Conecte-se conosco

Opinião

Desconexões Políticas e Especificidades Indígenas

Publicadoo

em

A gente tem de parar de trazer veneno para dentro da nossa comunidade, porque as coisas que vêm de fora, elas são veneno. O açúcar é veneno, o sal é veneno, a bebida é veneno… essas coisas prontas que a gente come, a carne com hormônio, o óleo que a gente põe na comida, isso é tudo veneno, e faz mal para nós. Por isso a gente pensou em criar a cooperativa, também para dar independência para a gente não ficar sempre no cativeiro dos donos de estabelecimentos comerciais que retém os cartões, e mantém todos nessa escravidão, como era antigamente, no tempo da seringa”. –  Fabiano Sales Huni Kuin.

Ouvi essa fala na tarde de ontem, numa reunião na Assessoria Indígena, quando o Huni kuin do Jordão apresentava a algumas pessoas a ideia que tiveram da criação de uma cooperativa no Jordão, destinada tanto a fomentar a produção quanto a libertar os indígenas do ‘aviamento’ moderno que se instalou no Acre – e pelo Brasil afora – a partir da instituição de alguns programas sociais, notadamente, o Bolsa Família.

OPA! Vamos aqui desde já ressaltar que em nenhum momento estou aqui para falar necessariamente contra o fato de indígenas serem beneficiários desse e de outros programas sociais. Como já disse uma vez, os povos originários devem ser encarados como cidadãos brasileiros de pleno direito, e, por isso, têm total liberdade para acessar quaisquer programas sociais ou políticas públicas que sejam de seu interesse, quando assim o desejarem.

O problema é que, como de costume, esses programas não são pensados para dar conta das especificidades do mundo indígena, antes, já vêm prontos e há bem pouca margem de flexibilização que torne possível um encaixe menos danoso.

Como também já disse outras vezes, embora o Brasil possua uma Constituição que assegura o ‘direito à diferença’ como base de respeito para o tratamento dos povos originários, e a despeito de ser signatário de um tratado internacional que preconiza o direito à consulta prévia, livre e informada, a realidade prática ainda passa a milhas de distância da efetiva aplicação da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A proposta capitaneada pelo povo do Jordão é, sem dúvida, uma ideia que pode trazer muitos benefícios aos indígenas daquela região, e servir de modelo para as demais regiões do estado, visto que possibilitaria a conquista de uma autonomia perante o comércio das cidades, que se impõe como única fonte de fornecimento de gêneros alimentícios e demais mercadorias que hoje já fazem parte do cotidiano de muitas populações indígenas.  Ao mesmo tempo, a cooperativa pode possibilitar a introdução no mercado dos próprios produtos indígenas, de maneira mais equilibrada e competitiva.

A fala do Fabiano, no entanto, me fez pensar menos na inoperância jurídica que grassa neste país quando o tema é o respeito aos direitos dos povos originários, e mais no termo que ele usou repetidamente para falar de ‘coisas que vêm de fora’: Veneno.

 

A fala dele me fez lembrar a primeira visita que fiz a uma terra indígena em terras acreanas, o carnaval que passei com o Povo Shawãdawa. Lembrei-me porque depois de passar uma semana com aquele povo, e de ter retornado para o estado onde eu residia até então, o Paraná, carreguei comigo a sensação de que, não fosse essa coisa chata chamada ‘sociedade branca cristã ocidental’, aqueles parentes poderiam viver maravilhosamente bem por uns bons 12 mil anos, mas acontece que essa coisa chata está ali, na fronteira, invadindo os limites, fazendo incursões para dentro do espaço indígena, e despejando os seus venenos.

Isso porque, como gafanhotos que são, a verdade é que os raion (não-índio) não têm por prática a perspectiva de respeitar limites. Pelo contrário, o raion sempre acha que sua presença é possível e bem-vinda em qualquer espaço. E ai daqueles que tentam avisar do contrário! (Basta citar para ilustrar as infindas e repetitivas discussões que se instalaram nas últimas semanas nas redes sociais acerca da apropriação cultural).

Fabiano falou muito sobre a introdução de determinados alimentos estranhos à cultura tradicional, e que acabam por se constituir em veneno. Trata-se de uma verdade inescapável: basta observar a quantidade de casos de doenças outrora inexistentes entre os indígenas, e que podem ter correlação estreita com a utilização de produtos industrializados e excessivamente processados, e que causam um inegável desequilíbrio no organismo humano, mais ainda se neste caso esse organismo não estava acostumado a seu uso frequente.

É assim que se tem com cada vez mais frequência notícias de parentes adoecendo de diabetes, gastrites, úlceras e tantas outras doenças ‘modernas’. Aliás, convém citar que para muitas concepções indígenas, a doença é uma manifestação de um desequilíbrio do corpo.

E, nessa diapasão, a introdução de determinados elementos do mundo branco como alimento tende a ser justamente a fonte do desequilíbrio. Gostaria de citar um caso que ouvi tempos atrás de uma amiga que trabalha na Saúde Indígena do Paraná, e foi chamada a apaziguar uma querela que surgiu depois de algumas incursões de uma equipe de saúde em algumas terras indígenas Kayngang no Paraná.

Ela me contou que o problema teria surgido porque aquela equipe havia adotado um forte discurso para que as mulheres indígenas substituíssem o uso da gordura de porco pelo óleo de soja, sob uma alegação de que esta seria uma opção mais saudável. A negativa a essa orientação por parte das Kayngang partia do pressuposto – óbvio – de que essa substituição era inviável, uma vez que a comida feita com óleo de soja não era nutritiva, era fraca e fazia o corpo adoecer, enquanto que a gordura animal proporcionava força ao alimento, e impedia a doença de se instalar.

Bom, de saída já podemos ressaltar o próprio absurdo que está em defender a utilização de um alimento transgênico como ‘alternativa saudável’. Mas, mais do que isso, temos também a mania desagradável que alguns raion adotam de tentar forçar a submissão de uma prática cultural ao crivo de um julgamento etnocêntrico, desrespeitando e desconsiderando o ponto particular do povo com o qual pretende interagir.

Bom, de saída já podemos ressaltar o próprio absurdo que está em defender a utilização de um alimento transgênico como ‘alternativa saudável’. Mas, mais do que isso, temos também a mania desagradável que alguns raion adotam de tentar forçar a submissão de uma prática cultural ao crivo de um julgamento etnocêntrico, desrespeitando e desconsiderando o ponto particular do povo com o qual pretende interagir.

E antes fosse só o óleo de soja que o mundo não indígena tentasse nos impor! E quem dera houvesse aos indígenas a opção de rejeitar sempre essas tentativas impositivas, optando pela manutenção de suas práticas tradicionais, não é mesmo? Infelizmente, em um sem número de casos, não é tão simples assim… A evangelização, talvez uma das mais eficazes armas etnocidas de todos os tempos, está aí há tantos séculos para provar a força que têm essas imposições.

Língua, práticas sanitárias, vestimentas, alimentação, religião; muitos são os exemplos das doses de veneno quase diárias desses 517 anos de invasão. Por vezes, ela se insere sim de maneiras sutis, e até se fantasia de uma boa coisa, como o recente caso do caminhão doado pela Raizen no Mato Grosso do Sul para o atendimento dos indígenas na região de Dourados. Podemos encarar isso como um bem? Sim. Talvez. Aparentemente. Mas não!

Não ao menos sem ficar com aquele travo na língua e aquele frio na espinha que já antecipa o punhal que será cravado nas costelas quando ninguém estiver olhando. Não sem deixar de pensar sobre o que de fato representa a indústria de açúcar e álcool em terras sul mato-grossenses, e em qual o nível da contrapartida dessa política de boa-vizinhança pode vir a ser exigida do órgão indigenista e das instituições que trabalham na assistência às populações indígenas do estado.

Tal como os troianos que receberam aquele cavalo de presente. Vai dizer que não ocorreu a nenhum deles que era um tanto quanto estranho o fato de que, em meio a uma tremenda guerra, ‘do nada’ aparecesse um presentão muito vistoso e providencial vindo justamente do inimigo declarado que até então sitiara a cidade? E eis o desafio nessa guerra, muito mais sangrenta e duradoura do que a de Troia: saber antever a armadilha que se esconde no interior do presente, e ser capaz de reagir da maneira mais adequada possível em cada caso.

No caso específico do Mato Grosso do Sul, também não é sequer necessário lembrar o que de fato é prioridade para os indígenas que habitam o estado: a demarcação de suas terras. Se as demarcações de fato viessem a ocorrer, a maioria dos problemas dos Guarani e Kaiowá estaria resolvida de pronto, pelo simples fato da garantia de existência representada pela possibilidade de habitar seus Tekohá, de viver e ser, nos lugares cuja definição são, exatamente ‘o lugar de ser o que se é’. Com terras demarcadas, e segurança da não expulsão dessas terras, bem se poderia depois gozar dos benefícios de um caminhão que proporcionasse melhor conforto e acesso a serviços.

É importante que eu esclareça: não quero aqui parecer que estou desdenhando a utilidade desse presente. Conheci um pouco da realidade sofrida dos parentes do Mato Grosso do Sul nas ocasiões em que lá estive, realizando alguns trabalhos que certamente foram pouco mais do que tentativas de apagar um incêndio usando um conta-gotas. Sei muito bem que em um contexto de tantas necessidades, e de violência constante, ajuda e apoio são sobremaneira necessárias.

O problema é: que tipo de ajuda é essa? Até que ponto estamos perante uma ajuda, e até que ponto isso não passa de uma cortina de fumaça para esconder a verdadeira ação, a perene negligência e a inoperância do poder público em atacar o problema real? Afinal de contas, penso que talvez não seja tão complicado assim percebermos que o problema real para os Guarani e Kaiowá está no fato de ser obrigado a uma condição subumana de vida, acampados por décadas em barracos de lona em faixas de terra com pouco mais de dois metros de largura, sem acesso à água potável ou possibilidade de cultivar alimentos, e espremidos entre campos infinitos de soja ou cana, e a morte que circula sob as rodas de veículos que passam a toda velocidade. A resposta para este problema é tão óbvia quanto ele próprio.

Não creio que este texto se pretenda como uma defesa da ‘pureza’ e total separação dos povos indígenas do mundo raion. Infelizmente penso que essa separação não é mais possível nos dias atuais. Recordo-me de uma história Ashaninka que recentemente li, a respeito dos tempos em que o seu deus criador, Pawa, pretendia criar um muro de separação entre seus filhos e os virakotsha, garantindo assim a sustentabilidade de uma existência em equilíbrio.

Tudo parecia que ia funcionar, até que o demiurgo se dá conta que a separação não terá a devida eficácia, visto que um de seus filhos passa a demonstrar um comportamento ‘de branco’, sendo avaro e ganancioso, a ponto de provocar a quebra do equilíbrio até então mantido. Diante dessa constatação, Pawa decide abortar a construção do muro e opta por transferir sua morada para os céus, para onde vão após a morte aqueles filhos que se mostrarem merecedores. Essa história ancestral é bastante ilustrativa do quanto, desde o momento em que ovirakotsha pisou por essas paragens, o mundo indígena foi conspurcado e jaz constantemente ameaçado.

Isso não quer dizer, no entanto, que não seja possível a transformação e incorporação de elementos externos de maneira inteligente. Em outras ocasiões já falei disso, e já citei, como exemplo, o uso de tecnologias em favor da preservação das tradições ancestrais (gravadores e compilação de cantos e histórias tradicionais, só para citar um dos usos). O que, no entanto, deve ser considerado e pesado com muito cuidado, é como se dá essa incorporação, para que essas atividades não acabem por se reverter em armadilhas de longo prazo, que acabem por escravizar o tradicional dentro do moderno.

O que se coloca, ainda outra vez, é a necessidade de equilíbrio, de entender o que, onde, e até que ponto se pode ceder, e o que constitui o núcleo duro e inegociável, no qual não será permitida a interferência. Equilíbrio é, sem dúvida, a pedra de toque a ser buscada. Como disse no começo dessas considerações, a doença pode ser encarada como uma situação de desequilíbrio do corpo, e, seja quanto encaramos as intrusões correlacionadas à inserção de alimentos não-tradicionais na dieta alimentar, seja quando pensamos em questões mais macro, como a adoção de determinadas práticas, é sempre muito importante levar a sério essas interferências, e considerar o que de bom ou ruim elas podem vir a acarretar a longo prazo.

Sei que pode parecer um exercício cansativo, e sequer acho que seja saudável nos dedicarmos ao ato de questionar o fato de adoçarmos o café nosso de todos os dias (ou até o próprio fato de tomarmos, café, diga-se de passagem…), encarando isso a partir de implicações de uma ordem metafísica. Também não creio que necessariamente o ato de usar açúcar precise ser necessariamente encarado como um ato entreguista e inconsequente. Não!

Existem problemas bem mais sérios e ameaças bem mais graves do que o branco açúcar do branco, mas nem por isso, se deve deixar de tomar a sério esses pequenos venenos cuja potência danosa acabam por passar despercebidos no contexto mais amplo. Lembrando que quando se pensa em um contexto comunitário, o singular, o pequeno e o individual podem também constituir em ameaças ao equilíbrio e sobrevivência do todo, razão pela qual não se pode menosprezar, mesmo aquilo que de início parece insignificante e irrelevante. Como bem ensina a teoria do caos, mesmo uma pequena ação pode derivar num desdobramento de nível macro.

E eu bem sei que existe uma máxima bastante repetida que nos diz que ‘a diferença entre o remédio e o veneno é a dose’, mas eu tenho cá para mim que dependendo do que for que se coloca em questão, uma dose grande ou pequena de determinadas substâncias acaba sendo irremediavelmente venenosa.

Finalizo este texto esperançosa pela iniciativa da Cooperativa do Jordão, torcendo para que lá eles consigam de forma eficaz combater os venenos que ali vêm se inserindo, e servir de inspiração para outras regiões do Acre, e do Brasil, para a libertação dos povos indígenas dos muitos cativeiros modernos que se lhes são impostos.

 

Andréia Baia PrestesGraduada em Direito. Doutoranda em Antropologia. Chefe de Divisão no IPHAN/Acre. Assessora jurídica da Federação Indígena do Povo Huni Kui do Acre (FEPHAC).

Continue Lendo
Click para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Opinião

Dúvidas nossas de cada dia

Publicadoo

em

Por Fabianna Pepeu

Ainda em março — salvo engano —, pisando em ovos porque era o início disso tudo aqui no Brasil e eu não sou epidemiologista nem nada, sugeri uma relação entre os casos de infarto agudo, morte súbita e Covid. Não tenho bola de cristal e não sou tão baixinha (sou?) quanto a Madame Mim, mas observei o aumento do número de mortes por problemas cardiológicos no país em paralelo ao grande volume de infectados pelo novo coronavírus com sintomas, até então, considerados típicos: dor na garganta, febre, falta de ar, cansaço, falta de olfato e também ausência de paladar.

Depois, li alguns estudos feitos aqui e em outros países que indicavam realmente problemas cardiológicos e óbitos dialogando com a infecção pelo novo coronavírus.* Médicos e pesquisadores também levaram em consideração que a pandemia adiou a ida aos consultórios médicos, interrompeu tratamentos de saúde diversos e aumentou o estresse — fatores importantes na investigação sobre o aumento do número de casos de morte por questões cardiológicas no mundo todo.

Aqui no Brasil, em junho, dados da associação de cartórios em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)** mostraram um aumento de 31% em mortes por doenças cardiovasculares. Dados levantados no período de 16 de março a 31 de maio em comparação com o mesmo período do ano passado. Nesse intervalo, os óbitos por doenças como morte súbita, parada cardiorrespiratória e infarto agudo do miocárdio (choque cardiogênico) foram de 14.938 em 2019 para 19.573 em 2020.

Por que estou falando nisso agora? Porque fiquei pensando de novo nessas coisas todas em função da grande perda que representa a recente morte de Zuza Homem de Mello para os familiares, amigos e para a cultura brasileira.

O infarto agudo do miocárdio também nos levou o cantor e compositor Moraes Moreira e, ainda, o escritor Rubem Fonseca, o narrador esportivo Carlos Eduardo Sica Cortez (40 anos, saudável) e o maestro Henri Roberto Leite. Já o mal súbito, que é outro problema cardiológico, levou, no interior de Pernambuco, a sobrinha de um amigo querido que faz jornalismo cultural.

Essas pessoas teriam ido embora também por conta do novo coronavírus? Que estados e municípios têm condições de fazer uma investigação (pente fino) nos óbitos não relacionados em um primeiro momento à Covid? Nas notícias sobre esses poucos exemplos que aqui elenco não constam a marca da doença, mas não é possível garantir que não exista também uma relação direta com o novo coronavírus.

Será que essas mortes chegaram a ser investigadas para o novo coronavírus, repetindo, considerando que boa parte dessas pessoas já era de uma certa idade, etc e tal, e que infartos acontecem e pronto? No caso do comunicador e da adolescente, sendo jovens, diante do susto da morte, algum familiar teve condições de pensar nisso?

Covid e fadiga

Tem sido cada vez mais frequente a evidência acerca das sequelas, em alguns casos bem severas, deixadas pela Covid. Um exemplo é a Síndrome da Fadiga Crônica (SFC). Depois da fase aguda, a Síndrome de Stevens-Jonhson (alergia extrema a medicamento), também causa a Síndrome da Fadiga Aguda e eu, uma de suas vítimas, asseguro que se trata de uma condição muito limitante e complicada.

Há quem confunda cansaço contínuo — ou que vai e vem, sem motivo aparente —, falta de concentração e sono que não revigora com depressão.

Infelizmente, pouca gente tem a sorte (que outro termo usar?) de ter um diagnóstico rápido e preciso acerca do mal que lhe acomete. Poucos médicos e outros profissionais de saúde — por formação equivocada, preguiça, pressa para faturar mais ou até condições precárias de trabalho — fazem uma boa anamnese, observando com compaixão quem está adoecido e buscando uma visão holística do paciente. E ter um diagnóstico preciso é meio caminho andado para sair do adoecimento ou até seguir em direção à cura (pra quem, felizmente, tem essa perspectiva).

HIV & Covid.

Do mesmo modo como aconteceu nos anos 1980, por exemplo, quando o HIV — sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana, que ataca as estruturas de defesa do organismo, deixando-o mais vulnerável às chamadas doenças oportunistas, como pneumonias e tuberculoses — causou um rebuliço grande nas coisas do mundo, só bem adiante é que saberemos um tanto de coisas importantes sobre esse diacho do novo coronavírus, que daí já será até mais velho. Ufa!

Haverá mesmo uma vacina que nos protegerá completamente da Covid, ou apenas remédios para o tratamento quando formos contaminados? O que deixamos de fazer para nos proteger e que excessos teremos cometido nesses meses todos?

Há muitas questões em aberto que apenas o tempo — esse grande escultor — e muita pesquisa e estudo poderão nos responder.

No caso dos portadores de HIV, houve um momento no qual eles eram evitados pelo restante da população. Houve uma estigmatização cujo pano de fundo era uma questão bem moralista. Foi difícil para muitas pessoas. Hoje, há tratamento, o preconceito diminuiu e essas pessoas podem, por exemplo, dar e receber beijos sem risco e seguir vida normal. Existem meios de evitar a contaminação.

No caso do novo coronavírus, haverá um momento de novo no qual poderemos, finalmente, voltar a beijar estranhos — pero no tanto — nas ruas, avenidas e pracinhas das cidades?

* The New York Times: https://www.nytimes.com/2020/03/27/health/coronavirus-cardiac-heart-attacks.html

**Sociedade Brasileira de Reumatologia: https://www.reumatologia.org.br/clipping/pacientes-que-contrairam-covid-19-podem-desenvolver-fadiga-cronica/

Continue Lendo

Geopolítica

Dan Kovalik – No More War

Publicadoo

em

O advogado e especialista em Direitos Humanos Daniel Kovalik, professor na Escola de Direito da Universidade de Pittsburgh, realizou um webinar no último dia 14 de julho onde comentou as mais recentes denúncias sobre violações e assassinatos de mulheres ocorridas em bases norteamericanas pelo mundo.

Dan Kovalik é autor de vários livros críticos à política externa dos EUA sendo o último deles “No more war”. Quase todos os títulos podem ser encontrados no formato e-book ou encomendados pela Amazon.

Transcrição, tradução e legendas: Juliana Medeiros
Revisão: Maria José Campos


Deixe-me começar com alguns eventos mais recentes.

Eu hoje li algo sobre uma servidora da marinha, Thae Ohu – eu acredito que ela seja uma vietnamita-americana e militar – que foi sexualmente abusada por seus colegas de marinha. Quando ela reclamou com seus oficiais superiores foi colocada na prisão militar, onde continua presa.

O desenrolar de outra história tem obtido também muita atenção, a de Vanessa Gillen, uma soldado que aparentemente foi morta e desmembrada por um colega soldado [em uma base] nos EUA.

Então, por que estou trazendo esses casos? Em grande parte por conta do que vemos com frequência aqui, na grande mídia dos EUA (NPR, NYT..). Eles dizem: “Hey, os EUA não podem deixar lugares como o Afeganistão, porque precisamos estar lá para proteger as mulheres afegãs”. Certo? Bom, vamos encarar o fato de que o governo dos EUA sequer pode proteger seus próprios soldados, as mulheres soldados mas alguns homens também, dos seus próprios companheiros.

Um em cada 30, pelo menos 1 em 30 – e esses números são os “oficiais”, portanto provavelmente são mais altos – 1 em cada 30 mulheres em relatórios militares já foram sexualmente violentadas por seus colegas soldados. Esse é um problema gigantesco! E de novo, se os militares só podem lidar com esse tipo de problema colocando pessoas na prisão por reclamarem de terem sido sexualmente violentadas, como eles poderiam proteger mulheres em outros países? E esse é um fato que nós já sabemos: eles não podem.

Então, por exemplo, no Afeganistão nós temos gente como [o jornalista] Scott Simon na [rádio] NPR dizendo: “nós não podemos deixar o Afeganistão e deixar as mulheres nas mãos do Talibã, elas serão abusadas”.

Vejam, o Talibã não é bom e eles são cruéis com as mulheres, sim. Mas agora mesmo, com soldados norte-americanos em solo lá [no Afeganistão] e eles já estão [na região] nos últimos 19 anos, indo para o 20º, o Afeganistão segue sendo o pior país no mundo, segundo a ONU, para os direitos das mulheres. O pior!

Então, voltamos à pergunta: o que os EUA estão fazendo para proteger as mulheres no Afeganistão? O que eles fizeram nos últimos 50 anos?

Os EUA em 1979 apoiaram [fundamentalistas islâmicos] Mujahedin, incluindo um de seus principais líderes, Osama Bin Laden, a iniciar atividades terroristas no Afeganistão contra o governo socialista que havia lá (e que protegia os direitos das mulheres) para derrubar a presença da URSS no Afeganistão. Nós sabemos disso, a partir do Relatório de Segurança Nacional do ex-Conselheiro Zbigniew Brzezinski do [ex-presidente] Jimmy Carter. Ele admitiu isso: que os EUA apoiaram o Mujahedin não para lutar contra as tropas soviéticas no Afeganistão, mas para tirá-los de lá. E foi exatamente o que aconteceu.

Os EUA vêm dando apoio a esse jihadismo de direita e anti-feminista no Afeganistão desde 1979. E agora nós ouvimos que os EUA não podem sair do Afeganistão para não deixar as mulheres à sua própria sorte? Isso não faz nenhum sentido!

Eu gostaria de ler algumas passagens do meu livro para dar-lhes uma ideia sobre esses temas.

O capítulo 9 cujo título é: “As forças armadas dos EUA não são uma organização feminista”. De cara, você poderia dizer “eu nunca pensei que pudesse ser uma organização feminista”. E de novo, de várias maneiras, somos levados a acreditar nisso. Então, aqui está uma parte desse capítulo:

“É sabido que durante a guerra dos EUA no Vietnã, por exemplo, o estupro era, de acordo com o testemunho dos próprios soldados dos EUA: um “procedimento de operação padrão” e os homens que serviram e mataram no Vietnã eram considerados por seus companheiros como “veteranos em dobro” se eles estuprassem mulheres e meninas vietnamitas, e também todos que fossem considerados inimigos ou ainda “alvos justos de estupro”.

E de novo: “companheiros, co-membros da mesma unidade militar também foram violentados em cenários de combate.

Um estudo preliminar de mulheres veteranas no Vietnã estima que tenha sido mais de 29% das mulheres militares norte-americanas que serviram no Vietnã, as vítimas de tentativas ou violações sexuais completas pelos próprios colegas militares dos EUA.

Agora, você poderia dizer: “e o que dizer da Segunda Guerra Mundial? Nós éramos os caras bonzinhos!”. Bom, o Vietnã não foi a única vítima desse procedimento, nem mesmo considerando na que chamamos “Guerra do Bem” [II Guerra Mundial], segue mais um trecho do livro:

“As forças aliadas, incluindo as forças dos EUA, se envolveram em estupros inclusive de “cidadãos de países aliados”. Por exemplo, como um artigo do Duke Law Journal explica, “o estupro de mulheres francesas por soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial foi suficientemente perverso para provocar uma diretiva do quartel-general do General Eisenhower em dezembro de 1944 para o Comando das Forças Armadas dos EUA anunciando que o General estava gravemente preocupado e instruindo que rápidas e apropriadas punições fossem administradas”. Isso porque aparentemente, os estupros cresceram 260% depois do “Dia D”! E nesse caso agora, porque as tropas americanas estavam usando largamente suas armas (apontando mesmo) para cometer estupro contra mulheres aliadas, mulheres francesas [na ocupação] na França.

Jean Bricmon em seu livro “Imperialismo Humanitário” diz que quando você vai para uma guerra o resultado é a tortura. Inevitavelmente. Apesar de todas as regras que temos sobre guerras, de proibir torturas, de proibir civis como alvos, de cuidar para que civis sejam protegidos, os que invadem outros países sempre torturam essas pessoas nesses países.

E eu adicionaria a isso, e não estou sozinho, que muitos estudos apoiam a afirmação de que também as guerras agressivas [não defensivas] significam sempre estupros. Quando nossos soldados vão para a guerra no Iraque, no Afeganistão, eles estupram. Então, essa noção de que os EUA estão nesses países para proteger as mulheres é inacreditável.

Tem esse outro grande livro.. estou tentando lembrar o nome do autor agora, eu o citei no meu livro, ele fala sobre a complexidade das bases norte-americanas ao redor do mundo.. David Vine, creio que é esse o nome.

Nós temos mais de 800 bases militares pelo mundo e em todas as bases militares dos EUA, nas mais de 800 delas, sempre houve funcionários civis em serviço nessas bases. Nossos soldados, adicionalmente a estuprarem suas próprias companheiras [militares] tem abusado de mulheres [civis] em todas essas bases. Isso é excepcionalmente bem aceito, ninguém se assusta com isso.

Sabe, nós falamos sobre como o Japão abusou de mulheres da Coreia durante a Segunda Guerra Mundial e a Coreia continua reclamando sobre isso e o Japão jamais se desculpou. E [achamos que] isso é legítimo. Mas e sobre as mulheres que os soldados americanos abusaram todos esses anos e continuam fazendo?

Esse é o grande ponto que eu tentei trazer no meu livro. Essa ideia de que os EUA e o Ocidente estão saindo pelo mundo para proteger os direitos humanos e protegendo pessoas de genocídios é uma fantasia. Mas é uma fantasia com um propósito. Nós nos convencemos de que isso é verdade para justificar o contínuo gasto de mais de um trilhão de dólares por ano atualmente e as contínuas guerras agressivas ao redor do mundo.

Um grande exemplo disso é a invasão da Líbia em 2011. E por que esse tão enigmático exemplo? Primeiro, pelo lado americano, ela foi liderada por Barack Obama e por três conselheiras que realmente empurraram os EUA a participar desse ataque da OTAN na Libia. E essas foram Samantha Power, Susan Rice e Hillary Clinton. Elas pressionaram para que ele entrasse nessa “incursão humanitária”. Mas nós sabemos agora, como muitos de nós já sabíamos então, que essa intervenção humanitária era uma mentira.

Houve três principais mentiras para justificar o ataque da OTAN na Líbia:

Número UM e a mais ultrajante de todas – que a Hillary Clinton gostava muito de promover – de que Muammar Gadafi estava distribuindo Viagra às suas tropas para praticar estupros em massa na Líbia; a Anistia Internacional mais tarde derrubou essa acusação, ninguém conseguiu encontrar qualquer evidência disso.

DOIS, a denúncia – de novo, levada por Samantha Power, Hillary Clinton e Susan Rice – de que Gadaffi estava a ponto de cometer um genocídio em Benghazi; mas se olhamos os e-mails internos particularmente da equipe de Hillary Clinton [e, lembrando, eles também estão no meu livro] nós vemos a equipe de Hillary comentando entre eles que, quando a missão OTAN/Obama na Líbia começou, não havia qualquer preocupação com a questão dos direitos humanos em Benghazi. Que tudo já havia acabado e a oposição havia tomado conta de Benghazi e não havia qualquer risco [aos direitos humanos] naquele momento.

A TERCEIRA e pior leviandade, foi a de que “mercenários negros” estavam sendo usados por Muammar Gaddafi para impor essa guerra contra seu próprio povo. Alguns grupos de direitos humanos e própria Anistia Internacional, inicialmente, apoiaram essa acusação. Embora a Anistia Internacional tenha, tarde demais, derrubado essa acusação. O que eles acabaram dizendo foi: “Não. Desculpem, não eram mercenários, eram trabalhadores estrangeiros, da África Subsaariana”. E, a propósito, a mídia na época até dizia que se podia identificar os mercenários negros, porque eles usavam capacetes amarelos. Claro, porque eles eram trabalhadores da construção!

Então, essa mentira, não apenas pavimentou o caminho para essa intervenção na Líbia, a outra coisa que essa mentira fez foi criar um genocídio na Líbia. Porque os jihadistas, apoiados pela OTAN para derrubarem Gaddafi, começaram a atacar qualquer um com a pele negra, baseados nessas mentiras.

Eles exterminaram cidades e localidades inteiras com população negra africana, mataram negros africanos, aprisionaram em massa, e até hoje ninguém fala disso! E os negros subsaarianos continuam sendo colocados nas ruas da Líbia e vendidos, como escravos! 

Esse é o resultado da “intervenção humanitária” na Líbia, a que quase ninguém nos EUA jamais se opôs. Até mesmo [o programa de jornalismo independente] “Democracy Now” foi um veículo de apoio para essa invasão. E até hoje, não só Democracy Now, NPR [National Public Radio] mas muitos outros se recusam a rever os fatos sobre essa invasão, em ser honestos com suas visões em apoiar isso. E para ser franco, muito poucos se opuseram ao envolvimento dos EUA na Líbia.

E você sabem, esse tipo de coisa foi o que me motivou a escrever esse livro. A guerra, a guerra imperialista é uma imensa parte do problema dos EUA.

Eu vou lhes dar outro exemplo disso, recentemente Trump anunciou que queria remover 900 tropas da Alemanha. E queria começar a remover também as tropas do Afeganistão e trazê-las para casa. E nós vemos agora os Democratas, particularmente os que deram ouvidos a Liynn Chenney [Republicana], a mulher de Dick Chenney, que tentou aprovar a legislação para prevenir Trump de remover essas tropas. E se nós olhamos para os Democratas e os Liberais, eles na verdade estão atacando à direita de Trump em relação a esse tipo de problema. E acho que precisamos ser honestos sobre isso, com as cores que isso tem.

Porque votar em Joe Binden em novembro? É, eu provavelmente vou, eu acho que ele também está entre as pessoas mais cruéis, mas eu também sei que as pessoas podem lutar contra Binden cada centímetro para evitar que ele continue essas guerras intermináveis no mundo.

Outro exemplo, é esse outro novo inimigo amargo de Trump, John Bolton, que foi seu Conselheiro de Segurança Nacional, ele foi tanto um propagador de guerras, que Trump chegou a dizer: “eu tenho o melhor cara, ele pode ir comigo a qualquer lugar”. E Trump estava muito certo sobre isso.

Então, Bolton escreveu esse livro com coisas sobre Trump que estão “bem descritas”, sabe como é, mas Bolton se tornou um herói para muitos liberais [esquerda] nos EUA porque ele estava “atacando Trump”. Só que ele estava [no livro] atacando Trump à direita, por exemplo, dizendo: “se Trump for reeleito ele vai encontrar-se com o Presidente Nicolás Maduro da Venezuela”. O que a propósito eu acho que seria uma coisa boa, eu gostaria que um presidente dos EUA fizesse isso. Mas porque foi Trump quem teria ganhado para fazer isso, os liberais estão dizendo: “ah, isso é ruim, ele é mau, é um ditador etc”.

Então, nós temos que ter nossos princípios nessas questões, o primeiro é o princípio antiimperialista. Não importa quem esteja no comando, eu espero que possa ser Joe Binden, mas se é Joe Binden, nós tampouco vamos poder dormir. Temos que continuar pressionando nossos governos para encerrar essas guerras intermináveis.

Ok, então esses são meus marcos principais. A propósito eu estou ao vivo no meu Facebook com meu celular e estou ao mesmo tempo no Zoom com meu computador, então é meio difícil ler todos os comentários e peço desculpas por isso. E eu nem sei que horas são. Vocês, amigos, tem comentários, perguntas, considerações, eu estou a postos para responde-los.

Ok, obrigado Paul. Para o pessoal que está ao vivo no Facebook, eu quero dizer que vou responder agora uma pergunta do Reverendo Paul Dordal, ex-congressista, e ativista pela paz de Pittsburgh, que está no Zoom, vá em frente Paul.

Claro Paul, bom ele me pediu mais exemplos sobre essas falsas alegações de “intervenções humanitárias” dos EUA. A propósito, Paul serviu como Capelão Militar durante a invasão do Iraque, tá certo Paul? Certo.

Bom, há muitos exemplos, eu poderia voltar à outra história do meu livro no que eu acredito que foi nossa primeira “intervenção humanitária” e essa foi a “intervenção humanitária” do Rei Leopoldo II, da Bélgica, no Congo. Que teve início no final do século 19.

Vocês provavelmente já aprenderam um bocado sobre isso porque durante os recentes protestos do BLM [Black Lives Matter] uma estátua do Rei Leopoldo II foi derrubada na Bélgica e a razão para isso é que o Rei Leopoldo decidiu pessoalmente invadir o Congo, por seus próprios interesses, especialmente para obter benefícios com o roubo de marfim. Mas o Rei Leopoldo, assim como muitos líderes, era muito esperto e sabia que a maioria dos países não iria apoiar que ele controlasse um país africano só para retirar seus recursos naturais. Então, ele apareceu com esse plano – e ele já tinha enviado emissários para o Congo e para o mundo, incluindo os EUA – para alegar que ele estava indo ao Congo para proteger as mulheres congolesas. E em particular, dos mercadores de escravos árabes que ainda existiam nessa região. Mas ele não estava interessado em proteger ninguém, era só uma justificativa e ele foi muito eficaz nisso. Ele conseguiu convencer muitas pessoas e governos – e os EUA foram os primeiros a reconhecer seus interesses no Congo – de que essa seria uma “intervenção humanitária” e inclusive conseguiu que pessoas lhe dessem dinheiro para sua aventura “humanitária” no Congo.

Bem, o que aconteceu é que Leopoldo, ele mesmo, escravizou milhares de congoleses para apoiar sua extração de madeira, para construir rodovias, para facilitar sua retirada de recursos do país através dos rios [do Congo] para fora do país e para retirar o marfim. Ele escravizou milhares de congoleses e os torturou, se os congoleses não eram submissos a ele, ou ao trabalho que precisava ser feito, suas mãos eram cortadas, isso é bastante conhecido, às vezes seus genitais eram cortados, e no final como resultado do seu brutal tratamento, houve ainda mais de 10 milhões de pessoas no Congo que foram mortas durante essa incursão.

E claro que essa incursão se encerrou por conta de pessoas honestas no Ocidente. Alguns deles não existem mais hoje em dia, mas naquela época tínhamos pessoas como [os escritores] Mark Twain, por exemplo, ou Arthur Conan Doyle – que descreveu isso inclusive em suas histórias de Sherlock Holmes – sobre o que o Rei Leopoldo estava fazendo. E essas pessoas, com pressão e organização, conseguiram que a comunidade internacional terminasse com essa incursão do Rei Leopoldo no Congo.

E eu discuto isso no meu livro, o que o Rei Leopoldo fez no Congo foi “em nome dos Direitos Humanos” e o que o Ocidente continua fazendo em todo o mundo também é “em nome dos Direitos Humanos”. Só que agora de uma maneira mais sofisticada, claro, e pior. Mas no final é o mesmo jogo incluindo, a propósito, no Congo.

Muitas pessoas não se dão conta de que sob Bill Clinton, começando em 1996, a administração Clinton apoiou os governos de Ruanda e Uganda a invadirem o Congo. De novo, sob o pretexto de “parar o que seria um genocídio” que estaria ocorrendo lá e era por isso que Ruanda queria entrar no Congo. Mas o resultado foi que essas forças de Ruanda e Uganda apoiadas por Bill Clinton mataram 6 milhões de pessoas no Congo, a maioria delas congoleses. E nós nos damos conta disso, eu procuro detalhar isso no meu livro, a partir da leitura da mídia hegemônica. A maioria das maiores empresas de mineração dos EUA, no final, a maioria delas conseguiu imensos lucros e benefícios nessa incursão no Congo. E através dessas invasões, as primeiras a ganharem com isso foram justamente as de Hope, no Arkansas, que são empresas muito próximas a Bill Clinton, como sabemos.

E depois de Clinton, algumas pessoas gostam de se referir ao primeiro presidente negro [Obama], com Hillary trabalhando com ele, mas ele prosseguiu com esse massacre de 6 milhões de congoleses, em nome dos Direitos Humanos, e isso era uma completa mentira. E nós podemos ir além, mas enfim, essa é a mais comum das armadilhas, a ideia de que os EUA estariam apoiando a prevenção de genocídios sob o princípio dos Direitos Humanos, quando na verdade é o Ocidente e os EUA que tem cometido genocídios pelo mundo.

Bom, tem alguém que gostaria de fazer alguma pergunta ou podemos encerrar aqui? Eu acho que às vezes, menos é mais. E nessas circunstâncias, vejo meu amigo John sorrindo, eu acho que provavelmente é verdade. Então porque não terminamos aqui? Acho que é um bom ponto para encerrar. Eu quero agradecer a todos por acompanharem e de novo esse é meu livro e você pode conseguir em qualquer lugar, na Amazon ou encomendar na sua livraria. Eu realmente estou grato por vocês estarem aí, eu acho que é um período duro para estar atrás de livros como esse, mas acho que tem uma boa mensagem aí e algo que podemos aprender. Obrigado a todos que estão conectados, isso realmente significa o mundo para mim. Nós estamos vivendo tempos muito difíceis e estamos todos atravessando um enorme desafio com essa pandemia e ver vocês disponíveis aí para me ouvir, significa tudo para mim. Vocês foram muito pacientes e muito gentis. Eu desejo a todos, boa tarde, boa noite e boa sorte. Obrigado!

Continue Lendo

Opinião

A MÁSCARA DESMASCARA

Publicadoo

em

por Lidiston Pereira da Silva*

Problema: como o uso da máscara pode ser pensando (hipótese), enquanto estratégica de dominação, tendo como situação de leitura os efeitos das (im)posturas presidenciais diante da obrigatoriedade e da importância do uso de máscara, como cuidado e proteção em saúde coletiva e individual?

Nos preocupa tais condutas, porque a supomos pensadas estrategicamente. Imaginamos como parte estratégica para compor um ataque social, fragmentação, mobilização negativa. Como? Disparando duas bombas que se intensificam e se realizam por meio do exercício da violência e da violação: o Fanatismo e as Rebeliões nos presídios.

De um lado, liberação das igrejas e templos para encontros coletivos e a não obrigatoriedade do uso de máscara. No domínio da fé, poderá redundar em crescimento de mortes entre fieis, mas vivido e fomentado no horizonte ideológico apocalíptico (aliando-se a praga de gafanhotos, furação bomba), podendo dar ensejo ao Fanatismo, como reações desmedidas dos escolhidos diante da imagem do fim dos tempos. De outro, ao vetar a obrigatoriedade do uso de máscara nos presídios, sabe, senão espera, que os aprisionados não vão morrer em silêncio, surgindo condições para as Rebeliões.

Nota-se, como diria Hannan Arendt, a banalização do mal. Focando essa atitude precipitada expressa nas generalizações dos vetos presidenciais de não obrigatoriedade do uso de máscara, no momento em que entra em liberação a reunião de coletivos, os estádios, os centros esportivos, os shoppings, os bares, salões de beleza e a seguir as escolas. Cabe destacar uma diferença: a liberação dos shoppings, dos centros esportivos e das escolas, bem como, a não obrigatoriedade de usar máscara nesse espaços coletivos, não tende a promover reações fanáticas e de rebeliões, já a não obrigatoriedade do uso de máscara em igrejas e presídios, abre condições para surgir manifestações que envolvam a violência e nefastas formas de violações. Como?

Por princípio de contagio, a aglomeração sem proteção é um fator agente de propagação. Supõe-se que todas as formações coletivas sem segurança tenderam a promover o aumento da propagação do vírus, todos poderão causar muitas mortes. Com isso o aumento do medo, do desespero, da dor, da perda se intensifica no imaginário social. Nossa hipótese: é que isso é esperado, senão almejado, para que surja duas grandes bombas em meio ao caos de pânico e terror generalizado no tecido social: o Fanatismo como reação da fé exacerbada e Rebeliões, pela revolta prisional.

Essa hipótese fica provocante quando se imagina que a família presidencial se apresenta muito ligada a culto envolvendo fanatismo, bem como, os fortes indícios de uma parte dos políticos estarem diretamente ligada ao mundo do crime, em franca aliança com os chefes dos apenados, que estão morrendo e se rebelando. Gritaram por suas vidas? Sim, sem dúvida! Mas gritaram por direitos constitucionais pela vida individual e coletiva ou gritaram para fazer barulho, dentro de cumplicidade a uma catástrofe orquestrada? Por outro lado, as intensificações dos fanatismos legaram benevolência e desprendimentos para o amor universal, ou se tornarão na oportunidade da revanche dos escolhidos? Uma imagem: os bandidos soltos e os homens de bem armados, em meios ao caos de morte generalizada pela pandemia, fomentado por discursos fervorosos compondo um cenário apocalíptico para o surgir do fanatismo. Outra, rebeliões, presídios, aprisionados, familiares, fugas, em franca luta mortal com o estado, a segurança, a polícia e, enfim, o exército. Resposta ao caos: intervenção federal.

Claro, são apenas hipóteses frente ao momento político que são notícias diárias nas mídias, onde se acompanha como nossos dirigentes entram em cheque, como estão se encurralando diante da sociedade, no confronto com o Judiciário, por ilícitos que ferem a democracia social brasileira. Surge a questão: como a forma dominadora ganha território ou sai de seus sufocos? Seja como for, não é sem promover o medo e o terror generalizado, cenário propicio para se colocar o salvador, o herói, o mito. Espero que sejamos fortes para não deixar isso acontecer. Espero que essa hipótese seja só mais uma bobagem que faz rir…

*Lidiston Pereira da Silva é Psicólogo (CRP/5 43477) e atende na Clínica nos Sentimentos, além de fazer parte do coletivo É-NÓS

Veja mais: Ao Vivo, falamos com o médico infectologista Helio Bacha, sobre o Coronavírus

Continue Lendo

Trending