Por Bruno Falci e Karina Morais, de Paris, Especial para o Jornalistas Livres
A última semana em Paris (15 a 21 de setembro) foi bastante intensa no que se refere ao debate acerca da conjuntura política no Brasil. O Jornalistas Livres acompanhou essa agenda e, hoje, destacamos alguns dos acontecimentos que se inserem nesse debate, ora centralizando as discussões em torno do Brasil, ora dialogando com as pautas que borbulham na efervescência do nosso cenário político. Em todas os eventos subimos conteúdos exclusivos, que nossos leitores podem retomar ao visitar nossa página. De todo modo, comprometidos com a circulação dessas informações, sintetizamos aqui o que acompanhamos dessa semana tão intensa na cidade mais visitada do mundo.
Festa da Humanidade
Nos dias 13, 14 e 15, aconteceu a Fête l’Humanité, um dos maiores festivais de esquerda da Europa, organizado pelo Partido Comunista Francês (PCF), por onde circulam cerca de 600 mil pessoas. O evento reúne partidos e organizações do mundo todo, que se encontram para debater temas importantes que envolvem a micro e a macropolítica, bem como celebrar a resistência, envolvidos por shows, performances, exposições e uma diversidade de opções gastronômicas. A festa ocorre há 84 anos e, nesta edição, a ex-presidenta Dilma Rousseff foi convidada de honra. Além de participar da cerimônia de encerramento, com um aclamado discurso sobre a democracia no Brasil, Dilma estampou também a capa do jornal l’Humanité, que informava sua presença em defesa da liberdade de Lula. E não é a primeira vez que uma liderança do Partido dos Trabalhadores é destaque do jornal. Lula protagonizou o editorial do l’Humanité por duas vezes e por duas vezes figurou na capa, sendo que a de maior repercussão o destacava enquanto candidato ao Prêmio Nobel da Paz.
Para além da presença da primeira mulher eleita à presidência no nosso país – impedida de terminar seu mandato por conta da articulação de um golpe extremamente machista e misógino – o debate sobre o Brasil se expressou de várias formas ao longo do festival: por meio de intervenções artísticas em defesa de Lula Livre, por meio de faixas e cartazes em vários estandes de outros países e por meio de debates que se voltavam à discutir o avanço da ultradireita no Brasil e a consequente perda de direitos das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros.
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Veja a cobertura feita do grande espaço da fête de L´Humanite pelos Jornalistas Livres.
Em roda de conversa sobre a sucessão de golpes e sanções contra a América Latina, dado o avanço do imperialismo sobre nossos povos e territórios, dirigentes de diversos partidos de esquerda se colocaram solidários ao povo brasileiro pelo sistemático desmonte nas políticas sociais, sucateando a saúde, a educação e precarizando as condições de trabalho e de vida. Representantes dos partidos comunistas da Venezuela, da Colômbia, do Peru e da França enviaram saudações ao Brasil, por meio do Jornalistas Livres. Confira:
O estande France Amerique Latine, além do Comitê de Paris, dividia espaço também com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), com a Frente Brasil Popular (FBP), com o Comitê Libérez Lula e com uma banca da campanha das argentinas pela legalização do aborto. Disponível estava o abaixo-assinado pela anulação dos julgamentos de Lula, que se somarão a outras 96562 assinaturas arrecadadas em plataforma online. Walter Sorrentino, presidente do PCdoB, discursou acerca da importância da liberdade de Lula dentro do processo democrático e foi também neste espaço que o Coletivo Xote interviu com música, dança e performances, denunciando a ruptura democrática com a prisão política de Lula.
Depoimento de Diana Daros, do Setor de Educação do MST e coordenadora pedagógica do Instituto de educação Josué de Castro (uma escola do MST).
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Apresentação do Coletivo Xote
Dilma na Sorbonne
Cá desse lado do Atlântico, a agenda de Dilma Rousseff foi bastante concorrida. Logo na sequência, a ex-presidenta fez uma longa e disputada conferência na Universidade Paris-Sorbonne (Paris IV), que ocorreu no último 17 de setembro, sob o título: “O Brasil é o país do futuro? Juventude, educação e democracia”. Foi a primeira fala da presidenta após a aparição pública de Michel Temer que confessou ter participado da articulação do golpe, que a impediu de terminar seu mandato.
Veja a Fala de Dilma Rousseff abaixo
Logo na primeira fileira, Marcia Tiburi, filósofa, candidata a deputada federal nas últimas eleições pelo Partido dos Trabalhadores e que se autoexilou por conta de ameaças, ressaltou a importância do pronunciamento de Dilma naquele momento:
No dia seguinte, em 18 de setembro, ocorreu outra conferência com a ex-presidenta Dilma, no Instituto Superior de Relações Exteriores (IRIS), com o eixo “Crise do sistema mundial: quais são as perspectivas democráticas?”, dando continuidade ao debate acerca da defesa da democracia no Brasil e no mundo.
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Fala da Dilma Rousseff no IRIS (Parte 1)
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Fala da Dilma Rousseff no IRIS (Parte 2)
Entre tantas atividades, duas grandes manifestações ocorreram em Paris. Uma, do Coletes Amarelos e, no mesmo dia, em 21 de setembro, pela Greve Climática. Essa segunda responde a uma ação global, em que diversos países organizaram greves, atos e atividades na perspectiva de chamar a atenção para as alterações climáticas no mundo todo, e que diz respeito diretamente aos abusos do mercado, bem como dos governos que não cumprem acordos internacionais de sustentabilidade. Nesse sentido, o debate acerca do que ocorre hoje na Amazônia é central e foi tema também aqui. O “Dia do Fogo”, em que latifundiários, madeireiras e grileiros atearam fogo em diversas áreas da Amazônia, estimulados pelos pronunciamentos públicos e a postura conivente de Jair Bolsonaro, é pauta no mundo todo e reforça o quanto a comunidade internacional reprova essa ação criminosa, que segue dizimando comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Além, é claro, de impor um problema de outra ordem: as propostas dos países imperialistas de intervenção estrangeira e armada na Amazônia. O fato é: no Brasil, na França e no mundo, a Amazônia é a pauta da vez.
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Coletes Amarelos são violentamente reprimidos pela policia de Emanuel Macron, veja a cobertura do confronto feita pelos Jornalistas Livres
Primeiro dia de Greve Climática em Paris. Um grande ato reuniu dezenas de milhares de pessoas que caminharam da Place de la Nation até Bercy onde atividades, discursos e debates aconteceram ao longo do dia.
Depoimento de Célia Xakriabá, liderança indígena brasileira, que é uma das participantes em destaque da greve climática em Paris.
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Segundo dia de greve climática em Paris segue reunindo dezenas de milhares de pessoas.
Nas ruas, nas redes e na academia
depoimentos da Mãe e do Pai de Marielle Franco.
Depoimento de Renata Souza, deputada Estadual do PSOL no Rio de Janeiro, ex-chefe de gabinete de Marielle Franco.
Depoimento exclusivo de Célia Xakriabá , liderança indígena brasileira
Depoimento da filosofa Márcia Tiburi.
Depoimento do vereador de Paris, Hermano Sanches Ruivo, do Partido Socialista Francês, representante da Prefeitura, quer saber quem mandou matar Marielle Franco.
https://www.instagram.com/tv/B2sTLRUhTe_/?igshid=ub7gbp68a0vr
Nós, Jornalistas Livres, temos acompanhado atentamente os debates que envolvem o Brasil e a América Latina, cá no dito “Velho Mundo”. Essa semana em Paris, mais uma vez, reafirma o quanto se faz presente entre a comunidade internacional as discussões acerca das rupturas democráticas que vem sendo praticadas no Brasil, promovidas por um governo ilegítimo e que só se sustenta por meio de golpes e uma sucessão de medidas de austeridade. A compreensão de que Lula é um preso político e, portanto, não há democracia no Brasil enquanto seu processo não for anulado, é amplamente defendido por aqui. Em todos os eventos em que participamos, parece consensual a leitura de que Lula foi impedido de disputar as eleições por se tratar da maior liderança de esquerda no Brasil, capaz de polarizar com a direita e barrar o projeto do golpe. São questões que seguem em pleno vapor não só entre a militância organizada, mas também entre os parlamentares europeus, a sociedade civil e a comunidade científica. Hoje, somos manchete no mundo, mas as notícias que circulam não são de tempos prósperos. Por outro lado, revelam a construção de respostas coletivas que cada vez mais internacionalizam o debate sobre o que ocorre hoje em nosso país.



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