O aparato repressor do Estado prá uns, não prá outros
O ato contra a PEC 241 e as medidas do governo Temer estava marcado para as 18h da quinta-feira, 13/10, no Mercado de São Braz, em Belém. No local cerca de cem pessoas já estavam se concentrando para seguir pela Av. José Malcher em manifestação, quando eu descia do ônibus na Av. Conselheiro Furtado, dois quarteirões do Mercado, e já começava a ver grupos de policiais se concentrando um pouco distantes dos manifestantes.
Enquanto as pessoas iam se aglutinando no Mercado ainda não se via nenhuma movimentação de militares. Uma assembleia foi chamada para decidir o trajeto final do ato, reunindo os manifestantes para votação das propostas. No decorrer das falas começaram a aparecer as luzes vermelhas piscando e policiais se organizando e preparando seus equipamentos.
Assim que o ato ganhou as ruas, duas viaturas e duas motocicletas seguiam à frente, enquanto mais de seis viaturas e vinte policiais da ROTAM, caminhavam atrás dos manifestantes segurando armas, spray de pimenta e bombas de efeito moral.
Quando o ato chegou na sede do PMDB, na Rua dos Munducus, área nobre da cidade, os manifestantes sofreram ataques de moradores de prédios, que jogaram ovos e água na manifestação. Logo uma indignação tomou conta das pessoas que protestavam e começaram a gritar palavras de ordem contra o morador do 4º andar do Condomínio Villa Dei Fiori, que da sua janela esperneava “vagabundos, vagabundos”.
Muitos policiais militares estavam no local do ocorrido, logo interroguei um Sargento, e com ironia respondeu “esperem a gente fazer algo depois que a Polícia Militar acabar”, enquanto outro informava que “o síndico do prédio foi notificado e vamos notificar o morador também”. Logo procurei o síndico que disse “vieram aqui, um policial”, sem dar mais informações.
“A ação da polícia tem dois pesos e duas medidas: para os manifestantes é bala de borracha e spray de pimenta. As pessoas que jogam ovos e desrespeitam a livre manifestação são protegidas”, comentou sobre o caso, o advogado Virgilio Viga.
Outro advogado que trabalhava em sigilo, logo relatou mais um caso de abuso num comentário de um policial da ROTAM que disse “Doutorzinho, hoje eu quero pegar teu sangue e levar pro inferno”, quando foi interrogado sobre a quantidade de policiais na manifestação.
“Eu estive ao lado deles durante todo o trajeto e vi as ofensas ao casal — Vírgilio e Zarah — de advogados”, disse referindo-se ao que outro policial da ROTAM falou “desse diploma que tu tem, eu tenho 10”, e ainda direcionou aos manifestantes comentando “se fizesse um exame toxicológico não sobrava ninguém”, demonstrando grande preconceito com as pessoas ali presentes. “Teve um lá que veio no meu ouvido e disse ‘rala daqui, bora bora’ ”, continuou contando o advogado, “é só nesse nível, a ROTAM é uma milícia institucionalizada”, “o nível de ódio e ressentimento nos diálogos é inacreditável”, finalizou.
A ROTAM e seus crimes
“A ROTAM é a PATAM dos anos 90”, dizia um manifestante.
Na noite do dia 2 de Novembro, enquanto uma manifestação pacífica percorria a Av. Governador José Malcher, em Belém, advogados e manifestantes foram vítimas de um episódio seletivo de repressão protagonizada pela Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas, a ROTAM.
“A ordem era puxar as mulheres pelos cabelos”, comentava uma manifestante. Outra falava da comunicação de rádio da Polícia onde se ouvia “pode atirar, pode atirar nesses vagabundos”, “ ‘agora é guerra’, incrivelmente os policiais achavam isso”.
Advogadas e advogados sofreram repressão com spray de pimenta, enquanto tentavam realizar seus trabalhos em frente à seccional de São Braz, em relação à prisão de uma manifestante que estava sendo mantida na delegacia sem acesso aos advogados e a família.
A repressão foi citada no jornal norte americano The Washington Post, que também abordava a repressão policial em todo o Brasil às manifestações intituladas Fora Temer, com o uso agressivo de armas de efeito moral.
“A ROTAM faz isso por que acha que nada acontece em relação aos seus atos”, dizia um dos advogados numa reunião chamada pela OAB — PA depois do ocorrido. A Ordem dos Advogados do Pará – OAB – informou no dia 6 que iria formalizar denúncia de arbitrariedade contra a Polícia Militar e a Ronda Tática Metropolitana. Segundo a OAB, advogados e manifestantes foram agredidos no ato.
A criminalização dos atos contra Michel Temer
“Existe uma ação coordenada do comando da Polícia Militar do Governo do Estado e da própria Prefeitura, utilizando seu forte aparato repressor pra intimidar as nossas manifestações que tem sido pacíficas e que tem lutado por direitos”, disse Virgilio Viga, advogado e membro da comissão de moradia e assistência comunitária da OAB.
O que se vê é uma verdadeira tropa de policiais sendo deslocada para as manifestações que reúnem críticas às políticas dos governos municipais, estaduais e federais, esperando um ato qualquer para intervir com truculência de um lado, ou para fazer vista grossa de outro. As manifestações contra o governo de Michel Temer reúnem pessoas que não concordam com as privatizações, reformas trabalhistas, reforma do ensino médio, ajuste fiscal, entre outras pautas.
“O Estado não pode criminalizar as lutas que os estudantes, que os professores, que os trabalhadores têm feito no país, então me parece que é uma atitude muito truculenta de repressão e de intimidação organizada coletivamente entre as esferas de poder”, termina Virgilio Viga.
Créditos para Carvalho da Costa. Link do Medium: https://medium.com/@carvalhodacosta