Do Conversa Afiada
O Conversa Afiada publica artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:
Política é análise concreta da situação concreta. Não há como fugir disso. O resto é tertúlia acadêmica, engenharia de obra feita ou simplesmente tentativa de encobrir fatos irrefutáveis.
Preocupa escutar de forças progressistas críticas contundentes a certas fórmulas adotadas pelo ex-presidente Lula na disputa inédita em curso. Tratam o ambiente como se o ex-presidente estivesse atuando em céu de brigadeiro, dentro de regras democráticas elementares, livre, leve e solto para fazer sua pregação. Cobram dele soluções convencionais, costumeiras quando se trata de jogo minimamente limpo e as normas seguem alguma jurisprudência.
Tais críticos invertem completamente o cenário. Lula, o maior líder popular da história brasileira, está trancafiado sem provas, sem crime, sem processo justo, com o único objetivo de alijá-lo – e o povo—da luta pelos destinos do país. Todo o peso da máquina do estado golpista e suas ramificações está voltado contra ele. TODO, e de modo talvez nunca visto na história nacional. As últimas revelações sobre como se manteve sua prisão após a decisão do procurador Rogério Favreto enojam mesmo juristas amadores.
Lula está sendo simplesmente massacrado, assim como fizeram com sua família e tentam – aqui num fracasso retumbante—apagar da memória seu legado e reputação.
O que impressiona nisto tudo é sua capacidade de furar tamanho bloqueio. Suas soluções heterodoxas quanto à chapa, como dizem alguns, não são obra de um alquimista egocêntrico ou aprendiz de feiticeiro. Respondem ao manancial golpista “da situação concreta” que não respeita mais nada –leis nacionais e internacionais, mandados, recursos, Constituição, vergonha e, sobretudo, cospe na vontade popular.
A solução D’Ávila-Haddad-Lula provavelmente seria considerada extravagante em condições normais de temperatura e pressão.
Ocorre que o Brasil vive distante disso há pelo menos dois anos. Pode-se também torcer o nariz para certas alianças, os acordos com o PSB e tratativas regionais. A questão é não colocar o subalterno no lugar do essencial. O fundamental é retirar do poder a gang de malfeitores que tomou de assalto o Planalto – sejam quais forem os meios.
A única pergunta cabível nesta etapa crucial é se as iniciativas ajudam a atingir este objetivo sem se diluir em adesismo ou rendição.
Ninguém se surpreenda se houver mais novidades adiante deste lado. Elas devem acontecer por um simples motivo: a chusma de usurpadores renova seu arsenal diuturnamente, proibindo Lula de ir a debates, requentando denúncias imaginárias contra ele e seus preferidos e acelerando a toque de caixa –e de ilegalidades — ataques contra o progressismo.
Não podem ficar sem resposta.
Estão certos, certíssimos o ex-presidente e seu staff em explorar todo e qualquer espaço no que restou de leis neste país.
Foi o que demonstrou com sobriedade Fernando Brito, no Tijolaço. Quanto mais elas forem pisoteadas, mais desmoralizados ficarão o “judiciário” sob encomenda, a mídia carcomida e a elite podre – se é que isto ainda é necessário.
E mais combustível será fornecido ao povo para reagir diante das atrocidades.
Este continua e sempre será o elemento decisivo. Se um reparo pode ser feito às forças progressistas, é a falta de maior ousadia em penetrar nas fábricas, escolas, bancos, lojas, repartições, movimentos de bairro e demais centros e organizações do povo.
Claro que nenhuma fresta pode ser desperdiçada – ao contrário. Nesse ponto, a internet tem sido foco de resistência fundamental e indispensável, principalmente quando alavanca a mobilização popular.
Mas é prudente afastar o fetiche exagerado nas tais redes sociais, esquecendo que elas próprias são amplamente manipuláveis pelos abutres do capital.
O cenário permanece nebuloso.
O jogo está sendo jogado numa guerra sem quartéis (por enquanto).
A cada nova pesquisa, a cada demonstração de que Lula e seus aliados crescem enquanto seus adversários se dissolvem como Sonrisal num copo d’água – a cada fato como esses os golpistas reforçarão suas baterias contra a democracia cambaleante.