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Fórum Social Mundial

Uma jornada ao Fórum Social Mundial 2018

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No percurso para chegar até Salvador, cidade sede do Fórum Social Mundial 2018, uma atmosfera de desigualdades sociais se faz presente, desde o momento que saímos rumos ao aeroporto. O primeiro embate ja começa no avião.

Para nossa surpresa, a empresa aérea cobra preços literalmente nas alturas por um serviço wi-fi. São 54 reais por hora. Lucro exorbitante que vai além das caras passagens.

E as cenas de um Brasil que mostra descaradamente suas desigualdades continuam. Ainda no aeroporto, a luta de classes que está posta nessa agenda conservadora não para nunca.

Uma família numerosa com muitas bagagens e, entre elas, uma caixa de isopor, por incrível que pareça, expõem o embate social do pós-Lula. Mas que embate é esse? Essa família e a bagagem, ao passarem pelos terminais do aeroporto são observados por olhares preconceituosos de muitos que bateram suas panelas e carregam ainda, o ranço contra quem justamente ascendeu economicamente e hoje consegue viajar de avião. Num mesmo espaço, pobres, ricos, brancos e negros. Nem todos, convivendo em harmonia. Os comportamentos são quase diplomáticos.

E as reflexões sobre o que viemos buscar no Fórum Social de 2018 não param de acontecer. A importancia do encontro é imensa na atual conjuntura social, pol;ética e econômica. Realizado na Bahia, terra de pretos, acreditamos que propositalmente com a ideia de justamente encontrar e dialogar um mundo mais justo e menos mercadogicamente selvagem para minimizar as marcas de um Brasil, que agora com Temer, decola rumo ao obscuro campo da mediocridade e retirada de direitos. Tudo num mesmo balaio, gestores “que nao sao politicos” dividem a geografia do mundo, com os políticos golpistas.

Confirmadas no Fórum, as presenças de tantas pessoas que lutam para diminuir o sofrimento dos mais vulneráveis é um acalento nesse mar de bestiais figuras que hoje temos nos comandos de países e cidades do país.

O mote deste ano do encontro é umchamamento para que se unam mais mentes responsáveis socialmentes, para o debate transformador que é de suma importância para o próximo período e as futuras gerações. E sendo Salvador o espaço para o diálogo, temos aí um simbolismo muito forte.

A partir de hoje, 13 de março de 2018, aniversário de 3 anos dos Jornalistas Livres, a Bahia se torna mais guerreira ainda e se consolida como um território das mídias livres e de luta.

O FSM pode não resolver de imediato os problemas causados por governos irresponsáveis como que o temos hoje no país, pode não trazer a fórmula mágica para os males causados de governos irresponsáveis como que temos, mas certamente, é um campo de união de esquerdas, de movimentos que querem fortalecer o pensamento crítico, momento de reencontros, debates e encaminhamentos em grupo, num tempo tão duro e opressor para nossa terra.

Educação

Quarto de despejo

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“Quando estou com pouco dinheiro, procuro não pensar nos meus filhos que vão pedir pão, pão, café. Desvio meu pensamento para o céu. Penso: será que lá em cima tem habitantes? Será que eles são melhores que nós? Será que o predomínio de lá suplanta o nosso? Será que as nações de lá é variada igual aqui na terra? Ou é uma nação única? Será que lá existe favela? E se lá existe favela será que quando eu morrer, vou morar na favela?” Carolina Maria de Jesus , em Quarto de Despejo”.(São Paulo, Francisco Alves, 1960)

Em todo aquele dinamismo e agito do Fórum Social Mundial, uma instalação no canto de um dos prédios me chamou a atenção.

Uma Instalação feita de pedaços de madeira descamada, partes de papelão, um saco grande de lixo no canto direito com restos de papel, jornais, garrafas, latas, lixo… e uma inscrição acima “Quarto de Despejo”. Logo vi que se referia à escritora favelada Carolina de Jesus. Me comovi, cheguei mais perto. No interior do quarto vi a tentativa, muito bem sucedida de reproduzir de uma outra forma, todo um contexto, toda uma história de vida de uma mulher que poderia ter passado como tantas e tantos outros cidadãos do mundo como invisíveis e descartáveis. Pratos desbeiçados, canecas de ágata com sinais de uso, chaleira, fogãozinho, peças de roupas remendadas, escritos em cadernos já usados, cama construída com restos de madeira e de colchão, bule de café, pinico, balde para armazenar a água, tudo arrumadinho, máquina de escrever, livros descartados e seus livros publicados.

Se Carolina não tivesse sido descoberta por acaso na década de 60, pelo jornalista Audálio Dantas, sua história tão cruel e injusta, retrato de milhões de brasileiros que vivem em condição sub-humana e tão cruel, não teria sido desvendada.

Carolina revelou-se uma escritora de sensibilidade e força incrível, traduziu com profundidade o Grito dos Excluídos, não só seu, mas a nua realidade de muitos outros milhões de cidadãos espalhados pelo mundo.

Formou-se na rua, criou 3 filhos, aprendeu a ler e exercitou sua leitura com os livros deixados no lixo. O verso em branco das folhas usadas e restos de papel de pão, lápis e caneta foram as armas com que escrevia seus sentimentos e dores.

Quarto de Despejo foi traduzido em várias línguas e ganhou o mundo.

Como educadora e educadora popular que sou*, fiquei profundamente tocada com o trabalho igualmente sensível, respeitoso e profundo com que a professora da UFBA Sandra Marinho, desencadeou uma proposta introdutória na grade curricular “Tópico de Educação”. Com um projeto de investigação e de reflexão sobre o papel do educador, instigou seus alunos a pesquisarem e conhecerem Carolina de Jesus, como símbolo do contexto e do compromisso que os educadores deveriam se pautar.

Mais uma vez me comovi com o compromisso de Elza Maria Machado, estudante de pedagogia, representando algumas alunas e alunos que abraçaram este desafio. Com ela conversei um pouco e vi sua dedicação permanente em, junto com Carolina de Jesus, oferecer um cafezinho e chamar a atenção dos muitos participantes do Fórum Social Mundial (inclusive uma mãe militante que levou seus filhos de 8 e 10 anos), para o Quarto de Despejo. Toda sua concretude traduzia o motivo que movia os participantes do FSM que ali se detinham: estar presentes: trocar experiências e saberes, unir força, fortalecer as lutas de resistência, agir pela superação das desigualdades sociais.
O lema do Fórum Social Mundial “Resistir é Criar, Resistir é Transformar”, ali se fez presente. Outra linguagem é necessária, desafio fundamental dos educadores, militantes e lideranças que pretendem atingir corações e mentes de muitas outras pessoas que ainda não puderam identificar em si ou no outro a realidade da Carolina, para se somarem nesta luta cada dia mais necessária, por uma Educação Política Libertadora.

*Cecília Figueira é educadora popular

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Educação

Educação Popular e Lutas de Resistência na América Latina no Fórum Social Mundial

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O debate sobre o papel e os desafios da Educação Popular na atual conjuntura esteve presente em diversas atividades na 13ª edição do Fórum Social Mundial, em Salvador, Bahia, com o tema “Resistir é Criar, Resistir é Transformar. A Educação Popular, traduzida como concepção política, ética e pedagógica, inspirada sobretudo nas ideias do educador Paulo Freire, é a expressão de práticas educativas comprometidas com os interesses das classes populares e que se orientam por uma ação transformadora da realidade social.

A Educação Popular, nascida na América Latina na década de 60, é hoje um movimento cultural e pedagógico fortemente vinculado às lutas dos povos oprimidos, dos movimentos sociais e da sociedade civil por direitos e a sujeitos e instituições que acreditam em outra educação possível.

Há 35 anos surgia o Conselho de Educação Popular da América Latina- CEAAL presente hoje em 21 países da América Latina e Caribe como movimento de educadoras(es) populares organizados em uma rede. Neste arranjo as prioridades são formação política, cultura, comunicação popular, paz e direitos humanos; feminismo e luta anti-patriarcal; economia solidária; incidência em políticas educativas, sobretudo nas de educação de jovens e adultos.

No FSM, o CEAAL, algumas vezes em parceria com outras redes, organizações e movimentos sociais, desenvolveu atividades temáticas que possibilitaram a reflexão e a troca de experiência entre pessoas e grupos. Reafirmou-se a necessidade de intensificar a Educação Popular como instrumento de fortalecimento das lutas de resistência nesta conjuntura de avanço avassalador das políticas neoliberais no mundo, em detrimento das conquistas sociais e da soberania dos povos, especialmente na América Latina e Caribe e em nosso país, face ao golpe a favor do capital financeiro internacional, aprofundando as desigualdades sociais.

A temática desenvolvida sobre “A Democracia que Temos e a que Queremos”, enfatizou fortemente a necessidade de fomentar e radicalizar as práticas de democracia participativa e da retomada do trabalho de base como caminho mais fecundo. No debate em torno de “Comunicação e Cultura Popular”, destacou-se a importância de criar e fortalecer as práticas e instrumentos de comunicação e de expressão popular, numa perspectiva contra hegemônica ao domínio e monopólio dos meios de comunicação.

Nas atividades auto-gestionadas, debateu-se os desafios e ações no campo de formação política, da educação cidadã e da sistematização de experiências. Face a conjuntura de forte ataque de atores do conservadorismo, o CEAAL entende que é fundamental fortalecer as lutas de resistência popular e construir estratégias de formação política fundamentadas nos princípios éticos, políticos e pedagógicos da Educação Popular. Com esta posição o CEAAL pretende que a Educação Popular possa contribuir para uma maior organicidade das lutas travadas pelos movimentos sociais por direitos e contra os retrocessos decorrentes do avanço das políticas neoliberais. No caso do Brasil, arquitetadas pelo governo golpista por ações opressoras e de cerceamento das liberdades democráticas como Escola Sem Partido.

Sob esta perspectiva, ressaltou-se a necessidade de dialogar com expressões artísticas e culturais, sobretudo com os movimentos de juventude que tem afirmado sua identidade e expressado seus sentimentos em relação ao contexto das opressões por eles vividas. A falta de perspectiva, o pouco acesso a políticas públicas, a discriminação de classe, gênero e raça, a violência policial a que amplos segmentos da juventude estão sujeitos, reforçam a importância de se considerar estes elementos nesta estratégia e conceito de formação política.

A sistematização de experiências, entendida como a capacidade dos atores sociais e políticos de teorizarem suas próprias práticas, foi apontada como passo importante para a reinvenção e criação de novas práticas e linguagens. Ressaltou-se ainda no Fórum Social Mundial a importância de se incorporar novos paradigmas, como “Bem Viver”, Eco Socialismo, Feminismo Anti-patriarcal e novas práticas de descolonização do pensamento como insumos para as práticas de Educação Popular.

Concluindo e retomando as ideias de Paulo Freire diante de uma conjuntura de resistências, é preciso vivenciar uma Pedagogia de Esperança e uma Educação Popular Libertadora que busque e exercite no cotidiano das vivências e das lutas populares, a construção de outro mundo possível e de outros caminhos para uma sociedade mais justa e digna para todos. É preciso que a solidariedade e valores fundamentais do ser humano se contraponham a este mundo devastador do capitalismo selvagem e dos retrocessos civilizatórios a que estamos submetidos.

Pedro Pontual, educador popular e presidente honorário do CEAAL

Cecília Figueira, educadora popular

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Fórum Social Mundial

Brasil é denunciado no Conselho de Direitos Humanos da ONU

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Um grupo de mais de 20 ONGs, brasileiras e internacionais, denunciaram hoje, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o desmonte dos direitos humanos promovido pelo governo Governo Temer. Também denunciaram a indiferença do Poder Judiciário quanto ao Golpe Institucional no Brasil, além da perseguição contra Lula, com o intuito de barrar sua candidatura para as eleições de 2018.

O desmonte da sistema de proteção de direitos humanos denunciado inclui o fechamento do Ministério de Direitos Humanos, ataques a povos indígenas e a onda conservadora que ataca a comunidade LGBTI, artistas e intelectuais. Ainda segundo a denúncia Emenda Constitucional 95 e a reforma trabalhista violam as convenções internacionais ratificadas pelo Brasil.

As ONGs também denunciaram a série de violações do devido processo legal contra Lula, o candidato da oposição mais cotado nas prévias das eleições de outubro de 2018. As violações denunciadas incluem disseminação ilegal de conversas telefônicas de Lula e a então presidenta Dilma Rousseff, gravações ilegais de conversas telefônicas dos advogados de Lula e a apreensão ilegal de seu passaporte e a rejeição pelo judiciário de vários pedidos dos advogados de Lula essenciais para a sua defesa.

A intervenção federal, com caráter eminentemente militar, além de ter sido criticada pelo próprio Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, foi mais uma vez denunciada na plenária do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

O Brasil, como membro do Conselho de Direitos Humanos até o ano de 2019, tem o dever de manter o mais alto padrão de proteção de direitos humanos, para justificar o privilégio de ser membro, inclusive com poder de voto no Conselho. A situação de direitos humanos internamente, contudo, é bem abaixo de um padrão mínimo exigido para ser membro do principal órgão de direitos humanos da ONU.

As organizações que denunciaram a grave situação institucional no Brasil também lembraram que a comunidade internacional teve um papel indispensável na redemocratização do Brasil na década de 1980 e agora deve redobrar a atenção sobre o Brasil para prevenir o agravamento da crise no Brasil e garantir o retorno a normalidade institucional.

 

As organizações Centre Europe Tiers-Monde (CETIM), FIAN International, IADL, Transnational Insititute, CSI, and Friends of the Earth propuseram a intervenção oral no Conselho de Direitos Humanos, apoiadas pelas seguintes organizações:

  • Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (AFES)
  • African Women United Against Destructive Resource Extraction (WoMin) – Johannesburg, South Africa
  • Alternative Information & Development Centre (AIDC) – Cape Town, South Africa
  • Associação Brasileira de Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo (ABGLT)
  • Centre for Natural Resource Governance (CNRG) – Harare, Zimbabwe
  • FESPAD – El Salvador
  • FIAN Brasil
  • HOMA- Centro de direitos humanos e empresas
  • IndustriALL – Global Union
  • Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE)
  • International Trade Union Confederation (CSI)
  • Justiça Global
  • Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragem (MAB)
  • Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)
  • PAPDA Haïti
  • Peoples Dialogue Africa and Latin America Network
  • Plataforma Internacional contra la Impunidad
  • Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia (SINFRAJUPE)
  • Terra de Direitos
  • Trust for Community Outreach and Education (TCOE) – Cape Town, South Africa

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