo candidato em relação à eleição presidencial. Santa Catarina e o Brasil precisam reafirmar e reforçar valores que nos são muito caros e que custaram a luta, e até mesmo a vida, de milhares de trabalhadores e trabalhadoras.

Douglas Mattos
Presidente do Partido Comunista do Brasil de Santa Catarina (PCdoB-SC)

 

CARTA DE JOÃO GHIZONI (PCdoB), CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL

“Estou indignado!  O registro de minha candidatura a Deputado Estadual pelo PCdoB/SC, foi indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, que acatou recomendação do Ministério Público Eleitoral.

Uma LIMINAR da JUSTIÇA FEDERAL no TRF da 4ª Região reconheceu minha inocência, o que confirma que sou vítima, e não culpado. Nunca roubei, nunca deixei ninguém roubar e não respondo a qualquer tipo de processo criminal ou de improbidade, portanto sou ficha limpa.

A inelegibilidade que me foi atribuída, em razão de eventual punição em processo administrativo totalmente irregular e viciado, de verdadeira “caça às bruxas”, executado pela CGU quando sequer fui comunicado da decisão final, foi afastada por decisão do TRF da 4ª Região.

A referida decisão eliminou qualquer impedimento para que eu pudesse disputar a eleição. Mas surpreendentemente, este fato não foi considerado pelo TRE/SC.

Meu nome foi excluído da urna eletrônica apressadamente e sem qualquer fundamento legal, uma vez que o Processo na justiça estava em grau de recurso, onde foi concedida a liminar.

Concedida a liminar, o TRE/SC protelou o julgamento do dia 24 para o dia 27 de setembro. No julgamento reconheceu a postulação e minha inocência, porém, alegou que não havia mais tempo hábil para reincluir meu nome na urna eletrônica, invocando razões de ordem técnica.

Por incrível que pareça por questões técnicas, fui IMPEDIDO DE DISPUTAR A ELEIÇÃO!  Meu direito constitucional FUNDAMENTAL foi violado por quem deveria defender.

É bom frisar que, se o recurso interposto para rever a decisão açodada que indeferiu o registro da minha candidatura e excluiu meu nome da URNA fosse julgado no último dia 24 de setembro, como estava previsto, haveria tempo hábil para corrigir o erro e garantir meu direito Constitucional Fundamental de ser candidato.  Porém prevaleceu a protelação, inviabilizando, na prática, o Recurso Especial previsto em Lei, encaminhado ao TSE.

O indeferimento da minha candidatura é mais um ato injusto e ilegal, uma atitude inaceitável em um Estado democrático e de direito, a exemplo de tantos outros já ocorridos no Brasil recentemente.

Diante de tais fatos restam as perguntas que não querem calar:

– Qual a justificativa para determinar a retirada no meu nome da URNA ELETRÔNICA, uma vez que tramitava na Justiça Federal Processo em grau de Recurso, que reconheceu meu direito?

– Por que o recurso legalmente interposto não foi julgado no dia 24, como estava previsto, ainda em tempo hábil para corrigir o erro e garantir meu direito Constitucional?

– Qual o embasamento legal da Procuradoria Regional Eleitoral para solicitar a exclusão do meu nome da URNA ELETRÔNICA, em vez de deixar minha candidatura sub júdice como as demais?

Diante de tais fatos, peço desculpas e a compreensão de todos, reafirmando: não sou corrupto e nem ficha suja. A JUSTIÇA JÁ RECONHECEU MINHA INOCÊNCIA. Sou vítima, pois meu Direito FUNDAMENTAL de ser candidato, foi irremediavelmente prejudicado por decisão do TRE/SC.

Como cidadão honrado e militante político, prosseguirei minha caminhada e meus esforços para esclarecer estes fatos, resgatar minha dignidade e minha honra, buscando reparação judicial por perdas e danos, uma vez que meu direito constitucional fundamental foi aviltado por decisão de quem deveria defender.

É chegada a hora de restabelecer o Estado Democrático e de Direito de nosso País para resguardar nossa democracia, as liberdades e os direitos fundamentais dos cidadãos e das cidadãs.

Muito obrigado pela sua atenção, fico à disposição para eventuais esclarecimentos.”

 

 

 

 

 

NO DIA 23 DE ABRIL DE 2013, o deputado estadual Gelson Merísio, hoje um dos favoritos para vencer as eleições ao governo de Santa Catarina, levou um empresário ao gabinete de seu cunhado e então secretário estadual da Fazenda, Antonio Gavazzoni. O empresário era Márcio Vaccaro e estava interessado em incentivos fiscais para instalar uma nova unidade de sua fábrica de sacarias, a Rafitec, que faz embalagens de grande porte, como as usadas para ração e cimento.

A reunião foi um marco na relação entre Merísio, Vaccaro e Gavazzoni. Anos depois, não só uma nova fábrica da Rafitec foi instalada na cidade de Xanxerê – a 45 km de Chapecó, berço político do deputado – como os caminhos do deputado, do burocrata e do empresário convergiram para uma parceria controversa, com potencial de gerar dezenas de milhões de reais aos três nos próximos anos. Para isso, Merísio precisa ser eleito governador. Para turbinar a campanha, nessa semana, o deputado, que é filiado ao Partido Social Democrático, trocou o apoio a Geraldo Alckmin, estagnado nas pesquisas, por uma declaração pública para o líder das pesquisas ao Planalto: Jair Bolsonaro.

Intercept descobriu que Merísio mantém uma rede de negócios que estava oculta até agora, com indício de uso de laranjas, e que, na prática, dá para sua mulher, seus filhos e seus aliados a participação em ao menos oito pequenas centrais hidrelétricas. Pelo menos duas PCHs, como são chamadas, são beneficiadas por incentivos fiscais milionários assinados pelo cunhado enquanto era secretário da Fazenda de Santa Catarina. Seus grandes aliados ocultos nos negócios são justamente os Vaccaro. Caso Merísio seja eleito, as empresas também podem se beneficiar da sua influência na liberação de licenças ambientais e nas negociações com o governo federal no mercado de energia.

Intercept descobriu que Merísio mantém uma rede de negócios que estava oculta até agora, com indício de uso de laranjas, e que, na prática, dá para sua mulher, seus filhos e seus aliados a participação em ao menos oito pequenas centrais hidrelétricas. Pelo menos duas PCHs, como são chamadas, são beneficiadas por incentivos fiscais milionários assinados pelo cunhado enquanto era secretário da Fazenda de Santa Catarina. Seus grandes aliados ocultos nos negócios são justamente os Vaccaro. Caso Merísio seja eleito, as empresas também podem se beneficiar da sua influência na liberação de licenças ambientais e nas negociações com o governo federal no mercado de energia.

 

Hidrelétricas ligadas a Gelson Merísio

1. PCH Bom Retiro Energética Ltda.

2. Foz do Uva Energética Ltda – PCH Panapaná.

3. PCH Águas do Rio Irani Energética.

4. PCH Barra das Águas.

5. PCH das Pedras.

6. PCH Salto do Soque.

7. PCH Salto do Soque (PCH Rio das Tainhas).

8. Ribeirão Manso Energética Ltda (PCH Itapocuzinho II).

 

 

O desastre da LaMia

Merísio é apadrinhado pelo ex-governador, Raimundo Colombo, que deixou o cargo em fevereiro para se candidatar ao Senado, e está tecnicamente empatado com seus dois principais adversários: Mauro Mariani, do MDB, e o petista Décio Lima, todos na casa dos 20%.

A trajetória política do candidato de 52 anos foi meteórica. Em 2004, se elegeu deputado estadual e, de lá pra cá, ocupou a presidência da Assembleia em três oportunidades. Em 2014, foi reeleito para o segundo mandato com a maior votação da história do estado – 119 mil votos. A seta apontava para cima quando ele escapou da morte. Por pouco o acidente aéreo que matou quase toda a equipe de futebol da Chapecoense não vitimou Merísio. Então presidente da Assembleia Legislativa, ele estava confirmado no voo que acabou caindo por falta de combustível na Colômbia.

Desistiu de última hora. Seu nome estava na lista de passageiros, e ele chegou a ser dado como morto nas primeiras notícias. “Deus nos permitiu continuar”, diz ao falar sobre a tragédia, em tom messiânico. Ele não embarcou porque foi convidado para um jantar com o ministro Teori Zavascki, do STF, que viria a morrer num acidente aéreo quase dois meses depois. O acidente com a Chapecoense lhe rende mídia até hoje. Ele deu entrevistas para jornais nacionais e internacionais e participou da organização das homenagens aos mortos na tragédia.

Hoje, 15 partidos apoiam sua tentativa de comandar o estado. O abandono de Alckmin era esperado, já que o PSDB não faz parte de sua coligação, mas o fato de o capitão da reserva ser líder isolado em pesquisas em Santa Catarina fez dele o puxador de votos que Merísio precisava na reta final.

Na declaração de bens entregue por ele ao TSE, presume-se que a única atividade empresarial do candidato seja uma participação em uma empresa de materiais de construção. Mas o centro dos negócios não declarados de Merísio é uma empresa de participações, aberta em nome da mulher e de dois de seus filhos, um deles menor de idade. Só o capital social da empresa (R$ 5,67 milhões) é quase oito vezes superior ao que Merísio declarou ao TSE este ano. A firma chama-se MANG, as iniciais da mulher (Márcia), dos filhos (Arthur,19, e Nicole, 10) e um G final, de Gelson. O endereço é o mesmo do escritório político de Merísio em sua cidade natal e, conforme apuramos, o local onde Merísio “mora” quando está em Xanxerê.

Três em empresas em 36 dias

A MANG Participações e Agropecuária Ltda foi criada em dezembro de 2013, mas as movimentações mais relevantes da empresa familiar dos Merísio começaram em 2015. Em 28 de abril daquele ano, a MANG abriu a PCH Águas do Rio Irani Energética Ltda, em sociedade com Márcio Vaccaro. Na época, Merísio era o presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos dois anos anteriores, foi integrante da comissão interna responsável pela análise e fiscalização de assuntos energéticos.

Pouco mais de um mês depois, a MANG e Márcio Vaccaro abriram mais uma firma, a PCH Bom Retiro Energética Ltda. Ambas estão registradas numa sala no mesmo endereço da sacaria Rafitec, da reunião de 2013.

Parte do sucesso de Merísio com as hidrelétricas se deve ao apoio do cunhado Antonio Gavazzoni, antigo secretário estadual da Fazenda de SC.
Parte do sucesso de Merísio com as hidrelétricas se deve ao apoio do cunhado Antonio Gavazzoni, antigo secretário estadual da Fazenda de SC. Foto: Divulgação/DN

Uma terceira sala na Rafitec foi ocupada pela PCH Pesqueira Energética, criada também em maio de 2015, essa sem participação oficial da MANG. No entanto, a usina mudou de nome e de atividade depois de criada – passou a se chamar Vaccaro Empreendimentos Imobiliários. Em agosto deste ano, Vaccaro e sua empresa imobiliária viraram alvo de uma representação criminal pelo Ministério Público catarinense, por poluição. O caso está sendo investigado pela promotoria.

A abertura de três empresas dedicadas a explorar pequenas centrais hidrelétricas num intervalo de 36 dias aconteceu ao mesmo tempo que Antonio Gavazzoni, o cunhado de Merísio e então secretário da Fazenda, preparava um dos mais anunciados planos de estímulo econômico de Santa Catarina. No mês seguinte à abertura das empresas, mais precisamente em 24 de junho de 2015, o plano SC+Energia foi anunciado publicamente pelo governo. Mais de R$ 5 bilhões em incentivos fiscais seriam concedidos para empreendimentos de energia limpa – as pequenas centrais hidrelétricas entre elas.

 

Salário de 5 mil, hidroelétrica de 600 mil

Muita coisa aconteceu desde aquela reunião de abril de 2013 entre Merísio, Vaccaro e Gavazzoni. O cunhado se afastou do comando da economia catarinense no ano passado, depois de ser citado em delação da JBS como cúmplice de pagamento de propina ao governador Raimundo Colombo (a notícia criminal foi rejeitada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina). O empresário e parceiro Vaccaro viu seu pai ser preso por crime ambiental no Pará, onde a família mantém a maior plantação de açaí do mundo. Oriundos da mesma região de Merísio, os Vaccaro não têm somente a fábrica de sacos – eles também são donos da Açaí Amazonas, a maior produtora global de açaí, com uma área de 1.400 campos de futebol lotada de palmeiras. Essa atividade rendeu aos Vaccaro duas ações penais e uma ação civil pública relacionadas a crimes ambientais. O patriarca teve seus bens bloqueados pela Justiça.

Márcio Vaccaro
O empresário Márcio Vaccaro tornou-se sócio de Merísio em diversos empreendimentos. Instagram/Márcio Vaccaro

Enquanto Vaccaro e Gavazzoni andavam às voltas com os tribunais, Merísio continuou se movendo na máquina pública, inflando os negócios da família e pavimentando seu caminho ao governo estadual.

Um funcionário de seu gabinete na Assembleia Legislativa há 13 anos é sócio de uma terceira empresa hidroelétrica, a Foz do Uvá Energética. Manoel Mario de Jesus mora numa casa simples em São José, região metropolitana de Florianópolis. A empresa dele está sediada num escritório de contabilidade em uma avenida residencial de Chapecó, a 553 quilômetros da capital. Para entrar na sociedade, ele teve de colocar R$ 600 mil. Seu salário mensal é de R$ 5 mil.

O funcionário de Merísio não está sozinho na Foz do Uvá, aberta em 2010, quando Gelson Merísio era o presidente do Legislativo catarinense. O empreendimento parece suprapartidário. A sociedade é composta, entre outros, também por uma empresa controlada pelo chefe da Casa Civil de Florianópolis e filho do deputado federal Jorginho Mello (candidato ao Senado pelo PR); por um suplente de vereador na Câmara de Chapecó; e pela mulher de um ex-deputado estadual do PT que teve os direitos políticos cassados por irregularidades praticadas quando prefeito do município de Rio do Sul (SC). Procurado pelo Intercept, Filipe Mello, filho de Jorginho, disse que comprou uma “cota” do projeto, mas que ele nunca foi efetivado.

E foram todos pra Cancún

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Facebook/ Rosângela Vaccaro

A associação com os Vaccaro rendeu à MANG, de Merísio, outras duas participações importantes no setor energético – uma delas, a mais vistosa até aqui. A Rio Tainhas Geração de Energia Ltda foi aberta em 2008, no mesmo endereço que depois serviria de caixa postal para as demais PCHs. A Rio Tainhas já tem autorização para operar a PCH Salto do Sóque e está expandindo seus negócios. No meio do caminho, a PCH Águas do Rio Irani, que tem a firma familiar de Merísio na sua fundação, virou sócia da Rio Tainhas, com 50% do capital. Um outro sócio da Rio Tainhas é Neimar Brusamarello, ex-secretário municipal em Xanxerê. Ele é a quarta pessoa na foto daquela reunião de 2013 com Merísio, Vaccaro e Gavazzoni.

Vaccaro também é sócio de aliados do homem que quer governar Santa Catarina. A PCH das Pedras, que já conseguiu garantia de venda de energia via leilão da Aneel, é um exemplo. Os sócios do amigo empresário são o amigo do deputado Neimar Brusamarello e o ex-prefeito de Xanxerê, e agora secretário-executivo da unidade local da Agência de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina, Ademar Gasparini.O outro presente para a família Merísio veio no mês passado, durante a campanha eleitoral. A Rafitec tinha a autorização do governo para explorar a PCH Barra das Águas. Mas, em 7 de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica deu sinal verde para que Vaccaro transferisse a licença da pequena central hidrelétrica para a PCH Águas do Rio Irani – da qual a família Merísio tem sociedade. A capacidade total da usina, ainda em construção, será de 8.500 kW. Tomando por base um preço conservador de R$ 200 por mWh, conforme praticado em leilões de energia da Aneel, se a usina comercializar toda a energia que é capaz de produzir, o faturamento bruto dessa PCH chegaria a R$ 15 milhões anuais.

Vaccaro ainda tem participação na Primaleste Geração de Energia Elétrica Ltda e na Ribeirão Manso Energética Ltda. Em ambas, tem como parceiro Neimar Brusamarello. Ele e Vaccaro são grandes amigos. Em 2016, levaram suas famílias a Cancún para comemorarem seus respectivos aniversários.

Investimento de longo prazo

Gelson Merísio disse, em nota enviada por sua assessoria, ter concedido à família os direitos sobre seus bens, numa “organização de sua situação patrimonial”. “A situação do candidato é absolutamente legal”, pontua a nota.

Sobre as sociedades nas pequenas centrais hidrelétricas, Merísio diz que “não há interesse familiar”. “Os investimentos são em projetos ainda não implantados, os quais, se realizados, poderão garantir um planejamento para o futuro, mesmo na ausência do deputado”.

Merísio não comentou sua relação com Márcio Vaccaro.

Sobre o funcionário de seu gabinete que também tem participação em uma outra empresa de energia, o candidato a governador disse que “sobre a vida privada e pessoal do servidor, não compete ao deputado se pronunciar”.

Vaccaro foi contatado pela reportagem, mas até o momento não respondeu aos questionamentos.

Semana passada o Ministério Público Federal em Chapecó começou uma investigação sobre o enriquecimento de Merísio. Os procuradores chegaram até o candidato graças a uma denúncia feita no dia 21 de setembro por um advogado da cidade, que citou a participação de Merísio na MANG.

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