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Que Pindorama queremos?

Na foto vemos a jovem entrevistada Tamikuã Txihi

 

“Estamos aqui para dizer a essa sociedade que quer fazer cinza da nossa mãe e irmã natureza, devastando tudo em troca do dinheiro, que dinheiro se acaba, mas a nossa resistência pela Mãe Terra não. Vamos defendê-la com nossa vida, com nosso corpo, com nosso espírito.” Essa é a mensagem da jovem liderança Txihi do povo Pataxó, integrante da comunidade Tekoa Itakupe, da terra Indígena do Jaraguá, São Paulo. 

 

A devastação da Amazônia ocorre desde que essa terra deixou de ser Pindorama para se chamar Brasil, como ela nos contou:  “Enquanto jovem, venho aqui trazer a luta e a força da mulher Pataxó, a luta e a força da mulher Guarani, a luta das mulheres indígenas desse território que hoje tem o apelido de Brasil, mas a gente reconhece como Pindorama ou Abya Yala, que é toda a América Latina, respeitando a memória dos povos Cunas.”  

 

Sendo a América Latina o berço do pulmão do mundo, a Amazônia, nada mais significativo do que seu território ser intitulado ‘terra de sangue vital’, que é o significado de Abya Yala. Segundo os últimos dados do INPE, em 2018 o desmatamento  aumentou 8,5% em relação a 2017. O fato da fumaça atingir regiões longínquas, como São Paulo, demonstra que em 2019 o nível de desmatamento será consideravelmente maior. Veja abaixo uma foto disponibilizada pela NASA mostrando os focos da fumaça: https://www.earthobservatory.nasa.gov/images/145498/uptick-in-amazon-fire-activity-in-2019

 

A agressão contra os povos nativos é crescente: em 2018 foram 135 assassinatos, enquanto em 2017 foram 110, conforme o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, de 2019. Só nos primeiros nove meses já foram 160 casos de ¨invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio¨, enquanto em 2018 foram 109. O ano nem terminou e o índice de violência já superou do ano passado. Márcia Mura, liderança do povo Mura e coordenadora do coletivo Mura em Porto Velho, nos contou um pouco sobre a violência sofrida na luta pela demarcação da Terra Indígena Itaparanã. 

Márcia Mura durante a entrevista.

 No dia 5 de agosto, ela deixou seu povo de Nazaré, às margens do Rio Madeira, de barco, em um percurso que durou doze horas: saiu uma da tarde e chegou em Porto Velho onze da noite. Ao chegar em Porto Velho, seguiu para o território Itaparanã, no Amazonas, onde conseguiu se encontrar com o filho, a nora e o neto de oito meses. Quando lá chegou, entendeu a situação: ‘Tinham denunciado que havia gente cortando as árvores das terras indígenas sem autorização’. Então ela, como liderança, e os guerreiros foram verificar a denúncia.. Um fazendeiro havia invadido a terra deles e já estava fazendo os registros dessa invasão para mandar ao ministério público. 

 

A situação da comunidade indígena é terrível: o cacique morreu por negligência médica, o território está sendo invadido por fazendeiros, que cortam as árvores sem autorização. 

 

Foi um longo caminho até a Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, no dia 13 de agosto: depois de três dias, voltou para Porto Velho, seguiu de carona até Humaitá, e de lá pegou uma lotação de táxi para Porto Velho. Como a nora estava com sintoma de malária, o filho e a nora também foram junto para fazer o tratamento. Depois, vendo as fotos das parentas que já haviam chegado à marcha, ela começou a escrever para várias pessoas pedindo financiamento, e conseguiu que uma companheira comprasse sua passagem de avião. 

 

A jovem liderança Txihi também nos contou um pouco sobre a recente violência contra seu povo: no dia 16 de julho, a exposição de peças artísticas indígenas no Centro Cultural Mestre Assis do Embu (Embu das Artes, São Paulo) foi destruída à noite. As peças expostas de Txihi, representações de onças com seus filhotes, tiveram as cabeças das foram cortadas. Para a artista, a mensagem que queria passar era de esperança no futuro  aos jovens indígenas. Txihi, todavia, continua acreditando que ‘as artes são instrumentos de luta e defesa dos territórios e conhecimentos dos povos originários, os novos arcos e flechas que vão lançar os sonhos da humanidade ao futuro.’  

 

Txihi é assistente social e mesmo com as contínuas e crescentes violência contra seu povo tem fé no futuro e na humanidade. Ela veio de ônibus até Brasília, até o Congresso Nacional para ‘mostrar que é possível ocupar esses espaços de poder, e se eu cheguei até aqui, até o gramado, é porque quero que as futuras gerações estejam lá dentro, especialmente as mulheres. Nós, mulheres indígenas, somos fortes.’     

 

Comentários

Uma resposta para “Que Pindorama queremos?”

  1. Avatar de Camila Tenorio Cunha
    Camila Tenorio Cunha

    Até quando esta destruição e matança seguirá? Eles estavam aqui primeiro, o homem branco é o invasor. Fora isso, temos que aprender com eles, os indígenas, porque eles convivem na natureza sem destruir, em perfeita harmonia.
    Bom texto

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