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Debate

Projeto “Escola Sem Partido” em Uberlândia racha PDT e gera protestos

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Movimento “Escola sem Partido” (EsP) consegue entrar com mais uma proposta de lei municipal. Dessa vez o alvo é Uberlândia, maior cidade do interior de Minas Gerais, onde um grupo de vereadores apresentou projeto de lei intitulado “Programa Escola Sem Partido”. A proposta criou um racha na representação municipal do Partido Democrático Trabalhista (PDT). A polêmica se instaurou devido ao posicionamento do vereador Márcio Nobre, que assina o projeto de lei ao lado do colega do Partido Progressista (o mesmo do prefeito Odelmo Leão), Wilson Pinheiro. Segundo eles, a proposta teria o apoio de mais 11 vereadores. A reação de outros vereadores, do PDT e da sociedade civil, especialmente os professores, foi imediata.

Mesa diretora da Câmara Municipal de Uberlândia. Da esquerda para direita Michele Bretas (PSL), o presidente da Câmara Ronaldo Alves (PSC), Wilson Pinheiro (PP) e Paulo César (SD). Além de Pinheiro que é proponente, Bretas e Alves são apoiadores da “Escola Sem Partido”. Foto: Diego Leão

O vereador pedetista, de acordo com Bruno Pickles, do Núcleo de Base do PDT na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), estaria descumprindo orientações partidárias acerca da posição sobre o projeto. “Em reunião da executiva municipal, representando a juventude e o setor de movimentos sociais, fizemos um pedido para que o vereador retirasse o projeto. Contudo, ele tem se negado. Assim, vamos ingressar com um pedido de expulsão do parlamentar junto à comissão de ética do partido caso ele mantenha essa posição”, afirma. Os Jornalistas Livres enviaram uma série de perguntas a Nobre (veja no final dessa reportagem), mas ele se recusou a responder. Além de dele, o PDT de Uberlândia conta com a vereadora Flávia Carvalho, que também faz parte da Comissão de Educação da Câmara, e se dispôs a acolher as orientações do partido acerca da discussão e votação do projeto. O diretório mineiro do partido, aliás, emitiu nota em que afirma que “condena o projeto da ‘Escola sem Partido’ e está analisando internamente o assunto para promover as providências cabíveis”.

Da economia para o falso-moralismo

O projeto de lei uberlandense, não é uma novidade e basicamente é uma cópia de um projeto base disponível no site de uma campanha nacional criada em 2004 pelo advogado Miguel Nagib. No site da campanha constam versões, ainda, para projetos de lei estaduais e também um projeto federal. Seus autores afirmam que a proposição seria apenas a fixação de cartazes nas escolas com um conjunto de seis deveres dos professores para que “não ocorra doutrinação dos alunos” (veja o cartaz em: http://especializado.jor.br/escola-sem-partido-gera-polemica-entre-profissionais-da-educacao). No site do movimento, porém, há modelos de notificação extrajudicial para a criminalização de professores, prints de postagens em redes sociais nas quais profissionais se posicionam politicamente (exercendo seu direito de livre expressão do pensamento), uma representação contra a exigência do Exame Nacional do Ensino Médio de que as redações não atentem contra os Direitos Humanos e artigos contra o educador Paulo Freire, referência internacional de pedagogia. É um verdadeiro festival de fascismo, censura, manipulação, desinformação e incitação ao ódio.

O EsP recebe apoio de grupos da direita brasileira, que têm praticado lobby em diversas câmaras municipais para que ocorra a tramitação do projeto. Entre esses grupos, também está o Movimento Brasil Livre (MBL), que defende pautas ultraliberais e de retirada de direitos. Recentemente, conforme reportagem de Piauí, publicada em 03 de outubro, o grupo chegou a ser convidado por um deputado da base aliada do governo federal para que auxiliasse em tarefas de comunicação que defendessem Reforma da Previdência (Veja mais em: http://piaui.folha.uol.com.br/o-grupo-da-mao-invisivel/ ).

Na verdade, ao efetuarem o deslocamento da agenda econômica para pautas moralizantes, como a perseguição efetuada pelo MBL à exposição do QueerMuseu em Porto Alegre e do Museu de Arte Moderna em São Paulo (Veja mais em: https://jornalistaslivres.org/2017/09/mam-unido-contra-o-fascismo-e-censura/ , https://jornalistaslivres.org/2017/09/mam-unido-contra-o-fascismo-e-censura/ e https://jornalistaslivres.org/2017/09/mam-unido-contra-o-fascismo-e-censura/ ) ou o EsP , esses grupos escondem proposições tirando os holofotes da imprensa e das redes sociais sobre o grande intuito que têm trabalhado, que é de impor uma agenda do chamado “livre-mercado” no país. Com isso, a direita tenta manipular e angariar a simpatia de setores da população propensos ao conservadorismo, dentre eles setores ligados aos proselitismo religioso, a despeito dos prejuízos sociais, econômicos e de direitos que suas verdadeiras pautas representam para a maioria da sociedade.

Vereador Wilson Pinheiro (PP) discute com colegas o projeto de lei “Programa Escola Sem Partido” e tenda conseguir mais apoios. Foto: Diego Leão

Professores contra do EsP

Apesar do empenho de parlamentares e movimentos da direita brasileira, a proposta do EsP, tem encontrado resistência, especialmente de uma significativa parcela de professores e estudantes. “O nome ‘escola sem partido’ parece bom, afinal, escola não deve ter mesmo filiação a partidos políticos, não é mesmo? Mas por trás desse projeto, que agora é proposto por dois vereadores em Uberlândia, há nada mais nada menos do que um atentado à educação e à profissão do professor, já tão desrespeitada, desvalorizada, menosprezada.”, afirma Lucielle Arantes, professora da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia. Para a professora, a proposta, que tenta se apoiar numa suposta doutrinação imposta por professores aos alunos, não se sustenta. “Não há ensino neutro. Não há neutralidade nas ciências, nem na arte, nem na filosofia. A imposição dessa pretensa neutralidade é sim a mais pura manifestação de uma ideologia conservadora, visando cercear o pensamento, a análise crítica, a expressão humana”.

Há ainda a preocupação de professores da rede municipal de ensino que a medida institucionalize mecanismos de perseguição a professores que realizam determinadas discussões em sala de aula. “Acredito que o projeto ‘Escola Sem Partido’, proposto pelos vereadores, é uma forma de perseguição contra as pessoas que pensam e que conscientizam os estudantes para os problemas que enfrentam no cotidiano”, afirma Cid Carlos Marcos, professor de História em escolas públicas de Uberlândia. “Na verdade, a chamada ‘Escola Sem Partido’ é uma escola com censura”, complementa Ronan Hungria, professor efetivo da rede municipal. “É um projeto muito contraditório, pois os vereadores vieram discutir a liberdade, retirando a liberdade dos educadores. Além disso, o projeto tem um grave problema por ser inconstitucional”, destaca Flávio Muniz, professor em cursinhos preparatórios da cidade (ver vídeo em https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/616286168495264/) .

No mês passado, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) sediou o III Seminário Internacional Desafios do Trabalho e da Educação no Século XXI, com a presença de diversos pesquisadores e professores do Brasil e do Exterior. Por iniciativa do curso de jornalismo da instituição, oito palestrantes foram entrevistados e muitos deles também falaram sobre o EsP. O resultado pode ser visto nas reportagens “Escola Sem Partido gera polêmica entre profissionais da educação” (http://especializado.jor.br/?p=2377 ), “A doutrinação ideológica nas escolas brasileiras” (http://especializado.jor.br/?p=2356) e “Onde entra a liberdade de expressão?” (http://especializado.jor.br/?p=2318).

Projeto é inconstitucional

Em fevereiro de 2017, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), se manifestou favorável a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no 5.537, solicitada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino contra lei semelhante que foi promulgada no estado de Alagoas. “É tão vaga e genérica que pode se prestar à finalidade inversa: a imposição ideológica e a perseguição dos que dela divergem. Portanto, a lei impugnada limita direitos e valores protegidos constitucionalmente sem necessariamente promover outros direitos de igual hierarquia”, argumentou Barroso. (Veja mais: http://justificando.cartacapital.com.br/2017/03/22/barroso-decide-pela-suspensao-de-lei-alagoana-baseada-no-escola-sem-partido/ ). Ao conceder a liminar, o ministro Luís Roberto Barroso destacou ainda que, do ponto de vista formal, compete exclusivamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação, não podendo o Estado “sequer pretender complementar” normas federais.

O vereador uberlandense Adriano Zago (PMDB) listou outros princípios constitucionais contrários ao EsP: “o projeto é totalmente inconstitucional. Fere a livre manifestação de pensamento (Art. 5º, IV, CF); a liberdade de ensinar e aprender (Art. 206, II, CF); e a gestão democrática do ensino público (Art. 206, VI, CF); isso para citar apenas alguns dispositivos”, cita o também advogado, estudante de História na UFU e presbítero da Igreja Presbiteriana Central da cidade.

Em agosto, o Ministério Público Federal foi mais um órgão a apontar, à Câmara Municipal de Belo Horizonte, a inconstitucionalidade da proposta do EsP e alertou para os vícios de origem e de conteúdo do projeto. O ofício do MPF destaca trechos da liminar do STF, entre eles a decisão de que a proposta “é antagônica à de proteção ao pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e à promoção da tolerância, tal como previstas na Lei de Diretrizes e Bases”. (Veja mais: http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/noticias-mg/mpf-aponta-inconstitucionalidade-do-projeto-escola-sem-partido-da-camara-municipal-de-belo-horizonte/).

Vereadores proponentes compõem bancada da bíblia e do boi

 Os vereadores que apresentaram o projeto do EsP têm mais um ponto em comum além da ideia de que há proselitismo ideológico nas escolas: ambos são evangélicos e costumam orientar suas posições no plenário a partir de convicções religiosas. Apesar de fazer parte do PDT, não é primeira vez que Márcio Nobre descumpre orientações partidárias. Em maio, o vereador se opôs ao projeto de lei que propunha instituir o uso do nome social para pessoas travestis e transexuais (Veja mais em: https://www.facebook.com/jornalistaslivres/posts/528018413988707). Mesmo com o voto contrário do vereador, o projeto foi aprovado (Para acessar a lei completa: https://goo.gl/RvVzKb). Nobre é membro da Igreja Assembleia de Deus em Uberlândia.

Já Wilson Pinheiro, que durante os anos 1980 e 1990, se afirmava comunista e militava em movimentos e sindicatos de esquerda, se tornou evangélico durante os anos 2000. No mesmo período, começou a compor com grupos da direita uberlandense e durante os quatro mandatos em que foi eleito tem sido uma das principais lideranças de sustentação do grupo político ligado ao prefeito Odelmo Leão, que se compõe basicamente de ruralistas. Mesmo tendo votado favoravelmente ao uso do nome social, Pinheiro costuma ser liderança nas discussões de pautas ultraconservadoras e anti-esquerda na Câmara de Uberlândia. Além deles, pelo menos outros dois vereadores são pastores e costumam orientar seus votos a partir de convicções religiosas: Pastor Átila Carvalho (PP), da Igreja Evangelho Quadrangular; e o Pastor Isaac Cruz (PRB), que é da Igreja Universal do Reino de Deus.

Outras contradições se verificam entre os vereadores de Uberlândia. Wender Marques (PSB), que compõe grupo político ligado ao deputado estadual Tenente Lúcio (PSB), que apesar de afirmar em sua biografia no site da Câmara ser “Socialista, militante, está presente nas bases na luta por uma sociedade mais justa, na emancipação das pessoas mais carentes e na erradicação de qualquer forma de preconceito, seja racial, geracional, de gênero, entre outras”, votou contra o uso do nome social. Embora hoje no PDT, Márcio Nobre é oriundo do mesmo grupo político na cidade. Sendo que o próprio Tenente Lúcio chegou a compor os quadros do partido.

Por fim, Silésio Miranda, do PT, embora faça acirrada oposição ao governo municipal, também costuma orientar seu voto, em pautas de questões morais e de cultura, de acordo com sua religiosidade. Na votação sobre o nome social, por exemplo, o vereador votou contra o projeto.

Para além da questão de se manifestarem de acordo com convicções religiosas, o que preocupa setores que se organizam na luta contra opressões (como mulheres, LGBTs, negros e negras, dentre outros) é que os parlamentares ligados a bancadas evangélicas costumam se posicionar contra pautas fundamentais de direitos e, não raro, avessas à própria concepção de Estado laico. “Aqui, como em tantos outros cantos deste país, temos que nos empenhar a desconstruir mentalidades fundamentalistas religiosas, principalmente pentecostais, que ficam cegas para a dimensão humana e mesmo crítica da vida. Atualmente essas forças estão muito atuantes dentro de partidos à direita e à esquerda, como se viu na bancada evangélica da Câmara Municipal, que votou contra o projeto”, afirmou a ativista lésbica Tânia Martins em ocasião da votação do Projeto de Lei do uso do nome social.

Procuramos a Prefeitura Municipal de Uberlândia solicitando o posicionamento do mandato do prefeito Odelmo Leão (PP) sobre a proposta da “Escola Sem Partido” que tramita na Câmara Municipal. Contudo, até o fechamento desta matéria não houve pronunciamento do órgão.


Veja abaixo as perguntas enviadas pelos Jornalistas Livres ao vereador Márcio Nobre no dia 9 de outubro e ainda sem resposta:

Boa tarde vereador Márcio Nobre, aqui é o Gabriel Lima, jornalista do Jornalistas Livres.

Estou encaminhando estas perguntas para o senhor de modo a oferecer o amplo espaço necessário para defender sua posição quanto ao projeto “Programa Escola Sem Partido”. O senhor tem um prazo de 12 horas para respondê-las, para termos tempo publicar as respostas na matéria sobre o tema, que estamos produzindo para publicação ainda essa semana.

PERGUNTAS:

1) O senhor foi eleito para a câmara de vereadores de Uberlândia em uma coligação com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Hoje eleito por um partido de centro-esquerda (PDT), evangélico, tem se posicionado favorável a pautas conservadoras que não dialogam nem um pouco na coligação que o levou na câmara. Podemos dizer que esse cenário pode se enquadrar em um estelionato eleitoral?

2) O senhor protocolou um projeto vitrine da pauta conservadora no Brasil que é o “Escola Sem Partido”, que busca denunciar professores que se posicionem politicamente, negando a história do seu partido, que tem pessoas como Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, quadros eternos da legenda. O senhor não se sente envergonhado com essa situação?

3) O que te faz pensar que continuará no PDT? Analistas dizem que isso seria uma manobra para o partido lhe expulsar e o senhor angariar votos dos evangélicos para deputado federal? Isso é verdade? O senhor pensa em desistir de ser vereador e ir tentar ser deputado surfando na onda reacionária no Brasil?

4) O senhor disse que chamará o MBL para defender seu projeto. O MBL faz claros ataques ao PDT e Ciro Gomes. Não acha ser contraditório? O MBL subiria em tribuna com um vereador que venceu as eleições em coligação com um partido comunista?

5) Ciro Gomes já se posicionou fortemente contra o projeto “Escola Sem Partido”. Com isso, o senhor “rasga” seu projeto político na segunda maior cidade de Minas Gerais. O senhor não é a favor de Ciro Gomes como candidato do PDT para Presidente da República?

6) Existe possibilidade do senhor voltar atrás?

Muito obrigado pela atenção,

Gabriel Lima

 

Chacina

Cuiabá nas ruas contra do racismo, o fascismo e o genocídio

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Da: MediaQuatro especial para os Jornalistas Livres

Desde de 2019, com as manifestações contra os cortes na educação e a deforma da previdência, Cuiabá não juntava tanta gente nas ruas. E talvez nunca tenha havido tamanho contingente policial, incluindo helicóptero, para o improvável caso de “vandalismo”. Mas era mesmo de se esperar. Afinal, o racismo estrutural brasileiro em uma das capitais mais conservadoras do país exige que se trate os pretos e pretas sempre como potenciais criminosos. BASTA! O país não pode mais conviver e não conseguirá sequer viver como nação integral enquanto houver preconceitos que se refletem em práticas cotidianas e políticas públicas que oprimem e excluem a maior parte da população.

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

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Chegamos a um ponto no Brasil que não é mais suficiente não ser racista. É preciso lutar contra o racismo, nas ruas, nas redes, nos campos e nas casas. E a luta antirracista é central na derrubada do governo Bolsonaro e suas políticas genocidas na economia, na segurança pública e na saúde. Foi por isso que, apesar da necessidade de se intensificar o isolamento social, fomos à Praça Alencastro e marchamos pelas avenidas Getúlio Vargas, Marechal Deodoro, Isaac Póvoas e BR 364 para retornarmos à Praça da República sem qualquer incidente.

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Assim como em outras cidades e estados por todo o Brasil, em Cuiabá e Mato Grosso os negros e negras são maioria e são exatamente os corpos pretos os mais encarcerados, os pior pagos, os que vivem nos lugares mais distantes, os que mais precisam trabalhar fora de casa durante a pandemia (e muitas vezes sem sequer os equipamentos de proteção adequados) e os que mais são atingidos pela Covid-19. Isso não é uma coincidência. É resultado de quase 400 anos de escravidão formal, que em Mato Grosso também vitimou indígenas em larga escala, e de uma abolição inconclusa que indenizou os “proprietários” de pessoas mas nunca pagou a dívida histórica com quem sente na pele seus efeitos até hoje.

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É fato que o assassinato do estadunidense negro George Floyd foi o estopim dos protestos antirracistas em todo mundo e também no Brasil, onde houve atos em pelo menos 20 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Mas por aqui, as mortes do menino Miguel, do adolescente João Pedro e dos jovens em Paraisópolis, só pra citar alguns casos mais representativos nos últimos seis meses, demonstram cotidianamente o que significa ser alvo do preconceito, da polícia e das políticas.

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Desse modo, derrubar o governo o quanto antes o governo do fascista que ocupa a presidência é indispensável para conseguirmos combater a epidemia de forma minimamente eficiente. E tirar apenas o presidente não é suficiente, porque seu vice e ministério são igualmente racistas, como está provado em entrevistas antes mesmo das eleições, em pronunciamentos em eventos e na fatídica reunião ministerial.

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Enquanto não derrubarmos as políticas estúpidas da “guerra às drogas”, do encarceramento em massa, da concentração de renda, do agronegócio acima da agricultura familiar, não há presente para o país. E enquanto não investirmos em políticas públicas de igualdade racial e de gênero, de proteção às minorias e à diversidade, e de promoção dos direitos humanos a TODOS e TODAS, incluindo a punição de policiais assassinos, milicianos e racistas, não haverá futuro também.

 

 

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#EleNão

Os camisas negras de Bolsonaro

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Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

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Ação Humanitária

Miguel: quantos como ele correm perigo nas casas das patroas de suas mães?

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https://www.youtube.com/watch?v=sMvyTtB070M

Se nesse momento a história da trágica morte do menino negro, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, filho da empregada doméstica, Mirtes Renata Santana da Silva, fosse inversa em todas os seus detalhes: se ele fosse o filho branco da patroa, Sari Mariana Gaspar Corte Real, e tivesse morrido depois de despencar do 9º andar por desleixo e irresponsabilidade da empregada doméstica, certamente essa mulher negra estaria, neste exato momento, encarcerada.

Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos de vida, é vítima do racismo arraigado na vida cotidiana de pessoas como Sari, uma mulher que, ironicamente, possui sobrenome supremacista branco “CORTE REAL”.

Mas esse não é o pior dos detalhes. Nesse episódio trágico, a imprensa pernambucana, majoritariamente branca, portanto “limpinha”, não quis desagradar a mulher do prefeito da cidade de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB).

Até agora não há sequer uma menção realmente incisiva sobre a responsabilização de Sari na morte do menino.

O mesmo aconteceu com o delegado Ramón Teixeira, que acolheu o caso inicialmente. Preferiu preservar a identidade de Sari Mariana Gaspar Corte Real.

Sari não dispensou Mirtes por causa da pandemia. Sari não quis limpar sua própria merda, não quis varrer seu chão, não quis colocar  suas roupas na máquina de lavar, não quis cozinhar sua própria comida. Sari não quis levar seu cachorro para passear. Sari colocou a vida de sua empregada em risco, exposta à COVID-19. Sari matou o filho de Mirtes.

Que tipo de gente é essa?  Miguel, 5 anos, queria ver a mãe, que saiu para levar o cachorro da patroa a passear. Insistiu, fez birra, como qualquer criança faria. E não se curvou ao racismo de Sari. Por isso entrou no elevador. Por isso foi ao nono andar. Sozinho, porque Sari não se importa, não se importou com o fato de ele ser um menino. Ele era filho da empregada, não era nada. E ele caiu do nono andar. Ele morreu. Quando um filho morre, a mãe é a primeira que desce à cova. Era um filho negro. Na casa da patroa branca. A mãe negra, a empregada, não percebeu isso ainda. Em meio à dor, em estado de choque, ela humildemente lamenta a “falta de paciência” da patroa assassina.

Miguel

Miguel com sua mãe, Mirtes. Ao lado, Sari Corte Real, a patroa que colocou a empregada e seu filho em risco.

O FATO – O menino foi vítima de homicídio na terça-feira (2). Caiu do 9° andar da sacada de um prédio de luxo no Centro do Recife, em Pernambuco, conhecido como Torre Gêmeas. A informação inicial era de que, na hora do acidente, a empregada estaria trabalhando no 5° andar do prédio, mas hoje foi revelado que, na verdade, a empregada estava cumprindo a função de passear com os cachorros da família, enquanto a patroa cuidava de Miguel. Sari foi presa inicialmente, mas pagou uma fiança de R$ 20 mil e responde em liberdade, mesmo depois da divulgação de vídeos mostrando que Sari colocou Miguel sozinho no elevador de serviço, o único que dava acesso para a área desprotegida da qual o menino despencou para a morte. Os elevadores para pessoas como Mirtes e seu filho, na prática, ainda são diferentes no Brasil. E foi lá que a patroa o deixou.

Apartamento onde Miguel estava

Planta de um apartamento no prédio de luxo de Sari, marcado por corrupção e tragédia

 

Um corpo negro que vale 20 mil reais? Realmente vivemos um pesadelo legitimado pela racismo institucional do judiciário

Liana Cirne Lins, professora da Faculdade de Direito da UFPE, relatou em suas redes sociais que muitos têm defendido a tese de que, inclusive, houve homicídio DOLOSO, configurando dolo eventual. “Afinal, que adulto coloca uma criança de cinco anos, que está chorando pela mãe, sozinha, num elevador, e não calcula a possibilidade de um acidente?” Miguel não tinha intimidade com elevadores. Morava com os pais em uma casa pobre, num bairro humilde.

Sari sabia dos riscos e não faria o mesmo com os próprios filhos. Aliás, essa é uma pergunta que gostaríamos de fazer à patroa de Mirtes: como você acabaria com a birra de seus filhos?

Certamente Sari não os colocaria em risco. O centro desse debate é, sem dúvida, a herança de nossa cultura escravocrata e racista.

Outra declaração importantíssima de Liana Cirne é sobre o local e a data simbólica do homicídio: “O local é nas famigeradas Torres Gêmeas, esse lugar horroroso que tem essa energia do mal, do crime, da corrupção. Elas são um aborto em nossa paisagem e cenário de vários escândalos, desde que a [construtora] Moura Dubeux as ergueu, entre liminares. Nesse momento, mais do que em outros, queria que a sentença demolitória do juiz Hélio Ourém tivesse sido executada. Sobre a data: Miguel morreu no dia em que a PEC das Domésticas completou cinco anos! E é assim que se celebra o aniversário da legislação de proteção das Domésticas, o que diz muito sobre nosso país, que não superou sua herança escravagista.”

Os Jornalistas Livres se solidarizam demais, profundamente, com mais esse fato absurdo, horroroso, que tem como alimento o racismo.

Miguel, presente!

 

 

 

Leia mais sobre o racismo que mata no Brasil:

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