Há tempos venho dizendo que Bolsonaro é o idiota útil usado por muita gente inteligente que usa a sua imbecilidade “popularesca e tupiniquim” para, através de discursos muito bem pensados por esses, parecer ser o que quiser ser: bronco, justiceiro, machista, moralista, “tiozão do pavê” e, claro, evangélico. Sua figura macunaímica casa muito bem com o “brasileiro médio”.
Pois a grande sacada do momento é a convocação para o “santo jejum nacional”.
Para quem está há tempos na igreja evangélica, sabe o que isso significa: é o momento mais esperado desde a década de 80, quando começa a surgir no Brasil, ainda que timidamente, a ideia de que “precisamos de um presidente evangélico”, acompanhada, entre outras coisas, de frases do tipo: “já imaginou o presidente começando e encerrando seus pronunciamentos com ‘a paz do Senhor’?” ou “que sonho um presidente convocando o povo para um jejum antes de qualquer decisão”…
Bolsonaro não sabe disso, mas gente próxima dele sabe, e sabe bem.
O povo evangélico tem o sonho de um “presidente-messias-rei” desde que explodiu no país a “teologia de dominio espiritual”, quando se começou a pensar em ter “servos de Deus” ocupando os espaços de poder e que isso, por consequência, abençoaria o país. É desse espírito e dessa “teologia” que surgem frases de efeito como “o Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso!” e a explosão de placas e outdoors em entradas de cidades declarando que aquele município, agora, “pertence ao Senhor Jesus”.
A convocação para um jejum reforça a ideia messiânica que Bolsonaro quer implantar desde o começo de sua campanha e, principalmente, brincando com a fé evangélica, batizando-se no Rio Jordão e “aceitando Jesus” em vários eventos do mundo gospel brasileiro. E a igreja evangélica, ávida por poder e ansiosa para impor a todos a sua moral, nada de braçadas nesse lamaçal de sujeira, abraçada ao seu “capitão”.
E ainda é só o começo…
Mas, para o azar dessa gente, eles não contavam com uma inesperada inconveniência: a clareza bíblica quanto ao jejum que agrada a Deus:
Senão, vejamos o que diz o profeta Isaías no capítulo 58 versículos 6-9
“O jejum que desejo é este: que soltem as correntes da injustiça, desatem as cordas do jugo, ponham em liberdade os oprimidos e rompam com toda a injustiça.
Partilhe sua comida com o faminto, abrigue o pobre desamparado, vista o nu que você encontrou, e não recuse o direito humano ao seu próximo.
Aí sim, a luz irromperá como a alvorada, e prontamente chegará a cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estará na sua retaguarda.
Aí sim, você clamará ao Senhor, e Ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou. “Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e as notícias falsas”.
Ah! Se esse povo lesse a Bíblia…
José Barbosa Junior – escritor, teólogo e pastor da Comunidade Cristã da Lapa, no Rio de Janeiro.