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Belém

Seletividade marca os atos contra Michel Temer

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O aparato repressor do Estado prá uns, não prá outros

O ato contra a PEC 241 e as medidas do governo Temer estava marcado para as 18h da quinta-feira, 13/10, no Mercado de São Braz, em Belém. No local cerca de cem pessoas já estavam se concentrando para seguir pela Av. José Malcher em manifestação, quando eu descia do ônibus na Av. Conselheiro Furtado, dois quarteirões do Mercado, e já começava a ver grupos de policiais se concentrando um pouco distantes dos manifestantes.

Enquanto as pessoas iam se aglutinando no Mercado ainda não se via nenhuma movimentação de militares. Uma assembleia foi chamada para decidir o trajeto final do ato, reunindo os manifestantes para votação das propostas. No decorrer das falas começaram a aparecer as luzes vermelhas piscando e policiais se organizando e preparando seus equipamentos.

Assim que o ato ganhou as ruas, duas viaturas e duas motocicletas seguiam à frente, enquanto mais de seis viaturas e vinte policiais da ROTAM, caminhavam atrás dos manifestantes segurando armas, spray de pimenta e bombas de efeito moral.

Manifestantes colaram cartazes denunciando a PEC 241 e as medidas do governo de Michel Temer, na sede do Partido, em Belém. (Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal)

Manifestantes colaram cartazes denunciando a PEC 241 e as medidas do governo de Michel Temer, na sede do Partido, em Belém. (Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal)

Quando o ato chegou na sede do PMDB, na Rua dos Munducus, área nobre da cidade, os manifestantes sofreram ataques de moradores de prédios, que jogaram ovos e água na manifestação. Logo uma indignação tomou conta das pessoas que protestavam e começaram a gritar palavras de ordem contra o morador do 4º andar do Condomínio Villa Dei Fiori, que da sua janela esperneava “vagabundos, vagabundos”.

Muitos policiais militares estavam no local do ocorrido, logo interroguei um Sargento, e com ironia respondeu “esperem a gente fazer algo depois que a Polícia Militar acabar”, enquanto outro informava que “o síndico do prédio foi notificado e vamos notificar o morador também”. Logo procurei o síndico que disse “vieram aqui, um policial”, sem dar mais informações.

“A ação da polícia tem dois pesos e duas medidas: para os manifestantes é bala de borracha e spray de pimenta. As pessoas que jogam ovos e desrespeitam a livre manifestação são protegidas”, comentou sobre o caso, o advogado Virgilio Viga.

Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal

Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal

Outro advogado que trabalhava em sigilo, logo relatou mais um caso de abuso num comentário de um policial da ROTAM que disse “Doutorzinho, hoje eu quero pegar teu sangue e levar pro inferno”, quando foi interrogado sobre a quantidade de policiais na manifestação.

“Eu estive ao lado deles durante todo o trajeto e vi as ofensas ao casal — Vírgilio e Zarah — de advogados”, disse referindo-se ao que outro policial da ROTAM falou “desse diploma que tu tem, eu tenho 10”, e ainda direcionou aos manifestantes comentando “se fizesse um exame toxicológico não sobrava ninguém”, demonstrando grande preconceito com as pessoas ali presentes. “Teve um lá que veio no meu ouvido e disse ‘rala daqui, bora bora’ ”, continuou contando o advogado, “é só nesse nível, a ROTAM é uma milícia institucionalizada”, “o nível de ódio e ressentimento nos diálogos é inacreditável”, finalizou.


A ROTAM e seus crimes

“A ROTAM é a PATAM dos anos 90”, dizia um manifestante.

Na noite do dia 2 de Novembro, enquanto uma manifestação pacífica percorria a Av. Governador José Malcher, em Belém, advogados e manifestantes foram vítimas de um episódio seletivo de repressão protagonizada pela Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas, a ROTAM.

Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal

Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal

“A ordem era puxar as mulheres pelos cabelos”, comentava uma manifestante. Outra falava da comunicação de rádio da Polícia onde se ouvia “pode atirar, pode atirar nesses vagabundos”, “ ‘agora é guerra’, incrivelmente os policiais achavam isso”.

Advogadas e advogados sofreram repressão com spray de pimenta, enquanto tentavam realizar seus trabalhos em frente à seccional de São Braz, em relação à prisão de uma manifestante que estava sendo mantida na delegacia sem acesso aos advogados e a família.

A repressão foi citada no jornal norte americano The Washington Post, que também abordava a repressão policial em todo o Brasil às manifestações intituladas Fora Temer, com o uso agressivo de armas de efeito moral.

“A ROTAM faz isso por que acha que nada acontece em relação aos seus atos”, dizia um dos advogados numa reunião chamada pela OAB — PA depois do ocorrido. A Ordem dos Advogados do Pará – OAB – informou no dia 6 que iria formalizar denúncia de arbitrariedade contra a Polícia Militar e a Ronda Tática Metropolitana. Segundo a OAB, advogados e manifestantes foram agredidos no ato.

Um dos manifestantes que foram alvo dos crimes da ROTAM, na noite do dia 2. (Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal)

Um dos manifestantes que foi alvo dos crimes da ROTAM, na noite do dia 2. (Carvalho da Costa/Arquivo Pessoal)

 


Carvalho da Costa / Arquivo Pessoal

Carvalho da Costa / Arquivo Pessoal

A criminalização dos atos contra Michel Temer

“Existe uma ação coordenada do comando da Polícia Militar do Governo do Estado e da própria Prefeitura, utilizando seu forte aparato repressor pra intimidar as nossas manifestações que tem sido pacíficas e que tem lutado por direitos”, disse Virgilio Viga, advogado e membro da comissão de moradia e assistência comunitária da OAB.

O que se vê é uma verdadeira tropa de policiais sendo deslocada para as manifestações que reúnem críticas às políticas dos governos municipais, estaduais e federais, esperando um ato qualquer para intervir com truculência de um lado, ou para fazer vista grossa de outro. As manifestações contra o governo de Michel Temer reúnem pessoas que não concordam com as privatizações, reformas trabalhistas, reforma do ensino médio, ajuste fiscal, entre outras pautas.

“O Estado não pode criminalizar as lutas que os estudantes, que os professores, que os trabalhadores têm feito no país, então me parece que é uma atitude muito truculenta de repressão e de intimidação organizada coletivamente entre as esferas de poder”, termina Virgilio Viga.

Créditos para Carvalho da Costa. Link do Medium: https://medium.com/@carvalhodacosta

Belém

Vila da Barca. Comunidade em Belém do Pará sofre com a pandemia

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Vila da Barca

A Vila da Barca, situada quase no centro de Belém do Pará, chora seus mortos e organiza sua resistência.

 

Texto e fotos: João Paulo Guimarães para os Jornalistas Livres

A Vila da Barca é conhecida pelas casas construídas sobre palafitas, estivas de madeira com pontes e estacas no terreno alagado que seguram essas estruturas improvisadas e os corredores por onde a população trafega. Dentro da Vila, existem áreas com casas de alvenaria também. Sem saneamento básico, a ausência e a parca distribuição de água encanada pela concessionária COSAMPA, a inexistência de esgotamento sanitário, a Vila resiste à pandemia através de recursos externos e doações, além de um trabalho de consciência e educação feito pela própria Associação dos Moradores da Vila da Barca, sem apoio nenhum do município ou do estado.

A última proposta positiva aprovada pelo Município para a comunidade, foi a construção de casas populares de alvenaria para que a população, morando nas palafitas, pudesse se mudar para um espaço mais seguro e menos propenso a incêndios como o que aconteceu em 2018 e destruiu 26 moradias. O projeto que teve sua aprovação no final da segunda administração do então Prefeito na época, Edmilson Rodrigues (na época PT e hoje PSol), está parado e já passou por duas administrações municipais sem conclusão. Hoje é objeto de ação  movida pela Defensoria Pública e MPF contra o município de Belém, a Caixa Econômica e a União. Os escombros, hoje, servem para a morada de pessoas em situação de rua e usuários de drogas.

 

Isolamento social e saúde pública pra quem?

Grande parte da população, 7.000 moradores, era consciente da necessidade do isolamento social, assim como da utilização obrigatória de máscaras, mas a dificuldade em manter a quarentena, vem da circulação necessária nesses espaços tão pequenos e limitados das palafitas, assim como a delicadeza das estruturas e a proximidade física das paredes de madeira das casas. Tudo isso já seria um grande desafio, se não somarmos o afrouxamento completo do isolamento social por parte do Município e Estado, que ao abrirem shoppings, academias e bares, trouxeram para dentro da Vila a ideia de que o pior já passou.

 

Vários locais na comunidade, casas dos moradores transformadas em mercadinhos e cantinas, oferecem produtos e serviços essenciais básicos como higiene, alimentação e as medidas de distanciamento são improvisadas. Cordões de isolamento são colocados em frente a esses comércios, para que o comprador não se exponha ao possível contato e nem exponha o dono do prestador do serviço.

A Unidade Básica de Saúde funciona de forma superficial no horário de 8h às 17h, na entrada da comunidade, mas não há atendimento para Covid-19, assim como não há trabalho de conscientização ou educação quanto ao vírus ou sobre a necessidade de isolamento social. A Unidade distribui senhas durante a semana para atendimentos no prazo de uma semana ou mais, mas apenas para ginecologista, PCCU, pré-natal, vacinação e clínica médica.

 

 

Vila da Barca

Inêz Medeiros, presidente da Associação dos Moradores

 

Inêz Medeiros, presidente da Associação dos Moradores da Vila da Barca, além de ser acadêmica de Pedagogia, conta:

“Assim como outras unidades de saúde da prefeitura, lá também não havia material de EPI durante o período que fui buscar doação para os voluntários que ajudariam na distribuição das cestas básicas que foram doadas. Quanto à distribuição de senhas, ela afirma ainda que “muitos moradores chegam às 4 da manhã para aguardar na fila e garantir a senha e o futuro atendimento.”

 

 

 

 

 

 

Sobre os cuidados para a proteção do moradores, ela diz:

“Estamos mais cuidadosos após alguns casos na comunidade e infelizmente algumas perdas dolorosas. Seguimos resistindo, e tentando ter vozes que ecoam para um único propósito: manter o isolamento social.”

 

A perda mais dolorosa da comunidade foi o caso da família de Andenilce Souza dos Santos Avelar, que precisou lidar com o falecimento de sua mãe e irmão na mesma semana. Ela conta como perdeu a mãe de 68 anos, Dulce Batista, e o irmão, Carlos Emerson Souza dos Santos, de 47 anos. A mãe era uma mulher saudável e o irmão tinha câncer, mas fazia tratamento e vinha apresentando melhoras. Os dois não precisavam morrer agora, mas morreram. Primeiro ela e depois ele. Andelnice conta, que antes de morrer, Dona Dulce caiu no chão da UPA do Bairro da Sacramenta. Sem forças, foi socorrida pela filha e por uma enfermeira. Dona Dulce era muito religiosa e querida por toda a comunidade. Ela se deitou no colo da filha e ambas rezaram uma Ave Maria. A oração acabou e ela se foi. Mais um número sem cor e sem classe social. Apenas o rótulo de Grupo de Risco.

 

Vila da Barca

Andenilce Souza dos Santos Avelar com as fotos da mãe e do irmão

 

Recentemente, Inês Medeiros criou um cadastro de algumas famílias na Associação, para ajudar aos mais vulneráveis, mapear o desemprego e fazer um levantamento do número de moradores possivelmente infectados, levando em consideração os principais sintomas do Covid-19, entre sintomas leves e moderados.

Das 1.100 famílias cadastradas, 800 apresentaram possível contágio. É importante ressaltar que cada familia, em média, é composta por 5 a 7 integrantes morando na mesma casa, porém, não há como comprovar esse número já que não há testes suficientes na Capital. A Prefeitura de Belém se mantém ausente. O único momento em que alguma política pública destinada a sociedade chegou até a Vila, foi para desinfecção da Praça Pública.

Para ajudar as famílias da Vila da Barca ou para mais informações, entre em contato:
Email: inzmedeiros@gmail.com
Whatsapp: +5591988094441 (Inêz Medeiros)
Facebook: https://www.facebook.com/ViladaBarcaOficial/
Instagram: https://www.instagram.com/viladabarca/

 

 

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Belém

A casa-grande: Prefeito de Belém inclui empregadas domésticas em serviços essenciais

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Zenaldo Coutinho (PSDB),  prefeito de Belém (PA),  anunciou em seu Twitter, nesta quarta-feira (6), que o trabalho de empregada doméstica passa a ser essencial durante a pandemia Covid-19, contrariando o entendimento nacional do que é considerado trabalho essencial .

A decisão de Zenaldo é exemplo claro de que a Casa-grande ainda mantém seu pensamento escravocrata no Brasil.

A declaração do prefeito  recebeu uma enxurrada de críticas no twitter.

 

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Belém

Parem de nos matar!

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Alguma coisa acontece no Pará… Tem sangue de gente pobre e preta sendo derramado aos litros e quem se importa? A cada semana sabemos de uma ou mais chacinas, mas e as que não sabemos? Carros pretos e pratas levam terror às periferias, de Belém. E já ultrapassaram a questão do imaginário popular ou da sensação de insegurança. Está virando uma cruel rotina de medo! De viver com a incômoda sensação de que há uma arma apontada para a nossa direção. Em janeiro, após a morte de um policial militar, em abril de novo, em maio e agora em junho. Essa é a quarta chacina registrada, neste ano, na capital. São mais de 40 mortes.

 

A gente sabe que historicamente as pessoas negras são as principais vítimas da violência no Brasil, mas alguma coisa está acontecendo para que os assassinatos estejam saindo daquela banalização que não causa comoção social. Aquela banalização das “queimas de arquivos”, do “acerto de contas”… Alguma coisa acontece para que as mortes saiam desse controle e comecem a chocar, a estarrecer… O que acontece?

 

Homens encapuzados descem com a certeza da impunidade, atiram e matam. Há um genocídio acontecendo, aqui, nesta cidade. Gritamos isso todos os dias. Quem nos ouve? Choramos a morte dos nossos amigos, vizinhos e calamos diante do medo e da impunidade.

 

Na cabeça

Na chacina mais recente, em Belém, duas caminhonetes fecharam um bar e atiraram. Saldo 3 mortos na hora, dois no hospital, mais de 10 feridos, entre eles duas crianças, uma baleada na cabeça. Quem sobreviveu disse que não havia um alvo. Apenas atiraram. Mais do que a certeza da impunidade, os encapuzados só queriam matar e seguir com projeto genocida do Estado Brasileiro. É lá, bem longe do centro e dos muros dos condomínios que as balas perdidas encontram alvos. Homens, mulheres, crianças, adolescentes… Não sabemos. O que sabemos é a classe e a raça da vítima. Chacinas só acontecem na periferia, com pessoas pretas e pobres!

 

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), de 2017, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Mata-se mais no Brasil do que em guerras civis declaradas pelo mundo. Das 30 cidades mais violentas do país, 22 estão no Norte e no Nordeste. Altamira, aqui no Pará, é quem lidera esse ranking.

 

O levantamento da ONG Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, com sede na Cidade do México, mostrou Belém como a 11ª cidade mais violenta do mundo em 2016, a 2ª cidade mais violenta do Brasil. São 67,41 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes. O relatório usa como base dados divulgados pela imprensa nas maiores cidades do mundo e faz uma descrição da metodologia.

 

No campo, a situação não é diferente. No estado do massacre de Eldorado do Carajás, a morte do campo é rotina. Punição não! Há algumas semanas, um “confronto” entre agricultores e policiais militares deixou 10 pessoas mortas. Um “confronto” com 10 agricultores mortos. Nenhum policial foi ferido. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, o Pará liderou o ranking de assassinatos no campo nos últimos dez anos (2007-2016). Foram 103 mortes no estado. Depois veio Rondônia, com 66 assassinatos.

 

Quando lançamos a campanha de 75 dias de Ativismo Contra o Racismo aqui no Pará, em 12 de maio passado, alguém perguntou a razão da campanha. É porque estamos morrendo. É porque o racismo está tão plantado na sociedade brasileira que é banalizado. É porque cada pessoa negra viva é um desafio às estatísticas. O Estado Brasileiro não liga para como vivemos ou para como morremos. É porque estamos brigando ainda para ter uma dimensão de humanidade que nos foi negada historicamente. Viver não privilégio. É direito.

 

Queremos viver sem uma arma apontada para a nossa direção! Queremos viver! Parem de nos matar!


*Flávia Ribeiro é jornalista, feminista negra, militante do Cedenpa (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, da Rede de Mulheres Negras e da Rede de Ciberativistas Negras.


Links úteis:

https://www.facebook.com/mulheresnegrasamazonidas/

http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-405403-.html

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/05/conflitos-de-terras-provocam-morte-de-7-pessoas-em-uma-semana-no-para.html

https://www.brasildefato.com.br/2017/05/31/chacina-em-pau-darco-tem-as-mesmas-raizes-do-massacre-de-carajas/

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30253&catid=4&Itemid=2

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