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Greve dos Caminhoneiros

Por que a greve dos caminhoneiros é mais do que justa

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Por Katia Passos e Lina Marinelli, dos Jornalistas Livres

Alpha é caminhoneiro autônomo. Ele e seus companheiros de ofício organizam a vida cotidiana por intermédio de grupos de whatsapp. É assim que trocam informações sobre as condições das estradas, onde estacionar com segurança, assaltos, acidentes, valor de frete. Um assunto sempre presente nesses grupos são as condições subumanas de trabalho da categoria.

A vida dos caminhoneiros sempre foi mesmo muito dura: ficam dias longe da família, expostos à rotina de assaltos nas estradas e muitas vezes assassinados. Para economizar, dormem na boléia dos caminhões. O caminhoneiro suporta uma carga pesada em cima dele. Mas, nos dois últimos anos, o que já era difícil tornou-se ainda pior com a alta do preço dos combustíveis. Chegou no limite. Metade da despesa é com óleo diesel. Somam-se os custos com teste toxicológico, pedágio alto, preço do pneu, e a manutenção do caminhão. Segundo um caminhoneiro, “é muito tapa na cara”. Os caminhoneiros estão “pagando para trabalhar”.

Foi por isto tudo que o movimento explodiu agora, apesar de seus sindicatos fracos e desunidos. Onde antes havia assembleias gigantescas para decidir a paralisação de atividades, agora florescem grupos de whatsapp que funcionam como fóruns de deliberação e encaminhamento. E há os encontros presenciais, com a ocupação de trechos inteiros das estradas, onde se afinam as relações de confiança, as parcerias, as solidariedades visando a ação.

No Brasil, os caminhoneiros autônomos representam 46% da frota nacional, mas no transporte de até 29 toneladas eles representam 67% da frota nacional.

Nos dois últimos anos, desde o golpe contra Dilma Rousseff, houve uma escalada do preço dos combustíveis, com aumento diários de preços. A federação dos petroleiros aponta que “mesmo sabendo das consequências, Temer e Parente optaram por satisfazer o mercado e, em julho do ano passado, os reajustes nas refinarias passaram a ser diários. Desde então, a Petrobrás alterou 230 vezes os preços nas refinarias. Isso resultou em aumentos de mais de 50% na gasolina e diesel, enquanto os preços do gás tiveram 60% de reajuste”.

 
Para conhecer melhor o movimento que está parando o Brasil, Jornalistas Livres procuraram “Alpha Caminhoneiro”, um profissional autônomo, liderança da categoria. Alpha preferiu não se identificar porque desconfia dos auto-proclamados representantes da categoria –e não quer se tornar mais um. Respeitamos.

Nosso encontro com ele aconteceu em São Paulo, no domingo à noite. Ao chegarmos ao ponto de encontro, encontramos um jovem com sotaque sulista misturado a modos e maneiras do interior de São Paulo. Alpha nos recebeu com imensa simpatia e generosidade, embora estivesse com olhar preocupado, em razão da iminência no início do programa dominical da Globo, o “Fantástico”. Ele conhece o poder da Globo para moldar as reações à greve.

IMAGEM: SEBASTIÃO MOREIRA (EFE)

Para se ter uma ideia, só pelo seguro do caminhão, um Volvo FH 380 (3 eixos, ano 2005), mais a carreta com 3 eixos, Alpha Caminhoneiro paga cerca de R$ 18 mil ao ano. Juntos, caminhão e carreta, usam 22 pneus, cada um custando R$ 2 mil. A cada 10 meses, os pneus precisam ser trocados. Num rápido cálculo, o gasto –só com pneus— é de R$ 52.800 por ano. Se qualquer peça do caminhão for avariada, o caminhoneiro precisará arcar com o custo de seu bolso.

Pedimos ao caminhoneiro que simulasse os custos de uma viagem de São Paulo a Feira de Santana, na Bahia. São 2 mil quilômetros de distância entre uma cidade e outra. Só de pedágio, o caminhão paga R$ 263,00 e “bebe” um litro de diesel a cada 2,5 quilômetros rodado. Os preços do diesel variam entre um estado para outro. Mas vamos tomar como base de cálculo a última média anunciada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis): R$ 3,788. Com este valor, o combustível sairá por R$ 3 mil (só ida), ou R$ 6 mil (ida e volta).

 
Quer mais? Uma viagem desse porte, dura em média 3 dias. Para tomar banho e se alimentar nos postos espalhados pelas estradas, o motorista gasta em média 180 reais. Além disso, a responsabilidade por carregar e descarregar o caminhão fica por conta deles também e lá se vão mais R$ 300 reais para o “Chapa”, outro trabalhador que sofre com as condições de exploração que a alta dos combustíveis traz para o país. Eles são aqueles homens que ficam nas marginais e beiras de estrada com cartazes de papelão oferecendo sua mão de obra.

E quanto a transportadora paga ao caminhoneiro?

No frete que simulamos com Alpha, a transportadora cobra do dono da carga cerca de R$ 17 mil reais. Ao caminhoneiro autônomo, entretanto, a transportadora paga apenas R$ 7 mil. Se houver um segundo “atravessador”, esse valor diminui. Mas vamos fechar a conta aqui: CUSTO da viagem = 3.000 + 434 (pneus) + 148 (seguro) + 263 (pedágio) = R$ 3.876. Sobraram quase R$ 3.124 para Alpha. Bom, né? Seria, não houvesse o desgaste do caminhão, que custa mais de R$ 100 mil usado, e se não tivesse mais sacanagem pra cima dele.

O “frete de retorno”, pago quando o atravessador ou transportadora sabem que o caminhoneiro precisa voltar pra casa, sai pelo preço mínimo de custo. Assim, Apha tem de voltar rezando para não acontecer nada com o caminhão, que não quebre nenhuma peça, que não fure nenhum pneu, que ele não fique doente.

Jornalistas Livres – Por que essa greve?
Alpha Caminhoneiro –
Porque não temos mais condições de trabalho, os custos estão altíssimos, a variação do valor do diesel não nos permite saber quanto vamos ganhar por frete, por viagem. É impossível. Uma viagem de ida e volta pro Nordeste leva no mínimo 15 dias, se tudo correr dentro da normalidade, se o diesel aumentar, tudo muda.
O ICMS para cada local é diferente, no Ceará é um, na Bahia, outro.
Não temos como prever as variações e os impactos. O que aconteceu é que muitos colegas vinham trabalhando com a margem mínima de ganhos e muitos ficaram sem dinheiro para voltar das viagens, assim, fazíamos ligações para as empresas que prestamos serviços pedindo ajuda, mas o que ouvíamos é que uma vez que o contrato foi fechado e assinado, não há flexibilização: “Se vire, não temos nada a ver com isso.” Antes da greve, tínhamos que tirar dinheiro do bolso toda vez que os aumentos aconteciam e não conseguíamos voltar para casa se não fosse assim.

Jornalistas Livres – Os donos das transportadoras entraram na greve?
Alpha Caminhoneiro –
Por que, agora com a greve, não vemos caminhões de empresa na estrada? Se a carga é comum, não vamos deixar passar. A empresa vai perder, então prefere não sair. O próprio motorista das empresas, os contratados, estão parando.
Os empresários de transportadoras querem apoiar por interesse, pois se o valor do diesel abaixa, eles terão mais lucros.

Jornalistas Livres – Qual tipo de carga vocês estão deixando passar?
Alpha Caminhoneiro –
Com nota, tudo que é emergencial: combustível para viatura, insumos hospitalares…

Jornalistas Livres – Mas os hospitais têm reclamado que faltam alimentos…
Alpha Caminhoneiro –
Não é verdade. Se na nota não tiver descrição, sempre vai constar o local de entrega. Se é para hospital, seja o que for, não bloqueamos. Essa é a orientação desde o início. Se isso está acontecendo não é uma ação do comando de greve. Nas redes sociais, a população pode ver vídeos de caminhoneiros sendo liberados com a apresentação da nota, principalmente quando se trata de insumos hospitalares.

Jornalistas Livres – Quem participou da reunião com Temer?
Alpha Caminhoneiro –
Nenhum caminhoneiro autônomo ou representante entrou na reunião. Gilmar Bueno foi um que estava lá, piloto de truck. Todos ali eram estranhos, não tinha nenhum autônomo. Quem tinha que entrar e não entrou era o Chorão e nem sequer foi convidado. Achamos que isso serviu para criar uma cena midiática, “vai aparecer na Globo, eles se dispersam e os caras não conseguem se mobilizar de novo.” Mesmo que o Chorão nos diga que, por exemplo, conseguiu que a reivindicação dos eixos suspensos seja atendida, vamos continuar parados pois queremos atendimento integral das pautas.

Jornalistas Livres – Como funciona a estrutura de comunicação de vocês?
Alpha Caminhoneiro –
O nosso trunfo é a comunicação. Temos as pautas de “gargalo”, aquelas de que não podemos abrir mão. Se o motorista que está no zap, não “fecha” conosco sobre o que é indispensável, já sabemos que é alguém estranho no grupo. Temos grupos de whatsapp com esse objetivo. Inicialmente, eram grupos focados em sua maioria no assunto “frete”. Agora, falamos da greve, das pautas, de nossa organização para continuarmos parados. Fomos nós quem iniciamos a greve no dia 18 de maio.

Jornalistas Livres – Mas parece que no ano passado vocês queriam parar?
Alpha Caminhoneiro –
Começamos mais fortemente o debate sobre as pautas em outubro do ano passado. Estávamos ensaiando. Tínhamos esperança que Temer baixasse. Temos muitos grupos de frete que cresceram de 6 meses para cá com esse debate. Nos últimos aumentos, começamos a falar em parar. Principalmente depois do último, quando interpretamos a medida de Temer como uma gozação com nossa categoria autônoma. A imprensa toda estava avisando que poderíamos parar e, mesmo assim, o governo não nos respeitou.

Jornalistas Livres – Sindicatos estão na greve?
Alpha Caminhoneiro –
Não. Sindicatos sempre negaram, nunca quiseram se meter.
Tentaram cooptar a greve no primeiro dia, na Regis Bittencourt, e nós não deixamos, expulsamos eles de lá, pois sempre viraram as costas para nós. Inclusive sempre duvidaram da nossa capacidade de mobilização.

Jornalistas Livres – Quanto ganha uma caminhoneiro autônomo por mês? Média?
Alpha Caminhoneiro –
Depende da região. Não ganha mais do que um caminhoneiro contratado ou um comissionado que não chega a R$ 5 mil. Fora os riscos da estrada, os assaltos, as despesas todas que temos e saem do nosso bolso. Pagamos para trabalhar.

Jornalistas Livres – Quais são as categorias dos caminhoneiros?
Alpha Caminhoneiro –
Somos divididos entre autônomos ou agregados e contratados.

Jornalistas Livres – Quais são as pautas principais da greve?
Alpha Caminhoneiro –
1. Queda de Temer; 2. Convocação de novas eleições; 3. Redução de imposto no diesel, do preço; 4. Frete: queremos que a empresa repasse margem boa de lucro, 80%, para não ficarmos reféns das variações; 5. Revisão das taxas por eixos suspensos em todos os pedágios do país; 6. Melhores condições de trabalho. Regulação da carga horária, pois não temos hora para terminar o trabalho e sofremos com as exigências de quem é contratado.

Jornalistas Livres – O que vocês querem mostrar para o povo?
Alpha Caminhoneiro –
Que se todos saírem às ruas, mudamos o cenário. Temos a impressão que muitos políticos de Brasília vivem vida de rei e nós estamos ficando cada vez mais ferrados. São muitos privilégios para eles. Queremos o povo junto de nós contra tudo isso.

Jornalistas Livres – E a pauta da intervenção militar?
Alpha Caminhoneiro –
Infelizmente há uma parcela de motoristas ignorantes na greve, no sentido de não saberem o que estão falando. São pessoas “de antigamente” que ficam passando isso para os netos. A greve é composta de muitos rostos, muita gente. Tem quem grite Lula Livre, tem separatista, tem gente pedindo intervenção militar.

Jornalistas Livres – Mas temos visto a intervenção como pauta. Qual é o motivo?
Alpha Caminhoneiro –
Acho que é porque uma parcela dos caminhoneiros não acredita mais em ninguém. Não confiam no Temer e em nenhum outro político. Mas intervenção não é pauta oficial. Não é.

Jornalistas Livres – Se a Tropa de Choque ou até o Exército forem para as estradas e atacarem, o que vocês pretendem fazer?
Alpha Caminhoneiro –
Não teremos reação. Não seremos violentos. Tem que ter muito caminhão do exército para tirar os caminhões. Achamos que é blefe. Os caminhões têm rastreamento, precisam de código. Não poderão nos obrigar a digitar a senha.

Jornalistas Livres – O MST organizou na Dutra uma cozinha para os caminhoneiros. Como está essa relação?
Alpha Caminhoneiro –
Não temos nenhuma relação. O pessoal não quer o MST e nem a CUT no meio.

Jornalistas Livres – Mas vocês estão aceitando os alimentos?
Alpha Caminhoneiro –
Sim, estamos. O que não queremos é que essas organizações fiquem tentando se aproveitar da greve para fins políticos, gravando vídeos, por exemplo.

Jornalistas Livres – Então vocês não querem vínculo com nenhum partido ou movimento, mas a intervenção militar está presente em todas as estradas e vocês não estão tirando as faixas…
Alpha Caminhoneiro –
É um ou outro que pensa que intervenção militar é uma boa, é uma minoria.

Jornalistas Livres – Mas se um grevista quiser colocar uma faixa Lula Livre…
Alpha Caminhoneiro –
Pode! Mas a maioria ficou criticando, talvez por isso que não tenham acontecido tantas iniciativas de apoio ao Lula na primeira semana de greve.

Jornalistas Livres – E a greve dos petroleiros?
Alpha Caminhoneiro –
Achamos muito importante. E, ao contrário do que pensam, sabemos diferenciar privatização de estatização. Qualquer classe trabalhadora que pare, será bom para fortalecer a gente.

Jornalistas Livres – Vocês gritaram Fora Dilma. O país está melhor agora com Temer ou na época de Dilma?
Alpha Caminhoneiro –
Concordo que agora está pior. Gritamos Fora Dilma, por que na época em que começamos a perder qualidade de vida, tentamos diversas vezes conversar com ela, mas nós, os autônomos, nunca fomos recebidos. Já com Lula foi diferente. Melhoramos de vida na época de Lula. Teve gente que aproveitou a facilidade para financiar caminhão, estradas importantes para a gente foram duplicadas, os pedágios ficaram com preços justos. Com Lula a gente nem precisava fazer protesto. Com Temer piorou de vez.

Jornalistas Livres – Na sua opinião, já vivemos uma espécie de greve geral?
Alpha Caminhoneiro –
Não existe greve geral se os transportes não pararem.

Jornalistas Livres – Qual é o futuro da greve dos caminhoneiros?
Alpha Caminhoneiro –
Queremos o fim da corrupção. Queremos varrer Temer do país.

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Economia

Um prêmio para a administração da Petrobras

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Imaginemos um país. Poderíamos chamá-lo de Golpelândia ou New Liberalia. O nome não importa, mas fiquemos com o primeiro. O fato é que Golpelândia é um grande produtor de laranjas, tem muitas fábricas de suco de laranja, aptas a suprir quase toda demanda dos Golpeados (nome dado aos habitantes de Golpelândia). Mas, eis que os Golpistas (nome dado à elite governante de Golpelândia) tomaram uma decisão esdrúxula: resolveram exportar laranjas, diminuir a produção de suco nas suas fábricas e importar suco de laranja do exterior.

Espere um pouco! Temos laranjas, temos fábricas de suco de laranja e resolvemos vender laranjas para outros países para importar suco, deixando nossas fábricas ociosas? Sim, isso mesmo.

Nossa salvação é que o suco importado é mais caro e perderá a concorrência para o suco produzido aqui, certo? Errado! Os Golpistas resolveram que o preço de suco de laranja vendido aqui deve ser igual ao preço internacional.

Aí a porca torceu o rabo. Uma parte dos consumidores se rebelou e os Golpistas resolveram acalmar os Golpeados irritados: vão usar dinheiro público para subsidiar o suco preparado com nossas laranjas, vendidas ao exterior, transformadas em suco no exterior (enquanto nossas fábricas usam só parte de sua capacidade de produção), importadas por nosso país e vendidas ao preço internacional. O prêmio da revista “vEXAME” de administradores do ano vai para essa turma.

Agora sério. Veja esse manifesto de professores de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O que descrevem é exatamente a mesma historinha inventada sobre a laranja, só que relativa a produtos que influenciam todas as cadeias de produção de bens no país: combustíveis.

Subsídios para o Diesel Importado?

Recentemente, o conselho de administração da Petrobras, negligenciando os efeitos danosos da volatilidade no preço do petróleo para a atividade econômica, decidiu manter os preços dos combustíveis alinhados com os preços dos derivados no mercado internacional, independentemente dos custos de produção da companhia. Com essa política, a empresa passou a repassar os riscos econômicos da volatilidade dos preços para os consumidores com o objetivo de aumentar os dividendos de seus acionistas. A crise provocada pela reação dos caminhoneiros a essa política é fruto desse grave equívoco.

Para superar essa crise, é indispensável rever essa política. No entanto, o governo decidiu preservá-la, propondo um subsídio para o diesel com reajustes mensais no seu preço. O governo estima que essas medidas custarão R$ 13 bilhões aos cofres públicos até o final do ano, dos quais mais de R$ 3 bilhões serão gastos para subsidiar o diesel importado O ministro Guardia justificou essa medida econômica heterodoxa como necessária para preservar a competitividade do diesel importado.

O Brasil importou 25,4 milhões de barris de gasolina e 82,2 milhões de barris de diesel no ano passado, porém exportou 328,2 milhões de barris de petróleo bruto. Na prática, esse petróleo foi refinado no exterior para atender o mercado doméstico, deixando nossas refinarias ociosas (31,9%) em março de 2018. Nesse processo, os brasileiros pagaram os custos da ociosidade das refinarias da Petrobras e aproximadamente US$ 730 milhões anuais pelo refino de seu óleo no exterior. Não é racional que o Brasil subsidie diesel importado para absorver a capacidade ociosa de concorrentes comerciais.

A Petrobras foi criada para garantir o suprimento doméstico de combustíveis com preços racionais. Não é razoável que o presidente da Petrobras declare que o petróleo produzido no Brasil é rentável a US$ 35 dólares/barril e proponha ofertá-lo aos brasileiros a US$ 70/barril.

Professores do Instituto de Economia da UFRJ:
Adilson de Oliveira
Ary Barradas
Carlos Frederico Leão Rocha
David Kupfer
Denise Lobato Gentil
Eduardo Costa Pinto
Fernando Carlos
Isabela Nogueira
João Saboia
João Sicsu
José Eduardo Cassiolato
José Luís Fiori
Karla Inez Leitão Lundgren
Lena Lavinas
Lucia Kubrusly
Luiz Carlos Prado
Luiz Martins
Marcelo Gerson Pessoa de Matos
René Carvalho
Ronaldo Bicalho
Victor Prochnik

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Greve dos Caminhoneiros

CORTEM NOSSAS ASAS!

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POR LUÍS ANTÔNIO ALBIERO

Os caminhoneiros frearam o país. Bruscamente. O desastre foi inevitável. O engavetamento em que todo o Brasil se meteu resultou em avarias ainda não precisamente avaliadas.Para muitos, no entanto, pareceu à primeira vista ser a oportunidade de o país retomar a rota da qual se desviou por força do golpe dos corruptos de 2016. Para outros, a chance de darmos ré até, pelo menos, o ano de 1964, com alguns militares mais afoitos já acenando com as baionetas pelo retrovisor.

O fato é que o país foi tomado de um misto de desespero e esperança – um e outra em doses excessivas. O que se viu, no entanto, foi uma sucessão de fatos hilários, que já descrevi na crônica “Febeapá Número 3” (publicada apenas no Facebook, nesta mesma página “Crônicas & Agudas”), um verdadeiro “festival de besteiras que assolam o país”, cuja sigla (“Febeapá”) dá nome a duas obras de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista carioca Sérgio Porto, publicadas nos anos 70.

A manifestação dos caminhoneiros, por exemplo, jamais seria tolerada por um governo de militares. Seria reprimida duramente pelas forças policiais.

É um contrassenso manifestantes, que parecem prezar pelo direito de expressão, reivindicarem intervenção militar. É algo tão surreal como um liberto clamar para ser escravizado, um pássaro implorar para que lhe cortem as asas, um leão pedir de joelhos para que o enjaulem num zoológico, um homem livre rogar que o mantenham encarcerado.

Uma pessoa querida me enviou um vídeo em que um ator com cara de tiozão reaça bradava contra a classe política, contra suas “mordomias”, e convocava para um grande ato na avenida Paulista em favor dos caminhoneiros, coisa de “um milhão de pessoas”. Entusiasmada, ela dizia que deveríamos compartilhar o vídeo ao máximo.

Bira Dantas

Ao ver a imagem do ator, já fiquei desconfiado. Mesmo assim, fui até o fim. E acabei jogando um balde de água gelada na euforia da companheira.

O cara não fala abertamente em intervenção militar, mas deixa suficientemente clara sua posição nesse sentido. “Está nas entrelinhas”, disse eu a ela. Ele mencionava destituição ou renúncia de “toda a classe política” e completava dizendo que “pelas urnas não dá mais”…

Perguntei a ela quem é que substituiria “toda a classe política”? Importaríamos governantes da Europa? De Marte? A fala é sedutora, é contra os privilégios, contra os desmandos, contra a corrupção. Em 1964 foi assim também. Acabamos de passar por algo semelhante em 2016, com o impeachment.

E como é que “o povo” iria governar? Quem seria o líder? Como seriam escolhidos os ocupantes dos postos chaves das administrações, desde o governo federal até cada município do país?

Diante de minhas ponderações, ela me disse que talvez Lula pudesse ser esse líder. Eu, lulista de carteirinha, continuei: “Pois é. Mas como? Por aclamação? Ele se tornaria um rei?”

Não existe saída fora da Democracia. Por isso é necessário focar incansavelmente na defesa do estado democrático de direito, no respeito à Constituição, à soberania da vontade popular, ao voto.

Quando Lula se entregou ao invés de fugir, de exilar-se numa embaixada qualquer, mesmo tendo certeza, mais do que ninguém, de sua própria inocência, que recado ele nos deu? Que, chova ou faça sol, temos de respeitar as instituições e brigar por nossos direitos dentro das leis, num ambiente em que impere a legalidade. Contra as iniquidades, contra o arbítrio, nós temos que lutar sempre pelo cumprimento das regras jurídicas democraticamente estabelecidas.

De mais a mais, segui ponderando à minha interlocutora, os políticos que aí estão são reflexo direto da nossa sociedade. Se eliminarmos todos eles, se os levarmos todos de uma só vez a câmaras de gás – como parece que é o desejo insano de grande parte das pessoas –, imediatamente teremos de substituí-los. E na mesma imediatidade os substitutos se tornariam o quê? “Políticos”, ora essa! Ei-los aí novamente, extraídos do mesmo povo, que com igual rapidez reproduziriam os mesmos defeitos, as mesmas mazelas, pois, sendo eleitos ou escolhidos por uma inteligência suprema, eles são todos nós!

O que precisamos é aprimorar nossas instituições, aprimorarmo-nos todos como seres humanos, até que um dia, lá distante, atinjamos o ponto ideal.

“Vai demorar”, disse eu a ela. “Muito”, enfatizei. “Décadas. Séculos!”, concluí.

Ela refletiu, lamentou não ter percebido as intenções contidas no vídeo, lastimou já o ter enviado para muita gente e me agradeceu. Só me restou dizer à companheira: “acontece!…”

O movimento serviu, pelo menos, para a queda de Pedro Parente, desde ontem não mais presidente da Petrobras, mentor de uma política de preços nociva aos interesses da nação brasileira.

Bira Dantas

Assim sendo, fé em Deus e pé na estrada!

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, advogado em Americana-SP, ex-vereador pelo PT de Capivari-SP de 1989/92 e 2001/04).

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Greve dos Caminhoneiros

Se não ele, quem?

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O Brasil vive um pesadelo. 
Depois de anos de uma certa confortável comodidade, o golpe que apeou Dilma do poder, revogando os votos de 54 milhões de brasileiros, entre eles o meu, jogou a nação em um abismo sem fundo.
Antes do golpe, e principalmente durante nossa resistência a ele, os brasileiros já se insurgiam uns contra os outros, porém em menor escala do que nos dias atuais.
Todos estamos assustados, porque a violência tem tomado proporções mais que assustadoras.
Sabemos que casos de violência, não nos enganemos, sempre aconteceram.
Lembro-me de ter escrito um artigo para o Portal Vermelho em 2016, onde denunciava fascistas que foram no enterro de um dirigente do PT para jogar panfletos odiosos caluniando a imagem do falecido.
Quem em sã consciência consegue conceber a ideia de ir a um enterro hostilizar a família de um morto?
Lembro-me de duas senhoras, na porta do hospital onde estava internada dona Marisa, com cartazes perguntando “porque ela não se internava no SUS”.
Quem se esqueceu do tristemente célebre cartaz onde se lia “por que não mataram todos em 1964”?
Perplexo, assisti a uma das cenas mais patéticas que já vi, uma cena onde pessoas ajoelhadas, de mãos na cabeça numa posição de rendição, se prostravam diante de soldados com armas em punho junto a bandeiras do Brasil, num gesto que emulava a entrega de suas vidas, de suas almas, de seus pensamentos, do destino de suas vidas.
Pessoas clamando pelo retorno de um tempo onde a violência era prática rotineira do Estado, um tempo que a maioria dessas sequer vivenciou.
Penso que o momento requer sim uma pacificação, mas que tal pacificação não se dará através de armas, da intervenção militar das Forças Armadas.
A pacificação que vejo para esse momento tem apenas um nome.
Se chama Luis Inácio Lula da Silva.
Libertem Lula! Ouçam o clamor popular! Parem de fingir que ele não lidera as pesquisas para as eleições em todos os cenários. Todas as pesquisas em todos os cenários!
Libertem Lula! Entreguem a ele a interlocução com os setores divergentes, entreguem a ele a mediação do drama dos caminhoneiros!
Eu confio em Lula, confio no seu carisma, na sua sabedoria, na sua experiência.
Não se trata de messianismo, não se trata de culto a personalidade.
Trata-se de enxergar a realidade.
Caminhoneiros, querem apoio popular joguem fora todo e qualquer pedido de intervenção militar, isso é uma imbecialidade!
Peçam pela liberdade de um homem como vocês, do povo.
Petroleiros, querem ainda mais apoio do povo, peçam pela liberdade daquele que foi um dos que mais defenderam a pujança e a independência da Petrobras.
Não há nada mais importante no momento do que defender a liberdade de Lula.
Sem que se desfaça a injustiça que é a prisão de Lula o Brasil não poderá seguir adiante.
Não ter julgado os militares responsáveis pelas torturas durante a ditadura mostra bem isso, que quando não se exerce justiça, pode se por todo um projeto de país a perder.
Libertem Lula!
E sigamos em paz, porque paz se faz com justiça, não com violência.

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