Quem tem voz nos meios de comunicação?

Por Patrícia Adriely, com fotos de Florence Poznanski e Patrícia Adriely

As reflexões sobre os silenciamentos da mídia feitas pelo grupo de pesquisa fazem parte da programação da Semana da Democratização da Comunicação, que acontece em Belo Horizonte até o domingo (22 de outubro).

“Decidimos abrir esse espaço para discutir o que a mídia diz e não diz e para poder debater a pesquisa dentro do FNDC”. Foi desta forma que a secretária geral do comitê Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) de Minas Gerais, Florence Poznanski, ressaltou a importância do seminário “Os silenciamentos da mídia”, promovido durante a Semana Nacional pela Democratização na Comunicação, em 20 de outubro. O debate ocorreu num contexto em que as redes sociais se mobilizaram, nesta semana, pela falta de repercussão do maior atentado da história da Somália.

Silenciar não é só omitir

A jornalista e doutoranda em Análise do Discurso, Eliara Santana, apresentou uma análise sobre como ocorre o silenciamento na mídia brasileira. Ela afirmou que o silêncio não é apenas deixar de dizer, mas sim utilizá-lo para uma estratégia de produção de sentido. “Ao silenciar assuntos, a mídia reconfigura o cenário político e econômico, não é uma simples omissão. O silenciamento não é só a ausência, mas a falta de dimensão e contextualização. Os dados são citados, mas não contextualizados”, declarou, dando um exemplo sobre a falta de destaque nos principais jornais brasileiros sobre a notícia da saída do Brasil do Mapa da Fome, em 17 de setembro de 2014.

O silêncio de Mariana

A jornalista e professora da UFMG, Ângela Carrato, também apresentou um caso de silenciamento da mídia, com foco na imprensa mineira. Ela afirmou que no rompimento da barragem localizada em Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, os veículos de imprensa não buscaram informações e documentos que evidenciavam a caracterização do fato como um crime e que eles abordaram o assunto como tragédia ou acidente. “Nós vimos os relatos a partir de dados oficiais, chancelados pela própria Samarco. A mídia tirou a responsabilidade da empresa e do governo e apresentou os fatos sem contexto, com foco na tragédia. Temáticas a ver com a mineração não foram abordadas. A cobertura da mídia internacional fez o que a nacional não fez”, criticou.

Além da mídia

O coordenador da Comissão da Verdade em Minas Gerais e professor da PUC Minas, Robson Sávio, salientou que o silenciamento da mídia é uma consequência do modelo da sociedade brasileira. “Por causa de uma cultura que programatiza a nossa sociedade, a mídia tradicional apropriou em grande medida do espaço que deveria ser libertário. Ter acesso à informação adequada e segura nunca esteve garantido no Brasil”.

Visão dos jovens

As estudantes secundaristas Danielle Sarah Oliveira e Lívia Iannarelli apresentaram um projeto desenvolvido por elas, chamado MídiaMente, sobre a percepção dos jovens acerca da influência da mídia. Elas fizeram um levantamento com 400 alunos de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte e constataram o grande desconhecimento do assunto entre as pessoas de 11 a 17 anos.

De acordo com a pesquisa, 83% dos entrevistados afirmaram que algumas vezes a mídia influencia a sociedade e 5% disseram que nunca. Além disso, nenhum dos estudantes conheciam a mídia alternativa. “Nossa intensão é levar para os jovens essa ideia de que eles são influenciados o tempo todo por tudo, para que eles possam quebrar essa ideia de serem autossuficientes e passem a pesquisar e entender um pouco mais sobre o que está acontecendo”, declarou Danielle.

O encontro, que teve parceria do FNDC com o Grupo de Estudos em Mídia e Discurso da PUC Minas, foi realizado no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

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