Homenagem a José Marques de Melo, o Guerreiro Midiático

José Marques de Melo, jornalista e pesquisador alagoano autor de dezenas de livros sobre jornalismo, faleceu hoje em sua casa, em São Paulo, aos 75 anos. Primeiro Doutor em Ciências da Comunicação por uma universidade brasileira, criador do Centro de Pesquisas da Comunicação Social da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero (a mais antiga do Brasil) e fundador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, onde lecionou e foi diretor por vários anos, também foi idealizador e co-fundador da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom. No texto abaixo, seu amigo e também professor de jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Paulo da Rocha Dias, faz uma homenagem poética ao homem que formou gerações de jornalistas brasileiros e inspirou tantos outros no exterior.

Zé Marques, querido

Como se explica o teu último almoço? Foi mesmo um ato final de despedida? Ah, foi o mal de Parkinson. Não… Um infarto fulminante. Zé Marques desanimou em questão de minutos. Isso foi hoje pela tarde. Depois do almoço.

Imaginar-te desanimado, isto é, sem alma, traz à minha memória a tua maior exuberância, a tua alegria de homem bem disposto, animado e otimista. No campo dos estudos de comunicação, eras o mais conhecido pesquisador brasileiro. Aqui dentro e lá fora. Na existência, uma alma nordestina. Um coração brasileiro. Uma perspectiva mundial.

Teria esse almoço se transformado numa cerimônia pungente e absurda? Sabia de teus sofrimentos e andava satisfeito com a certeza que me dera inda há pouco o Marcelo Marques de Melo de que a cada dia os superavas a todos. Ao receber a notícia do teu encontro com a dona da casa, senti-me aturdido e inconformado, sem saber se duvidava.

Tu sempre foste um pai para mim. E, tenho certeza, tenho tantos irmãos que não os posso contar. Além do fato material, não tenho, Zé Marques, nenhuma razão para crer que morreste e acho que no fundo insondável estás vivo como é razoável e justo. Cobre-me a neblina e nada de bom consigo vislumbrar através do seu véu. Parece que estou boiando dentro de um pesadelo. Que esse pesadelo é a vida, que tudo é real. Irreconhecivelmente real. Não há dúvida que tu morreste.

Agora que já não te encontras mais entre nós, é fácil dizer que o teu destino era justamente esta existência caracteristicamente sequente, ligada e contínua que tanto bem fez àqueles que despontavam em tuas mãos para sondar as coisas, investigar, pesquisar, ensinar. Uma existência que sucedeu de êxito em êxito, trabalhando e vencendo, plantando e colhendo, espalhando sementes e ajuntando frutos. E hoje, a noite do tempo te recebe fatigado nos seus braços.

A tua falta traz à minha memória teus diversos setores de atividade. Na pesquisa em Comunicação e Jornalismo, eras a força polarizadora dos nossos interesses comuns. Devemos-te o congraçamento desta tribo inquieta e belicosa que é a dos jornalistas e dos pesquisadores do fenômeno jornalístico, quase todos guiados por tua mão. Os teus esforços, a tua admirável pertinácia, a tua presença, a tua cultura infinda haviam estabelecido entre todos uma harmonia que receamos agora não saber conservar.

Guardaremos, Zé Marques, a tua memória como a de um homem de boa vontade e de bom coração. Continuarás por certo a ser na eternidade esta mesma criatura generosa e acolhedora. Veremos se assim é oportunamente, pois todos temos intenção de acompanhar-te. Podes ir preparando um congresso amistoso como aqueles que aqui preparavas. Todos nós, teus amigos, compareceremos. Uns antes, outros depois, alguns com atraso, mas todos estarão, um dia, de novo, reunidos contigo. Adeus, Zé Marques.

 

PS: Se quiser conhecer melhor a vida e a obra do professor Marques de Melo, baixe aqui a segunda edição do livro Guerreiro Midiático, de seu biógrafo Sérgio Mattos, lançado em 2014 pela editora eLivros da Intercom.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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