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Educação

Uma câmera na mão, uma ideia de democracia na cabeça

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Por Patrícia de Matos, diretora de comunicação da União da Juventude Socialista (UJS), especial pra os Jornalistas Livres

Sou Patrícia, tenho 23 anos e estudo jornalismo na FMU. Comecei minha militância no grêmio Honestino Guimarães da escola Elefante Branco de Brasília aos 15 anos de idade. Aos 16 me filiei à União da Juventude Socialista (UJS), movimento de juventude que compõe a UNE. No ano seguinte ingressei na Universidade de Brasília (UnB). Aos 19 fui morar em São Paulo em razão de ter sido convidada para dirigir a pasta de cultura da UNE. Cheguei de mudança com uma mala enorme e desci na praça da Sé para encontrar o pessoal que iria me receber. Quando saí do metrô, passava na minha frente uma manifestação enorme contra o aumento das passagens. Nem me lembro como consegui chegar em casa naquele dia.

Lembro da inquietação de muitos movimentos quando tentavam fazer uma avaliação sobre o que representava, de fato, aquela ascensão de grandes mobilizações que eclodiam pelo Brasil. Lembro, inclusive, do momento em que a grande mídia parou de criminalizar as mobilizações e passou a disputá-la.

Não demorou muito para que a Av. Paulista mudasse de cara nos dias de protesto e a parecer bastante com as mobilizações pró-golpe do último período. Começaram a destilar bastante ódio contra as organizações dos movimentos sociais. Setores da grande mídia entraram em cena mais uma vez e, com eles, os políticos oportunistas que viam na despolitização uma oportunidade de emplacar uma agenda “superconservadora.”

Tinha uma galera com carrinho de feira, uns fios e celular na mão. Faziam transmissão ao vivo, gambiarra total. Eu acompanhava e uma galera também. Caia muito a transmissão, era meio ruim em termos de qualidade técnica. Mas era a ótima a sensação de ter gente narrando as manifestações do chão, no lugar de quem protestava. Estava crescendo o mídia ativismo.

Nesse ano de 2013 fechamos um ciclo de estabilidade. Havia a necessidade de radicalizar a democracia por um lado e, por outro, havia o crescimento de uma “frente pelo retrocesso”. Começava a Jornada Nacional de Lutas da Juventude e, com ela, uma nova geração. Desde então, estivemos sempre em provação. A luta política no país só se intensificou e a necessidade de relançar os nossos movimentos para resistir à onda conservadora se tornou urgente. Nascia uma semente que floresceu no último domingo.

A EMERGÊNCIA DAS MÍDIA ALTERNATIVAS SOB O PRISMA DO 55º CONGRESSO DA UNE

A União Nacional dos Estudantes completa 80 anos de vida no dia 11 de agosto desse ano. A entidade já nasceu na luta contra o integralismo – expressão do fascismo no Brasil. Ao contar a história da UNE, contamos a história da república brasileira e as lutas que nos guiavam no sentido de tornar esse país uma nação que aproveitasse plenamente suas possibilidades de desenvolvimento.

Foi a partir da UNE que se nacionalizou a campanha do “Petróleo é nosso”, na década de 50, responsável pela criação da Petrobrás. Nos anos dourados, os estudantes também se mobilizaram contra o aumento do preço da passagem dos bondes, realizando grandes manifestações. Na década de 60, foi na UNE que muitos artistas se organizaram para propagar a arte engajada através do Centro Popular de Cultura da UNE – o CPC da UNE – propondo a discussão da reforma universitária em formato artístico. Durante a “UNE volante” – caravana da UNE pelo Brasil que pretendia aprofundar a discussão sobre a reforma universitária – Eduardo Coutinho descobriu a história do engenho da Galiléia e os confrontos em torno da luta pela terra, culminando no início do que seria uma das obras cinematográficas que marcou a história do cinema documentário brasileiro, o “Cabra Marcado para Morrer.” Foi nesse mesmo período que Aldo Arantes, presidente da UNE à época, se juntou a Brizola no Rio Grande do Sul para articular a “Campanha da Legalidade”, no intuito de barrar o golpe civil militar de 1964.

Não foram poucos os estudantes que tombaram na ditadura. Não foram poucos os que se mobilizaram pelas eleições diretas no processo de democratização do país, nem os que se juntaram aos milhões pelo #ForaCollor, na esperança de eleger um projeto político que não aprofundasse o processo de sucateamento da educação pública.

Se fosse falar de toda a história da UNE, talvez demorasse muitas laudas para citar apenas os momentos mais importantes e seus pontos de encontro com a história dessa nossa imatura república. Mas gostaria de me concentrar aqui no que a UNE se tornou nesse último congresso: um laboratório vivo da democracia brasileira em um contexto de retrocesso dos direitos democráticos e avanço das ideias fascistas.

A UNE REÚNE O CONJUNTO DO MOVIMENTO DE JUVENTUDE DO BRASIL

Setores que tinham se afastado do movimento estudantil agora retornam, como os estudantes que constroem o movimento MAIS, em grande parte antigos filiados ao PSTU e esse, por sua vez, fruto da antiga “Convergência Socialista, retornaram à entidade nesse último congresso. A vinda também da juventude do PSDB, que organizou sua bancada no congresso da UNE, com camisetas e palavras de ordem próprias, exaltando Mário Covas e FHC. Destoando da orientação nacional do partido, pediram pelo #ForaTemer. E, o mais impressionante: a realização de, talvez, a maior aliança que o movimento estudantil já viu. O que antes era a Frente Brasil Popular, dedicada a coordenar as diversas manifestações pela manutenção da democracia no último período, desdobrou-se na chapa vitoriosa desse congresso com forças políticas de centro.

UNE: MAIS UM LABORATÓRIO DA COMUNICAÇÃO COLABORATIVA E ALTERNATIVA NO BRASIL

Nesse histórico congresso da UNE protagonizamos a sua transformação em mais um laboratório da democracia do ponto de vista da comunicação. Ouvimos muito dos veículos da grande mídia a famosa defesa da “imparcialidade jornalística” como um véu que cobre os verdadeiros interesses dessas corporações que se posicionam, muitas das vezes, de acordo com os interesses de seus financiadores. Não que isso seja propriamente errado, mas estamos falando aqui do mito da imparcialidade e da invisibilidade sofrida pelos que simplesmente não fazem parte da “linha editorial” desses veículos.

Foi justamente esse bloqueio aliado à crise de credibilidade vivida pela grande mídia e o advento da nova revolução tecnológica que possibilitou a democratização da possibilidade de produção de conteúdo e que beneficiou milhares de brasileiros e brasileiras, gerando um nascente organismo composto por mídias alternativas de vários matizes e que constroem narrativas sobre as pautas que bem entendem. Outros surgiram não para tratar de pautas específicas, mas para se constituírem enquanto plataformas das lutas populares e formas alternativas de prática jornalística, como é o caso dos Jornalistas Livres e do Mídia Ninja. O processo de luta contra o golpe vem produzindo uma interessante simbiose entre as novas mídias, o movimento estudantil e cultural. Embora seja de extrema importância a luta por transformações estruturais no sistema de telecomunicações do país, a necessidade urgente de construção de nossas próprias narrativas levou grande parte do contingente militante a construir mais intimidade com os processos de produção de conteúdo sobre a história de suas vidas e de suas lutas. É urgente que os movimentos sociais se entendam como laboratórios vivos da comunicação alternativa, tornando a militância uma grande rede de produção de notícia e conteúdo.

AS PARCIALIDADES CONTROEM O TODO

Foi nessa perspectiva que vimos o lançamento via edital, a partir do CUCA da UNE, das inscrições da cobertura colaborativa desse congresso. Centenas de estudantes e colaboradores de várias mídias se inscreveram, inclusive coletivos e movimentos que compõe a oposição da UNE. É interessante como em um espaço de disputa de ideias e de representação política foi possível vivenciar processos de troca e experimentação estética entre agentes de orientações ideológicas tão diferentes.

O exercício não foi o de certamente tornar invisíveis as parcialidades, mas sim de evidenciá-las, torná-las alcançáveis aos olhos de qualquer um que tenha feito a opção de acompanhar esse processo. A existência dessa quantidade de agentes políticos envolvidos em um processo colaborativo constituiu ambientes de inflexão e reconhecimento de lutas em comum que dão um baile de democracia quando tomamos como perspectiva a situação política atual.

Diferentemente da tal imparcialidade, nos apegamos em exaltar as identidades políticas contribuindo para a reinvenção da institucionalidade da organização mais antiga do movimento social brasileiro.

As mídias alternativas ligadas aos movimentos sociais que constroem certa autonomia à dinâmica mercadológica não foram só amplificadas pela participação de 26 movimentos de juventude que compõe a entidade, mas representou também um exercício de plena liberdade estética e experimentação, transformando o congresso da UNE, de fato, em um laboratório para um exercício de linguagem política e estética.

Com o surgimento dessas novas mídias é fortalecida também a noção de campo político da comunicação. Eliminam-se os velhos intermediadores e é criada uma nova forma de organização e construção política entre os agentes no processo de construção narrativa, diluindo as fronteiras entre técnica e política.

Na UNE mora boa parte da esperança do povo brasileiro, porque na UNE está boa parte da juventude que sonha e luta pelas causas humanitárias, populares e nacionais, para além dos interesses corporativistas. É na UNE que mora, também, boa parte do futuro da política. Que felicidade ver a UNE continuar atendendo sua vocação histórica. Foi no mesmo momento em que a UNE lançou uma frente mais ampla que pudemos ver até agora que ela contribui com uma experiência que nos leva a chegar mais perto do que deveria ser uma comunicação democrática e a acreditar que, de fato, todos nós podemos pegar uma câmera na mão com uma ideia na cabeça.

Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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