
Na tarde amena em dia de descobrimento, fiquei por horas em 22 de abril, numa calçada da capital entre memoriais a observar gestos em bronze consolidados. É sábado, e sábado na capital do país é dia sem palavras, só cabe ao ser ciente de si e sua solidão observar. Mas o fato é que Juscelino Kubitschek olha em paz o infindo, em gesto amplo parece oferecer e ao mesmo tempo consentir benção lá do céu. Cá em baixo na rua estou entre as quadras, no Memorial dos Povos Indígenas, e olho atento um índio em bronze também, segurando seu arco e flecha em direção a Juscelino ao alto, um olhando o Memorial do outro. O que há nessa relação, nesse entre olhares? Questiono, me surpreendo.

Há algo aqui inserido pelo arquiteto? Artistas adoram isso, meter símbolos, paralaxes, sintaxes, criptografias.
No Memorial dos Povos Indígenas encontro em espaço tão nobre e de poucos proventos, Francisco Guajajara e Álvaro Tukano, guerreiro e cacique, homens que proferem guardas e sabedorias em puro afinco e resistência, a zelarem pelo espaço indígena na capital. Tímido diante de JK, os memoriais se defrontam em terno respeito e incrível arquitetura e ousadia nas linguagens. O que quis o arquiteto?
Álvaro, em breve diálogo me diz: cada um pegou seu índio e quer colocá-lo no bolso, a academia, as ONGs, os políticos. Eu venho de uma escola aonde a nota é o que o homem faz. O conhecimento de vocês deixa o índio mais pelado, mais técnico. O meio ambiente é que ensina a gente a sobreviver. A saúde do mundo não é como um saco de bombom, onde tal e qual pega o seu. A terra e o povo são um só.
Brasil meio olho do mundo, um eterno retorno ao descobrimento de algo que sempre existiu, e se reinventa e se tutela e se recusa.

Um amanhã sempre surpreende em Brasília.
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