Enquanto escrevo, no dia do maior ato organizado por movimentos sociais na Esplanada dos Ministérios, o que se vê nas proximidades do acesso ao Congresso Nacional é o uso descontrolado do aparato policial. Uma brutal repressão. Desde a noite de ontem, milhares de pessoas se encontraram na capital federal, para pedir o afastamento imediato do presidente Michel Temer e lutar contra o desmonte da Previdência e das leis trabalhistas.
O dia começou com uma longa e pacífica caminhada em direção à Esplanada. Dentro do Congresso, a UNE e o Centro Acadêmico “11 de agosto” entregaram um abaixo assinado ao presidente Rodrigo Maia com mais de 800 mil assinaturas, colhidas em menos de uma semana pedindo a saída de Temer. Por volta das 14h, o clima começou a mudar. Um festival de balas de borracha, bombas, borrachadas e muita intimidação.
Milhares de soldados da Polícia Militar e da Força Nacional de Segurança, Forças Armadas, avançaram sobre os manifestantes, provocando pânico, correria, e deixando dezenas de feridos pelo caminho. Alguns já estão sendo atendidos no Hospital de Base. Ao meu lado, puder ver um jovem que teve o olho atingido e um morador de rua, teve a barriga perfurada por um tiro a queima roupa de bala de borracha. Os policiais, novamente, não seguiram os próprios protocolos de segurança em manifestações.
Joelmo Jesus de Oliveira, morador de Brasília, relatou, entre tantas outras agressões, uma praticada pela polícia do exército.
“Eles estavam dentro do Prédio, que tem vidros espelhados, saíram de repente e agrediram uma jovem com chutes na cara e murros”.
Um senhor que filmava o ato teve seu celular destruído, uma enxurrada de gás de pimenta nos olhos e ainda borrachas para que se afastasse.
“Se isso não é estado de exceção, não sei o que é.
Nunca vi tamanha violência” Mas o que justifica tamanha repressão? Não houve movimento no Palácio do Planalto durante todo o dia. Temer está absolutamente isolado e sua base no Congresso desmoralizada para levar a cabo outras reformas. A saída por renúncia foi descartada pelo presidente, o que faz com que lhe reste apenas a força repressora. Mesmo com a forte repressão os movimentos seguem firme na capital do País. Resta aos movimentos resistir em Brasília e em todo Brasil.
Serão dias duros e decisivos para barrar o desmonte e derrotar o golpe.