Por: Vinicius Souza – Jornalista Livre, da MediaQuatro e professor da UFMT (com contribuição de Laura Capriglione)
Um amigo de longa data, “de direita, conservador nos costumes e liberal na economia” postou no Facebook o texto do colunista JR Guzzo, da Veja (íntegra aqui), afirmando ser “jornalismo de verdade”. Com três décadas de trabalho em campo e há 10 anos pesquisando e ensinando Jornalismo na universidade, acho que esse tipo de inversão de valores e manipulação perversa precisa ser exposta e contestada. Assim, apesar de detestar com todas as forças da minha alma dar espaço pra esse tipo de gente, ética e profissionalmente não posso me furtar a comentar a obscenidade representada pelo colunista.
Primeiro, chamar o que Guzzo faz de “jornalismo de verdade” é não ter a menor ideia do que é jornalismo, a começar pelo que ele diz ser o objetivo do jornalismo: vender jornais, aumentar a audiência. NÃO, NÃO É !!! O jornalismo pertence a uma área do pensamento, pesquisa e ação chamada de Comunicação Social. Sua função é comunicar o que de fato é importante para a vida saudável e democrática em sociedade. É orientar a população sobre discursos populistas (e muitas vezes mentirosos) que levarão ao desastre social. É investigar de denunciar as mentiras propagadas pelos poderosos. É registrar os fatos históricos da maneira mais honesta possível. Por isso, o jornalismo independente e responsável é um dos pilares da democracia!
Guzzo confunde, propositalmente, Jornalismo com Propaganda. Jornalismo bom é o que tem tamanha obsessão pela verdade factual, que às vezes até afronta o leitor/ouvinte/espectador. A Publicidade, por outro lado, pode jogar pra plateia, pra ficar de bem com a massa. Já o conceito de Propaganda inclui a manipulação das massas. Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda da Alemanha nazista, o cara que alimentou e disseminou, e contaminou até a última essência a sociedade alemã com o vírus do antissemitismo, teria gostado muito do conceito de Guzzo sobre jornalismo. Porque, em vez de esclarecer o país sobre a falsidade do mito da superioridade da raça ariana, Guzzo teria defendido a tese, pra não se afastar de seus leitores. O nome disso é escrotidão!
É fato que toda a imprensa minimamente decente no Brasil (e no mundo) denunciou a farsa que é Jair Bolsonaro e seus apoiadores e a parte mais decente da imprensa é exatamente a que mais sofre e vai sofrer ainda mais com esse governo de destruição nacional, que começou com a preparação do Golpe em 2014, sua efetivação em 2016 e agora tem sua consolidação, tristemente, pelas urnas. É fato que as novas tecnologias de comunicação estão dando um nó na velha imprensa e colocando em xeque a democracia, já que estão municiando a população com desinformação e fake news, ao invés dos instrumentos que a sociedade necessita para fazer suas escolhas de modo consciente. Pensando com a cabeça e não com o fígado. É fato que isso em grande parte está acontecendo exatamente pela ação da mídia hegemônica no Brasil nas últimas três décadas, criando sucessivamente “salvadores da pátria” que se mostrariam rapidamente as farsas que efetivamente são. Desde o “caçador de marajás” das Alagoas até Demóstenes Torres, Serra, Aécio e até mesmo o Eduardo Cunha. Os ídolos com pés de barro Sérgio Moro e Jair Bolsonaro seguirão exatamente o mesmo caminho, não tenham dúvidas.
Fake News nos jornais como a ficha falsa de Dilma Rousseff no DOPs na capa da Folha em abril de 2009 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0504200906.htm e http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/folha-publicou-ficha-falsa-de-dilma/) associada aos spams espalhados no ano seguinte pela equipe de propaganda da campanha à presidência de José Serra via e-mail a exemplo do texto sobre sua “esposa” empregada doméstica abandonada que a estaria processando (https://www.boatos.org/politica/balela-amante-de-dilma-entra-na-justica-e-cobra-pensao-de-presidente.html) são os pais legítimos do kit gay, da mamadeira de piroca e dos guerrilheiros comunistas disfarçados de médicos.
A credibilidade é realmente um valor jornalístico essencial e que foi de fato desprezado pela Grande Mídia em favor de um projeto político de DIREITA e na crença infundada que sua hegemonia (garantida pelo monopólio e oligopólio dos meios de comunicação) jamais seria desafiada (a esse respeito sugiro a leitura do artigo O Pêndulo de um Lado Só, em https://brasilmais40.wordpress.com/2013/09/02/o-mito-do-jornalismo-imparcial/). Foi. E a Grande Mídia está perdendo rapidamente sua hegemonia. Mas dizer que isso ocorre porque os veículos apostaram numa candidatura de esquerda desvinculada dos reais interesses do povo e contra a candidatura que o povo “queria” é uma viagem!! Pior, é uma hipocrisia sem tamanho feita da tribuna do talvez mais venal, corrupto, interesseiro e antipetista dos grandes veículos de comunicação, a Veja (digo talvez, porque em venal temos concorrentes do nível da Isto É e no campo do antipetismo temos o Estadão).
Desde o artigo DE OPINIÃO (uma atividade lateral do jornalismo e francamente perniciosa se não permitir o contraponto) comparando o ativismo dos sindicatos de professores sobre a política educacional com os posicionamentos da indústria do tabaco sobre as políticas de saúde pública (https://veja.abril.com.br/educacao/hora-de-peitar-os-sindicatos/, se você tiver estômago pra ler), nunca mais tive dúvidas sobre a capacidade de manipulação, desinformação e desonestidade intelectual de Guzzo para atingir os seus mais baixos interesses. Aparentemente, agora tenta se manter relevante lambendo as botas do fascismo e jogando pra plateia que acredita em “qualquer coisa”, até que o diabo é melhor do que o PT ou a esquerda no poder. Resta saber se os generais vão aceitá-lo como aliado/capacho ou vão ignorá-lo como também costumam fazer com os puxa-saco.
PS: As capas da Veja tiveram como fonte o Blog https://blogdopaz.com.br/as-capas-da-veja-que-entraram-para-a-historia/ . Gostaria de ter publicado, também, a escrotíssima coluna do mais que escroto e dissimulado Augusto Nunes na Veja em que ele republica da ficha falsa da Dilma, mas está fechado para assinantes da revista (sic). Pra quem ainda tiver estômago, tem também a “bombástica” matéria de capa sobre a fuga de Lula para a Itália… (https://www.youtube.com/watch?v=AxkteZf0f68). O que se divulgou como “furo” nada mais foi do que mais uma fake news.
PS2: Para quem, como eu, não é assinante da Veja, segue abaixo a íntegra do infame texto de Guzzo:
A mídia diante do público
É fácil saber o que aconteceria com uma empresa de ônibus que vende nos seus guichês da rodoviária de São Paulo uma passagem para Belo Horizonte, por exemplo, e leva o passageiro para Piracicaba. Vive fazendo isso, aliás, pois a sua grande dificuldade é anunciar no letreiro a cidade para onde o ônibus realmente está indo. O que aconteceria é o seguinte: os passageiros, um dia, não iriam mais viajar com essa companhia para lugar nenhum. Chega, diriam eles — assim não dá mais. Da mesma forma, se uma pessoa costuma lhe dizer coisas que nunca acontecem, ou simplesmente vive contando mentiras, o mais provável é que você deixe de prestar atenção no que ela diz. Num processo na Justiça, igualmente, uma alegação falsa feita por uma das partes pode lhe causar sérios problemas: todo o resto da sua versão passa a correr o risco de ficar sob suspeita. Para sorte de muita gente, porém, nem tudo funciona assim. A memória dos seus clientes é mais tolerante, ou mais fugaz — e, portanto, mais disposta a esquecer que lhes disseram uma coisa que não aconteceu, ou disseram uma coisa e aconteceu outra, ou, ainda, que aconteceu justamente o contrário do que lhes foi dito que iria acontecer. Faz parte dessa gente de sorte, hoje em dia, a mídia brasileira.
Mas será mesmo sorte — ou, ao contrário, é um problema cinco-estrelas que ninguém está vendo direito? Os leitores, ouvintes e telespectadores podem estar em relativo silêncio, mas há sinais de que a tolerância do público a pagar passagens para uma cidade e ser depositado em outra está deixando de ser uma proteção garantida para a imprensa. Ninguém reclama em praça pública — mas o consumidor de informação nunca reclama em praça pública. Um dia ele simplesmente vai embora, sem dizer até logo, e não volta mais. Quando os proprietários de órgãos de comunicação, e os jornalistas que trabalham neles, percebem o que aconteceu, já é tarde. A menos que tenham o suporte de uma fortaleza financeira em seu conjunto de negócios, podem encomendar o caixão — e os cemitérios brasileiros de jornais, revistas, rádios, televisões e, ultimamente, páginas eletrônicas que se imaginavam a última palavra em matéria de jornalismo moderno estão cada vez mais lotados. A diminuição do público interessado em acompanhar o que a mídia lhe diz não começou agora, é claro. Há dez ou quinze anos a migração passou a ganhar volume — e não parou mais, por motivos que já foram explicados em milhões de palavras, a maioria delas, aliás, lida por bem pouca gente. Mas, pelo menos no caso do Brasil, provavelmente não tinha havido até esta última campanha eleitoral uma oportunidade tão clara de medir o tamanho da distância, a cada dia maior, que separa hoje o que a imprensa imprime ou põe no ar daquilo que existe nos corações, mentes e sentimentos da audiência. É um abismo. A mídia diz uma coisa. O público acha o contrário. A mídia anuncia que vão acontecer os fatos A, B e C. Não acontece nenhum dos três. A mídia quer que as pessoas façam isso ou aquilo. As pessoas fazem exatamente o oposto.
Para que ficar tentando esconder a realidade? O que acaba de acontecer na eleição, muito simplesmente, foi o maior fiasco que os meios de comunicação brasileiros já viveram em sua história recente. É melhor assinar logo o boletim de ocorrência, admitir que alguma coisa deu horrivelmente errado e pensar, talvez, se não seria o caso de averiguar quais falhas foram cometidas. Por que a mídia ignorou a lista de desejos, claríssima, que a maioria da população estava apresentando aos candidatos? Por que não tentou, em nenhum momento, entender por que um número cada vez maior de eleitores se inclinava a votar em Jair Bolsonaro? Durante meses seguidos, os comunicadores brasileiros tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer para todos se Bolsonaro continuasse indo adiante — mas nunca pensaram na possibilidade de que milhões de brasileiros estivessem achando que essas coisas trágicas, justamente essas, eram as que consideravam as mais certas para o país. A mídia, na verdade, convenceu a si própria de que não estava numa cobertura jornalística, e sim numa luta do bem contra o mal. Em vez de reportar, passou a torcer e a trabalhar por um lado na campanha, convencida de ter consigo a “superioridade moral”. Resultado: disputou uma eleição contra Jair Bolsonaro e perdeu, por mais de 10 milhões de votos de diferença.
É fácil saber o que aconteceria com uma empresa de ônibus que vende nos seus guichês da rodoviária de São Paulo uma passagem para Belo Horizonte, por exemplo, e leva o passageiro para Piracicaba. Vive fazendo isso, aliás, pois a sua grande dificuldade é anunciar no letreiro a cidade para onde o ônibus realmente está indo. O que aconteceria é o seguinte: os passageiros, um dia, não iriam mais viajar com essa companhia para lugar nenhum. Chega, diriam eles — assim não dá mais. Da mesma forma, se uma pessoa costuma lhe dizer coisas que nunca acontecem, ou simplesmente vive contando mentiras, o mais provável é que você deixe de prestar atenção no que ela diz. Num processo na Justiça, igualmente, uma alegação falsa feita por uma das partes pode lhe causar sérios problemas: todo o resto da sua versão passa a correr o risco de ficar sob suspeita. Para sorte de muita gente, porém, nem tudo funciona assim. A memória dos seus clientes é mais tolerante, ou mais fugaz — e, portanto, mais disposta a esquecer que lhes disseram uma coisa que não aconteceu, ou disseram uma coisa e aconteceu outra, ou, ainda, que aconteceu justamente o contrário do que lhes foi dito que iria acontecer. Faz parte dessa gente de sorte, hoje em dia, a mídia brasileira.
Mas será mesmo sorte — ou, ao contrário, é um problema cinco-estrelas que ninguém está vendo direito? Os leitores, ouvintes e telespectadores podem estar em relativo silêncio, mas há sinais de que a tolerância do público a pagar passagens para uma cidade e ser depositado em outra está deixando de ser uma proteção garantida para a imprensa. Ninguém reclama em praça pública — mas o consumidor de informação nunca reclama em praça pública. Um dia ele simplesmente vai embora, sem dizer até logo, e não volta mais. Quando os proprietários de órgãos de comunicação, e os jornalistas que trabalham neles, percebem o que aconteceu, já é tarde. A menos que tenham o suporte de uma fortaleza financeira em seu conjunto de negócios, podem encomendar o caixão — e os cemitérios brasileiros de jornais, revistas, rádios, televisões e, ultimamente, páginas eletrônicas que se imaginavam a última palavra em matéria de jornalismo moderno estão cada vez mais lotados. A diminuição do público interessado em acompanhar o que a mídia lhe diz não começou agora, é claro. Há dez ou quinze anos a migração passou a ganhar volume — e não parou mais, por motivos que já foram explicados em milhões de palavras, a maioria delas, aliás, lida por bem pouca gente. Mas, pelo menos no caso do Brasil, provavelmente não tinha havido até esta última campanha eleitoral uma oportunidade tão clara de medir o tamanho da distância, a cada dia maior, que separa hoje o que a imprensa imprime ou põe no ar daquilo que existe nos corações, mentes e sentimentos da audiência. É um abismo. A mídia diz uma coisa. O público acha o contrário. A mídia anuncia que vão acontecer os fatos A, B e C. Não acontece nenhum dos três. A mídia quer que as pessoas façam isso ou aquilo. As pessoas fazem exatamente o oposto.
Para que ficar tentando esconder a realidade? O que acaba de acontecer na eleição, muito simplesmente, foi o maior fiasco que os meios de comunicação brasileiros já viveram em sua história recente. É melhor assinar logo o boletim de ocorrência, admitir que alguma coisa deu horrivelmente errado e pensar, talvez, se não seria o caso de averiguar quais falhas foram cometidas. Por que a mídia ignorou a lista de desejos, claríssima, que a maioria da população estava apresentando aos candidatos? Por que não tentou, em nenhum momento, entender por que um número cada vez maior de eleitores se inclinava a votar em Jair Bolsonaro? Durante meses seguidos, os comunicadores brasileiros tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer para todos se Bolsonaro continuasse indo adiante — mas nunca pensaram na possibilidade de que milhões de brasileiros estivessem achando que essas coisas trágicas, justamente essas, eram as que consideravam as mais certas para o país. A mídia, na verdade, convenceu a si própria de que não estava numa cobertura jornalística, e sim numa luta do bem contra o mal. Em vez de reportar, passou a torcer e a trabalhar por um lado na campanha, convencida de ter consigo a “superioridade moral”. Resultado: disputou uma eleição contra Jair Bolsonaro e perdeu, por mais de 10 milhões de votos de diferença.
Não é função dos órgãos de comunicação disputar eleições, é claro, muito menos perder. É o pior dos mundos. Já que decidiram fazer a coisa errada, engajando o seu trabalho a favor de um lado e contra o outro, deveriam, pelo menos, evitar o papelão de acabar surrados pelo candidato que declararam “inimigo” e por seus quase 58 milhões de eleitores. Isso, para usar português claro, significa que você está falando, mas ninguém está ouvindo o que você diz — ou ouvindo tão pouco que não faz diferença nenhuma. É a tal “credibilidade” — a sua capacidade de ser acreditado entre os semelhantes, ou levado a sério por eles. No caso da eleição de Jair Bolsonaro, a credibilidade foi para o espaço. Como passar seis meses seguidos ou mais fazendo uma operação contínua contra o candidato menos equipado materialmente para disputar a campanha eleitoral e constatar, no dia da apuração, que todo esse esforço não resultou em nada? A conclusão é que o público está pouco ligando para o que a mídia lhe diz. A partir daí, ela se torna irrelevante na vida real. Fica como arquibancada em jogo de futebol: xinga o juiz de ladrão e o técnico de burro, mas não altera em nada o resultado do placar.
Os fatos estão aí, confirmando a futilidade de projetos para ganhar eleições livres, hoje em dia, sem combinar o resultado com as pessoas de carne e osso que vão votar. Inventou-se como estratégia, desde o começo, que o ex-presidente Lula era candidato à Presidência da República em 2018 — não apenas isso, a mídia garantia que ele era o favorito disparado para ganhar. Foi uma falsificação integral. Lula não podia ser candidato, porque estava e está na cadeia, condenado a mais de doze anos como ladrão em duas instâncias da Justiça brasileira. Mas os “institutos de pesquisa” asseguravam que Lula tinha “40% dos votos”, que havia “avançado mais X pontos”, que ganhava de todos os outros candidatos — e a imprensa, em peso, reproduzia essa fábula em suas manchetes. Só quando o próprio Lula, em pessoa, anunciou que não era candidato, as pesquisas retiraram o seu nome da lista. No meio-tempo, manteve-se viva por vários dias a ficção de que “a ONU” iria obrigar o Brasil a aceitar a candidatura — chegaram a convocar o STF para julgar essa aberração. Sai Lula, entra Fernando Haddad. Sete dias antes da eleição, uma das “pesquisas”” deu Haddad com “22%”, numa “ascensão” que só poderia levá-lo, matematicamente, à vitória. Para não deixar dúvidas, todos os meios de comunicação repetiram até o dia da eleição que Bolsonaro perderia de “todos os outros candidatos” no segundo turno, em “todas as pesquisas”. Deu-se o exato contrário.
Nos dias finais da campanha apareceu uma reportagem tentando mostrar que haviam sido feitas doações para que Bolsonaro pagasse uma campanha de notícias falsas contra os adversários — em cima disso, pediu-se a “anulação do primeiro turno”, inclusive com atrizes da Globo exigindo, num vídeo eleitoral especialmente irado, “uma atitude” do Supremo. Falsa, mesmo, só a reportagem — reproduzida maciçamente através da imprensa até morrer de inanição, por ausência de fatos, de pé e de cabeça. A brutal tentativa de homicídio que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora foi geralmente tratada como uma notícia menor, fruto natural do “ódio” trazido à campanha em grande parte por ele próprio. Até hoje, a maioria dos jornalistas se refere ao episódio como “a facada”; é jornalisticamente incorreto escrever que um criminoso quis assassinar Bolsonaro. Desde o início da campanha, os mais potentes cérebros da análise política do Brasil deram como fato científico que a candidatura de Bolsonaro iria “desaparecer” assim que começasse o horário eleitoral obrigatório na TV, no qual ele contava com poucos segundos. No mundo dos fatos, Bolsonaro ganhou a eleição — e o candidato que tinha o maior tempo de TV não conseguiu nem 5% dos votos.
Os fatos estão aí, confirmando a futilidade de projetos para ganhar eleições livres, hoje em dia, sem combinar o resultado com as pessoas de carne e osso que vão votar. Inventou-se como estratégia, desde o começo, que o ex-presidente Lula era candidato à Presidência da República em 2018 — não apenas isso, a mídia garantia que ele era o favorito disparado para ganhar. Foi uma falsificação integral. Lula não podia ser candidato, porque estava e está na cadeia, condenado a mais de doze anos como ladrão em duas instâncias da Justiça brasileira. Mas os “institutos de pesquisa” asseguravam que Lula tinha “40% dos votos”, que havia “avançado mais X pontos”, que ganhava de todos os outros candidatos — e a imprensa, em peso, reproduzia essa fábula em suas manchetes. Só quando o próprio Lula, em pessoa, anunciou que não era candidato, as pesquisas retiraram o seu nome da lista. No meio-tempo, manteve-se viva por vários dias a ficção de que “a ONU” iria obrigar o Brasil a aceitar a candidatura — chegaram a convocar o STF para julgar essa aberração. Sai Lula, entra Fernando Haddad. Sete dias antes da eleição, uma das “pesquisas”” deu Haddad com “22%”, numa “ascensão” que só poderia levá-lo, matematicamente, à vitória. Para não deixar dúvidas, todos os meios de comunicação repetiram até o dia da eleição que Bolsonaro perderia de “todos os outros candidatos” no segundo turno, em “todas as pesquisas”. Deu-se o exato contrário.
Nos dias finais da campanha apareceu uma reportagem tentando mostrar que haviam sido feitas doações para que Bolsonaro pagasse uma campanha de notícias falsas contra os adversários — em cima disso, pediu-se a “anulação do primeiro turno”, inclusive com atrizes da Globo exigindo, num vídeo eleitoral especialmente irado, “uma atitude” do Supremo. Falsa, mesmo, só a reportagem — reproduzida maciçamente através da imprensa até morrer de inanição, por ausência de fatos, de pé e de cabeça. A brutal tentativa de homicídio que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora foi geralmente tratada como uma notícia menor, fruto natural do “ódio” trazido à campanha em grande parte por ele próprio. Até hoje, a maioria dos jornalistas se refere ao episódio como “a facada”; é jornalisticamente incorreto escrever que um criminoso quis assassinar Bolsonaro. Desde o início da campanha, os mais potentes cérebros da análise política do Brasil deram como fato científico que a candidatura de Bolsonaro iria “desaparecer” assim que começasse o horário eleitoral obrigatório na TV, no qual ele contava com poucos segundos. No mundo dos fatos, Bolsonaro ganhou a eleição — e o candidato que tinha o maior tempo de TV não conseguiu nem 5% dos votos.
Mais do que tudo, talvez, a mídia não chegou nem perto de entender uma realidade evidente: a maioria do público brasileiro, nos dias de hoje, pensa basicamente o contrário do que pensam os jornalistas e os donos dos veículos de comunicação. Tem valores opostos aos dos comunicadores. Aprova o que a mídia condena. Condena o que a mídia aprova. É a favor da polícia, que a imprensa considera inimiga dos pobres, e contra os bandidos, que os jornalistas consideram vítimas da injustiça social. Os heróis da imprensa, como a vereadora Marielle, não são os heróis da população. E nem o que a imprensa divulga maciçamente como sendo problemas essenciais para o Brasil é percebido da mesma maneira pela massa — homofobia, racismo, fascismo, machismo, “agrotóxicos”, terras indígenas, torturas cometidas quarenta anos atrás são vistos mais com indiferença do que com indignação. Em questões como a conveniência de eliminar as diferenças entre os gêneros masculino e feminino, deixando em segundo plano as leis da biologia, mídia e maioria estão simplesmente em posições opostas.
Naturalmente, há um preço a pagar por tudo isso. Ele aparece na dificuldade cada vez maior, por parte da mídia, de fazer avanços na única questão que realmente interessa: a batalha pelo público. Ninguém tem ouvido histórias de veículos que triplicaram seus leitores ou sua audiência nos últimos anos; é perfeitamente óbvio, assim, que o método que vem sendo utilizado pela mídia para fazer o seu trabalho está dando errado. Como poderia estar dando certo se os resultados são um desastre? O aviso das eleições está aí. A televisão, em seu conjunto, deixou de existir como um fator de importância numa eleição brasileira — é como se tivesse sido jogada uma bomba de hidrogênio em cima dela.
Até quatro anos atrás era no programa eleitoral obrigatório que tudo se decidia numa campanha; hoje ele não vale nada. Os “institutos de pesquisa” também podem publicar os números que bem entenderem na mídia. Não são capazes de mudar coisa alguma. Não quando dizem que Dilma Rousseff seria “a senadora mais votada do Brasil” — e ela acaba em quarto lugar. Os meios de comunicação, enfim, fizeram uma guerra sem descanso contra Bolsonaro — e sua influência foi absolutamente nula no resultado da eleição.
A internet, o Facebook, o Twitter e o restante do arsenal nuclear que a tecnologia eletrônica despeja a cada momento sobre o universo das comunicações mudaram a política no Brasil em 2018. Há muitos anos vêm transformando a imprensa num animal cada vez mais diferente de tudo o que possa ter sido — e não há sinais de que essa história venha a tomar um novo rumo. Em momentos como este, é uma tragédia que a imprensa brasileira venha demonstrando, no conjunto daquilo que publica em seus veículos, uma inteligência inferior à inteligência média dos seus leitores, ouvintes e espectadores. Desse jeito, torna-se cada vez mais inútil para eles. Da mesma maneira, é complicado manter-se em estado de hostilidade eterna perante o público. É como dizer a todos: “Não queremos mais você por aqui. Vá ler outra coisa. Pista”. Ninguém vai chegar a lugar nenhum por aí.
Naturalmente, há um preço a pagar por tudo isso. Ele aparece na dificuldade cada vez maior, por parte da mídia, de fazer avanços na única questão que realmente interessa: a batalha pelo público. Ninguém tem ouvido histórias de veículos que triplicaram seus leitores ou sua audiência nos últimos anos; é perfeitamente óbvio, assim, que o método que vem sendo utilizado pela mídia para fazer o seu trabalho está dando errado. Como poderia estar dando certo se os resultados são um desastre? O aviso das eleições está aí. A televisão, em seu conjunto, deixou de existir como um fator de importância numa eleição brasileira — é como se tivesse sido jogada uma bomba de hidrogênio em cima dela.
Até quatro anos atrás era no programa eleitoral obrigatório que tudo se decidia numa campanha; hoje ele não vale nada. Os “institutos de pesquisa” também podem publicar os números que bem entenderem na mídia. Não são capazes de mudar coisa alguma. Não quando dizem que Dilma Rousseff seria “a senadora mais votada do Brasil” — e ela acaba em quarto lugar. Os meios de comunicação, enfim, fizeram uma guerra sem descanso contra Bolsonaro — e sua influência foi absolutamente nula no resultado da eleição.
A internet, o Facebook, o Twitter e o restante do arsenal nuclear que a tecnologia eletrônica despeja a cada momento sobre o universo das comunicações mudaram a política no Brasil em 2018. Há muitos anos vêm transformando a imprensa num animal cada vez mais diferente de tudo o que possa ter sido — e não há sinais de que essa história venha a tomar um novo rumo. Em momentos como este, é uma tragédia que a imprensa brasileira venha demonstrando, no conjunto daquilo que publica em seus veículos, uma inteligência inferior à inteligência média dos seus leitores, ouvintes e espectadores. Desse jeito, torna-se cada vez mais inútil para eles. Da mesma maneira, é complicado manter-se em estado de hostilidade eterna perante o público. É como dizer a todos: “Não queremos mais você por aqui. Vá ler outra coisa. Pista”. Ninguém vai chegar a lugar nenhum por aí.
Uma resposta
Veja não é Jornalismo, é concorrente da revista Caras.