Agosto é mês de gosto. E das coisas que mais me encantam é ver o povo de Obaluaê na rua, meu povo também, alimentando a tradição de distribuir saúde e fartura pela pipoca. Quem tem saúde, tem fartura.
Uma senhora esmola na Avenida Sete acompanhada de um irmão mais sorridente e sem sofrimento no rosto. Contribuo e abro a bolsa para receber a pipoca e fazer meu ritual em casa.
Sigo o caminho em direção ao Castro Alves e passo por outro irmão, de cabelos e óculos hytech que, de pé e altivo, diz algumas coisas que não entendo bem. Só ouço o final, Obaluaê. Contribuo outra vez e ele me convida, “venha mãe, venha tomar seu banho de pipoca”. Agradeço e digo que levarei a pipoca para casa. Abro novamente a bolsa, guardo a pipoca que ele me oferece; nos saudamos, nos despedimos. Sim, que Obaluaê me guarde, me dê saúde e me guie. Sigo meu caminho.
Na volta vejo o rapaz de Obaluaê atravessando a rua com a sacola de dinheiro nas mãos e o Peji-móvel ali, sozinho no ponto de ônibus. Oxente, onde vai esse menino? E se um desses fundamentalistas destruir o Peji? Meu instinto candomblezeiro quase me faz parar para protegê-lo de qualquer atentato.
O irmão de Obaluaê continua andando com a tranquilidade de quem sabe o que faz. E o Peji quietinho lá, sereno. O dinheiro ele leva porque os fundamentalistas são loucos, mas não o rasgam, sabem reconhecê-lo e cultuá-lo. O poeta já nos contou. Mas, o Peji de Obaluaê pode esperá-lo e se manterá íntegro. E se bulirem nele, que se vejam com Obaluaê. Atotô, Senhor da Terra!
Ilustração (montagem) Joana Brasileiro | Jornalistas Livres