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Sobre Dilma, Vals e o machismo nosso de cada dia

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Na quarta-feira passada (21) foi protocolado o pedido de anulação do impeachment. Três mulheres*, representando os Comitês Contra o Golpe de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro estiveram presentes. Acompanhei a iniciativa.

Nós só pudemos entrar no STF – Supremo Tribunal Federal para protocolar o pedido de anulação do golpe depois de mais de meia hora esperando autorização, e mesmo assim tivemos que ser acompanhadas por quatro seguranças.

Quatro mulheres de mais ou menos um metro e sessenta, uma delas com mais de setenta anos, sendo acompanhadas por quatro homens com dobro de seu tamanho e altura para simplesmente entregar um documento.

Os quatro são contra o golpe. Um deles afirmou veementemente que nós estávamos muito quietas, e que ‘todo aquele pessoal lá fora devia botar pra quebrar. Tá muito pacífico. Chega.’ – Senti essa declaração como um desabafo da população, a qual não aguenta mais as reformas golpistas e falta de democracia.

Lá dentro, todavia, os seguranças tiveram que ter atitudes diferentes: eu fui proibida de fotografar: essa é uma ordem a qual nunca obedeceria.

Como resultado, tive o celular arrancado de minhas mãos e pediram para eu me retirar. Permaneci encarando o segurança e esperando para ver se ele tiraria a representante da juventude contra o golpe à força de um local público como o STF, que supostamente representa a justiça brasileira.  A sua única atitude foi fazer uma careta e pedir para eu não tirar mais fotos. Com a maior gentileza do mundo pedi para que ele me devolvesse o celular, atitude que tomou com certa relutância.



‘O sistema não pode me matar.’ -Val Costa, ONG feminista recomeçar.

O machismo assume muitas formas, seja na política ou em órgãos públicos como o SUS.  Durante o encontro Pauta Feminina desse mês, que ocorreu no dia 22 de junho, a senhora Val Costa relatou a violência que sofreu no SUS. Por ser mulher e negra, a operação de seu câncer de mama foi postergado ao ponto de crescer ‘do tamanho de um limão’, como ela relata.  Para melhorar, quando a operação foi finalmente realizada, retiraram seus seios sem sua permissão e sem alvará do médico.  Seu câncer era somente no seio esquerdo.

Dilma e Val Costa: duas mulheres com vivências totalmente diferentes, mas ainda sim possuem dois pontos em comum: ambas foram violentadas pelo sistema político machista e ambas são mulheres.

Segundo o Mapa Mulheres na Política de 2016, o estado com maior participação feminina (total de cargos ocupados por mulheres dividido pelo total de cargos eletivos) , é o Rio Grande do Norte, com 21,54% das mulheres ocupando cargos políticos. O estado que apresenta menor participação feminina é o Espírito Santo, com 9,06%, que coincidentemente encontra-se em segundo lugar no Mapa da Violência. Nenhum outro estado, fora Rio Grande do Norte e Amapá, alcançam 20%.

Não é a toa que, durante os nossos 128 anos de República, somente uma mulher, Dilma Rousseff (PT) ocupou a presidência, a qual, por acaso, foi deposta injustamente em seu segundo mandato.

Assim como um péssimo médico arrancou os seios da dona Val sem necessidade, os péssimos políticos brasileiros querem arrancar do seio do Brasil os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. E, só para variar, as mulheres serão as mais afetadas.

Como disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) na Pauta Feminina desse mês, “a reforma trabalhista é machista. A indenização extrapatrimonial é terrível. Se uma mulher ganha dez mil reais por mês e tem um acidente em seu trabalho, sua indenização será de cem mil, mas se é uma mulher que trabalha em um chão de fábrica ganhando um salário mínimo, sua indenização será de dez mil”.

Da Dilma a dona Val, a solução para essas situações é a luta pelo feminismo. A construção de uma sociedade igualitária passa pela igualdade de gênero. O dia em que a igualdade de gênero não for somente uma ideologia, e sim uma ação que permeie a sociedade em sua totalidade, não teremos mais o sofrimento de Dilmas e Vals, e nem reformas que visem somente o bem do capital.

*Os nomes foram preservados pela repórter por solicitação das manifestantes. 

 

 

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#EleNão

Fanáticos fascistas apoiadores de Bolsonaro agridem imprensa em manifestação pró golpe militar

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Na manhã deste domingo (3) – dia mundial da liberdade de imprensa, ocorreu mais um ato de fanáticos fascistas apoiadores de Jair Bolsonaro, o mesmo tipo de gente que agrediu, na última sexta-feira, profissionais de saúde que prestavam homenagem aos colegas mortos.

Os fanáticos fascistas que apoiam Bolsonaro, mais uma vez pediram o fechamento do congresso e do STF. Bolsonaro desceu a rampa do Palácio do Planalto, se aproximou sem máscara dos manifestantes, e disse que “as forças armadas estão com o povo”.

Repórteres, cinegrafistas e fotógrafos da Globo, do Estadão foram agredidos e insultados pelos manifestantes. Um fotógrafo chegou a ser derrubado de uma escadinha, depois foi chutado nas costas. A polícia militar nada fez, enquanto a imprensa era agredida, segundo reportagem da Folha de São Paulo.

O ato apoiado por Bolsonaro ocorreu um dia depois de o ex ministro Sérgio Moro prestar depoimento de oito horas na sede da Polícia Federal em Curitiba. O depoimento de Moro foi sobre as denúncias que ele fez contra Bolsonaro, quando pediu demissão do cargo de ministro. Moro acusou o ocupante da cadeira de presidente de tentar interferir politicamente na PF, e disse, em entrevista para a revista Veja, ter apresentado provas como  áudios, e-mails e prints de conversas no WhatsApp.

https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2695599904005423/

 

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#EleNão

“Ele nos chamou para briga. O que ele ganha com isso?”

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Por Luis Araújo, professor da Universidade de Brasília, Doutor em Políticas Públicas.

 

Não sou dono da verdade, já tem muitas pessoas cumprindo essa tarefa ingrata. Mas peço um minuto de reflexão.

Na noite de ontem (24 de março), depois de um mês do primeiro caso de coronavirus e com o crescimento acelerado de casos, o presidente Bolsonaro fez um discurso inacreditável, absurdo e revoltante. Diante de tal absurdo, a reação dos setores progressistas foi anunciar o seu fim, diagnosticando que o mesmo enlouqueceu e que tirá-lo da presidência imediatamente é a demanda a ser assumida. Será?

Bolsonaro é louco? Não há nenhum dado cientifico sério que confirme isso. Ele é um idiota? Se o fosse não teria conseguido ganhar as eleições, derrotando a direta tradicional e uma forte unidade da esquerda no segundo turno. Bem, se não é um caso médico e ele agiu ontem de caso pensado, qual o seu interesse de provocar tamanha revolta?

Não sou um bom jogador, nem de futebol e muito menos de xadrez, mas dizem que o melhor cenário numa guerra ou num jogo, sendo a batalha inevitável, é poder escolher o local e o momento que mais lhe favorece. É isso que ele está tentando fazer. Vejamos os elementos que estamos deixando escapar.

A pandemia é real, vai matar centenas, talvez milhares, de brasileiros, vai superlotar o já saturado sistema de urgência do país. E, para além das consequências sanitárias, já está paralisando a economia, o que nos jogará numa recessão violenta, com desemprego, queda de renda de 40 milhões que vivem da informalidade, fechamento de empresas e tudo que disso é derivado. Isso ainda está no início, mas quando chegar no ápice, a culpa será distribuída em quem tinha responsabilidade de conduzir o país: Bolsonaro. Ele sabe disso, sabe que os ânimos da população diante de seu governo vão mudar, fazendo derreter a base social que até agora mantém no seu entorno e, fazendo isso, ele perderá a utilidade para as elites, podendo facilmente ser descartado.

O que Bolsonaro fez ontem foi potencializar o campo de batalha que lhe é favorável, a narrativa de que há uma trama da esquerda, de governadores e da mídia, tentando destruir a economia, exagerando os efeitos da pandemia, para derrubá-lo. Trabalha com a desinformação, com o medo, com os mesmos mecanismos que o levaram a presidência. Sua intenção é antecipar a polarização, provocando ódio nos setores progressistas (#bolsonarogenocida) e tentando coesionar sua base em sua defesa.

O que ele fez ontem foi tentar antecipar a batalha do impeachment para o momento que mais lhe favorece, no cenário real que vivemos: antes que a maioria da população comece a sentir os efeitos econômicos da recessão, facilitando a sua narrativa de que é uma trama sórdida para lhe tirar do poder, justamente na hora que estava tentando proteger os empregos das pessoas.

É uma aposta perigosa? Sim, por que se as medidas de mitigação não forem suficientes para deter o vírus, um crescimento do número de mortes cairá na sua cabeça. Mas é a mesma aposta que Trump está fazendo, por que os dois sabem que as pessoas votaram neles em momento de desespero e esperavam que a vida melhorasse.

Assim como no xadrez, aceitar a oferta de uma peça aparentemente gratuita e equivocada, pode simplesmente comprometer peças importantes do nosso time, prejudicando nossa estratégia.

Antecipar um processo de impeachment, no meio da pandemia, sem possibilidade de mobilizações sociais presenciais, sem ter derretido bastante a base social bolsonarista (leiam as três pesquisas disponíveis para ver que isso está em processo, mas ainda longe de caracterizar um real isolamento), é deixar que ele escolha o local e o momento da batalha. Um erro que pode nos custar a perda do jogo.

A hora, nesse momento, é de carimbar a irresponsabilidade de Bolsonaro, de propor medidas que dialoguem com o drama de milhões de brasileiros que não alcançamos pelas nossas redes sociais, nos quais a nossa indignação ainda não chega e que ainda o discurso de polarização esquerda X mito é ainda forte. A pandemia e a recessão, bem trabalhadas, podem desfazer as barreiras que nos impedem de fazer esse diálogo.

E os panelaços? Sim, presenciamos uma radicalização dos setores que não concordam com o governo e o avaliam de forma negativa ou regular. É um sintoma de que estamos reconquistando terreno. E é justamente esse diagnóstico que faz Bolsonaro antecipar a batalha, antes que perca mais posições e não tenha narrativa que se sustente diante do caos econômico.

A economia derreteu Collor, manteve Lula no cargo em 2006 e isolou Dilma de sua base social em 2016. E é o que será capaz de derreter de 30 a 35% de apoio que Bolsonaro ainda tem.

A vontade de interditar esse presidente, um irresponsável que coloca em risco milhões de brasileiros é muito forte. Comungo muito dessa revolta. Mas, sem racionalidade e uma estratégia que entenda que o adversário não é louco ou imbecil e que sabe jogar, não seremos vitoriosos.

Assim, considero que a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” e uma narrativa que mostre sua irresponsabilidade, articulada com uma plataforma de exigências de medidas que salve a vida dos brasileiros e proteja seus empregos e renda, são mais eficientes do que deixar que ele escolha a hora e o lugar da batalha. Iremos travar essa batalha, não em 2022, mas este ano ainda, mas ele precisa sangrar mais, precisa perder legitimidade junto a milhões de brasileiros que serão vitimados por sua inconsequência.

Quem é Luiz Araújo:

Professor, doutor em políticas públicas em educação pela USP. Secretário de educação de Belém (1997-2002). Presidente do INEP (2003-2004). Assessor de financiamento educacional da UNDIME Nacional (2004-2006). Assessor do senador José Nery -PSOL/Pa (2007-2009). Consultor na área educacional. Consultor Educacional da UNDIME Nacional (2010/2011). Assessor da Senadora Marinor Brito – PSOL-PA (2011). Assessor da Liderança do PSOL no Senado Federal (2012-2013). Atualmente é Professor da Faculdade de Educação da UNB.

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#EleNão

Indígenas adiam maior encontro brasileiro por causa do novo coronavírus

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Foto: Leonardo Milano

O Acampamento Terra Livre, o maior encontro indígena do país, que ocorreria entre os dias 27 e 30 de abril, em Brasília-DF, foi adiado por conta da ameaça do coronavírus, que poderia ser catastrófico para populações indígenas. O Encontro costuma reunir cerca de 4 mil indígenas de todo o país. Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil Explica:

“Ressaltamos também, que pandemias como estas alertam para o quão gravoso pode significar uma política de contato com os povos isolados e de recente contato em razão dos riscos não só de etnocídio, mas também a um doloso genocídio”

COMUNICADO GERAL (APIB)

Diante da disseminação do Coronavírus e seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde e decretos do governo do Distrito Federal para evitar aglomerações na tentativa de mitigar a propagação do vírus, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) vem informar sobre a necessidade de adiar a realização do Acampamento Terra Livre, que estava previsto para o período de 27 a 30 de abril de 2020. Uma nova data será divulgada conforme as recomendações das instituições de saúde e governamentais.

Com a ocorrência dessa pandemia, vemos como mais urgente ainda a necessidade de ampliar o serviço de saúde pública e a garantia dos subsistemas de saúde indígena, por meio da SESAI e Distritos Sanitários Especiais Indígenas, com condições adequadas de assistência de saúde aos povos indígenas.

Ressaltamos também, que pandemias como estas alertam para o quão gravoso pode significar uma política de contato com os povos isolados e de recente contato em razão dos riscos não só de etnocídio, mas também a um doloso genocídio.

É importante ressaltar que com o aumento das alterações climáticas, cientistas já atestam para a maior recorrência de epidemias.

Aproveitamos para elencar aqui algumas recomendações de medidas preventivas colocadas pelas instituições de saúde:

  1. lavar as mãos com água e sabão, evitando levar aos olhos, nariz e boca;
  2. Não compartilhar objetos pessoais como talheres, toalhas, pratos e copos;
  3. Evitar aglomerações e frequência a espaços fechados e muito cheios;
  4. Manter os ambientes bem ventilados;
  5. Quando possível, evitar viagens para locais que tenham casos decontaminação e reuniões e eventos com a presença de pessoas que venham de países ou estados que tenham confirmação do vírus
  6. E por último, não entrar em pânico. É uma doença que médicos e cientistas já têm conhecimento e estão na tentativa de seu controle. Essas orientações são preventivas, para evitar que a doença se propague.

Os sintomas do Coronavírus são ocorrência de febre, tosse, dificuldade para respirar e dores do corpo. Em caso de ocorrência dos sintomas, procurar atendimento o mais rápido possível e seguir orientações médicas.

E tão logo o vírus esteja controlado, definiremos uma nova data para nossa maior mobilização nacional, que neste momento de ataques, invasões, conflitos e retiradas de direitos se faz tão urgente necessária.

Sangue indígena, nenhuma gota a mais!

Brasília, 12 de março de 2020.

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

Veja o comunicado na íntegra:

COMUNICADO GERAL 01 (2)

 

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