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Imigrantes e Refugiados

Refugiados!

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Por Oscar Neto, para os Jornalistas Livres
Com a colaboração de
Giovanna Consentini e Laura Capriglione

A luta dos refugiados mundo afora é legítima e tem recebido justas atenções de alas diversas das sociedades. Há, atualmente, cerca de 60 milhões de pessoas que foram forçadas a deixar suas casas e seu país natal por causa de guerras ou perseguições.

Foi perante esse cenário que o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) celebrou, no dia 20 de junho, mais um Dia Mundial do Refugiado, lembrado também pelo Brasil — o primeiro país do Cone Sul a ratificar a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 (que consolida meios legais internacionais relativos aos refugiados).

No Rio de Janeiro, por exemplo, dezenas de refugiados participaram de uma cerimônia no Cristo Redentor, que ainda ficou iluminado com a cor azul, a cor da ONU. Em São Paulo, também houve programação. (clique aqui e veja outros eventos realizados no Rio e em São Paulo)

O Brasil detém uma legislação sobre refúgio que é vista como uma das mais avançadas do mundo. Segundo Pitchou Luambo, advogado refugiado no Brasil há quatro anos e coordenador do Grists — Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem-Teto de São Paulo, ela facilita a entrada do refugiado no país, algo que não acontece em outras nações. “Existe a lei 9.474/47 que estabelece uma definição clara do refugiado. Aqui, mesmo quem entra de forma ilegal ou sem documentos não pode ser deportado. É uma lei que protege e regulamenta. Na Itália, por exemplo, não existe essa regulamentação”.

Ainda assim, a morosidade na emissão de documentos continua sendo o principal obstáculo enfrentado por refugiados no Brasil e a porta de entrada para situações de vulnerabilidade social. “Imagina você chegando em uma imobiliária e apresentando um protocolo [como é conhecido o documento expedido pela Policia Federal aos refugiados]”, diz Pitchou. “Quem vai aceitar? Ninguém te aluga uma casa.”

Segundo Pitchou, a situação gera problemas gravíssimos. “Então, de repente, aparece uma empresa interessada na mão-de-obra do refugiado, sabendo da extrema fragilidade dele. Oferece-lhe um trabalho em troca de alimentação e moradia em um alojamento… E depois falam que é preciso resolver o problema do trabalho escravo”, afirma.

O Brasil criou um comitê nacional de refugiados (Conare) para acompanhar os casos dos refugiados, mas nos últimos cinco anos a estrutura do órgão não se expandiu para acompanhar a entrada desses estrangeiros no país. “Antes eram cinco pessoas para atender cada dez estrangeiros. Hoje estamos falando dos mesmos cinco para cada mil. O mesmo ocorre com a equipe da Polícia Federal e com as casas de acolhida”.

Por tudo isso, foi realizado, em maio, o 1º Fórum Morar no Refúgio. O espaço de debate reuniu imigrantes, refugiados, movimento de moradia, organizações e entidades especializadas, para levantar as dificuldades que os refugiados enfrentam e procurar soluções conjuntas. O evento foi acompanhado pelos Jornalistas Livres, que reproduziu em seu site uma matéria sobre o encontro.

Moradia em São Paulo

O incremento nos ingressos de refugiados no Brasil é real. De acordo com o Conare, em outubro de 2014, o Brasil possuía 7.289 refugiados reconhecidos, de 81 nacionalidades distintas — em sua maioria síria, colombiana, angolana e congolesa. O número total de pedidos de refúgio aumentou mais de 930% entre 2010 e 2013 (de 566 para 5.882 pedidos). Até outubro de 2014, já foram contabilizadas outras 8.302 solicitações.

Foto: Marcia Zoet

Em 2014, a maioria das solicitações de refúgio no Brasil foi apresentada em São Paulo (26% do total de solicitações no período), no Acre (22%), no Rio Grande do Sul (17%) e no Paraná (12%). Na capital paulista é bem comum se deparar com um refugiado que passa por dificuldades, como é o caso de Marie, que veio há 11 meses do Haiti, passou pelo Equador e Peru antes de chegar ao Acre e, já em São Paulo, recorreu aos movimentos de moradia para não ter de viver na rua.

“Os meus amigos foram para outros estados. Até que, por intermédio de um amigo, comecei a comparecer aos encontros de refugiados da FLM (Frente de Luta por Moradia), na ocupação do antigo hotel Cambridge, no Centro. Ali fui informada que não estava em uma imobiliária, mas em um lugar de lutas onde seria necessário batalhar pela minha moradia. Hoje moro na Ocupação da Rua Rio Branco”.

Marie teve de deixar no Haiti dois netos. O pai deles morreu. Atualmente, não está trabalhando e, por não ter trazido o diploma da sua profissão (manicure), fica mais difícil conseguir um emprego. Além disso, foi explorada no último trabalho que conseguiu, situação comum quando não se fala a língua local. Emocionada, ela conta o seu sonho: “Gosto muito deste país, mais do que o Haiti. Não tenho possibilidade de trazer meus netos pra cá, mas quero muito isso. Em nome de Deus vou conseguir um dia”, diz, entre lágrimas.

Último dia da família de refugiados nigerianos antes da reintegração de posse da Rua José Bonifácio. Foto: Marcia Zoet

As ocupações têm sido um destino muito procurado por refugiados que “desembarcam” em São Paulo. Na FLM, por exemplo, são mais de 20 pessoas entre refugiados e imigrantes morando em diferentes edifícios ocupados pelo Centro e outros 15 que participam frequentemente das reuniões de base, exclusivas para este tipo de público, realizadas aos domingos no Cambridge.

O grande problema é que a falta de documentação dos refugiados, novamente, esbarra na possibilidade de lutar por um lar. Isso porque, para ser inserido em programas habitacionais do governo, é necessário ser cadastrado no NIS (Número de Inscrição Social). “Como eles tem essa real burocracia para tirar a documentação, a situação fica difícil. Porque se houver um atendimento que vai gerar cadastramento habitacional eles ficam de fora. É uma ‘burrocracia’”, explica Carmen Silva, liderança da FLM e do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro).

Além disso, existem ocupações na cidade que não são de movimentos ligados a políticas públicas de moradia. “Tem algumas por aí em que a maioria dos moradores são refugiados. Mas o objetivo único é pegar dinheiro deles… Entre essas estão a do Marrocos (Cine Marrocos) e da Praça da Sé. Trata-se de um grupo de exploradores que não visa políticas públicas, mas que ocupa para poder negociar. Para eles não interessa a condição do refugiado contanto que pague”, complementa.

Carmen sonha em construir uma estrutura que tenha paridade com as necessidades dos refugiados, um projeto de moradia provisória dedicado a eles. “São famílias, não vão se adequar a morar em situação de rua ou abrigos de moradores de rua em que você entra à noite, toma banho, janta e sai de manhã. Tem que ser uma moradia digna, até que ele se estabeleça e tenha a capacidade de financiar a casa própria”, ressalta.

Mas, a líder dos sem-teto já antecipa as dificuldades: “A ala mais reacionária da sociedade diria que estamos tomando o lugar dos brasileiros.”

Obstáculos do preconceito

Outro desafio enfrentado por muitos imigrantes e refugiados no Brasil é o preconceito. Muitos que vêm ao país reclamam de racismo, de dificuldades em se relacionar ou conseguir um emprego. É o caso de Francin Francoeur, imigrante haitiano[1] no Brasil desde 2014.

Francoeur mostra seu RNE, documento oficial dos estrangeiros no Brasil. Foto: Marcia Zoet

“A maior dificuldade que encontrei no Brasil foi a discriminação racial. Sofri muito com isso e sofro até hoje. Em qualquer lugar, no Metrô, tem gente que não senta do meu lado porque sou negro. Tenho amigos que não conseguem emprego, quando dizem que são estrangeiros”, diz.

A situação é vista por órgãos que defendem os direitos dos refugiados como fruto de pura falta de informação. Por isso, alguns desses refugiados com o apoio da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, organismo da Igreja Católica, e do Acnur, participaram da criação do projeto Refugees in Brazil (Refugiados no Brasil, em português), que visa sensibilizar e conscientizar os brasileiros sobre o tema.

O preconceito e a discriminação oprimem estas pessoas que, longe de suas casas e imersos numa realidade completamente confusa, têm dificuldades de sentirem-se tranquilos no dia a dia.

O Brasil que tenta

Mesmo enfrentando tantas adversidades, muitos dos que procuram o Brasil enxergam nele um oásis de receptividade, quando comparado ao que se verifica em outros países. Alguns números mostram que houve avanços na questão durante os últimos anos. Com base em dados do Conare referentes ao período entre janeiro de 2010 e outubro de 2014, o Acnur elaborou uma análise que mostra o fortalecimento da proteção aos refugiados e solicitantes de refúgio no Brasil. Foram 2.032 deferimentos em 2014 (até outubro) expedidos pelo Conare, 1.240% a mais do que os 150 registrados em 2010.

Serah Ajayi é uma das que sente essa “hospitalidade”. Ela veio grávida da Nigéria com o marido para fugir do grupo islamita extremista Boko Haram, cujos membros são acusados, entre outras coisas, de abuso sexual de mulheres. “O governo [brasileiro] está realmente tentando. Está tentando, de verdade. As igrejas e movimentos sociais estão realmente tentando”, conta. “Neste momento o governo… não sei se é o governo, mas alguém está nos providenciando o Bolsa Família. Não sei se é para todos, mas sei que nós, refugiados, podemos receber”, diz a nigeriana, com o filho recém-nascido no colo.

“Precisei fugir pela minha vida e pela minha família”, afima Serah Ajayi. Foto: Marcia Zoet

Como faz um estrangeiro para solicitar refúgio no Brasil

O solicitante de refúgio precisa estar no Brasil — ou área de fronteira — para fazer a solicitação em uma delegacia da polícia federal ou autoridade migratória na fronteira.

– Ele não pode ser deportado para fronteira que implique ameaça. Deve ser entrevistado pessoalmente por um funcionário do Conare em um idioma que lhe seja compreensível — as informações que passar devem ser mantidas em sigilo. Uma segunda entrevista também é possível.

– O pedido é gratuito, pode valer para o grupo familiar acompanhante e não necessita da presença de advogado. O ingresso irregular no Brasil não constitui qualquer impedimento.

– Aos menores de idade desacompanhados será designado judicialmente um adulto responsável.

Registro da solicitação:

– Preenchimento de um Termo de Solicitação de Refúgio e informe de um endereço (em que mora ou está hospedado, no Brasil), um telefone e um e-mail.

– O solicitante de refúgio receberá um Protocolo Provisório, válido por um ano e renovável. Ele será o seu documento de identidade e permitirá que o mesmo obtenha uma carteira de trabalho, um CPF e tenha acesso a qualquer serviço público.

– O solicitante de refúgio que tiver a sua solicitação de refúgio reconhecida tem o direito de permanecer no Brasil e obter o RNE (Registro Nacional de Estrangeiros), o documento oficial de estrangeiros no Brasil.

– Se ele não tiver a solicitação reconhecida poderá apresentar recurso e ser assistido por um advogado da Defensoria Pública da União ou de organizações parceiras do Acnur. Se o indeferimento persistir significa que o processo administrativo de refúgio terminou e ele será submetido à lei de estrangeiros vigente no Brasil. Neste caso, é possível procurar a Defensoria Pública da União para obter orientações sobre as medidas cabíveis.

Fonte: Cartilha para Solicitantes de Refúgio no Brasil — Acnur

[1] Haitianos não são, necessariamente, refugiados. À maioria destes imigrantes é concedido um visto permanente por razões humanitárias. O reconhecimento de refúgio só é concedido àqueles que atendem as especificações contidas no Art. 1 da lei 9474/97;


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Ação Humanitária

Operação elogiada por Bolsonaro na ONU despeja venezuelanos em Boa Vista (RR)

Comunidade formada por 850 indígenas e crioulos recebeu prazo do Exército para deixar o local até dia 28 de outubro

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Comunidade autogerida Ka'Ubanoko, em Boa Vista (RR) - Martha Raquel / Brasil de Fato

Em meio a uma pandemia que já matou mais de um milhão de pessoas no mundo todo, a Operação Acolhida do Exército Brasileiro anunciou no último dia 17 de setembro o despejo de 850 pessoas da comunidade Ka’Ubanoko de imigrantes venezuelanos indígenas e crioulos.

Por Martha Raquel e Jeisse Carvalho, do Brasil de Fato

“Desde que soubemos que teremos que sair, estamos vivendo muita pressão psicológica e social. Estamos vendo mulheres que não bebiam e começaram a beber, mulheres que têm chorado, crianças com medo”, relata Leannys Torres, indígena Warao e liderança da coordenação indígena da Ka’Ubanoko.

:: “Não queremos ser explorados, nem marginalizados”: indígenas Warao pedem autonomia ::

A Operação foi citada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante seu discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), quando afirmou que “no campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no estado de Roraima”.

A comunidade Ka’Ubanoko cujo significado em português é “Meu espaço para dormir”, fica localizada na cidade de Boa Vista, capital de Roraima, e ocupa o espaço do antigo Clube do Trabalhador – uma obra que ficou abandonada há anos e abriga, desde o ano passado, crioulos e indígenas Warao, Eñepà, Kariña e Pemon. 

Alejandrina Cortez tem 5 filhos, sendo um recém-nascido, e agora vive diariamente a angústia de não saber o futuro de sua família. 

:: Indígenas Warao sofrem com péssimas condições de vida no abrigo público de Belém ::

“Me sinto mal, estou preocupada, não durmo bem, penso nos meus filhos. Não por mim, mas por eles que são pequenos. Agora eu tenho meu lugar. Meus filhos gostam de jogar [no quintal]. Será que eu não posso ter paz? Eu estou morando aqui. Estamos todos. Meus filhos gostam de brincar e estão acostumados com isso”, completa. 

Tanto a coordenação crioula quanto a coordenação indígena da comunidade escreveram uma carta à Operação Acolhida do Exército explicando a situação e pedindo que o despejo não seja efetuado sem diálogo. 

“Estamos cansados a ser pisoteados. Não nos negamos a deixar um terreno que sabemos que não é nosso, mas nós temos direitos e sabemos que há outras soluções. Queremos falar, dialogar, mas nos tratam como animais. Nos impõem, querem pensar por nós”, explica a Cacique Eñepa. 


Regras da Comunidade autogerida Ka’Ubanoko, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel / Brasil de Fato 

O local atual é dividido em cinco áreas, entre espaços reaproveitados da construção do parque, casinhas de madeira, barracas e redes.

Os indígenas e crioulos convivem como uma comunidade, organizada por setores. Os moradores se dividem através de coordenações responsáveis por alimentação, saúde, esporte, infraestrutura, segurança, proteção da mulher, educação, cultura e limpeza.

Quando decidem por nós, estão violando os nossos direitos, de construir nosso futuro, de sermos protagonista 

Para Leannys Torres, da forma como está sendo conduzida a Operação Acolhida há um desrespeito com os direitos dos povos indígenas.

“Não somos migrantes, somos indígenas de toda a América e isso é algo que eles precisam aprender a respeitar. E quando decidem por nós, estão violando os nossos direitos, de construir nosso futuro, de sermos protagonistas. Estamos indignados”, ressalta.

:: Como é o atendimento à migração venezuelana durante a pandemia? ::

A alternativa apresentada pela Operação Acolhida é realocar as mais de 850 pessoas nos abrigos geridos pelo próprio Exército, onde é realizado um trabalho de interiorização das famílias quando são enviados para trabalhar em diversos estados do Brasil. 


Abrigo oficial do Exército São Vicente 2, no bairro São Vicente, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel/Brasil de Fato

Um ser humano não merece viver a vida que eles nos oferecem em um abrigo 

Alguns moradores da comunidade explicam que já viveram nos abrigos e não gostariam de passar novamente por essa experiência.

“Não há privacidade. Um ser humano não merece viver a vida que eles nos oferecem em um abrigo. Viver com calor, comer na hora que eles nos entregam a comida. Não teremos o direito de escolher o que vamos comer pela manhã, ao meio dia e à noite”, protesta Deirys Ramos, Cacique Eñepa, pertencente à etnia Warao.

:: Indígenas venezuelanos sofrem com a covid-19 e a fome no Recife (PE) :: 

Com base em experiências passadas nesse tipo de instalação, ela afirma que as condições de moradia apresentadas são insalubres.

“Querem ter-nos como animais, mas nem os animais se tratam assim. É um lugar onde não há árvores, não há brisa, em que estaremos fechados por todo o dia. Faz muito calor, todos estaremos amontoados”, ressalta.

Torres ressalta que o espaço dos abrigos limita a prática dos costumes tradicionais desses povos.

“Nos abrigos não teremos a liberdade de expressar nossas ideias, nossos costumes. A vida dos Warao está ligada à terra e ter terra é ter vida. Ficarmos fechados num abrigo nos limitaria bastante, é como estar em um campo de concentração”, explica. 


Uma das construções da ocupação Ka’Ubanoko, que abriga indígenas venezuelanos em Boa Vista (RR) / Martha Raquel/Brasil de Fato

Educação prejudicada 

Para a Cacique Deirys, a vida em abrigos impacta também no processo de educação da comunidade.

“É um lugar que nem sequer nos asseguram a educação, que pra nós seria não só bilíngue, mas que deveria ser trilíngue porque nós falamos diferentes idiomas. Não somos só um povo indígena, somos quatro povos indígenas”, ressalta. 

Entre os crioulos, 80% falam português e todos falam a língua nativa, o espanhol. Entre as quatro etnias indígenas, algumas pessoas falam apenas o idioma originário e outros aprenderam o espanhol.

:: “Não queremos ser explorados, nem marginalizados”: indígenas Warao pedem autonomia ::

Yidri Torrealba, coordenadora-geral da comunidade e representante dos crioulos explica que a educação diferenciada para as crianças sempre foi uma prioridade dentro da comunidade. 

“Entre a população indígena e a população crioula aprendemos a viver em comunidade, implementando a educação diferenciada para as crianças, já que mais de 50% que não conseguiram vagas nas escolas”, conta.


Crianças da Comunidade autogerida Ka’Ubanoko, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel / Brasil de Fato

Na última quarta-feira (30), representantes do Defensoria Pública da União (DPU), do Ministério Público Federal (MPF) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) estiveram na comunidade Ka’Ubanoko para dialogar sobre a situação. 

Segundo Luís Ventura, coordenador do Cimi, no próximo 14 de outubro uma reunião deve acontecer entre MPF, DPU, Operação Acolhida e representantes de entidades internacionais. A reunião também irá contar com a presença de um procurador da República de Brasília (DF), representante da área da Defesa do Cidadão, e também Renan Sotto Mayor, presidente Conselho Nacional dos Direitos Humanos

Eles apresentarão uma petição para que se suspenda a operação do despejo da Comunidade Ka’Ubanoko e solicitar outro prazo, garantindo diálogo, consulta prévia e que as reivindicações dos ocupantes sejam consideradas.

Segundo o coordenador do Cimi essa é uma medida extrajudicial para convencer a Operação Acolhida e, se não atendida, as entidades acionarão judicialmente a operação acolhida. 

Questionados por e-mail sobre a operação, os diálogos realizados, as alternativas para os imigrantes,as condições nos abrigos e as formas de fiscalização utilizada para que os refugiados não sejam enviados para lugares em que sejam obrigados a trabalhar em situação análoga à escravidão, a Operação Acolhida não respondeu e disse que a Casa Civil da Presidência da República deveria ser acionada.

A equipe do Brasil de Fato tentou contato com a instituição, mas também não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

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Imigrantes e Refugiados

Polícia portuguesa agride brasileiras no carnaval de Lisboa

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Por Clara Luiza, de Lisboa , especial para o Jornalista Livres

A folia de carnaval em Lisboa terminou em agressão física por parte da PSP (Polícia Portuguesa) na noite do último domingo (23/02). Duas mulheres brasileiras foram agredidas de forma desproporcional por um grupo de agentes da polícia do serviço especial da capital portuguesa, ao lado da Estação do Cais do Sodré, ponto de encontro dos foliões após os cortejos de carnaval. O vídeo da agressão foi divulgado por uma das vítimas da ação brutal dos policiais.

https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/251294645863829/

Tai Barroso, editora do jornal lisboeta Rosa Maria, mora em Portugal há 2 anos e meio tenta proteger a mulher que estava sendo já violentamente abordada pelos agentes.  Os policiais, então, responderam de forma truculenta. Um deles usa o cassetete para imobilizá-las, joga-nas no chão e, no ápice da falta de controle por parte da equipe de polícia, um outro agente dispara um tiro para o alto, no meio dos foliões. A mulher que estava sendo agredida inicialmente prefere não ser identificada, mas em contato com Tai, revelou que sofreu uma fratura na cabeça e precisou ser suturada com seis pontos. Ela ainda afirmou que a violência foi gratuita e não houve nenhuma razão para que a polícia a agredisse.

a PSP se pronunciou ao jornal português Expresso admitindo que os agentes recorreram ao uso da força para deter uma mulher que, segundo eles, era suspeita de integrar um grupo que causou distúrbios no domingo na zona do Cais do Sodré. Em outras palavras, havia um grupo de foliões ocupando a rua do bar, onde ocorria a ressaca dos bloquinhos de Lisboa, quando a polícia tentou avançar com suas viaturas pela mesma rua e, impedidos pela multidão que ocupava a rua, partiram para a brutalidade.

Abusos por parte da PSP tem se tornado frequentes o suficiente para indicar a xenofobia e o racismo sistemático de Portugal.  Este não é o primeira vídeo de agressão por parte da polícia de portugal que é registrado na rua. Há pouco mais de um mês, no dia 19 de Janeiro, foi o caso de Cláudia Simões, mulher negra espancada por agentes da PSP que se tornou público. Cláudia foi espancada pela PSP em frente à sua filha de 8 anos, após ser insultada pelo motorista do ônibus de Vimeca, região do concelho de Lisboa. O que gerou toda a agressão foi o fato da filha ter esquecido o passe em casa. Depois de agredir, algemar e humilhar Cláudia, a PSP justificou a atitude brutal como “estritamente necessária para o efeito à resistência de Cláudia”.

Cláudia Simões mostra o rosto com hematomas após ataque da polícia portuguesa. Foto: Ana Baião / Jornal Expresso

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Argentina

Bloco de carnaval em Buenos Aires faz homenagem a Marielle Franco

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Foto: Ramón Moser

Do caminhão coberto de tiras de tecido flúor e prateado, vem a voz sem vestígio de sotaque argentino de Gabriela Mercado, cantando “Ai, como eu queria que fosse Mangueira, que existisse outro Zé do Caroço…”. Os surdos marcam o compasso como um coração à espera do estouro da bateria. Ao lado do estandarte, surge a placa da rua Marielle Franco. “Está nascendo um novo líder…”. Um público de mais de mil pessoas, entre argentines, brasileires e outres migrantes, segue o Bloco Cordão de Prata, o primeiro e único da cidade de Buenos Aires, que leva esse nome em homenagem ao rio que une a região.

Quem conduz o quarto desfile anual do bloco é Julia Cavalcante, instrumentista paulista com dez anos de experiência tocando em blocos tradicionais do Rio de Janeiro. Julia foi também uma das organizadoras do ato realizado em Buenos Aires no dia 14 de março de 2018 em homenagem a Marielle Franco. Naquela noite, pelo menos duzentas pessoas se reuniram espontaneamente no Obelisco da cidade estrangeira, ainda desorientadas pela notícia que vinha do Brasil. Com velas, abraços e canto, os migrantes brasileires mostravam concretamente aos militantes argentines do que se tratava a política com afeto defendida por Marielle.

Migrante, afrodescendente e feminista, naquele momento Julia acabara de montar sozinha um projeto cultural em paralelo à sua militância política, o Centro de Estudos da Música Brasileira (CEMBRA) e seu bloco de carnaval. Aos poucos, o projeto tomou todo o seu tempo e se tornou ele mesmo uma militância.

Foto: Ramón Moser

“Quando eu cheguei a Buenos Aires em 2015, percebi que os argentinos adoravam a música brasileira, mas não a conheciam em sua diversidade. Sabiam alguns ritmos do sudeste e da Bahia, mas não muito mais do que isso”, diz. “O carnaval brasileiro que chegava aqui era aquele moldado pelo capital turístico, financiado por marcas de cerveja e padronizado, sem a autenticidade e a diversidade estética que caracterizam o carnaval popular”.

Com o CEMBRA e o bloco, Julia, que agora conta com uma equipe composta por seus principais afetos na cidade, busca apresentar ao público argentino o verdadeiro carnaval comunitário de resistência, feito por e para o povo, e, com ele, os ritmos tocados em todo o país. Além de Zé do Caroço, o repertório de 2020 teve marchinhas dos anos 70, ijexá, maracatu, forró, funk carioca e duas cumbias, para também agradecer a cultura que há quatro anos recebe o carnaval brasileiro em suas ruas.

 

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