Conecte-se conosco

Comunicação

A palavra que mata

Publicadoo

em

O cerco a Getúlio

Meu tio Marcos adorava Getúlio Vargas. Aos dezoito anos de idade, recém chegado ao Rio, saído de uma cidadezinha de Minas, viu seu salário mínimo dobrar. Talvez não prestasse atenção à criação das leis do trabalho, da Petrobrás e do BNDES, nem tampouco aos interesses, locais e mais ao norte, que tais atos contrariavam, mas sentiu no bolso uma folga desconhecida na sua vida mista de estudante e trabalhador.

Estou certo, no entanto, que meu tio e muitos outros perceberam que a perseguição a Getúlio fora executada pelo bloco capitaneado pela imprensa que não dera tréguas até sua morte, como conta Jânio de Freitas:

Desde 6 de agosto, dia seguinte ao atentado [a Lacerda e em que morreu um major], o país passou a viver em torno da exaltação concentrada na República do Galeão, e em crescendo permanente sob a agitação furiosa feita por Lacerda.

Logo acusado do crime por Lacerda, Getúlio ficou indefeso, objeto de um ódio coletivo que se propagava sem limites: monolíticos, a imprensa, a incipiente TV e o rádio, mais do que se aliarem à irracionalidade, foram seus porta-vozes sem considerar as previsíveis consequências para o Estado de Direito.

Após o anúncio do suicídio de Getúlio:

A redação de “O Globo” foi atacada, carros do jornal foram destruídos, o “Jornal do Commercio” teve sua oficina invadida, vários dos 17 jornais foram alvos da massa. Lojas, portarias, ônibus, bondes, automóveis, carros da polícia em fuga, a Câmara dos Deputados e o Senado, as cercanias dos guarnecidos ministérios do Exército e da Marinha, tudo devia pagar pelo abandono em que Getúlio fora deixado por todos, e pela própria massa.

No dia 23, o Brasil estava endoidecido de ódio a Getúlio. No dia 24, enlouquecido de paixão e saudade.

O golpe de 1964

Ainda me lembro de, aos 10 anos de idade, de mãos dadas com minha mãe e meu pai, “marchar com a Família, com Deus, pela Liberdade”, em torno da igreja da matriz de São José dos Campos. A Marcha era um dos preparativos para o golpe que se avizinhava. Não sei dizer se meus pais se sabiam manipulados pela imprensa, contudo, certamente não compactuavam com o ideário conservador de direita que tomaria corpo na sequência.

E novamente, lá estava a imprensa, como narra Emir Sader:

A verdade é esta: no momento mais importante da história brasileira recente, a imprensa ficou do lado da ditadura e contra a democracia.

O golpe militar de 1964 foi mais um produto da crise de desestabilização política que os EUA, aliado a forças locais, promoveram na América Latina. Ele se inscreve na lista dos golpes da Guatemala (1954), do Brasil contra o Getulio (1954), da Argentina contra o Peron (1955), entre tantos outros.

Eles foram sempre arquitetados como se fossem levantamentos civis espontâneos contra governos “despóticos, “cripto comunistas”, isolados por movimentos democráticos de resistência na defesa das liberdades ameaçadas. Depois soubemos que são táticas arquitetadas pelas teorias de contra insurgência, que seriam aperfeiçoadas e aplicadas em outros países da própria região, como no Uruguai, no Chile, na Argentina.

É uma engrenagem indispensável a ação da mídia, para campanhas insidiosas contra os governos, levantando falsas acusações, mentindo, forjando circunstâncias e disseminando um clima de terror, de pânico, entre a população.

Que a democracia estaria em perigo, que as liberdades estão acabando, que a liberdade de expressão esta sendo mortalmente atacada, que a liberdade de culto pode acabar, que a educação estaria sendo alvo de campanhas comunistas de formação da juventude, etc. etc.

A imprensa foi um instrumento ideológico na preparação do golpe e da instalação das ditaduras militares. No Brasil, convocava as Marchas com a Família, com Deus, pela Liberdade, distorcia as políticas do governo, pregava abertamente o golpe militar nos seus editorais, apelava ao fantasma do “comunismo”, servindo os ideias da Doutrina de Segurança Nacional na guerra fria.

E fazia tudo – como se conhece hoje pelo acesso que se tem aos jornais daquela época – como se a democracia estivesse em perigo e o golpe militar, que instaurou o regime ditatorial mais selvagem que o país conheceu, fosse a reinstauração da democracia. Em nome dos riscos que correria a democracia, atuaram abertamente para que a democracia brasileira fosse destruída.

Sem a imprensa, não teria sido possível a criação do clima de desestabilização, indispensável à intervenção dos militares, como para impor a ordem em uma situação que a imprensa propagava que fosse de falta de controle institucional, de uma situação supostamente pré-revolucionária.

A imprensa foi a porta voz dos projetos de ruptura da democracia e de apelo aos militares para que intervissem. Ela saudou o golpe como a salvação da democracia, se pronunciou abertamente a favor da instauração da ditadura e apoiou a repressão como se fizesse parte desse esquema de salvação. Sem a imprensa, não teria sido criado o clima de desestabilização que tornou realidade o golpe e a ditadura militar.

São crimes contra a democracia, que mancharam irreversivelmente os órgãos de imprensa que deles participaram. No momento mais importante da historia brasileira recente, a imprensa ficou do lado da ditadura e contra a democracia.

Diretas Já

Aniversário de São Paulo de 1984 e lá ia eu de camisa amarela pela rua, lembrando da canção de Chico Buarque pelas diretas: “quando vi todo mundo na rua de blusa amarela, eu achei que era ela puxando o cordão”. Usávamos um peça de roupa amarela, não era a camisa da CBF. Embora ainda pairasse no ar certo medo de repressão pelo regime militar, formamos uma massa de mais de 300 mil pessoas na Praça da Sé. A Rede Globo, em seu jornal noturno disse que as pessoas estavam comemorando o aniversário de São Paulo. Ali surgiu o slogan: “o povo não é bobo, abaixo a rede Globo”.

Como narra Najla Passos:

“Quando a multidão ocupou a Praça da Sé, a Globo optou por maquiar o ato e alterar suas finalidades. No telejornal mais visto do país, o apresentador Sérgio Chapelin fez a seguinte chamada: “A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé””.

Conclui ela:

“a hostilidade com que os manifestantes tratavam a emissora só fazia aumentar. Foi nesta época que os protestos de rua passaram a bradar o slogan ouvido até hoje: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Foi nesta época também que os repórteres da Globo passaram a ser achincalhados nas ruas”.

O debate entre Lula e Collor

Depois de longos e cinzentos anos vivíamos uma esperança rejuvenescedora com um candidato à presidência identificado com as lutas do povo brasileiro: Lula passara ao segundo turno da eleição presidencial de 1989. A última eleição direta havia sido em 1960. Ele e Collor desbancaram Ulisses, Covas, Brizola, Maluf, entre outros. A campanha foi recheada de golpes baixos contra o candidato petista, como a declaração do presidente da Fiesp de que milhares de empresários deixariam o país se Lula vencesse, como o caso Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula com quem tivera uma filha, como a aparição de um dos sequestradores de Abílio Diniz com a camiseta do PT e como a pretensa medição de apartamentos de classe média para “verificar quantas famílias poderiam ocupá-los” já que o comunismo era iminente.

Não obstante o jogo sujo, Lula crescia e Collor caia nas pesquisas. Havia aparente empate técnico às vésperas da votação do segundo turno, quando ocorreu o debate na Globo. A edição feita para a matéria do Jornal Nacional realçou todas as falas positivas de Collor e todas as falas negativas de Lula.

Como conta o jornalista Ronald Carvalho, em artigo de Juca Kfouri:

“Eu mesmo tratei de refazer a edição, porque sabia que era uma missão delicada e não quis expor ninguém. Pensei assim: vou editar como se fosse um jogo de futebol. Se foi 5 a 1, e foi 5 a 1 para o Collor, mostrarei os cinco gols dele e o gol do Lula”.

Naquele dia, de acordo com o escritor Antonio Mello, o Jornal Nacional terminou com as seguintes falas de Cid Moreira:

“E quem venceu o debate? O Instituto Vox Populi fez esta pergunta a 490 telespectadores em 114 municípios. 22% dos entrevistados acharam que o debate foi ótimo; 39,5% o consideraram bom; o debate foi regular na opinião de 28% dos telespectadores; e 7,7% disseram que o encontro ficou entre ruim e péssimo.

Veja agora a avaliação do desempenho dos candidatos:

– Melhor desempenho: Collor: 44,5%,Lula: 32%

– Ideias mais claras: Collor: 45%, Lula: 34,1%

– O mais preparado para governar: Collor: 48%, Lula: 30%

– Melhores planos de governo: Collor: 45,9%, Lula: 33%

– Quem atacou mais o adversário?: Collor: 33%, Lula: 30,8%”

E de Alexandre Garcia (no estúdio):

“O debate dos candidatos teve um alto índice de audiência e o público superou o do debate anterior. Ao transmitir o encontro dos presidenciáveis, a televisão cumpriu mais uma vez o seu papel na democracia.”

Criminologia midiática

O professor Eugenio Raúl Zaffaroni, em A palavra dos mortos: conferências de criminologia cautelar, nos conduz para além da criminologia acadêmica. Nos alerta para a a existência e efetividade da criminologia midiática. As duas criminologias conformam as opiniões da média das pessoas e potencializam ao extremo nossa surdez em ouvir a palavra dos mortos.

A criminologia não se reduz a, simplesmente, uma ciência tratada ao nível acadêmico. É preciso atentar para a construção da realidade feita pelos meios de comunicação de massa: a criminalidade midiática, criada pela palavra, “a despeito de estar carregada de preconceitos, falsidades e inexatidões”. A criminalidade midiática., que se opõem a criminalidade acadêmica, forma a atitude da média da pessoas, que se tornam posições politicas que, por sua vez, se transformam em leis.

Às duas criminalidades, acadêmica e midiática, deve-se confrontar a palavra dos mortos: o crime a partir da perspectiva das vítimas da violência mais grave.

“Não se trata apenas, porém, de confrontar, mas também de averiguar se os cadáveres são tais porque as palavras contribuíram para condicionar [ou para não evitar] as condutas que os converteram em cadáveres, posto que é assim que as palavras matam, é assim que a linguagem mortífera opera, ou seja, legitimando, mostrando ou ocultando, descobrindo ou encobrindo”, afirma Zaffaroni.

Se a palavra mata, se a linguagem mortífera, disseminada pelos meios de comunicação, chega ao limite extremo de legitimar assassinatos, milhares de assassinatos, milhões de assassinatos, do que será, a palavra produzida nos meios de comunicação social, capaz em outras violências de discriminação, de opressão, de submissão?

Notas

1 Um dia, um país. Jânio de Freitas (Folha de São Paulo – 24/ago/2014).

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2014/08/1505060-um-dia-um-pais.shtml

2 A imprensa brasileira e o golpe de 1964. Emir Sader (Carta Maior – 10/jan/2014).

http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/A-imprensa-brasileira-e-o-golpe-de-1964/2/29985

3 Os 30 anos do comício que a Globo transformou em festa. Najla Passos (Carta Maior – 24/jan/2014).

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Os-30-anos-do-comicio-que-a-Globo-transformou-em-festa-/4/30084

4 A verdade sobre o debate de 1989. Juca Kfouri (Observatório da Imprensa – 21/ago/2002).

http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mt210820021.htm

5 O papel da televisão. Antonio de Mello (Blog do Mello – 05/out/2007) expõe a íntegra da edição do debate Lula-Collor em 1989, no Jornal Nacional.

http://blogdomello.blogspot.com.br/2007/10/o-papel-da-televiso-ntegra-da-edio-do.html

6 A palavra dos mortos: conferências de criminologia cautelar. Eugenio Raúl Zaffaroni, Saraiva, 2012

Comunicação

Mídia 4P está órfão da sua grande inspiração, o Conversa Afiada

Publicadoo

em

O portal Mídia 4P, mídia independente lançado ano dia 2 de Julho de 2019 para servir à luta antirracista brasileira, central para a pauta nacional, está mais triste desde ontem. Nesta sexta-feira, 31 de julho, encerrou suas atividades a grande inspiração para nossa plataforma, o site Conversa Afiada, liderado até o ano passado pelo grande Paulo Henrique Amorim, pela jornalista Georgia Pinheiro e por uma equipe de guerreiros e guerreiras da mídia alternativa e progressista.

Foi do CAF (como era carinhosamente chamado) e da inspiração no site e no seu capitão que surgiu este Mídia 4P, sempre incentivado das formas mais diversas por PHA, por Georgia e por todos. Entenda mais lendo esse texto aqui, lançado quando da morte irreparável dele, ironicamente poucos dias após o lançamento do nosso site.

Também te convidamos a ler nossa homenagem ao completar um ano dessa grande dor, há poucos meses. Clique aqui para ler completo.

Mas, principalmente, indicamos clicar para ver o texto de despedida do CAF, que lemos com o coração palpitante e os olhos marejados.

Realmente, há pessoas que são insubstituíveis.

O Mídia 4P está órfão da sua grande inspiração!

Adeus e boa sorte! PHA vive!

Continue Lendo

Comunicação

Fênix da voz

Já profetizaram muitas vezes a morte do rádio. Mas como a ave mítica que renasce quando queimada, o áudio ganha novo espaço nos celulares, internet, nos aplicativos, na vida das pessoas.

Publicadoo

em

Por: Anny Carvalho

“Quando surgiu a televisão diziam que o rádio ia morrer, o rádio não morreu. Quando surgiu a FM diziam que o rádio ia morrer, e o rádio não morreu”. É assim que o radialista Antero Paes de Barros começa contando a visão dele sobre as transformações ocorridas no rádio. “A instantaneidade do rádio jamais vai permitir que ele morra. Eu acho que o rádio vai continuar sendo, sempre, um grande veículo de comunicação. Ele é muito útil e mais que útil, necessário. As pessoas têm a necessidade do rádio!”.

Ele está certo. “Todo final de semana é rádio lá em casa. Eu ouço rádio desde quando eu era criança, quando eu ouvia com meus pais das 4h até 6h da manhã o programa do Zé Bettio da Record de São Paulo, uma emissora AM. Eu lembro que estava deitado e meus pais ouviam nesse horário para poder ir tirar o leite. A gente morava no sítio, aí gente ouvia”, conta, com um brilho nos olhos, Mário Máximo, que cresceu ouvindo programas radiofônicos no sítio na cidade de Poconé em Mato Grosso.

Atualmente, Mário ouve o rádio aos finais de semana e quando está dirigindo. “Eu procuro no rádio as músicas que ouvia quando era criança. Eu passei a ouvir a emissora Vila Real FM 98.3 que vai ao encontro da musicalidade que eu ouvia antes nas rádios de antigamente”. Ele gosta de sertanejo raiz. “Hoje, nessa na estação 98.3, eu sempre ouço aos domingos ‘Seu ídolo não morreu’”. Assim como o rádio marcou sua infância marca também a vida de muitos outros brasileiros. 

A diversidade de acesso

Há na atualidade uma ampla variedade de alternativas de se ter acesso a esse meio de comunicação. Podemos escutá-lo em ondas médias, tropicais ou em frequência modulada. Além disso, por meio da TV por assinatura, via satélite, em uma modalidade paga ou gratuita ou mesmo via internet, o que permitiu o surgimento das estações online. Isso sem contar a variedade de receptores, como o próprio aparelho convencional, computadores, players de mp3, celulares.

E essa pluralidade engloba outros fatores, como os  modos de processamento de sinal (analógico ou digital), definição da emissora (comercial, comunitária, pública, estatal ou educativa) e até mesmo o conteúdo (cultural, jornalístico, musical, religioso…). 

A estudante Bianca de Jesus comenta que liga o rádio pela manhã e à noite  para ouvir músicas e notícias quando está indo para a escola e retornando para casa, via celular. “Eu ouço o rádio normalmente no ônibus e em casa para me manter informada das novas músicas e notícias do dia a dia. Não sei direito o nome dos programas, pois escuto diversas frequências”. Ela ressalta uma das particularidades que esse meio tem trazido aos ouvintes desde a sua criação: a divulgação de novos  hits. 

Bianca enfatiza a importância que esse meio de comunicação trouxe à sociedade e a sua instantaneidade. “Apesar dos outros meios de comunicação, o radiodifusão é uma das melhores formas de ficar atento às mudanças do dia a dia. Quando acontece algum desvio em uma das  principais avenidas de Cuiabá, o primeiro meio de comunicação que eu vejo informando sempre é o rádio. Ele informa de  forma rápida”. Para ela, o rádio é hoje um dos meios mais acessíveis. “Eu

acredito que quase todo aparelho de celular possui um aplicativo de rádio e não precisa ter conexão com a internet para ter acesso. Tem muita gente hoje no Brasil que não tem acesso a uma internet de qualidade, mas que pode encontrar no rádio uma maneira de se manter informado”.

De forma parecida,  o seminarista Lucas Matheus ouve o rádio para se manter informado, mas o seu foco está na política e economia. “Eu escuto pelo celular quando estou indo para a faculdade, porque é o jeito que eu tenho de ouvir as notícias ou alguns comentários sobre política. Ele diz que gosta de se manter informado por meio de programas de áudio, semelhantes ao podcast, como formações religiosas.

Já o estudante de engenharia Bruno Gondim  diz que ouve o rádio para fugir da bolha que encontra em outras mídias. “Eu prefiro porque traz uma seleção maior de músicas que não seguem um padrão. Quando você escolhe no youtube uma música sertaneja, por exemplo, o sistema só vai te indicar outros sertanejos”. Bruno conta que quando era mais novo tinha insônia durante as madrugadas e o rádio era um companheiro. “Nessa época o Band Coruja, que passava às 2h. Desde então eu comecei a ficar acordado esperando o

programa começar. Eu gostava do quadro ‘Campeonato Brasileiro de Piadas’. Cansei de ir virado para a escola”. A experiência vivida pelo estudante demonstra como o rádio consegue envolver os ouvintes a ponto de fazê-los perder o horário. 

Sobre isso, o radialista Elias Neto, que começou no rádio em 1979 como locutor noticiarista e animador de programas em Cáceres, comenta que há uma conexão entre o locutor e o ouvinte. “Existia uma vinheta na emissora Vila Real que era a seguinte: O jornal atinge a 40% dos brasileiros a televisão atinge a 80% dos brasileiros. O rádio atinge a todos os brasileiros. Ou você conhece alguém que não tenha rádio? Ela dizia tudo! Isso mudou um pouco, né? Porque hoje nós temos as novas mídias que concorrem com o rádio também. Mas o elo entre o ouvinte e locutor não mudou, pois o rádio toca muito ao coração das pessoas. Ele traz a notícia, mas também traz uma conversa agradável, traz uma música da sua preferência. Enfim são várias as formas de comunicação por esse meio”. Para o radialista, o meio envolve muito as pessoas porque permite quem está ouvindo “desenhar” o que está sendo narrado: o locutor fala diretamente com o ouvinte. “Eu acho que é essa sinergia que

transforma o rádio. O rádio faz essa mágica”, conclui. 

A imortalidade do Rádio

O rádio ao longo do tempo conseguiu ultrapassar as barreiras das ondas hertzianas curtas para as longas e mais recentemente chegou à internet, por meios das emissoras online e podcasts. E é possível ver esse avanço nas histórias contadas acima. Mário conta que a transformação do AM para o FM foi primordial. “Antigamente era muita chiadeira, a frequência era baixa. Dependendo da localização chegava pouco sinal e o rádio começa a chiar. Agora não! Agora a voz sai limpa”.

Sobre a modernização e a resistência desse veículo, o radialista Antero comenta: “Hoje o rádio se modernizou. Para ouvir você não precisa de um aparelho tradicional. Você  pode  ouvir no celular, no computador. Você ouve a informação sonora por meio de podcast quando você tem tempo. Enfim, a modernidade da informação sonora continua presente e resiste.”

O doutor em comunicação Luãn Chagas, diz que hoje existe um novo termo utilizado em muitos estudos a respeito da imortalidade do rádio. “Na atualidade, nós preferimos dizer que temos o rádio expandido. Com esse conceito, temos uma

reorganização sonora que pode ser utilizada tanto em AM e FM, como também no podcast, no rádio hipermidiático, na internet, na webrádio. Todas elas têm a mesma organização da linguagem sonora, ou seja, são várias as possibilidades que constituem o rádio.”O podcast vem ganhando cada vez mais ouvintes. De acordo com uma pesquisa feita pela plataforma de streaming Deezer, foi registrado um crescimento de 67% no consumo nacional só em 2019.  E isso se confirma com a fala do podcaster Fred Fagundes, que tem uma produtora  em Cuiabá. Segundo ele, as pessoas estão descobrindo esse novo formato de rádio. “A nova geração não está acostumada esperar para ouvir um programa numa determinada hora. O podcast oferece a opção on demand. Os mais velhos estão descobrindo um conteúdo ainda mais produzido e recheado de opções”.

“Podcast é você ouvir o que você quer, na hora que você quer, do jeito que você quer. É um amigo imaginário que fala em voz alta. É sentir-se acompanhado o tempo todo. E, principalmente, se informar, emocionar, entreter e aprender durante atividades paralelas.”

A estagiária  Luma Gomes, que ouvia rádio quando pequena, conta que começou a experimentar esse novo formato de rádio recentemente, porque queria estar atualizada quanto às notícias. “Sempre ouço no ônibus, porque como eu passo mais tempo no ônibus do que em qualquer outro lugar, eu aproveito esse tempo já para me manter informada.”. Ela encontrou nesse formato a liberdade de selecionar e personalizar  aquilo que queria ouvir e a comodidade de poder escolher o melhor horário pra isso.

As fases do rádio no BrasilPrimeira fase (1922 – meados da década de 30: surgimento e implantação do veículo.Segunda fase (1935-55): época de ouro do rádio; programas de auditório, musicais, rádio novelas.Terceira fase (1955- anos 60): impacto da televisão, “morte decretada”; transforma-se em um “vitrolão”. Desenvolvimento do radiojornalismo. Transistor.Quarta fase (década de 70 e 80): incremento do jornalismo, prestação de serviços, segmentação, desenvolvimento das FMs. Consolidação do radiojornalismo nas AMs.Quinta fase, (atual): novas tecnologias, novas formas de acompanhar a programação, digital, webrádio. Informações do Blog Contraste.

Glossário :

Onda média 

É uma faixa de rádio compreendida entre 530 kHz e 1700 kHz utilizada para radiodifusão sonora. A menção “AM” deve-se ao modo habitual de transmissão, a modulação em amplitude.

Onda tropical

É uma faixa do espectro eletromagnético correspondente às radiofrequências entre 2300 kHz e 5060 kHz (comprimentos de onda dos 120 m aos 60 m).

FM

É a sigla de Frequency Modulation que em português significa “Modulação em Frequência” e se refere à transmissão de ondas com variação da frequência, proporcionando boa qualidade de som

Podcast

Arquivo digital de áudio transmitido através da internet, cujo conteúdo pode ser variado, normalmente com o propósito de transmitir informações. Ele pode ser associado a uma determinada plataforma, por meio do código  RSS. 

Telecomunicação

O conceito de telecomunicação abarca todas as formas de comunicação à distância. A palavra inclui o prefixo grego tele, que significa “distância” ou “longe”. Como tal, a telecomunicação é uma técnica que consiste na transmissão de uma mensagem de um ponto para outro.

Continue Lendo

Comunicação

Vereador invade programa e diz que é dono de rádio comunitária

Publicadoo

em

A população de Catalão, em Goiás, e os colaboradores da Rádio Top FM, uma emissora comunitária da cidade, foram agredidos essa semana com a invasão do estúdio pelo vereador Rodrigo Carvelo (PODEMOS) alegando ter 50% do “negócio”. Acontece que rádios comunitárias só podem, segundo a lei que as rege, a 9.612/98, ser administradas por entidades sem fins lucrativos. A mesma lei estabelece que “a entidade detentora de autorização para execução do Serviço de Radiodifusão Comunitária não poderá estabelecer ou manter vínculos que a subordinem ou a sujeitem à gerência, à administração, ao domínio, ao comando ou à orientação de qualquer outra entidade, mediante compromissos ou relações financeiras, religiosas, familiares, político-partidárias ou comerciais”. No dia seguinte à invasão, que foi precedida por um ataque cibernético aos computadores da estação, a Associação Brasileira de Rádios Comunitárias emitiu uma nota de repúdio. Leia abaixo na íntegra:

NOTA DE REPÚDIO
   A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias vem a público externar profundo repúdio à ação abusiva, desrespeitosa e repressora do vereador Rodrigo Carvelo (PODEMOS) do município de Catalão, Goiás, quando impediu realização do programa A Hora da Verdade, apresentado pelo Professor Mamede Leão, na Rádio Comunitária TOP FM.
   Na manhã do dia 14 de julho de 2020, quando a 25° edição do programa se preparava para entrevistar outro parlamentar e também um ex-prefeito do município, o computador da emissora responsável pela transmissão do programa, foi invadido e redimensionado com senhas, impossibilitando acesso pelo operador. Após resolução deste fato por colaboradores da rádio e ao iniciarem entrevista, o estúdio da emissora foi invadido pelo vereador, também conhecido por Rodrigão da Força Sindical, acompanhado de dois homens e se dizendo proprietário da emissora. Parte da ocorrência foi gravada e transmitida ao vivo pela rádio e pelo próprio Facebook, até o momento em que um dos acompanhantes recebeu a ordem do vereador para desligar a câmera utilizada para a transmissão de vídeo. Em todo o momento, o parlamentar deixou claro que a intenção era a de impedir a participação do ex-prefeito Jardel Sebba.
   A ABRAÇO BRASIL se solidariza ao comunicador e apresentador do programa Professor Mamede, bem como aos presentes neste episódio lamentável que ilustra quão grande e difícil é a luta daqueles e daquelas que buscam uma comunicação livre, democrática e plural.
   Nesta oportunidade, também esclarece aos que ainda não entenderam a função social de uma rádio comunitária, que, conforme a lei que as regulamenta 9.612/98, em seu artigo 7º, estas emissoras devem ser mantidas e gerenciadas, necessariamente, por fundações e associações locais sem fins lucrativos e NÃO POSSUEM DONOS, muito menos políticos donos.
   O artigo 11 da referida lei explicita ainda que “a entidade detentora de autorização para execução do Serviço de Radiodifusão Comunitária não poderá estabelecer ou manter vínculos que a subordinem ou a sujeitem à gerência, à administração, ao domínio, ao comando ou à orientação de qualquer outra entidade, mediante compromissos ou relações financeiras, religiosas, familiares, político-partidárias ou comerciais”.
   Portanto, a situação colocada pelo vereador Rodrigo Carvelo de que detêm 50% da rádio e outros 50% pertencem à outra pessoa, deve ser veementemente repudiada, denunciada e investigada pelos órgãos competentes e, caso se confirme, o MPF, através das entidades que compõem o Conselho Comunitário deve se organizar para assumir o controle da mantenedora da emissora e tomar as devidas providências a fim de não comprometer a conquista da outorga e, consequentemente, ocorrer a perda deste fundamental canal de comunicação comunitário para aquela comunidade.
   Esperamos que a justiça prevaleça neste e em todos os casos de atentado à livre expressão e ao direito à comunicação. Exigimos! Censura nunca mais!
     Geremias do Santos

Continue Lendo

Trending