A “Folha de S.Paulo” demitiu hoje o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, que há dois anos mantinha uma coluna semanal no site do jornal.
A data da demissão coincide com a estrondosa vitória do MTST, que manteve sob sol e chuva, por 22 dias, um incrível acampamento no endereço mais valioso da cidade, a avenida Paulista. Pressionada, a Presidência da República concedeu a retomada as contratações do programa Minha Casa Minha Vida na faixa 1, para famílias com renda até R$ 1,8 mil, e comprometeu-se com a construção de 35.000 novas moradias populares.
Boulos esteve todo o tempo à frente da mobilização que reuniu artistas, intelectuais, militantes de inúmeras forças políticas e o povo pobre, despossuído de tudo.
Juntos e misturados, esses atores sociais almoçaram e jantaram as iguarias populares preparadas na cozinha coletiva e solidária do acampamento, assistiram a shows incríveis (como os da Liga do Funk, Izzy Gordon, Emicida e Criolo, entre outros), debateram os rumos do país e os riscos colocados pelo governo golpista.
Não faltaram os incomodados de sempre. Gente que considera “Cidade Linda” aquela sem as cores, a diversidade, os múltiplos sotaques, as trocas enriquecedoras. Até abaixo-assinado exigindo das autoridades que desalojassem o acampamento foi patrocinado por uma pretensiosa e ridícula associação de comerciantes e moradores da avenida Paulista, chamada “Paulista Viva”.
(Para que se tenha uma idéia do tipo de “vida” que a Associação Paulista Viva defende, basta dizer que, em momento de glória, durante as gestões dos prefeitos Marta, Serra e Kassab), ela pendurou baldes com flores artificiais nos postes de luz da avenida. Como ensinavam os Titãs: “As Flores de plástico não morrem.” Também não vivem.)
É lógico que esse tipo de gente careta e covarde, apavorada com a diferença tenha se incomodado com Boulos e seus amigos.
Não precisava a “Folha de S.Paulo”, porém, ser de tal modo servil aos reclamos higienistas da turma da Paulista morta.
Vamos repetir o nome do que a “Folha” fez com Boulos hoje, ao comunicá-lo de sua demissão do quadro de colunistas do jornal:
É censura… Censura… Censura…
Sim, porque a “Folha”, que já foi comparada à Roma antiga, com suas “colunas e ruínas”, tantas são as colunas e tão ruinosa sua atuação em relação à boa reportagem, orgulha-se de contar com 170 colunistas e blogueiros como prova de seu jornalismo “pluralista, apartidário e independente”. Me engana, vai!
Boulos foi demais para a Roma Antiga (embora Kim Kataguiri continue por lá, fazendo suas molekagens).
Intelectual que julga inseparáveis a teoria e a prática, o coordenador do MTST não por acaso é hoje uma das principais lideranças jovens da esquerda. Bebe a realidade das vivências sofridas dos trabalhadores sem-teto e, junto aos seus camaradas de movimento, elabora a compreensão política, econômica e filosófica voltada para a ação transformadora.
Perigosíssimo!
Com essa demissão, a “Folha” reafirma seu caráter excludente, classista e partidarizado.
Como bem notou Guilherme Boulos, a demissão até demorou…
É hora de construir com mais energia e força a mídia independente e popular.
É hora de jogar na lata do lixo da história esse jornalismo elitista, que só fala dos pobres (e com eles) na hora de criminalizá-los (e manipulá-los).
Estamos juntos, Boulos!
Aqui um exemplo do pluralismo da Folha, aquele em que cabe negra contra cotas, hippie contra a descriminalização das drogas, defensor da pena de morte… Mas não cabe Guilherme Boulos e nem o movimento social: