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Tag: Brasil

  • As araras vão pagar a conta

    As araras vão pagar a conta

    Querem explorar tudo, urânio, ouro ou qualquer torrão que valha entre as pedras. Creio que vai sobrar para as araras e tantos bichos simpáticos que vivem em áreas remotas.

    Em quatro emocionantes dias, na principal convenção de mineração e exploração mineral do mundo, realizada em Toronto, no Canadá, onde tatus de gravatas, ricos e poderosos se encontram e reencontram para discutir novos buracos no planeta, o ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, esteve presente e não ficou calado.

    Demonstrou todo interesse em abrir novas áreas para a mineração, e revelou o intento do governo em habilitar terras indígenas para tal.

    É do site oficial do evento as informações que seguem:

    A exploração mineral é sobre descobertas. Sem exploração, não há descobertas e, sem descobertas, não há minas. É por isso que as jurisdições competem para atrair dólares de exploração escassos, a fim de sustentar a taxa na qual os depósitos minerais são descobertos em suas jurisdições. Embora nem todo depósito seja desenvolvido em uma mina, o aumento da atividade de exploração aumenta a probabilidade de se descobrir um depósito que, em última análise, é extraído.

    O PDAC (Prospectors & Developers Association of Canada) realiza uma série de pesquisas e advocacy com governos federais, provinciais e territoriais para criar um clima de investimento atraente para a indústria de exploração mineral que aumentará a probabilidade de as empresas descobrirem depósitos que poderiam se tornar minas um dia. Além disso, o PDAC fornece ferramentas e recursos a seus membros para ajudá-los a explorar de maneira responsável e eficaz.

    O Programa Aborígine na Convenção do PDAC fornece uma plataforma para discussão sobre a promoção de relações cooperativas, respeitosas e mutuamente benéficas entre as comunidades aborígenes e a indústria mineral. Este programa traz comunidades aborígenes e empresas de propriedade aborígene junto com a indústria e outras partes interessadas para compartilhar experiências, trocar idéias e redes.

     

    Esta sessão identificará as principais questões e parcerias entre empresas de exploração e mineração e comunidades indígenas. Especificamente, os membros do painel examinarão experiências e compartilharão insights sobre operar em diferentes contextos políticos, sociais e culturais em todo o mundo e no Canadá. As apresentações explorarão como as empresas e as comunidades trabalham juntas usando soluções inovadoras para lidar com vários problemas. Ao explorar experiências de envolvimento com comunidades indígenas no Canadá e internacionalmente, esta sessão destacará alguns dos desafios únicos e comuns, bem como as oportunidades na construção de relacionamentos e no desenvolvimento de parcerias.

     Tão simples.

    Araras por Helio Carlos Mello©.

  • Índios, negros e pobres

    Índios, negros e pobres

    Verde e rosa deveriam ser as cores de nossa bandeira, sendo que jamais será vermelha, e o amarelo e verde andam sequestrados em mãos indevidas.

     

    As páginas ausentes nos livros de história afloram na hora do carnaval e seus desfiles, e a Mangueira, terna escola de samba carioca, expõe um enredo que corta a carne dos homens, uma história para ninar gente grande, o lixo embaixo do tapete, as sevícias da conquista.

     

    Por que cabe ao samba e ao morro expor a cara da gente, o grito entre batuques e passos de mestre sala e foliões, a face mais sofrida da pátria?

    É madrugada, a Mangueira desfila e assombra, entre brilho e alegria, verdade que não cala.

     

    Escorre sangue de índio na praia, na pedra, no mato de nossas almas. Do preto é a carne que apanha e brilha. Pobres são todos que assistem e velam, pois sambar é brotar ausências, uma alegria que chora.

     

    Se a arte imita a vida, ou se é a arte que dita a história, sempre será cedo para saber, a história não finda. Tenho sim minha sede plena de água e chuva, minha fome farta de bom alimento que nasce nas ruas entre o povo. Carnaval limpando a alma, ritmistas trançando a flâmula.

  • Desmatamento na Amazônia aumenta em janeiro

    Desmatamento na Amazônia aumenta em janeiro

    Por Sabrina Rodrigues

     

     

     

    Desmatamento proveniente de garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku, no Pará, que está entre as dez mais desmatadas segundo lista divulgada pelo Imazon. Foto: Vinícius Mendonça/Ibama.

    O desmatamento na Amazônia aumentou 54% no mês janeiro, em comparação com o mesmo período do ano anterior, passando de 70 quilômetros quadrados perdidos para 108 km². Esses são os dados do Boletim do Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados nesta quinta-feira (28).

     

     

    Boletim do Desmatamento (SAD)

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    O alerta aponta o Pará como o estado que mais desmatou em janeiro, com 37% do total de perda de floresta registrado no período, seguido por Mato Grosso (32%), Roraima (16%) e Rondônia (8%). Os estados do Amazonas e do Acre ficaram com 6% e 1%, respectivamente.

    A unidade de conservação mais desmatadas é a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, que perdeu 3 quilômetros quadrados de área verde, seguida da APA dos Tapajós e a Resex Verde para Sempre, as três são do Pará.

    Entre as Terras Indígenas, a TI Ituna/Itatá  (PA) lidera o ranking, com 4 quilômetros quadrados de vegetação degradada e a TI Aripuanã, localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso e habitada pelo povo Cinta Larga, segue com 1,5 quilômetros quadrados de desmatamento.

     

  • O pavilhão da comida de verdade

    O pavilhão da comida de verdade

    Meio índio, meio ambiente, nunca pensei que berinjelas, bananas, cenouras ou verduras verdes e tenras seriam munições contra a falsa vontade de governos em alimentar o povo. Eleitos e impunes ofereceram farinhas, mas o povo quer comida.

     

    O alimento invade a praça e grita contra os que plantam fome. O Banquetaço surgiu como uma reação e resposta ao apresentador de tv, que tornou-se prefeito da metrópole de São Paulo, em 2017, e queria dar ração aos estudantes e população carente das ruas da cidade.

    O movimento nacionalizou-se e em sua terceira edição ocupou mais de 40 cidades. Porto Alegre, São Paulo, João Pessoa, Brasília e Goiânia, entre tantas, defendendo o direito humano à alimentação saudável.

     

    Pratos foram preparados com produtos orgânicos e chefs voluntários e lúcidos, comida de verdade vinda da  roça e mãos que colhem, viabilizando reflexões sobre políticas alimentares. Banquetes públicos mostram-se uma grande bandeira e armamento contra o alimento fake, industrializado, de baixa qualidade.

    O banquete público também brada contra a  medida provisória de Jair Bolsonaro, que retira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) a atribuição de propor diretrizes e prioridades da política e do plano nacional de segurança alimentar e nutricional. O Consea foi criado em 1994, na época do governo Itamar Franco, a partir de demandas da Sociedade Civil, com o objetivo de ajudar na formulação e o monitoramento de políticas relacionadas à saúde, alimentação e nutrição.

    Responsável por tirar o Brasil do mapa da fome, em 2014, o Conselho Nacional foi praticamente extinto no primeiro dia de governo do presidente.

    Enfim, deram bananas para os governantes. Viva a laranja doce e legítima dos que não querem só comida.

     

    *imagens por Vanessa Haquim©, vídeo de Emílio Rodriguez©

  • Intelectuais brasileiros escrevem carta aberta contra intervenção na Venezuela

    Intelectuais brasileiros escrevem carta aberta contra intervenção na Venezuela

    Professores e intelectuais brasileiros ligados a universidades estaduais e federais divulgaram, neste sábado (23), uma carta aberta contra a intervenção dos Estados Unidos na Venezuela. O manifesto também pode ser assinado por outras pessoas (https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR110834).

    Está marcada para este fim de semana a chegada de comboios americanos ao país que, segundo o governo dos EUA e Juan Guaidó – opositor de Nicolás Maduro reconhecido como presidente interino da Venezuela por Brasil, EUA e outros países – traria comida e medicamentos.

    O governo de Caracas, no entanto, assim como China e Rússia, acreditam que o movimento seja um disfarce para uma intervenção estrangeira. “Trump só quer as riquezas de Venezuela, nosso petróleo, ouro e diamantes”, disse Maduro.
    Na quinta (21), Maduro ordenou o fechamento das fronteiras da Venezuela e, um dia depois, ao menos duas pessoas morreram em confronto com a polícia em Kumarakapay.

    Leia, abaixo, a carta na íntegra:

    Contra a intervenção na Venezuela

    Carta aberta à sociedade brasileira

    Cidadãos brasileiros assistimos, preocupados, a escalada de conflitos contra a vizinha Venezuela, a que, para nossa maior consternação, adere o Brasil governado por J.Bolsonaro.

    Trata-se de momento extremamente perigoso, em que a paz, tão duradoura no sub-continente, se encontra ameaçada pelo governo de D.Trump nos Estados Unidos. A intervenção norte-americana ora se traveste de ajuda humanitária, incluindo a linha seca Pacaraima/Santa Elena entre seus possíveis corredores. Não será demasiado lembrar que instituições concernidas e respeitáveis, tais como a Unesco e a Cruz Vermelha, se recusaram a participar de tal ajuda, apontando o fato básico de que ajuda humanitária se define, sempre, por sua neutralidade e desinteresse, aspectos inexistentes na presente iniciativa norte-americana. Houvesse um grão de verdade nas alegações intervencionistas quanto à crise humanitária na Venezuela, seria de se esperar que os Estados Unidos levantassem o embargo que impuseram àquele país – embargo que responde, em larga medida, à crise em pauta. Como apontam especialistas, sob o pretexto de defesa da democracia – jamais aplicado à Arábia Saudita e a outros aliados fornecedores de petróleo – , os Estados Unidos pretendem avançar sobre a região, em busca do controle de enormes reservas de petróleo.

    Não podemos nos calar diante desta violência, cujos efeitos serão catastróficos para a região. Todos aqueles que conhecem a fronteira Venezuela- Brasil podem testemunhar sua diversidade étnica, sua riqueza cultural, seu delicado ecossistema – feito do encontro único da floresta tropical com a savana –, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco. A pequena cidade de Pacaraima, encravada na Terra Indígena São Marcos, é geminada à cidade venezuelana de Santa Elena do Uairén, constituindo um espaço integrado, de intensa mobilidade de pessoas e de circulação de bens – a população, indígena ou não, mantém estreitos vínculos de parentesco, trabalho e residência, de ambos os lados da fronteira. Não podemos permitir que tudo isso seja devastado pelo cálculo e pela arrogância de uma intervenção armada.

    Conclamamos, assim, as forças democráticas na sociedade brasileira a que, efetivamente, se manifestem contra a intervenção armada na Venezuela e, em particular, contra o envolvimento brasileiro nessa desventurada iniciativa, de modo a honrar a tradição pacifista e não-intervencionista do país, inscrita em sua Constituição.

    Declarando toda nossa solidariedade ao povo venezuelano, assinamos:

    Alfredo Clodomir Rolins de Souza, historiador
    Amanda Karoline Vinhort Alves, graduanda em História
    Amnéris Maroni, psicanalista
    André Augusto da Fonseca, historiador
    Andréia Galvão, cientista política
    Ângela Maria Cavalcante Souto, historiadora
    Armando Boito Jr, cientista político
    Associação Nacional de História (ANPUH), seção Roraima
    Bela Feldman-Bianco, antropóloga
    Carla Monteiro de Souza, historiadora
    Centro Acadêmico de História da UERR
    Centro Acadêmico de História da UFRR
    Cleane de Souza Feitosa Schwenck, assistente social
    Comitê Estadual em Defesa da Escola Pública de Roraima
    Cristhian Teófilo da Silva, antropólogo
    Eduardo Caetano da Silva, antropólogo
    Eduardo Gomes da Silva Filho, historiador
    Elaine Moreira, antropóloga
    Eliaquim Timóteo da Cunha, antropólogo
    Emanuel Rabelo, historiador
    Enzo Lauriola, economista
    Érica Marques, advogada
    Fabiano Galetti Faleiros, sociólogo
    Francisco Marcos Mendes Nogueira, historiador
    Gabriel Cambraia Neiva, crítico literário
    Geraldo Andrello, antropólogo
    Gilberto Azanha, antropólogo
    Giuliana Milena C.Araújo, publicitária
    Grupo de Estudos Migratórios na Amazônia (GEMA)
    Herika Fabíola Barros de Souza Oliveira do Valle, historiadora
    Hsteffany Pereira Muniz Araújo, historiadora
    Inara do Nascimento Tavares, antropóloga
    Ítala Maria Lofredo D’Ottaviano, matemática
    João Quartim de Moraes, filósofo
    Kézia da Costa Lima, historiadora
    Larissa Coelho, fundadora da Associação Bolsa de Valores Humanos
    Leila Maria Camargo, cientista social e pedagoga
    Leonardo Rossato Queiroz, cientista social
    Lisa Katharina Grund, antropóloga
    Lucas Endrigo Brunozi Avelar, historiador
    Luiz Maito Jr, historiador
    Luiz Marques Filho, historiador
    Marcelo Phaiffer, pedagogo
    Maria Elisa Ladeira, antropóloga
    Maria Inês Ladeira, antropóloga
    Mariana Castilho, geógrafa
    Mariza Barbosa Araújo, antropóloga
    Mauro William Barbosa de Almeida, antropólogo
    Michael Ganan, tradutor-intérprete
    Nádia Farage, antropóloga
    Paula Marcelino, socióloga
    Paulo Santilli, antropólogo
    Paulo Thadeu Franco das Neves, jornalista
    Raimundo Nonato Gomes dos Santos, historiador
    Sandra Moraes da Silva Cardozo, professora
    Sávio Cavalcante, sociólogo
    Sidney Chalhoub, historiador
    Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatísticas (ASSIBGE) – Núcleo Sindical de Roraima
    Suely de Oliveira Marques, economista e pedagoga
    Volnei Garrafa, diretor da Cátedra Unesco em Bioética, UnB
  • Maduro questiona suposta ajuda humanitária: “Com quem Trump se solidarizou até hoje?”

    Maduro questiona suposta ajuda humanitária: “Com quem Trump se solidarizou até hoje?”

    Publicado originalmente em Brasil de Fato | São Paulo

    O presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um pronunciamento público na capital Caracas na tarde deste sábado (23). Durante quase duas horas, o líder chavista questionou a suposta ajuda humanitária imposta pelos Estados Unidos e defendeu a soberania do povo venezuelano. “Com quem [o presidente estadunidense Donald] Trump se solidarizou até hoje? Ele odeia os povos da América Latina e Caribe. Por isso quer construir o muro [na fronteira com o México]”, lembrou.

    :: O que está acontecendo na Venezuela? ::

    Milhares de pessoas acompanharam o discurso do presidente, que aconselhou a população a “abrir os olhos”, já que “a operação dita de ‘ajuda humanitária’ quer meter militares no nosso país, para roubar nossas riquezas.” O mandatário convocou a comunidade internacional a se solidarizar com o país e exigir que “Trump tire as mãos da Venezuela” – baseado nos princípios da Organização das Nações Unidas (ONU).

    Rompimento com a Colômbia

    Ao final do discurso, o presidente eleito anunciou a ruptura de relações diplomáticas e políticas com a Colômbia, estabelecendo um prazo de 24 horas para que embaixadores e cônsules deixem a Venezuela.

    As fronteiras com o país vizinho foram fechadas diante da ameaça de intervenção dos Estados Unidos.

    Brasil e UE

    Maduro afirmou ainda que o governo venezuelano foi procurado pela União Europeia (UNE), que ofereceu medicamentos para o país: “Eles nos procuraram oficialmente. Aceitamos a ajuda e vamos pagar por ela”.

    Da mesma forma, o presidente disse estar disposto a aceitar o arroz, açúcar e leite em pó ofertados pelo Brasil. “Pagamos por todos os alimentos que estão no estado de Roraima”, sustentou, argumentando que os venezuelanos não devem ser “tratados como mendigos”.

    Histórico

    Herdeiro político do ex-presidente Hugo Chávez, Maduro chegou ao poder em meio à comoção pela morte do líder que, além de impulsionar a chamada Revolução Bolivariana, colocou o país petroleiro no mapa geopolítico mundial. A ausência de Chávez, no entanto, fortaleceu a oposição, que não deu trégua ao governo Maduro, primeiro não reconhecendo sua vitória, passando por tentativas de tirá-lo do poder por meio de referendo ou promovendo boicotes e protestos.

    Petróleo

    Com mais de 2,9 bilhões de barris por ano, os EUA são os maiores importadores de petróleo do mundo. Cerca de 500 milhões de barris vêm da Venezuela, cujas reservas são dez vezes maiores que as estadunidenses.

    O país latino-americano é considerado estratégico, do ponto de vista logístico, porque o custo de importação é inferior àquele importado do Golfo Pérsico, por exemplo, com tempo reduzido entre a produção e a entrega.

    Na Venezuela, o Estado controla a produção, a distribuição e o destino da renda do petróleo, e é visto como um impedimento à dominação econômica e política dos EUA no continente.