Marcha do retorno reúne 30 mil palestinos em Gaza

Por Rodrigo Veloso*, especial para os Jornalistas Livres

Mais de 30 mil palestinos saíram às ruas de Gaza, hoje, para participar da “Marcha do Retorno”, que é um protesto contra as sistemáticas expulsões de cidadãos árabes das suas terras no que hoje configura o estado de Israel, e cuja data específica marca o confisco das propriedades de 6 árabes-israelenses em 1976 para construção de habitações para cidadãos judeus no mesmo lugar.

A marcha foi convocada por dezenas de grupos palestinos, inclusive pelo Hamas, que administra Gaza, mas recebeu também o apoio de organizações internacionais de direitos humanos, e agrega outras pautas importantes para os palestinos no momento em que eles vivem uma crise humanitária no território bloqueado.

As movimentações acontecem, propositalmente, ao longo da cerca na fronteira com Israel para aquilo que o comando do Hamas afirmou ser “a oportunidade de ver com os próprios olhos a beleza das terras roubadas pelos israelenses”.

A tensão no local está no nível mais alto possível, com a administração em Jerusalém deslocando tropas do exército, com armas de controle não-letal, mas também tanques de guerra e até atiradores de elite.

Até agora, 13 palestinos foram confirmados mortos, centenas estão feridos e outras centenas foram presos. Os confrontos ocorrem à medida que israelenses e palestinos trocam hostilidades, mas não há registro de qualquer israelense gravemente ferido.

O governo de Israel, na figura do líder da extrema-direita e ministro das relações exteriores, Avigdor Lieberman, usou até mensagens em árabe diretamente enviadas à população de Gaza para desestimular a participação na manifestação, sob a alegação de que esta estaria sendo manipulada pelo Hamas, uma facção que historicamente se notabilizou pela posição política de não reconhecer Israel.

Por sua vez, os grupos palestinos alegam que Lieberman ignora de propósito a diversidade de grupos que apoiam a causa para tentar desqualificar um protesto legítimo, e pedem que a população continue saindo de casa em direção à fronteira. O chamado, eles dizem, é para um protesto que dure mais do que esta sexta-feira, dia sagrado e de orações importantes para os muçulmanos, e que permaneça nas ruas, inclusive montando acampamentos pelos próximos dias e semanas até o “Nakba”, que é o “Dia da Catástrofe”, a data que marca a partilha do território em 1948.

As próximas horas prometem ser delicadas, já que os países vizinhos, neste Oriente Médio marcado por conflitos, estão recebendo imagens ao vivo das mortes cometidas. Em Israel, já estão sendo convocadas manifestações de apoio ao exército (por grupos nacionalistas de direita) e em defesa de um cessar-fogo com a volta das negociações com os palestinos (por grupos de esquerda e pela comunidade árabe em geral). Reações em outros países da região com maioria muçulmana devem acontecer nas próximas horas. E ainda é aguardado o posicionamento dos EUA sob a administração de Donald Trump. A tensão é muito grande.

*Rodrigo Veloso é bacharel em Relações Internacionais, judeu e ativista LGBT

 

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