Os Jornalistas Livres publicaram nesta semana um texto importante para entender a greve dos caminhoneiros (https://jornalistaslivres.org/um-texto-fundamental-para-entender-a-greve-dos-caminhoneiros/).
Agora a mesma autora lançou um outra nota e sublinhamos este trecho:
“De qualquer forma, reitero que o movimento segue em disputa. Duas grandes entidades de autônomos rejeitaram o acordo proposto na última quinta-feira pelo governo, a Abcam e a Unicam, seus posicionamentos estão publicados na internet. O Sindicato dos Caminhoneiros – Sindicam Amparo com o qual temos uma relação próxima, também soltou nota rejeitando o acordo e rejeitando também qualquer tentativa de locaute por parte das empresas. Os caminhoneiros que estão paralisados também não reconheceram a negociação. Muitos vídeos e opiniões nos chegaram e confirmam que os autônomos estão insatisfeitos porque sequer foram recebidos na Casa Civil. Rechaçaram a forma como o acordo foi costurado, denunciando que as empresas de transporte estão tentando utilizá-los como massa de manobra para seus interesses. Além disso, o Sindipetro anunciou ontem adesão à greve, o que pode mudar completamente o cenário.
Peço, portanto, que tenhamos em mente que é uma categoria de mais de 1 milhão de trabalhadores. Isso, por si só, já revela a complexidade desse atual movimento que vem acontecendo”
Leia na integra este novo texto:
Larissa Jacheta Riberti
Pessoal, jamais imaginei que o texto que escrevi sobre a greve dos caminhoneiros pudesse viralizar. Acredito que isso aconteceu em função do grande desconhecimento que ainda temos com relação à categoria e o setor em geral. Muita gente só se deu conta do quanto somos dependentes do transporte rodoviário de cargas depois que faltaram itens nos supermercados e a gasolina no posto de combustível. Ninguém é obrigado a conhecer a categoria, de toda forma. Mas eu acredito que o diálogo horizontalizado é a melhor maneira da gente se esquivar dessa enxurrada de fake news e de informações distorcidas que a grande mídia insiste em nos empurrar. O texto que eu publiquei suscitou uma série de questionamentos e, com vistas a esclarecê-los, escrevo essa nota. Lembrando que eu não sou senhora da razão nem a luz que iluminará a consciência de vocês ou dos caminhoneiros sobre a situação atual. Sou apenas alguém que teve a sorte de trabalhar com isso nos últimos anos e que reflete sobre questões e acontecimentos relativos ao setor.
1) Perguntaram se as opiniões da direita não me incomodam: Sim, a direita me incomoda só de existir. No entanto, da direita eu não espero nada, já da esquerda eu espero bom senso, lucidez e muita calma na hora de opinar sobre algo ou montar teorias da conspiração;
2) Muitos estão reiterando o fato de que os caminhoneiros pedem intervenção militar: Sim, existem caminhoneiros que assim o fazem, mas também existem caminhoneiros que sabem que o golpe de 2016 foi responsável por essa lama que nos afunda até o pescoço. Convido a todos a olharem os comentários de membros da categoria na página do Chico da Boleia. Reitero também que sou veementemente contra intervenção militar ou qualquer sentimento de nostalgia ou de saudosismo à época da ditadura. Também sou contra Bolsonaro e qualquer tipo de discurso e/ou prática autoritária e fascista. Nesse sentido, posso dizer que o veículo de comunicação no qual trabalho também nutre desse mesmo posicionamento.
3) Questionaram qual a diferença da greve de 2015 para esta agora. Explico (é textão, desculpa):
A diferença é a seguinte: em fevereiro de 2015, a greve dos caminhoneiros foi puxada pelas transportadoras supostamente contra o preço do diesel e dos pedágios. No entanto, o que se queria naquele momento era a aprovação da Lei 13.103, a nova lei do motorista. Pra quem não sabe, em 2012, a Dilma sancionou a Lei 12.619, a Lei do Motorista, que era muito bem estruturada e que continha alguns pilares básicos para assegurar a dignidade trabalhista dos caminhoneiros autônomos como: limite na jornada de trabalho diária, descanso obrigatório, paradas obrigatórias, horário de refeição obrigatória, fim do pagamento de comissão por parte do embarcador, controle da jornada de trabalho. Nós (quando digo nós sou eu e o pessoal do Chico da Boleia, jornal com o qual colaboro), acompanhamos todo processo de discussão e aprovação da Lei 12.619, cujo texto fora relatado por Paulo Paim (PT-RS) com base numa pesquisa realizada pelo Procurador do Ministério do Trabalho, Dr. Paulo Douglas, com o qual dialogamos várias vezes e chamamos para conversas com os caminhoneiros. A Lei 12.619 obviamente não agradou aos embarcadores de cargas – que teriam que se adequar à nova legislação – e às transportadoras porque teriam que mudar sua (des) política de contratação de agregados. Imediatamente após a aprovação da Lei em 2012, então, uma comissão na Câmara dos Deputados, integrada, sobretudo, pela bancada ruralista, foi composta para revê-la. Fizeram que fizeram, que um novo texto pra lei foi proposto com a sínica justificativa de que era impossível praticar a legislação tendo em vista a falta de infraestrutura nas estradas que não permitia as paradas determinadas. Em 2015, quando a nova lei (13.103) que, basicamente, flexibiliza a jornada de trabalha do caminhoneiro, já havia sido aprovada na Câmara e no Senado, estava nas mãos da Dilma para sanção, uma greve de “caminhoneiros” desponta. Naquela época nos chegaram vídeos e denúncias de que os caminhoneiros estavam sendo forçados a parar. Na mesa de negociação com o governo de então, os sindicatos patronais pediram a sanção sem vetos da nova lei, dentre outros compromissos; mas em nenhum momento se negociou a redução do diesel. Tanto que não houve redução do preço do combustível. Enfim, com isso, não quero dizer que a atual greve não possa virar um locaute, ou que não beneficiará os patrões. O que eu quero dizer, mais uma vez, é que existe muito mais coisa por traz da categoria e as informações que nos chegam não dão conta de expressar 1% de tudo o que está acontecendo.
Para além da greve de fevereiro, outras duas aconteceram naquele ano de 2015 que não tiveram a mesma proporção da atual. Muitas imagens estão rodando, mostrando alguns caminhões que integraram as marchas em prol do impeachment. Peço que reflitam sobre o fato de que nem só caminhoneiro autônomo tem caminhão, transportadora/empresário também tem. Já pararam pra pensar que, naquele momento, esse setor pode ter participado da campanha contra a Dilma? Com isso não quero sugerir que autônomos não apoiaram o golpe, a gente sabe que muitos trabalhadores apoiaram esse processo e também bateram panela.
4) Alguns perguntaram sobre o futuro do movimento: quem é historiador analisa o passado e não se atreve de jeito nenhum a dar opiniões sobre o futuro. Quem faz isso é mãe Diná e Walter Mercado (rsrsrs). De qualquer forma, reitero que o movimento segue em disputa. Duas grandes entidades de autônomos rejeitaram o acordo proposto na última quinta-feira pelo governo, a Abcam e a Unicam, seus posicionamentos estão publicados na internet. O Sindicato dos Caminhoneiros – Sindicam Amparo com o qual temos uma relação próxima, também soltou nota rejeitando o acordo e rejeitando também qualquer tentativa de locaute por parte das empresas. Os caminhoneiros que estão paralisados também não reconheceram a negociação. Muitos vídeos e opiniões nos chegaram e confirmam que os autônomos estão insatisfeitos porque sequer foram recebidos na Casa Civil. Rechaçaram a forma como o acordo foi costurado, denunciando que as empresas de transporte estão tentando utilizá-los como massa de manobra para seus interesses. Além disso, o Sindipetro anunciou ontem adesão à greve, o que pode mudar completamente o cenário.
Peço, portanto, que tenhamos em mente que é uma categoria de mais de 1 milhão de trabalhadores. Isso, por si só, já revela a complexidade desse atual movimento que vem acontecendo. No mais, convido a todos a seguirem a página do Chico da Boleia (também tem site: www.chicodaboleia.com.br). Nesta segunda soltaremos nova edição do nosso jornal no qual vamos discutir não só a greve, mas também a nova política de preços da Petrobras e como isso afeta a vida dos caminhoneiros e da população em geral.
Antes que alguém diga que estou fazendo um “merchã” oportunista, reitero que nosso jornal tem circulação gratuita. Imprimimos cerca de 50 mil exemplares que são distribuídos em rodovias e também disponibilizamos as edições on-line. Ele é fruto de um trabalho há muito tempo desenvolvido com a colaboração de pessoas que se importam com o setor e com a vida dos caminhoneiros e caminhoneiras. Aceitamos críticas, sugestões, opiniões; e se (depois de ler, é claro, rs) você colocar ele pra forrar o xixi do seu cachorro, a gente não vai levar pro lado pessoal!
Abraços!