“Temer, migo, seu louco!”

Por Flávia Martinelli e Iolanda Depizzol

Parecia piada. Não dava para acreditar. Em pleno Dia Internacional da Mulher, 8 de março, enquanto as ruas do mundo inteiro estavam abarrotadas de mulheres marchando por seus direitos e conquistas, o presidente golpista Michel Temer foi a público dizer que as brasileiras são especialistas em crianças, compras e trabalho doméstico. Aconteceu mesmo. E aqui, no país em que 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres que, por sua vez, ocupam 43% dos postos de trabalho – as vagas formais, veja bem, porque o mercado informal, toda mulher sabe, é território bastante feminino.

E assim, do alto de suas próclises, ênclises e mesóclises, diretamente do pensamento vivo daquele que, por sinal, foi vice de uma mulher eleita ao cargo de presidenta, Temer proferiu a seguinte barbaridade:

“Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela [Temer], do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher.”

Para completar, disse que a mulher tem uma grande participação na economia do país porque é “capaz de indicar os desajustes de preços em supermercados” e “identificar flutuações econômicas no orçamento doméstico”.

Foi um feito. Em pouco menos de 100 palavras, Temer foi capaz de anular séculos de luta feminina, confinou à mulher ao lar e à criação dos filhos, subestimou e anulou a participação dos homens no processo de educação dos filhos, foi patriarcalista, machista, sexista e, bem, foi sincero. Tão sincero que até assustou as mulheres ouvidas pelos Jornalistas Livres durante a manifestação em São Paulo que reuniu mais de 30 mil mulheres no centro da cidade.

Informadas sobre o episódio, muitas não acreditavam no que o nobre governante havia dito. Pediam para as repórteres repetirem as frases, explicar com mais clareza, reproduzir a fala exata. Algumas acharam que era uma brincadeira. Mas não era. E, mesmo diante do susto, não há mais como calar as mulheres.

“Temer, migo, seu louco! Eu poderia falar horas sobre todas as engenheiras, cientistas, tecnólogas do Brasil, todas as mulheres maravilhosas que romperam barreiras há séculos”, disse a jornalista Marina. A estudante Lohane de 22 anos, mulher bi, negra, periférica foi clara: “Ele não acompanha e não sabe um terço do que que as mulheres são capazes”. Com a filha Tamara no colo, Camila lembrou que seu companheiro é um homem pensante, capaz de fazer uma conta e que também tem que ir ao mercado e, como qualquer brasileiro, pode saber não só do preço dos produtos mas se têm agrotóxicos e qual indústria os produz.

“A gente não quer só ficar em casa. A gente não quer só cuidar de filho. A gente trabalha também porque precisa, senhor Temer. Queremos ser belas do nosso jeito, de todas as maneiras!”, disse Marília, promotora legal popular da União de Mulheres de São Paulo. No mesmo coro, Helena Nogueira, militante da Marcha Mundial de Mulheres engatou: “Querer reduzir nós, mulheres a cuidados de casa, a ir ao supermercado só serve para quem é bonita e do lar. Eu não sou bonita e nem do lar. Sou da rua pra lutar!”

Vídeorreportagem: Iolanda Deppizzol e Flávia Martinelli, para os Jornalistas Livres

 

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