“Nós que queremos mudar o mundo, precisamos libertar a HISTÓRIA, porque ela está presa a um discurso que a nega.”
Texto e fotos por Antonio Kanova – Da Página do MST
No último sábado (9), em Veranópolis, na região da Serra Gaúcha, aconteceu a formatura da turma do Curso de Licenciatura em História formada por militantes sociais.
A turma que começou em 2013 e que conta com militantes do MST, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), formou 38 educandos e educandas das cinco regiões do país.
O curso foi viabilizado em parceria com a Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), o Instituto Técnico de Capacitação em Pesquisa da Reforma Agrária (ITERRA) e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).
Para os movimentos sociais e o conjunto da classe trabalhadora, formar uma turma no Curso de Licenciatura em História, em uma universidade pública, já que em muitas vezes o acesso à educação superior para os trabalhadores é negado, é uma tarefa difícil. É isso o que afirma o formando Geraldo Lopes, de Rondônia.
“O curso foi importante para nós, camponeses da classe trabalhadora, que muitas vezes não conseguimos ingressar em uma universidade pública. Porém, a partir deste momento, isto está rompido e vamos poder contar a história de baixo”, concluiu.
Em tempos em que a história é contada a partir dos interesses da classe dominante, motivados em pagar a memória de um povo, se faz a necessidade de disputar a universidade, a pesquisa, a formação intelectual e a consciência das pessoas. Cedenir de Oliveira, representante do Iterra, afirmou que a “tarefa é formar quadros da classe e que um povo que não entende sua história não tem condições de projetar seu estudo”.
Gerson Fraga, padrinho da turma e também historiador, ressaltou que a tarefa dos novos historiadores é grande. “Não cabe aos historiadores apenas interpretar o tempo. É preciso vivê-lo. E estes parecem ser tempos especialmente complicados de serem vividos”, fazendo referencia ao momento em que o Brasil está vivendo de golpe institucional, de retiradas de direitos e de retrocessos políticos e sociais.
Segundo o doutor João Alfredo Braida, pró-reitor da UFFS, “esta foi a turma de maior taxa de sucesso na Universidade Federal Fronteira Sul”. Este é um motivo de muita felicidade e a prova de que parcerias como essas devem continuar. A universidade também manifestou a intenção de abrir outra turma de Licenciatura em História em conjunto com os movimentos sociais.
Líder do MST é sequestrado e assassinado no interior do Paraná
Neste final de semana, mais um militantes do MST foi assassinado, desta vez em Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná. Ênio Pasqualin foi executado a tiros, depois de ter sido retirado de casa por sequestradores. O MST divulgou nota cobrando o esclarecimento dos fatos, a investigação e prisão dos envolvidos.
“Há tempo a violência no campo é realidade no Paraná. Com a eleição de Bolsonaro e Ratinho Jr as coisas só pioraram”, afirma a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. O MST divulgou nota denunciando e cobrando o esclarecimento dos fatos, a investigação e prisão dos envolvidos
Bolsonarismo estimula violência no campo
Neste final de semana, mais um militantes do MST foi assassinado, desta em Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná. Ênio Pasqualin foi executado a tiros, depois de ter sido retirado de casa por sequestradores. O MST divulgou nota cobrando o esclarecimento dos fatos, a investigação e prisão dos envolvidos. A presidenta do PT e deputada federal (PR), Gleisi Hoffmann repudiou o bárbaro crime também cobrou apuração.
“Há tempo a violência no campo é realidade no Paraná. Com a eleição de Bolsonaro e Ratinho Jr as coisas só pioraram”, afirma Gleisi. “As ameaças de despejo são frequentes na Justiça e contra a vida de militantes, por parte de fazendeiros”, denuncia Gleisi. “O governo do PR tem obrigação de manifestar sobre o crime, apurá-lo e garantir segurança aos militantes da Reforma Agrária”, advertiu Gleisi em suas redes sociais.
De coordenador de base a dirigente estadual do MST Paraná, Ênio participou de diversas atividades e ocupações de terra na região de Rio Bonito do Iguaçu, segundo o MST. Líder dos assentados na região, Ênio comemorou seus 48 anos de vida junto a sua família, no dia 15 de outubro. “Tiraram a vida de um pai de um marido, deixando suas duas filhas, o filho e a esposa com uma dor inexplicável e inaceitável”, diz a nota da Direção Estadual do MST-PR.
NOTA DO MST
É com profunda tristeza que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná comunica o falecimento do companheiro Ênio Pasqualin. O militante foi executado a tiros no município de Rio Bonito do Iguaçu, onde vivia com a família, no assentamento Ireno Alves do Santos. Ênio foi retirado de sua casa por sequestradores na noite deste sábado, e seu corpo foi encontrado na manhã deste domingo nas proximidades do assentamento, com claras evidências de execução.
O companheiro iniciou sua militância no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no ano de 1996, em Saudade do Iguaçu/PR. No mesmo ano, mudou-se para o acampamento Buraco, em Rio Bonito do Iguaçu/PR, fazendo parte de uma das maiores ocupações de terra do MST, em 17 de abril de 1996, quando três mil famílias Sem Terra ocuparam o latifúndio da Giacomet Marodin, atual madeireira Araupel.
De coordenador de base a dirigente estadual do MST Paraná, Ênio participou de diversas atividades e ocupações de terra na região de Rio Bonito do Iguaçu. Ênio Pasqualin sempre foi um camponês aguerrido na luta.
Em Rio Bonito do Iguaçu, Ênio e sua família criaram raízes, assentados no Assentamento Ireno Alves dos Santos no final de 1996. Ele continuou ajudando a construir a luta por Reforma Agrária, seja no âmbito da produção e na organização dos assentados quando foi Presidente da Central de Associações Comunitárias do Assentamento Ireno Alves dos Santos (Cacia), ou quando ajudou os filhos e filhas dos assentados e assentadas a se organizarem para continuar a luta pela terra na extensa área da Araupel.
No dia 15 de outubro, Ênio comemorou seus 48 anos de vida junto a sua família e hoje, 10 dias após seu aniversário, deixa sua família de forma inaceitável. Tiraram a vida de um pai de um marido, deixando suas duas filhas, o filho e a esposa com uma dor inexplicável e inaceitável.
À família e aos companheiros e companheiras enlutados os mais profundos sentimentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Cobramos o esclarecimento dos fatos, a investigação e prisão dos envolvidos. Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas uma vida toda de luta!
Rio Bonito do Iguaçu/PR, 25 de Outubro de 2020. Direção Estadual do MST-PR
Os repórteres Katia Passos e Fernando Sato, dosJornalistas Livres conversaram com o poeta GOG, Genival Oliveira Gonçalves, no último dia 5, sobre sua carreira, que completa trinta anos em 2020, política, RAP e seu novo lançamento. O artista nascido em Sobradinho, no Distrito Federal, é conhecido como poeta do RAP Nacional e tem um grande histórico de contribuição para a construção do estilo no país, tendo sido o primeiro a abrir o próprio selo.
Ao relembrar os trinta anos de carreira, GOG destacou o papel político de suas canções ao abordar o racismo e os partidos de esquerda:
“Nossa carência política é de lideranças. Cadê as pessoas, a sororidade? Você não percebe isso nem na esquerda nem na direita. Quem está fazendo, quem está nas quebradas, hoje é o movimento social, é o MST que está produzindo.”
GOG também não poupou de suas críticas o governo Bolsonaro:
“Se tivesse teste psicotécnico, o Bolsonaro não seria presidente. Qualquer gestor público tem que passar por provas de inteligência emocional.”
O poeta ressaltou que o presidente perdeu a oportunidade de unir o país neste momento. Para ele a crise política dos partidos esquerda pode ser resolvida quando ela se voltar para si mesma, esquecer o Bolsonaro e voltar e para as base.
GOG destacou a importância das mídias independentes e como essa contra-narrativa dialoga com o próprio RAP, como forma de comunicação crítica de de produção de narrativas marginalizadas. Ao longo da entrevista, o rapper cantou alguns de seus sucessos, como ‘Assassinos Sociais’ e ‘Brasil com P’. GOG respondeu diversas perguntas dos internautas ao longo da entrevista, além das perguntas dos repórteres.
Ao falar de RAP, o poeta mencionou as importância das rappers, e o papel feminino na cena:
“É muita gente, a começar pela Ellen Oléria. Eu gosto muito tanto da música quanto da postura da Preta Rara. Ela me traz uma cena que passa pela transversalidade da música e da mulher negra mais empoderada”.
Para ele, o RAP é anti-sistêmico por natureza, por emocionar ao falar das realidades em que é feito. Sobre seu novo trabalho, o 12º disco, com sete faixas, terá participação de Renan Inquérito e Fábio Brazza. O foco é ancestralidade e nesse ponto contará com a participação, também, de Milton Barbosa do MNU (Movimento Negro Unificado).
Sobre o COVID-19, GOG lembrou:
“Nessa pandemia do coronavírus, tem que ter atitude. Mas qual o papel do governo e porque o estado mínimo não serve? O Estado tinha que estar preparado para receber, também, o que é emergência e o que não foi esperado”.
GOG insistiu sobre a importância de permanecer em casa, mesmo entendendo a preocupação de quem tem que sair para trabalhar: “Sem saúde você não traz o alimento”.
Na última terça-feira, 17, os acampamentos Zequinha e Pátria Livre, em São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte, foram invadidos por viaturas da Polícia Militar que, sem nenhum mandado judicial, montaram um cerco intimidando as 5 mil pessoas que lá residem. A PM chegou até a armar uma tenda no acampamento. A invasão durou 42 horas, até as 6 horas desta quinta-feira, 19, quando a tropa de choque deixou o local duas horas após o horário estabelecido em acordo.
Porém, os policiais não saíram sem deixar a marca da violência na área, uma fazenda improdutiva do empresário mineiro Eike Batista. Na noite de quarta-feira, a PM destruiu uma bandeira do MST e avançou para dentro dos lotes atropelando os moradores e apoiadores, além de destruir jardins e plantações. Logo após um ato político inter-religioso celebrado pelo bispo Dom Vicente, os policiais desrespeitaram a liderança religiosa da Diocese de Belo Horizonte, atuando de forma desmoralizante e agressiva, afirmando que continuariam a invasão se fosse necessário.
Em uma ação de criminalização dos pobres e dos movimentos populares, a Polícia Militar reproduz na região metropolitana de Belo Horizonte a mesma violência aplicada às famílias Sem Terra de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, de Campo do Meio, no Sul de Minas, e do Vale do Rio Doce. A responsabilidade das vidas colocadas em risco nesses territórios é do governo de Romeu Zema (NOVO) e do general Mário Lúcio Alves de Araújo, secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, por serem coniventes com a violência da ação irregular irresponsável.
“O que nós vivemos aqui é uma reintegração de posse forçada, na tentativa de nos desestabilizar com tiros e com ameaças, da mesma forma que aconteceu e acontece no acampamento Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, e no acampamento Terra Prometida, no Jequitinhonha. Nós estamos aqui para denunciar o crime da Vale em Brumadinho e a exploração do território pela mineração que não traz riquezas para os municípios, e a única saída para o conflito é a garantia da terra”, disse Mirinha Muniz, da direção estadual do MST.
“A luta continua, seguimos ocupando as terras improdutivas de corruptos, terras da especulação imobiliária e da mineração predatória, combatendo o agronegócio e o capital que nos violenta, contra todas as formas de opressão. A justiça na terra se faz com reforma agrária e não com violência” acrescentou Mirinha.
Pingback: Universidade pintada de povo | Jornalistas Livres | BRASIL S.A