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  • A democracia não se barganha

    A democracia não se barganha

    Nenhum passo atrás. O recado das ruas nesta quarta-feira deixou claro: o povo não vai negociar os direitos sociais e humanos conquistados, não quer lotear o pré-sal e não admite o ajuste fiscal às custas das políticas sociais. Para quem ocupou a avenida, Dilma fica e Cunha sai

    Por Maria Carolina Trevisan, especial para Jornalistas Livres

    São Paulo, a capital mais conservadora do Brasil, começou a quarta-feira, 16 de dezembro, com um ato de “Professores contra o impeachment e pela democracia”, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, cenário da resistência estudantil à Ditadura. Foi uma reação à manobra que deu início ao processo de impeachment da presidenta Dilma, perpetrada pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. “O que está em jogo agora são a democracia, o Estado de Direito e a República, nada menos”, afirma o manifesto dos intelectuais, oficializado no evento.

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    Mas a expressão mais contundente desse contra-peso aconteceu entre a Avenida Paulista e a Praça da República, no centro da capital paulista. Cerca de 100 mil pessoas, segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e 55 mil, de acordo com o Datafolha, marcharam contra a tentativa de golpe. Cartazes e cantos de luta pediam a manutenção e o fortalecimento das políticas que favorecem a maioria da população brasileira, mas não privilegia a elite conservadora. Um contraste evidente em relação à demanda da passeata do domingo, 13/12, intitulado “Natal sem Dilma”, e rebatizado de “esquenta”, quando da iminência de seu fracasso.

    Não se pode ameaçar a democracia, que custou a vida de tanta gente na nossa história recente. Por isso, as ruas cheias. O impeachment é um instrumento reservado para situações extremas, destinado a proteger o Estado de Direito. Não pode fazer parte de um jogo pelo poder. “Nós estamos lutando para acabar com a história de golpes durante a democracia brasileira”, afirmou a professora Ermínia Maricato, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. “Nós estamos lutando também para avançar no processo civilizatório. Por um processo civilizatório de generosidade, de paz, de uma sociedade menos desigual. Estamos lutando contra muita coisa, mas a favor de muita coisa também”, disse Maricato.

    Foi exatamente o que se viu no ato contra o golpe nesta quarta-feira: milhares de pessoas defendendo as políticas sociais e os direitos humanos, sobretudo. Gente comum, que não é filiada a nenhum partido político, se misturava a militantes de direitos indígenas, a defensoras dos direitos das mulheres, a ativistas do movimento LGBT, aos que lutam por moradia digna, por escolas públicas de qualidade, aos integrantes do movimento negro.

     

    Lucia Udemezue e Patricia Rodrigues | Foto: Fernando Cavalcanti/Jornalistas Livres

    Querem evitar o retrocesso e garantir avanços. “Um golpe significa retroceder mais de 50 anos de luta histórica pela democracia no país, retroceder em direitos que avançaram em grande medida em 12 anos de governo democrático e popular. Precisam ser respaldados”, defende Patrícia Rodrigues, socióloga e militante pelos direitos indígenas. É a população em situação mais vulnerável — indígenas, negros e pobres — quem mais perderia com uma mudança autoritária de governo à direita.

    “A questão racial no Brasil apesar de todas as dificuldades persistentes, experimentou avanços nos últimos anos justamente porque encontrou lugar nas bases dos partidos de esquerda, embora estes também apresentem grandes restrições para tratar da pauta. O fato é que a conquista de direitos trabalhistas para trabalhadoras domésticas, a maioria de mulheres negras, a inserção de pessoas negras nas universidades, a disputa com cotas a cargos públicos, tudo isso tem incomodado demais aqueles que nunca tiveram como pauta os direitos para esse segmento populacional”, explica a socióloga Tricia Calmon, militante do movimento negro da Bahia.

    “Pensar e implementar políticas para o segmento populacional negro no Brasil fortalece a democracia na medida em que aos poucos vai desmontando o monopólio do usufruto dos bens produzidos pela sociedade apenas pelo segmento populacional branco. Um golpe, portanto enfraquecerá esse projeto”, afirma.

     

    Foto: Roberto Setton/Jornalistas Livres

    Escuta, Dilma

    Um outro aspecto importante da passeata pela democracia desta quarta (16/12) foi marcado por críticas severas ao governo. “Ser contra o impeachment não significa defender a política desse governo. Nós entendemos que essa política é indefensável. O governo Dilma precisa ouvir a voz das ruas. Se não interromper esse ajuste fiscal só vai aprofundar a crise e vai gerar grande revolta social”, alerta Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

     

    José Alves de Castro, militante histórico do PCdoB. Há 55 anos. Foto: Fernando Cavalcanti/Jornalistas Livres

    Um ajuste fiscal baseado nos juros do pagamento da dívida externa e a defesa do pré-sal como patrimônio brasileiro foram bandeiras levantadas na manifestação. “Querem que o povo pague a conta. O Brasil está gastando 500 bilhões de dólares para pagar juros da dívida para os grandes investidores. É esse o verdadeiro ajuste que tinha que ser feito”, reivindica o jornalista Chico Malfitani. “Não é tirando 10 milhões do Bolsa Família. O ajuste é a sangria. Todos nós precisamos fazer alguma coisa para não deixar o país andar para trás. Ou vai ter uma guerra civil”, alerta Malfitani. Para a professora e filósofa Marilena Chauí, se o golpe acontecer, a tendência é a privatização da Educação, da Saúde e da Cultura. “E vão entregar o pré-sal para os Estados Unidos. O pré-sal é a nossa soberania”, defende.

     

    Foto: Mídia NINJA

    No mesmo instante em que a manifestação marchava em direção à Praça da República, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, pedia o afastamento cautelar de Eduardo Cunha do cargo de deputado federal e de presidente da Câmara. Janot listou 11 razões para isso e encaminhou ao Supremo.

     

    O médico Reinaldo Morano, 70 anos, participa da manifestação | Foto: Fernando Cavalcanti

    Diante desse quadro político palpitante, o posicionamento popular é fundamental para desmistificar a ideia de que a maioria dos brasileiros quer o impeachment, cenário defendido por Cunha e companhia, e superdimensionado pela velha mídia. O contrário do que se viu nas ruas ontem. “Se você olhar, tem gente de todas as cores e tem muita gente”, observa o médico Reinaldo Morano. Participante do movimento estudantil nos tempos de terror da ditadura, Morano viu muita gente ser presa, perseguida e torturada, amigos e colegas assassinados. “Eu não quero isso de volta. Meu recado é ‘Dilma, coragem’!” A direita é insaciável.

     

    Colaboraram: Laura Capriglione, Allan Ferreira, Henrique Cartaxo, Bruno Miranda, Katia Passos e Iolanda Depizzol

  • Tremores no chão das ruas

    Tremores no chão das ruas

    O Brasil se levantou nas ruas pela democracia. Por todo o país, milhares disseram basta a Eduardo Cunha e seu terrorismo legislativo, dezenas de cidades unidas na defesa da legalidade constitucional, exigindo imediatas correções de rumo na política econômica para que o Planalto possa se reconciliar com o setor social que reelegeu Dilma e não abrirá mão do programa vitorioso nas urnas há apenas um ano.

    Avenida Paulista tomada pela onda vermelha nessa quarta-feira, 16. Foto: Mídia NINJA
    O ‘Fora Cunha’ e o combate a tentativa de golpe foram os motes centrais da mobilização no meio da semana. Foto: Mídia NINJA

    Ruas em polvorosa como não se via desde a onda vermelha que varreu o país para reeleger Dilma. Praças abarrotadas com o que há de melhor nos movimentos sociais, nas lideranças populares, na juventude e no novo ativismo das redes sociais. Apesar de toda a crise que caracterizou 2015 o ano ainda não acabou e o obscurantismo não sairá dele mais forte do que esta democracia que a duras penas estamos construindo.

    Diferente do que se viu nas ruas golpistas de domingo, a diversidade do Brasil se mostrou não apenas em todos os seus tons de pele, como também nos valores de convivência e solidariedade que devem reger os processos políticos e as manifestações públicas. Sem agressões, desrespeito ou discursos de ódio, vimos algo muito distinto das imagens de intolerância e violência que inundaram as redes sociais constrastando com a narrativa “ordeira e pacífica” dos veículos de comunicação controlados pelos Barões das Mídias tradicionalmente avessos à organização popular e às práticas de um jornalismo livre atento à ética e ao interesse público.

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    Manifestação em São Paulo. Foto: Mídia NINJA

    Os saudosos da ditadura militar e da privataria tucana que insistem em construir esta crise política se unem não por causa dos erros do governo Dilma, mas por algo muito mais simples: eles odeiam os pobres e não se conformam com suas conquistas nesta década de avanços sociais e de uma inédita redução de desigualdades.

    Camera da Globo é expulso da manifestação, seguido de seu segurança particular. Foto: Mídia NINJA

    Os defensores do impeachment não tem pudores em esconder seu ódio e se alinhar sob a sombra espúria de Eduardo Cunha para desafiar as instituições do Estado, enquanto tentam impor seus próprios interesses por cima da soberania popular expressa nas urnas que reelegeram a primeira mulher presidenta com mais de 54 milhões de votos.

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    Da esquerda pra direita: Natal, Recife e Belo Horizonte, algumas das centenas de cidades que tiveram mobilizações contra o impedimento de Dilma nessa quarta-feira. Fotos: Autoria desconhecida

    Eles não divergem do ajuste fiscal, nem se opõem a Levy, Katia Abreu, Kassab e tudo aquilo que eles representam na coalisão de governo encabeçada pelo PT. Muito antes pelo contrário!

    O Plano Temer, a Agenda Brasil e todas as propostas até agora colocadas na mesa pelos representantes da elite escravocrata insinuam justamente a retirada de direitos e a interrupção das mais exitosas políticas sociais levadas a cabo pelos governos petistas. Suas propostas vão na direção de interroper o caminho de mudanças que colocaram o país não apenas na vanguarda mundial de redução das desigualdades, mas ainda fizeram do Brasil uma nova referência mundial no combate da corrupção endêmica e historicamente naturalizada em nossa sociedade. Convenhamos: aqueles que saem às ruas vestindo a camisa da CBF e pagam o mico de posar com o pato da FIESP não tem qualquer compromisso com o combate à corrupção, ao contrário disto, financiaram as campanhas milionárias da #QuadrilhaDoCunha e elegeram este Congresso de achacadores.

    Os defensores do impeachment se movem na mais absoluta seletividade de indignação com o objetivo explícito de reverter a derrota que sofreram nas urnas.

    Foto: Mídia NINJA

    Já não restam dúvidas de que o maior crime deste governo é representar justamente aquilo que eles mais odeiam: o povo pobre e trabalhador, aqueles que venceram a miséria e a fome. Lamentamos informar, mas este não será o país do ódio e a História será implacável com os golpistas de plantão!

    Ninguém pode interromper o caminho da primeira geração de brasileiros que cresceram livres da tragédia histórica da fome. Não permitiremos retrocessos nem mais nenhum passo atrás em nosso caminho de construção democrática e solidária. Crise é sempre uma oportunidade de superação e o Brasil precisa reencontrar o caminho das mudanças estruturais.

    Juntos continuaremos fazendo a diferença e avançando no rumo de novas vitórias públicas que ampliem direitos e aperfeiçoem a democracia. O fim da miséria é só o começo e o Brasil tem ainda muitas fomes a vencer. Nós não estamos sós! Eles tem o poder econômico, político e midiático, mas nós temos uns aos outros. Amanhã vai ser maior.

    #GolpeNuncaMais
    #MenosÓdioMaisDemocracia

  • O que nos espera era na d.C (depois do Cunha)

    O que nos espera era na d.C (depois do Cunha)

    por Flávia Gianini, para os Jornalistas Livres

    Substituto de Cunha, Waldir Maranhão foi citado na Lava Jato pelo doleiro Alberto Yousseff e está sendo investigado pelo STF

    O cerco se fecha e, renunciando ou cassado, o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será sucedido pelo vice-presidente, o deputado Waldir Maranhão, político também citado na Lava Jato pelo doleiro Alberto Yousseff e e que está sendo investigado pelo STF.

    Brasília- DF- Brasil- 09/06/2015- Sessão extraordinária para discussão e votações de diversos projetos. Dep. Waldir Maranhão (PP-MA). Foto: Gustavo Lima/ Fotos Públicas

     

    Foi Maranhão, aliado de Cunha e considerado pelos deputados um dos soldados do presidente da Câmara, que aceitou a representação que afastou o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) da relatoria do processo que pode levar o peemedebista Cunha à cassação.

    Waldir Maranhão é veterinário e político brasileiro filiado ao Partido Progressista (PP). E foi reitor da Universidade Estadual do Maranhão, antes do pleito de 2006, que o elegeu para a Câmara Federal. Durante sua gestão à frente da UEM, foram feitas várias denúncias relacionadas à concessão de bolsas de estudos de um programa do governo estadual.

  • NÃO VAI TER GOLPE E NÃO VAI TER CENSURA

    NÃO VAI TER GOLPE E NÃO VAI TER CENSURA

    por Jornalistas Livres

    “O Brasil tá muito viadinho demais. Mas gosto muito das ideias do Bolsonaro. O Brasil tá precisando botar mais o pau na mesa, acabar com esses indultos de Natal, Ano Novo, Dia das Mães. Ta na hora da gente mudar muita coisa”, Alexandre Frota, domingo, 13/12, mini-festação pelo impeachment na Paulista.

    Frota concedeu esta entrevista aos Jornalistas Livres e declarou frases semelhantes diversas vezes, inclusive do alto dos microfones dos carros alegóricos presentes, na avenida Paulista, sempre aplaudido.

    Este depoimento foi publicado ontem. O FB tirou o post do ar. Censurou – por meio de denúncias de grupos organizados com interesses em mascarar a história – testemunho do que se tratava o ato que pedia o impeachment e também a volta da ditadura militar, que defendia Eduardo Cunha, que saudava o assassino Pinochet. Jornalistas livres apenas abriram seus microfones. A população tem o direito de ser informada sobre quem são as pessoas que pedem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

    Vamos resistir. Acreditamos que é nosso papel como jornalistas mostrar para a população quem são os defensores dessa nova moralidade. Essas “pessoas de bem”.

    Aqui, mais uma vez, o depoimento de Alexandre Frota:

    ‪#‎NaoVaiTerGolpe‬

  • Erradicar o cunhismo, o bolsonarismo e o felicianismo com sorriso jovial e o ânimo dos moleques. Marcharemos com eles!

    Erradicar o cunhismo, o bolsonarismo e o felicianismo com sorriso jovial e o ânimo dos moleques. Marcharemos com eles!

    Um homem envolvido em vários escândalos e já denunciado por desvios milionários de dinheiro público comanda o Brasil. Não, não é o Eurico Miranda. Paralisa o país em pautas essenciais para o país e destrói décadas de lutas de movimentos sociais com o discurso e a retomada da pauta da criminalização de adolescentes. Com isso, pretende reservar-lhes lugar nas degradadas e, sabidamente, ineficazes cadeias brasileiras. Consegue.

    Depois, pretende o apoio da grande imprensa e de boa parte da população brasileira, que vai às ruas proclamando o impeachment da atual presidente da república que, em nenhum tempo e, a despeito de todas as tentativas e erros, se pode acusar de enriquecimento ilícito ou de benefício pessoal no trato com a coisa pública. Isso já mil vezes proclamado publicamente por juristas, políticos, banqueiros e industriais brasileiros.

    Como disse Bresser Pereira, ex-ministro dos governos Sarney e Fernando Henrique, em sua recente entrevista ao Estadão sobre Dilma Rousseff e o impeachment:

    “É uma mulher de alta dignidade. Esse pedido de impeachment nasce de uma chantagem feita pelo Eduardo Cunha e, portanto, é moralmente prejudicado.”

    E mais adiante:

    “Tentar fazer um impeachment é criar uma comoção social, muita briga. Se for para a rua, eu, que não vou para a rua por nada, vou para protestar porque o impeachment é uma ameaça à democracia brasileira.”

    Esse indivíduo, moralmente condenado, ocupa o terceiro lugar do comando do Estado brasileiro e preside a principal câmara legislativa do país. Acusado, acusa e tem o poder regimental de paralisar a pauta da câmara dos deputados. Define inconstitucionais votações secretas, enquanto é investigado por irrigar contas milionárias na Suíça, supostamente obtidas com desvios de operações, por ele intermediadas junto à Petrobras, com os quais, segundo apurou o Ministério Público da Suíça, teria pago cursos para a filha na Espanha e no Reino Unido e as aulas de tênis da mulher.

    Num país em que milhões ainda carecem de ensino básico e médio de qualidade, e em que esses mesmos milhões dependem de bolsa família para sobreviver com alguma dignidade, o deputado, mais uma vez, zomba e esbofeteia o conjunto da sociedade brasileira.

    Mais ainda: obtém êxito, com manobras regimentais circenses, ao protelar pela quinta vez consecutiva, os trabalhos do comitê de ética da câmara que emitirá parecer sobre a cassação de seu mandato.

    O país perplexo e indignado assiste sem acreditar.

    O deputado Eduardo Cunha manda e desmanda no país paralisando os três poderes. Trava as ações do legislativo no comitê de ética para evitar sua cassação, imobiliza o executivo, que depende de permissão para abrir a pauta na câmara e obriga o judiciário a se ocupar de seus descalabros para desmontar, jurídica e institucionalmente, as vantagens que quer amealhar, manejando o regimento da câmara em seu benefício.

    Como acusado, manipula as condições da própria investigação e comandando seu exército de fracos, continua a conduzir, segundo seus interesses e de seus seguidores, o processo mais importante do país, que é o processo de impeachment de um presidente da república

    Esse homem, não deseja o bem do país. Deseja o seu próprio bem, de sua família, de seu séquito que, como ele mesmo insinua, come em sua mão.

    Ele coloca todos a trabalhar para desfazer as bombas de gás que ele lança sobre o legislativo, o executivo e o judiciário.

    O golpismo está instalado no país e ele é capitaneado por um deputado e seus asseclas. Consequentemente, o arbítrio no trato com a coisa pública também.

    Contudo, a natureza da política é coisa estranha e surpreendente.

    Quando — entre um suspiro e outro — lamentávamos tais reveses, milhares de moleques e molecas pouco a pouco ocupavam as escolas públicas. Chamavam a atenção para um processo nebuloso que ocorria na surdina: a “reorganização” das escolas públicas do estado de São Paulo, e interrompiam o ciclo de arbítrio e desmando que atravessa décadas de descaso e depreciação da educação pública no Estado de São Paulo e que, hoje, já atinge as universidades públicas estaduais.

    Eles dispõe de energia, peito aberto e alegria. São escorraçados, xingados, agredidos fisicamente, mas são capazes de dobrar decisões arbitrárias de governos infensos à democracia e inspiram seus pais, outros jovens, adultos e dão esperança aos mais velhos.

    Sua resposta inesperada e vertiginosa recoloca, mais uma vez, pautas antigas em estado de exequibilidade e recriam os princípios da ação política. Neles reencontramos o rosto luminoso e promissor de um Brasil futuro, oxalá liberto de Cunhas, Felicianos e Bolsonaros. Vemos um país melhor, republicano e em tempo com as pautas que esmorecem, mas nunca cessam de inspirar os fortes e feridos corações de ativistas cansados de levar porradas da polícia militar.

    Essa conhecida e desmoralizada formação fascista e pretoriana, militarizada e ditatorial que sobrevive em tempos de democracia, que coage os cidadãos e zomba cotidianamente dos direitos humanos, ainda é útil para muitos. Doravante, haveremos de derrotar mais essa sequela dos períodos de exceção. Policiais corruptos, torturadores, arbitrários e violentos logo também farão companhia aos empresários, políticos e banqueiros corruptos e corruptores do país, hoje encarcerados.

    A polícia militar que sempre protegeu os privilegiados será desmoralizada, degradada e defenestrada historicamente se mantiver seu modus operandi. Pouco a pouco as mulheres, homens, adolescentes e crianças brasileiras reagem, se revoltam e não aceitam mais serem tocadas sem permissão; serem torturadas a céu aberto; serem o alvo em desvantagem que a força bruta atinge, machuca e ofende.

    Pouco a pouco o Brasil será palco de festas democráticas onde governantes arbitrários, policiais truculentos e parlamentares comprometidos em ofender a democracia estarão tomando sopa nas cadeias. Mas esse dia ainda não chegou.

    E tudo o que puder ser feito pela democracia é bom e essencial.

    Jamais imaginei que mais de 50 anos após o golpe civil militar e 30 anos após o fim da ditadura, meus filhos ainda teriam de lutar pela sustentação da democracia brasileira ainda em risco.

    Imaginação pouco fértil a minha, certamente, mas recentemente animada pelos sonhos e fantasias de jovens que hoje, mais do que nunca, caminham resolutos em direção a um país de justos e bravos. Marcharemos com eles!

    Paulo Endo* é psicanalista, professor da Pós Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades e do Instituto de Psicologia, ambos da USP, membro da Cátedra UNESCO de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância da USP.

  • #JORNALISTASLIVRES CONTRA O GOLPE DO IMPEACHMENT

    #JORNALISTASLIVRES CONTRA O GOLPE DO IMPEACHMENT

    Esta rede de #JornalistasLivres nasceu às vésperas das manifestações de 15 de março de 2015 — quando a extrema-direita tomou as ruas do Brasil, apoiada pela Globo e outros grupos de mídia.

    Surgimos para oferecer outra narrativa sobre o confronto que começou a se desenhar no horizonte naquele momento, e que agora assume ares dramáticos.

     Lina Marinelli para cobertura da manifestação pelos direitos das mulheres

    De lá pra cá, mostramos que a corrupção no Brasil não surge só da relação promíscua entre estatais e empreiteiras — que financiam todos os principais partidos políticos no país.

    Corrupção é PM bater em professor no Paraná. Corrupção é faltar água nas periferias de São Paulo. Corrupção é governador tentar fechar escola. Corrupção é o machismo, o racismo, a homofobia, a transfobia. Corrupção é a especulação imobiliária, que deixa famílias ao relento da esperança. E corrupção — também — é a velha mídia comercial não denunciar isso tudo, por conta de seus compromissos com o poder econômico.

    De março pra cá, a extrema-direita ocupou espaços no Parlamento, ganhou mais força na mídia e agora marcha em direção a um golpe parlamentar.

    Nós, #JornalistasLivres, dizemos desde sempre não à corrupção, não à desigualdade. E dizemos, agora, não ao golpe do impeachment!

    Pesquisa de popularidade não é urna, e queda de aprovação não é motivo pra se derrubar governo.

    O voto e a Constituição devem ser respeitados.

    Há muitas razões para dizer não ao impeachment de Dilma — eleita pela maioria do povo brasileiro.

    Foto: Fernando Sato para matéria sobre movimento de moradia

    Primeiro: não há base jurídica para se tirar a presidenta do cargo.

    O pedido de impedimento, assinado por um ex-ministro tucano e um ex-petista contestado até pelos filhos, é inepto juridicamente. Lista supostas irregularidades cometidas por Dilma no mandato anterior — o que (dizem todos os juristas sérios) não poderia ser levado em conta para suspender o atual mandato. E cita ainda supostas “pedaladas fiscais” de Dilma em 2015 (um remendo de última hora, incluído no pedido de impeachment, diante das críticas advindas da academia e de advogados renomados).

    Ora, 2015 não acabou. E não houve sequer o julgamento das contas no TCU! Além do mais “pedalada” não é motivo para derrubar presidente.

    O impeachment, portanto, não se sustenta tecnicamente. Mas a falta de conteúdo jurídico é apenas parte do problema.

    Dizemos não ao impeachment, também e sobretudo, porque ele é fruto de vingança pessoal, perpetrada pelo presidente da Câmara dos Deputados.

    Foto: Vinícius Carvalho para reportagem sobre a Marcha das Mulheres Negras

    Acusado de ter contas na Suiça, e sob risco de perder o cargo e ir pra cadeia, Eduardo Cunha abriu o processo contra Dilma algumas horas depois de o PT anunciar que votaria pela cassação do mandato dele.

    O impeachment não poderia ser, jamais, instrumento de barganha ou vingança.

    Nós, #JornalistasLivres, exigimos o imediato afastamento de Cunha do cargo, e alertamos: a permanência desse personagem nefasto, no comando de um dos poderes da República, é uma ameaça à Democracia.

    Foto: Fernando Sato para matéria sobre escolas ocupadas

    Por último, o impeachment deve ser combatido porque se transformou num atalho para que os derrotados de 2014 cheguem ao poder. Sem voto do povo, o PSDB e seus aliados conspiram abertamente com o vice-presidente Michel Temer.

    Isso é corrupção! Tramar contra a Democracia, desrespeitar as regras democráticas e atropelar a Constituição é corrupção tão grave como a cometida por aqueles que roubam os cofres públicos.

    À frente do impeachment, está uma coalizão de interesses contrários ao Brasil e à imensa maioria de nosso povo.

    À frente do pedido de impeachment estão privatistas e políticos ligados a grupos internacionais que querem controlar o Estado e entregar o Pré-Sal.

    Ressaltamos, ainda, que o governo legítimo de Dilma Rousseff e as forças que o apóiam terão mais chance de combater o golpe se deixarem de lado as medidas liberais adotadas desde janeiro de 2015, assumindo claramente o programa vitorioso nas urnas em 2014.

    Foto: Paulo Ermantino para matéria sobre redução da maioridade penal

    Nós, #JornalistasLivres, manifestamos nosso repúdio ao golpe parlamentar em curso e damos nosso apoio decidido, e integral, para que se cumpra o mandato popular referendado pelas urnas.

    Tramar contra a Democracia é a pior forma de corrupção!

    Basta de corrupção!

    Fora Cunha!

    Dilma fica!