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Pescadores do RN acionam Justiça para receber auxílio 1 ano após maior tragédia ambiental do litoral

Por Mirella Lopes, da agência Saiba Mais

Os nove estados do país atingidos pelo desastre ambiental do derramamento de óleo em seus litorais fizeram manifestações na manhã desta segunda-feira (31) para lembrar que, apesar dos 12 meses passados, até agora nenhum culpado foi punido ou responsabilizado pelas investigações realizadas pela Marinha.

“Se a pandemia deixou as pessoas mais vulneráveis, imagine a situação do pessoal que vive da pesca e que já vem numa situação de fragilidade desde setembro do ano passado. O quilo do marisco que era vendido por R$10, caiu para R$3. É preciso fazer o monitoramento das praias, da saúde dos pescadores e do pescado, mas isso não vem acontecendo”, explica Joane Batista, da Rede Mangue Mar.

Em Natal, o protesto aconteceu na praia de Ponta Negra, próximo ao Morro do Careca. Os pescadores explicam que decidiram entrar na Justiça para garantir o pagamento do benefício ao qual têm direito e que havia sido acordado com o Governo Federal na época do desastre.

“O quilo do marisco que era vendido por R$ 10, caiu para R$ 3”

Joane Batista, Rede Mangue Mar

Das 5 parcelas do seguro, no valor de um salário mínimo, apenas duas foram depositadas. Além disso, uma quantidade ínfima de pescadores tiveram acesso ao dinheiro, já que o pagamento foi feito com base numa lista defasada do ano de 2008. O advogado da Rede Mangue Mar, Luciano Falcão, que está auxiliando os pescadores, entrou hoje (31) com uma ação na Justiça solicitando o pagamento das parcelas em atraso do seguro-emergencial, além de um salário mínimo até a normalização da situação de emergência trazida pela Covid-19.

“Para garantir a segurança alimentar dessas famílias, nós também pedimos na ação, o fornecimento de cestas básicas a cada 15 dias, além de um kit saúde com máscara, sabão, sabonete, água sanitária e álcool gel”.

Trabalhadores que sobrevivem da pesca cobraram Justiça em manifestação realizada na praia de Ponta Negra (foto: Mirella Lopes)

A estimativa é que a resposta à ação impetrada pelos pescadores solicitado o pagamento das três parcelas restantes, além de cestas básicas e kits saúde, saia num prazo de 15 dias.

O desastre ambiental, considerado o maior da história no litoral, atingiu mais de 2 mil quilômetros da costa nordestina e dos estados do Espírito Santo e Rio de janeiro, no sudeste do país. A presidente da Colônia Z10, em Pirangi do Sul, Susana Araújo, explica que a região foi uma das mais afetadas. Na área, que abrange as praias de Pirangi, Búzios, Tabatinga, Camurupim e Barreta, ainda é possível recolher restos do petróleo que ficou preso nos arrecifes.

“Temos 15 km’s de praia e 12km’s de arrecifes. Com a maré alta e ventos mais fortes, como nesse período de julho à setembro, esse óleo que ficou preso nos arrecifes se solta e vai parar na praia. Nossa situação ficou difícil, principalmente, porque o Governo Federal fez o pagamento com base numa lista antiga. Muita gente aposentada e até morta recebeu e o pessoal da ativa ficou de fora. O que salvou foi que testaram nosso pescado, que passou por análise e foi liberado”.

“Muita gente aposentada e até morta recebeu e o pessoal da ativa ficou de fora”

Susana Araújo, pescadora

Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos/IDEMA, as praias no RN são consideradas limpas porque não ocorreram aparições significativas de óleo em 2020, após encerramento da crise. Mas, é possível o ressurgimento ou a liberação de óleo de estruturas impregnadas em pontos específicos, como o que ocorreu em julho de 2020 na praia de Tabatinga. Nessas situações, a limpeza será retomada pontualmente pelas autoridades locais. A análise de 17 amostras de peixes e invertebrados, coletados no dia 27/11/2019 em Pirangi do Sul e Tibau do Sul, também descartou o risco de saúde pelo consumo de peixe.

Governo do RN gastou quase R$ 500 mil com ações para reduzir efeitos do óleo no Estado

Ao todo, 14 municípios foram atingidos diretamente pelo derramamento de óleo no Rio Grande do Norte. (foto: Mirella Lopes)

Ainda em outubro de 2019, o Governo do Estado criou o Comando Unificado de Incidentes para o Enfrentamento das Manchas de Óleo. O relatório final foi elaborado pelo Idema com diferentes instituições, como Ministérios Públicos, Marinha, prefeituras, UERN e Defesa Civil. O Estado gastou sozinho quase meio milhão de reais (R$ 456.464,82) com ações de mitigação.

No RN, foram 14 municípios impactados, 43 pontos atingidos, 14 animais oleados, 34 toneladas recolhidas de material tóxico e outras 34 toneladas foram reaproveitadas. Em junho desse ano, a Marinha do Brasil voltou a registrar o aparecimento de novas manchas de óleo no litoral do Nordeste. O material foi encontrado em praias do Rio Grande do Norte, Alagoas, Pernambuco e Bahia.

Histórico

Os primeiros vestígios de petróleo cru foram identificados pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 30 de agosto de 2019, na Paraíba. O desastre é considerado o maior de história em extensão, foram 2.100 quilômetros da costa afetados. As manchas apareceram em 138 praias de 62 cidades. O material tóxico atingiu corais e afetou a vida de animais marinhos, como as tartarugas, peixes e mariscos. Por ser tóxico, o material que chegou à areia oferecia risco não só aos banhistas, mas também aos voluntários que recolhiam o material sem equipamentos de proteção.

O Governo Federal chegou a apontar um petroleiro grego como suspeito de derramar o óleo. Ele tinha abastecido na Venezuela e tinha a Malásia como destino. A estimativa levantada pela investigação da Marinha é de que 2.500 toneladas de óleo tenham vazado no oceano, essa quantidade representa 1,8% da carga transportada pelo navio.

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