Jornalistas Livres

Tag: Escolas em Luta

  • Tá só começando

    Tá só começando

    Há um mês, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, vive uma revolução nas instituições de ensino. Vinte e nove escolas secundárias, das 34 existentes, e duas com ensino fundamental foram ocupadas pelos estudantes. Paralelamente, professores, técnicos administrativos e alunos da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, assim como professores da rede estadual, fizeram suas assembleias e decretaram greve. Estudantes da UFU também ocuparam alguns blocos do campus Santa Mônica. Os motivos são levemente diferentes para cada categoria, mas giram basicamente na luta contra o incrível arrocho fiscal, social e de direitos em implantação pelo governo golpista. Com isso, na última sexta-feira 11 de novembro, Dia Nacional de Luta, eles se uniram para uma grande manifestação pelo centro da cidade. A marcha, que teve início na Praça Clarimundo Carneiro, contou com performances teatrais dos estudantes que ocupam a UFU, palavras de ordem e muita disposição sob um sol escaldante. Os manifestantes chegaram a fechar o Terminal Central de ônibus da cidade e se dispersaram na Praça do Fórum Abelardo Penna, que domingo 13/11 receberá a performance CEGOS, desenvolvido pelo grupo Desvio Coletivo, rede de criação artística que atua na zona de fronteira entre teatro, performance e intervenção urbana (https://www.facebook.com/events/337713349941113/).

    Marcha contra retirada de direitos reuniu mais de 2000 pessoas em Uberlândia, fechando o Terminal de Central de Ônibus por 20 minutos - 11/11/2016 25/10/2016 - Foto: www.mediaquatro.com
    Marcha contra retirada de direitos reuniu mais de 2000 pessoas em Uberlândia, fechando o Terminal de Central de Ônibus por 20 minutos – 11/11/2016 25/10/2016 – Foto: www.mediaquatro.com

    As lutas são, de fato, semelhantes. Todos os movimentos são contra, por exemplo, a PEC 55 (antiga 241, que pretende congelar os investimentos sociais por 20 anos mas não os aumentos nos gastos com pagamento de juros), a MP 746 (de reforma do ensino médio, prevendo a não obrigatoriedade de disciplinas como Artes, Filosofia, Educação Física, História Africana e Afrobrasileira) e os Projetos de Lei da chamada Escola Sem Partido (censurando conteúdos em sala de aula contra o preceito constitucional da liberdade de ensinar e aprender). Mas há também demandas específicas, como as contrárias aos cortes anunciados nas universidades (de verbas, em torno de 45%, e vagas), à Reforma da Previdência, à mudança na lei de exploração do Pré-Sal, à terceirização das atividades-fim das empresas, e a favor da democratização dos meios de comunicação, das reformas agrária e urbana, entre outras. Ativistas e sindicalistas já vinham protestando contra o golpe e o governo ilegítimo de Michel Temer na cidade. Mas as ocupações, e principalmente as desocupações, nas escolas secundárias foram um ponto de virada no movimento. Na sexta todos gritavam junto que esse não é o fim da luta, mas apenas o começo.

    Estudantes secundaristas em frente ao Museu da Cidade de Uberlândia - 11/11/2016 - foto: www.mediaquatro.com
    Estudantes secundaristas em frente ao Museu da Cidade de Uberlândia – 11/11/2016 – foto: www.mediaquatro.com

    Oficina de cartazes em ocupação de escola secundária em Uberlândia - 25/10/2016 - foto: www.mediaquatro.com

    No auge das ocupações das escolas, há duas semanas, o Ministério Público Estadual resolveu entrar de sola. No dia 03/11 o promotor da Vara da Infância e Juventude afirmou na mídia local que os estudantes estão sendo manipulados e convocou unilateralmente o retorno às aulas pedindo aos pais para irem no dia 07/11 desocupar as escolas e enviando ofícios aos diretores. Vendo que poderia criar um fato que não se sustentaria (e ainda poderia provocar conflitos), no dia 04/11, após uma manifestação dos estudantes em frente ao Fórum, ele encenou ter sido ameaçado, pediu proteção policial e suspendeu o pedido aos pais. Os alunos reagiram e divulgaram uma exemplar nota pública demonstrando suas motivações e grande conhecimento de como as propostas do governo golpista irão afetar suas vidas. A íntegra da nota pode ser lida em https://www.facebook.com/ocupatudoudia/posts/1682273685420174.

    Ocupação não é bagunça. Secundaristas se dividem em comitês de comunicação, segurança, limpeza e cozinha. Uberlândia - 23/10/2016 25/10/2016 - Foto: www.mediaquatro.com
    Ocupação não é bagunça. Secundaristas se dividem em comitês de comunicação, segurança, limpeza e cozinha. Uberlândia – 23/10/2016 25/10/2016 – Foto: www.mediaquatro.com
    Alunos e funcionários preparam as refeições e almoçam juntos na ocupação da Escola Estadual Inácio Castilho - 25/10/2016 25/10/2016 - Foto: www.mediaquatro.com
    Alunos e funcionários preparam as refeições e almoçam juntos na ocupação da Escola Estadual Inácio Castilho – 25/10/2016 25/10/2016 – Foto: www.mediaquatro.com

    A investida reacionária, no entanto, se intensificou. No dia 08/11, o juiz José Roberto Poiani expediu uma liminar ordenando ao Estado que promovesse em 24 horas, a partir da intimação, a “pacífica” retomada das escolas estaduais ocupadas (veja aqui). Intimidados, os alunos começaram a desocupar as unidades. Mas três permanecem ocupadas: Escola Estadual Messias Pedreiro, no Centro, E E de Uberlândia (chamada também de Museu, a primeira pública secundária da cidade – veja a recepção dos alunos à marcha que saiu da UFU dia 25 de outubro), também no Centro, e a E E Guiomar de Freitas Costa (conhecida como Polivalente), na zona norte. As três escolas foram as mais celebradas na sexta, mas ninguém esqueceu das lutas das demais. Algumas, inclusive, resolveram planejar reocupações para a próxima semana, levando adiante o lema de Ocupar e Resistir!

    Aluno fazem aula de alongamento em escola ocupada em Uberlândia - 09/11/2016 25/10/2016 - Foto: www.mediaquatro.com
    Aluno fazem aula de alongamento em escola ocupada em Uberlândia – 09/11/2016 25/10/2016 – Foto: www.mediaquatro.com
    Alunos fazem lanche após oficina de comunicação na Escola Estadual Antônio Thomaz Ferreira Rezende, a Toninho. 25/10/2016 - Foto: www.mediaquatro.com
    Alunos fazem lanche após oficina de comunicação na Escola Estadual Antônio Thomaz Ferreira Rezende, a Toninho. 25/10/2016 – Foto: www.mediaquatro.com

    A força dos secundaristas, não somente aqui mas em todo o Brasil, tem dado novo ânimo aos cidadãos que têm protestado contra o golpe desde o ano passado e com mais força esse ano. Um exemplo foi a manifestação durante a passagem da tocha olímpica pela cidade (http://www.mediaquatro.com/single-post/2016/05/09/Mineiros-denunciam-golpe-na-passagem-da-Tocha). Outro, também com performance teatral, ocorreu dia 07/10 (veja em https://www.youtube.com/watch?v=8LERs0PkZdo). Apesar de impactantes, as manifestações vinham juntando cada vez menos gente. Com as ocupações dos secundaristas, muitos alunos do ensino superior montaram assembleias e ocuparam suas universidades. Segundo a União Nacional dos Estudantes, já são 204 universidades ocupadas (veja a lista atualizada https://www.facebook.com/uneoficial/posts/1428722550488532:0). Se o governo temerário acha que os alunos não sabem o que é uma PEC e que vai destruir a pouca estrutura pública de saúde, educação e proteção social sem luta, está muito enganado. O povo tá só começando.

    Assembleia dos estudantes da UFU decide por greve - 20/10/2016 - foto: www.mediaquatro.com
    Assembleia dos estudantes da UFU decide por greve – 20/10/2016 – foto: www.mediaquatro.com
    Performance de estudantes de artes e teatro da UFU em frente à antiga prefeitura da cidade - 09/11/2016 25/10/2016 - Foto: www.mediaquatro.com
    Performance de estudantes de artes e teatro da UFU em frente à antiga prefeitura da cidade – 09/11/2016 25/10/2016 – Foto: www.mediaquatro.com
  • Por que as ocupações em São Paulo duram menos de 24 horas?

    Por que as ocupações em São Paulo duram menos de 24 horas?

    A luta secundarista tem sido fortemente marcada por repressões, tanto físicas como psicológicas, por parte da Polícia Militar. Desde a primeira reintegração de posse com mandato, feita no dia 09 de novembro de 2015, na Escola Estadual Fernão Dias Paes, a PM tem utilizado um conceito do Direito Civil chamado esbulho.

    Presente no artigo 1.210, inciso 1º. do Código Civil, essa teoria foi naturalizada pela jurisprudência, numa decisão de exceção, para reprimir os movimentos estudantis atuais. Ou seja, foi feita uma modificação dentro do conjunto de interpretações dessa lei pelos tribunais com o intuito de cessar e deslegitimar essas ocupações.

    A ação de esbulhar se caracteriza por agir desonestamente, ou com negligência, em alguma propriedade ou apossar-se dela, sendo pública ou privada. Diferentemente da pauta escolhida pelos estudantes, que estão se manifestando com o objetivo de reivindicar direitos, e não se apropriando das escolas usando a força e com ânimo de permanecer nelas. Entretanto, essas noções têm gerado livres interpretações diante dos olhos dessa onda de conservadorismo instalado no Brasil atualmente. As consequências desse cenário são ações incoerentes e arbitrárias em relação a esses secundaristas.

    A Procuradoria Geral do Estado de São Paulo (PGE), para efetivar a repressão dessas ocupações, foi adaptando o conceito do esbulho para que assim fosse possível realizar a desocupação das escolas de uma forma “legal”. O procurador Elival da Silva Ramos concedeu o pedido de desocupação das escolas técnicas, em maio deste ano, pelo atual Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, então secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Ele elaborou um parecer que defende a possibilidade de autotutela realizada pelo Executivo. Ou seja, tornou-se possível que o Estado as retomasse sem a necessidade de uma autorização judicial.

    Além disso, os diretores do colégio ou da própria Secretaria da Educação são convocados para afirmar que os estudantes, durante o ato de ocupação, estão tomando a posse integral das escolas ou até mesmo deteriorando este patrimônio público, para que assim seja justificada a solicitação de uma liminar de reintegração de posse a um juiz e a Polícia seja acionada para reprimir essas ocupações.

    Esse contorno realizado pelo esbulho, um dos conceitos mais elementares do Código Civil, tem motivado a intensa atuação da PM de forma violenta na desocupação das escolas. O movimento estudantil novamente ganhou força durante o último mês, com as mais de mil ocupações, e juntamente a ele, os relatos de abuso de poder pela parte dos agentes do Estado têm crescido fortemente. Como no recente caso da ocupação da sede do Centro Paula Souza, quando estudantes foram impedidos de realizar a ocupação devido às ações truculentas da PM.

    O prédio foi cercado por cordões de isolamento e um dos policiais agrediu o estudante Mateus, 16, com um chute no queixo, e acabou tendo o dente quebrado durante a ação de desocupação que os oficiais alegaram como pacífica e legal. Neste caso, a medida realizada foi a autotutela, que não possui documento jurídico nem ordem judicial e conta apenas com um parecer (opinião de um juiz sobre o caso). Sendo assim, não possui decisão legal para ser utilizada contra os secundaristas, mas a Polícia foi autorizada para agir.

    As violações contra os Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente não cessam. A questão legal se une fortemente com esse histórico de ações violentas que vêm sendo questionadas por uma parcela da sociedade. Afinal, essas justificativas para as desocupações, unidas pelo entorpecimento do significado real do movimento estudantil, têm sido fruto de um jogo de poder por parte do Estado, afim de calar a voz dos secundaristas e dos movimentos sociais.

     

    • Foto: Fernando Sato

  • Arte e educação de mãos dadas em BH rumo ao #OcupaTudo

    Arte e educação de mãos dadas em BH rumo ao #OcupaTudo

    Foto-reportagem de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres

    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Os secundaristas de BH não ficam atrás na onda de ocupações do país. Os artistas Flávio Renegado e Pedro Morais estiveram visitando escolas para um bate papo com os alunos, falaram sobre o poder das ocupações e a necessidade e importância delas para o momento político, bem como o impacto delas na opinião publica.

    photo_2016-10-31_16-13-24
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Eles também falaram da atenção das mídias para o assunto, e os próprios jovens se manifestaram com cartazes dizendo da invisibilização da pauta na imprensa tradicional.

    photo_2016-10-31_16-13-51
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Sobre o que está acontecendo no país com a PEC 241, os aulões seguem por todo o país, e na visita os artistas passaram nas escolas Santos Dumont, Jucelino Kubitschek, e Maria Carolina Campos situadas na região de Venda Nova em Belo Horizonte para, entre abraços e apresentações, dar força para os alunos, a maioria entre 14 e 18 anos.

    photo_2016-10-31_16-13-37
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Para eles, os alunos deram um show de responsabilidade e representatividade com agendas organizadas por mulheres, trans, lesbicas e homossexuais.

    photo_2016-10-31_16-13-21
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    As ocupações por si só já são uma aula de empoderamento.

    photo_2016-10-31_16-13-42
    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Flávio Renegado explica a visita falando sobre a potência da luta conjunta dos secundaristas com a classe artística. “O sentimento de democracia e liberdade é que nos movimenta e movimenta esse juventude. Isso tem que ser cuidado e incentivado. Seguiremos lutando!”

    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
  • “Podem arrancar uma rosa, mas jamais acabar com a primavera”

    “Podem arrancar uma rosa, mas jamais acabar com a primavera”

    Lucas era um adolescente de 16 anos como tantos outros —um “piá”, como se diz no sul. Gostava de jogar videogame, ficar em casa, sair às vezes com os amigos e muito, muito mesmo, de sua escola.

    Pois foi lá, na Escola Estadual Santa Felicidade (que nome lindo!) de que ele tanto gostava, que a vida do menino Lucas teve um ponto final, em plena segunda-feira (24).

    Escola ocupada, escola de luta, e Lucas morreu pelas mãos de um colega adolescente como ele, em um desentendimento até agora não explicado. Para seus amigos e familiares, restaram a dor funda e a lembrança afiada. As lágrimas e o silêncio.

    Mas, como o jogo político não poupa ninguém — nem os mortos—, logo o nome de Lucas, que não pode mais defender-se, tornou-se arma para os adversários das ocupações das escolas.

    Era preciso faturar rápido a morte, antes mesmo que o corpo esfriasse. O blogueiro da revista “Veja”, Reinaldo Azevedo, reconhecidamente de direita, soltou às 15h36, minutos após a divulgação do crime, uma matéria infame, já com uma foto interna da escola, acusando os “comunistas” de serem moralmente responsáveis pela morte e pelo sangue no chão.

    lucas1Lucas era mais um dos milhares de estudantes que estão agora ocupando suas escolas em defesa do ensino público e gratuito de qualidade. Comprometido com a luta, ele ia durante os dias para a Santa Felicidade, como se estivesse em rotina de aula, e voltava para casa para dormir. A mãe preferia que passasse a noite em casa.

    Pode-se insinuar que, se a escola não estivesse ocupada, a tragédia não teria ocorrido. Será mesmo?

    Os estudantes de escolas públicas convivem em escolas sucateadas, em que cenas de violência não são coisa incomum. Lucas estava em sua escola, lutando para mudá-la. Estudava lá desde pequenininho e mesmo se mudando para longe, a quase 20 km de distância, quando foi morar em Almirante Tamandaré, na região metropolitana da cidade, resolveu continuar nela.

    Assim que sua morte foi anunciada nas redes sociais, por volta das 15h, uma pequena multidão se formou na entrada do colégio. A polícia já estava lá dentro quando a reportagem chegou, às 17h. A entrada de pais ou advogados não tinha sido liberada. Ou seja, durante pelo menos duas horas, os adolescentes que encontraram o corpo não tiveram contato com mais ninguém a não ser a polícia.

    A entrada da mãe de Lucas, uma mulher em desespero pela notícia trágica envolvendo seu filho foi liberada apenas às 17h19. Crueldade infinita e inimaginável, a polícia deixou-a afogar-se na angústia –fora da escola.

    Mas as redes já ferviam e por todo o país boatos sobre a morte de Lucas circulavam. O primeiro era de que teria se suicidado. Outro forte concorrente era de que teria sido morto por um estudante convocado por forças contrárias às ocupações.

    A guerra de narrativas explodia em ofensas e ódio, enquanto à mãe de Lucas negava-se o elementar direito de embalar o corpo do filho morto. Piedade!

    Ainda esperávamos do lado de fora do colégio, quando o governador Beto Richa (PSDB) soltou uma nota de pesar. Desleixo extremo, atribuiu a Lucas um sobrenome errado. Era Lucas Eduardo Araújo Mota e não Lucas Eduardo Araújo Lopes. Das 168 palavras e 1.043 caracteres que compunham o texto, apenas 12 palavras e 84 caracteres foram orientados à solidariedade com os familiares. O restante, de forma oportunista e imperdoável, visava a usar a morte de Lucas para pressionar os estudantes a desocupar as escolas.

    O pior ataque à figura de Lucas, entretanto, ainda estava por vir. Não demorou muito para que os novos relações públicas dos governos de direita no país, convidados para defender a PEC 241 e as desocupações (até com ações diretas), os garotos do MBL, entrassem em ação. Vídeos divulgados na página do movimento jogavam sobre as costas de todos os ocupantes a responsabilidade do ocorrido.

    Diziam que as escolas ocupadas prestavam-se apenas ao uso de drogas e a cenário de sexo entre os estudantes. Os autores desses vídeos, diga-se, foram os mesmo que, dias antes da morte de Lucas, foram provocar estudantes que ocupam o CEP (Colégio Estadual do Paraná, o maior do Estado) e saíram de lá tendo que responder por assédio sexual contra adolescentes.

    Pouco importava para eles a apuração sobre a tragédia, suas circunstâncias ou o cuidado com o nome da família ou do próprio Lucas. O mais importante era a criminalização do movimento.

    Entrevista exclusiva com a mãe de Lucas.

     

    Durante o velório, realizado um dia após a morte, todos estavam preocupados com a cobertura que havia sido feita pela imprensa. Os parentes lembravam-se de Lucas como um garoto calmo, tranquilo, que nem mesmo respondia à mãe durante discussões. No mundo virtual, contudo, o menino querido tinha se transformado em um “zé droguinha” baderneiro.

    Para entender melhor quem era Lucas, que já não pode mais responder aos ataques à sua honra ou se defender, basta dizer que ele está em muitos lugares. Hoje ele se encontra em 1.117 escolas ou universidades ocupadas. Dentro de cada uma dessas escolas ou universidades há milhares de garotos como Lucas, que gostam de suas escolas, gostam de aprender, passam horas enfrentando um transporte público cruel para ir até elas. Se não queremos que tragédias como essa aconteçam mais, seria útil e sábio que escutássemos com atenção todos esses “Lucas”.

    Lucas vive!

  • Aulas fora da sala na UFU

    Aulas fora da sala na UFU

    A paralisação, decidida na assembleia geral dos estudantes da Universidade Federal de Uberlândia-UFU em 1o de junho, não foi votada para os alunos ficarem em casa. O objetivo é ocupar, de diversas formas, os espaços da universidade. Assim, os alunos da UFU realizam nesses dias de mobilização (8, 9 e 10 de junho) diversas atividades formativas dentro dos campi. A manhã da quinta-feira, 9/06, por exemplo, foi liberada para que os diretórios e centros acadêmicos (DAs e CAs) propusessem as suas atividades.

    O Centro Acadêmico de Comunicação Social – CACoS é um dos mais ativos, tendo promovido uma roda de conversa sobre como as mobilizações estudantis são representas pelas diferentes mídias. O debate contou com cerca de 50 alunos de diversos cursos, fazendo com que a troca de ideias ficasse bastante ampla. Foi reforçada a importância do diálogo e da participação dos próprios estudantes de jornalismo nas atividades, para que os mesmos alimentassem as redes sociais e alguns veículos livres, na intenção de expressar o ponto de vista do estudante sobre as mobilizações e não de alguém que simplesmente vem até a universidade apenas para coletar informações. Além disse, ficou clara a vontade dos estudantes a favor da paralisação de ampliar o debate com os demais estudantes da universidade.

    Roda de conversa sobre mídia e cupações em frente ao CA de Comunicação - CACoS
    Roda de conversa sobre mídia e ocupações estudantis em frente ao CA de Comunicação – CACoS

    No mesmo horário dos espaços promovidos pelo jornalismo e pelos demais cursos, o Diretório Acadêmico da Enfermagem realizou uma roda no campus Umuarama sobre as formas que os cortes afetam a formação do enfermeiro. Contando com a presença de estudantes de outros cursos e dos professores da enfermagem, o debate também foi bastante construtivo. O DA, em nota, enfatizou a fala da Profa. Dra. Marcelle Barros: “Nós da enfermagem precisamos entender nossa necessidade, vermos que somos metade dos profissionais da saúde no Brasil, somos fortes, vamos lutar”.

    Além das atividades promovidas pelos DAs e CAs de cada curso, foram definidos dois “aulões” durantes os dois primeiros dias de paralisação, para debater a saúde e educação pública de forma com todos os estudantes pudessem participar e se inteirarem dos assuntos, mesmo não sendo da sua área de estudo.

    Julio, aluno da enfermagem, em debate no campus Umuarana
    Júlio Alvares, aluno da enfermagem, em debate no campus Umuarana

    O espaço sobre a saúde aconteceu no primeiro dia de paralisação, o estudante do oitavo período de enfermagem, Júlio Alvares, fez uma ampla discussão explicando para estudantes das outras áreas de como funciona o Sistema Único de Saúde – SUS e da sua importância para a prevenção das doenças. Falou-se também das consequências que uma saúde privada traria para a população, que já não teria mais esse trabalho de prevenção e de educação, o que atingiria principalmente as classes mais baixas.

    Já o debate sobre educação contou com a fala de diversos estudantes, dentre eles o Pibidianos (alunos bolsistas do programa de iniciação da docência), tanto de licenciatura quanto de bacharelado. Os alunos levantaram a questão da necessidade de investimentos em laboratórios para os cursos de licenciatura e humanas também precisam, para a produção de ciência. Reforçaram como é necessário repensar formação dos professores nas áreas das ciências duras, como engenharias, por exemplo, que não contam com nenhum tipo de didática, o que acaba prejudicando a forma de aprendizado em sala, que em algumas disciplinas têm um alto índice de reprovação. O debate contou com vários relatos de estudantes, sobre como pensam que a má educação influência nos preconceitos, como machismo e lgbtfobias, que são disseminados pelo senso comum.

    Debate sobre saúde com estudantes de enfermagem. Imagem cedida pelo DAENF
    Debate sobre saúde com estudantes de enfermagem. Imagem cedida pelo DAENF

    Ficou clara a indignação dos estudantes com o novo ministério da educação, com um ministro reacionário que representa um grande retrocesso nas conquistas sociais, uma vez que ele se declarou contra programas sociais para educação, como as cotas raciais implementadas pela lei 12.711/2012.

    O que se viu nesses dois dias de paralisação foi um grande esforço para que os estudantes que não são ligados ao movimento estudantil, entendessem os motivos desses atos. Precisamos lutar contra os cortes de verba, que não começaram agora mas que se agravam com esse governo ilegítimo. Além dos movimentos citados, foram realizados mais alguns espaços de integração com os estudantes, como a oficina das artes visuais que pautavam o ativismo feito através da arte. Nesse último dia de paralisação, sexta-feira 10/06, outros atos estão programados a partir das 09:00h, realizados pelos estudantes de arquitetura e pelo sindicato dos técnicos da UFU (SINTET-UFU) finalizando com o grande ato Fora Temer previsto para as 17:00 no centro de Uberlândia.

    Nota da redação Jornalistas Livres: Infelizmente as atividades na paralisação não foram unanimidade entre os estudantes da UFU, como se pode ver no vídeo https://www.facebook.com/naoseomita/videos/1082648708481546/

  • Estudantes da UFU vão parar dias 8 a 10 de junho

    Estudantes da UFU vão parar dias 8 a 10 de junho

    Os alunos da Universidade Federal de Uberlândia – UFU fizeram nessa quarta uma longa e lotada assembleia para denunciar as quedas nos investimentos em educação nos últimos anos, a falta de condições mínimas de ensino em alguns campi, a cultura do estupro e também novas ameaças do regime golpista como cortes de bolsas de iniciação à docência e a chamada Escola Sem Partido. Ao final da assembleia, em votação expressiva, foi decidida a paralização das atividades discentes entre os dias 8 e 10 de junho, coincidindo com o Dia Nacional de Mobilização Contra o Golpe. A primeira manifestação realizada como consequência das lutas estudantis foi a ocupação da reitoria da instituição (veja aqui) pela urgente melhoria na infraestrutura do Campus Monte Carmelo, onde até a água de beber está contaminada com metais pesados. Veja abaixo nota divulgada sobre a mobilização.

    Mais de 500 estudantes lotaram a assembleia da UFU
    Mais de 500 estudantes lotaram a assembleia da UFU

    “Os estudantes da Universidade Federal de Uberlândia se organizaram em um Conselho de Diretórios acadêmicos (CONDAS) no dia 18/05 para realizar a assembleia geral, com todos os cursos, no dia 01/06 para se debater uma possível paralisação estudantil.  Foram dados alguns dias para que os diretórios e centros acadêmicos (DAs e CAs) mobilizassem e levantassem as pautas internas de cada curso para que as reivindicações fossem levadas ao ato.

    A assembleia geral foi realizada no Centro de Conivência, bloco 5N do campus Santa Mônica, contou com mais de 500 alunos representando todos os campi, exceto Patos de Minas, e começou com cerca de 40 falas de estudantes contendo suas pautas e posicionamentos sobre a paralisação, análise de conjuntura, protestos contra o governo interino de Michel Temer (PMDB) e relatos das assembleias de cada curso, realizadas pelos DAs e CAs.

    Assembleia dos Estudantes da UFU votou quase por unanimidade pela paralização
    Assembleia dos Estudantes da UFU votou quase por unanimidade pela paralização

    Foi decidido em votação, por quase unanimidade dos presentes, a paralisação das aulas de 8 a 10 de junho. O ato vai contar com diversas atividades de formação política e os alunos ocuparão os blocos, praças e salas da universidade reivindicando as pautas gerais retiradas da concentração. Dentre elas, as principais são pela melhoria dos campi avançados (Pontal, Monte Carmelo e Patos de Minas) que sofrem sucateamento por falta de verba e espaço físico. Além disso, os estudantes reivindicam ônibus para congressos e viagens de campo obrigatórias para disciplinas, maior investimento na segurança e mais pontos de ônibus próximos aos campi, melhoria na assistência estudantil e são contra a nova portaria do PIBID (Programa institucional de Bolsas de Iniciação à Docência).”