Por Cafira Zoé e Camila Mota, com a colaboração de Marília Gallmeister e Clarissa Mor
O DESIMBRÓGLIO
quem nunca viu o samba amanhecer/ vai no Bixiga pra ver/ vai no Bixiga pra ver (TRADIÇÃO, GERALDO FILME)
No último chão de terra livre no centro de São Paulo, empreendimento bom é empreendimento público.
No dia 05 de dezembro de 2017 foi publicado um artigo de Gabriel Rostay, especialista em política urbana, afirmando que: no terreno de Sílvio Santos, “presente” seria um empreendimento de uso misto.
PARALELO HISTÓRICO
No dia 23 de outubro, depois da aprovação no CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do empreendimento imobiliário referente a torres residenciais de 100 metros de altura e 3 andares de estacionamento subterrâneo no terreno pertencente ao Grupo SS, no entorno tombado do Teatro Oficina, área envoltória de outros bens tombados: Casa de Dona Yayá, TBC, Escolinha Primeiras Letras e Castelinho da Brigadeiro, uma grande campanha pública se iniciou, clamando a Silvio Santos que desse um presente à cidade de São Paulo: um uso público, coletivo, à área em questão, que se caracteriza como último chão de terra livre no centro da cidade.
É desejo público que o terreno de quase 11 mil m² no vale entre as ruas Jaceguai, Abolição, Japurá e Santo Amaro, receba o Parque do Bixiga, que já tramita como projeto de Lei (805/2017), e prevê a criação de uma área pública verde, de característica cultural, no coração da Bela Vista, Bixiga, se estruturando através de um programa público abrangente confluindo cultura, educação, saúde e ecologia. Trata-se, assim, da criação de uma área pública de cultura para lazer, práticas artísticas, ações formativas, ecológicas, hortas comunitárias, contando ainda com bosques para caminhadas e espaço coletivo, de estruturas efêmeras, para eventos culturais no bairro.
Em seu texto supostamente conciliador, em que acusa o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa de lançar mão de desinformação quanto ao terreno, é Gabriel Rostay que repetidas vezes se utiliza desse recurso. Já na introdução, define mais uma vez a questão como imbróglio entre o Grupo Silvio Santos e o diretor do Teatro Oficina, ignorando a dimensão pública da questão e sua singularidade dentro do pensamento de cidade e urbanização; ignorando a extensão de uma associação inteira, composta por mais de 60 artistas entre atrizes, atores, videoartistas, iluminadores, diretores de cena, arquitetas cênicas, figurinistas, faxineirxs, jornalistas e midialivristas, porteiros e poetas, de diferentes gerações, muitos moradores do bairro do Bixiga.
“Como é possível que essa situação se arraste por 37 anos?”
Em primeiro lugar é preciso entender que o terreno de quase 11.000 m² é composto por dezenas de lotes, que não foram adquiridos pelo proprietário de uma única vez na década de 80, portanto, o espaço, não permanece vazio e degradado por quase quatro décadas. Esta é uma informação falsa.
Até os anos 2000, toda a faixa do terreno situada à rua Abolição — incluindo uma faixa de casas, um pequeno prédio residencial, um bar de esquina, um açougue, um prédio da Caixa Econômica ocupado por movimento de moradia e uma sinagoga existiam ali e foram comprados pelo Grupo SS, e então demolidos.
A especulação imobiliária, é, basicamente, o processo de mudança na valorização dos solos, consistindo na prática de obtenção de lucro privado a partir de investimentos realizados sobre um determinado terreno e é muito comum em duas formas principais: a espera pela valorização ou a realização de investimentos que estimulem essa valorização. No primeiro caso, o investidor apenas adquire um terreno ou um imóvel a fim de que o aumento do seu preço seja muito superior ao da inflação no período corrente, de modo que a sua venda futura gere lucros reais. No segundo caso, o investidor adquire um espaço e constrói um imóvel ou realiza alterações e reformas sobre ele, de modo a deixá-lo mais caro e, assim, obter lucro.
Portanto, é muito importante entender que processos de especulação imobiliária podem levar décadas e incluem muitas vezes, a desertificação de áreas produtivas com a consequente demolição das estruturas urbanas existentes, substituindo-as por sub-atividades rentáveis para os proprietários, como estacionamentos, enquanto se espera o melhor momento para empreender construções, em grande parte em desalinho com as características urbanísticas, culturais e identitárias dos locais.
O empreiteiro desertifica a área, tornando-a insegura, insalubre, e depois oferece revitalização do espaço tomado pela aridez, fruto de sua própria destruição.
Isso se deu com o quarteirão em questão, entorno ao Teatro Oficina.
Demolidas casas, pequenos comércios e bares, extinguida a identidade do tecido urbano singular, cria-se o mito da situação ‘inóspita’ e da necessidade de ‘revitalização’.
DOS ABISMOS DO EMPREENDEDORISMO
Para Gabriel Rostay, “Empreender” significa “resolver-se a praticar (algo laborioso e difícil); tentar.” Ou seja, é a luta para realizar algo sonhado ou desejado. Poucas coisas podem ser mais belas e ilustrativas do instinto natural e força de desejo, criação e livre iniciativa humana do que o “empreendimento”.
Da mesma maneira que o autor nos dá a contribuição com o sentido da palavra “empreendimento”, oferecemos de volta o conceito de Weltanschauung, que significa visão de mundo.
Visão de mundo é um ponto de vista, uma maneira de interpretar a vida, a partir das experiências de um povo, de um grupo, e são inúmeras as visões de mundo, e a diversidade é gerada pela multiplicidade de culturas espalhadas pelo planeta.
Um índio yanomami tem uma visão de mundo diferente de um desenvolvimentista; um quilombola tem uma visão de mundo diferente de um empreendedor neoliberal.
E o mais difícil nestes tempos é a co-existência dessa diversidade.
Em guarani se diz TEKOHA.
TEKOHA é, literalmente, o exercício de modos de existir que resistem em determinado local, maneiras de viver, estilos de vidas, que persistem em determinado lugar.
Lutar por um destino público para o último chão de terra livre do centro de São Paulo parece, afinal, um verdadeiro “empreendimento”, digno do verbete supracitado.
“Quem conhece bem o local sabe como é inóspito em qualquer horário e como as pessoas o evitam à noite”
Talvez, para uma determinada classe social, aquela região do bairro do Bixiga seja de fato desconhecida, talvez não ofereça um certo tipo de atração noturna, talvez assuste pelas características de um bairro ainda não rendido pela histeria da especulação imobiliária. Para desfazer o mito do inóspito é preciso exercitar os passos, estamos numa região do bairro que é fácil e tradicionalmente percorrida a pé. É preciso desbravar a vida urbana de uma cidade como São Paulo, não ter medo do desconhecido na capital da diversidade.
Zanzar pelo Bixiga, pelas características histórico-culturais do bairro, além de ser um luxo, é turístico.
Aliás, quem vê uma peça ali, pode ir jantar aonde depois?
Em junho de 2017, na editoria cidades, a Veja São Paulo elencou o que chamou de “25 motivos para amar o Bixiga”, o que é também de fácil acesso em qualquer busca rápida de internet. Segundo Trip Advisor, e numa boa perambulada pelo bairro se identifica: o Bixiga tem ao todo 780 restaurantes, 87 atrações.
Na referida quadra citada pelo autor, do outro lado da Jaceguai, de frente para o Teatro Oficina, há uma área de comércio local debaixo daquele trecho do minhocão. Há ali açougues, um grande sacolão, um maravilhoso pastel e caldo de cana, além do conhecido restaurante BOX 62, que serve uma comida deliciosa.
O Bar do Bigode, um clássico, do outro lado do minhocão.
Na rua Jardim de Dona Heloísa tem um pequeno restaurante caseiro que às sextas-feiras serve a tradicional sardinha frita. Na rua Abolição temos uma pequena panificadora que oferece doces divinos. Isso, pra ficar no entorno que será diretamente afetado pela construção das torres. Caminhando mais um pouco logo se chega no famoso Rancho Nordestino, ponto de encontro pós-peças de artistas e público. E antes de chegar nele, é parada obrigatória passar algumas horas no, Al Janiah, bar-restaurante e casa de cultura Palestina.
Tudo isso sem falar nas tradicionalíssimas cantinas italianas… nas Festas Italianas de rua, na histórica Festa da Achiropita, na imensa feira de rua aos domingos, logo ali na Santo Amaro… Na Feira de Antiguidades — que não são comestíveis, mas por lá é possível encontrar simpáticas barracas de comidas.
“O fracasso do diálogo”
No capítulo sobre o fracasso do diálogo, o autor lança mão de mais desinformação.
Ao novamente expor a situação como um embate entre o Grupo SS e Zé Celso, não compreende, ou não quer entender, que não se trata de um quintal pleiteado pela companhia, mas de uma luta por uma área pública para a cidade — sobre isso é possível encontrar inúmeras referências, desde o projeto de Lei, até publicações (textos, vídeos, imagens, manifestos e mais textos) pela internet e nas demais mídias. Acesse o perfil do Parque do Bixiga.
Portanto, é desonesto insistir em avaliar a questão do ponto de vista da “intransigência do diretor da companhia” ao não aceitar um lote do terreno para si, afinal, não se trata mesmo de um quintal para o Teatro Oficina, trata-se de uma luta pública pela cidade em respeito ao patrimônio material e imaterial, histórico, cultural, artístico, turístico do bairro do Bixiga.
O empreendimento se situa na área envoltória, pelo tombamento estadual, do Teatro Oficina, da Casa de Dona Yayá, do TBC, da Escolinha Primeiras Letras e do Castelinho da Brigadeiro.
O bairro do Bixiga é tombado pelo órgão municipal de defesa do patrimônio, o CONPRESP, representando ⅓ dos cerca de 3400 bens tombados do município. Tendo em vista sua importância cultural, suscita desde os anos 1970 iniciativas do poder público para que se desenvolvam ali ações considerando sua relevância histórica.
O tombamento se refere ao gabarito das casas, que é baixo, ao traçado das ruas. A rua Japurá, por exemplo, que também tem relação direta com a área do empreendimento, possui casas que datam da década de 40, construídas sem pilares e que, segundo a geóloga e moradora, Tânia de Oliveira Braga, correm risco de não resistir ao impacto das fundações das torres e cederem.
Assim, poderíamos substituir “o fracasso do diálogo” pelo fracasso da escuta. Apesar do clamor público e da mobilização nas redes e nas ruas contrárias ao empreendimento imobiliário faraônico, favoráveis a pensar e elaborar juntos um destino coletivo da área para um parque público, textos como esse expõem os ouvidos moucos e a visão turva de certos setores midiáticos.
“Na década passada, o grupo pretendia fazer um shopping e chegou a contratar até mesmo o escritório Brasil Arquitetura”
Sim, o Grupo SS convidou o escritório Brasil Arquitetura, coordenado por arquitetos que trabalharam próximos a Lina Bardi, para elaborar um projeto híbrido, que atenderia as necessidades de mercado do grupo, com a construção do Shopping. Em contrapartida, incluiria o projeto do Teatro de Estádio.
Mas o projeto resultou num mega empreendimento de quase 60 mil m², alienado do entorno, trancando todos os fluxos do delta de ruas, adensando ao máximo o terreno, ignorando os recuos necessários e legais para uma área envoltória de bem tombado, e desprezando o respiro fundamental para manutenção da transparência do janelão da fachada Oeste.
Por fim, ironicamente, confinando o Teatro de Estádio, desejado como teatro aberto à cidade e ao cosmos, numa caixa preta, fechada, monumental de tal forma que o CONPRESP, à época, pede alteração no desenho e o grupo abandona o projeto.
“Aquele pedaço do Bixiga é o que chamo de “bairro dormitório central”. Praticamente não tem empregos ou atividades, é somente uma área que recebe pessoas para dormir, até saírem para trabalhar em outras regiões no dia seguinte, exatamente como em qualquer bairro dormitório periférico por aí.”
A Bela Vista, Bixiga, representa 16,6% dos empregos formais da Subprefeitura da Sé. Total de 135.937 (2014). O bairro do Bixiga é hoje o mais adensado da cidade de São Paulo. São 69.460 habitantes em 2,6km², uma taxa de 26.715 hab/km², 1 pessoa a cada 26m², de acordo com o censo de 2010, cuja estimativa era para 2015 chegar ao 72.000 habitantes. Toda a população está abrigada em aproximadamente 32.000 domicílios.
No perímetro nomeado pelo autor se encontra ainda uma grande avenida, a Brigadeiro Luis Antonio, que liga o Bixiga diretamente à Avenida Paulista; o Hospital Pérola Byton; inúmeras farmácias; casas de lanche; creches; escolas… Andando pelo bairro durante a semana o ritmo não para. E nos finais de semana as feiras de rua, as festas populares, as peças, os sambas da Vai-Vai e a vida noturna não deixam ninguém parado.
“Já imaginaram os custos que o proprietário teve ao longo do tempo com IPTU e contratação de projetos diferentes? Como é o milionário Sílvio Santos, isso vem sendo desconsiderado.”
O grupo Silvio Santos começou a comprar estes terrenos há 40 anos atrás e por um valor muito inferior ao que ele está sendo cotado agora. Esta compaixão que muitos tem pelo empresário pelo prejuízo “imenso” com o terreno parado, dissimula a lógica mais recorrente de valorização de terras pelo mercado imobiliário: a especulação. E que no caso do terreno do Bixiga teve valorizações estratosféricas. Em 2011 foi cotado pela Caixa econômica em 33 milhões, este ano está sendo estimado em 100 milhões. Em sete anos o terreno triplicou o seu valor de mercado. Simular o vitimismo do empresariado é alma do mercado.
E, é muito importante lembrar, que em alguns dos lotes originais encontravam-se prédios do próprio Grupo SS, que não exitou em demoli-los ao invés de mantê-los e diversificar seu uso, povoá-los de vida e com isso, talvez, diminuir a tão propagada degradação da região. Isso demonstra que o empreendimento proposto pelo Grupo não prevê, necessariamente, uma conexão com aquele lugar.
Portanto, não se trata de demonizar o empreendimento imobiliário residencial, nem o direito de propriedade, mas de explicitar que ele está em desacordo com as características do lugar e que poderia ser feito em qualquer outro ponto da cidade. E aqui nesse ponto voltamos ao fracasso do diálogo: foi oferecido ao Grupo SS mais de 90 terrenos para a análise de uma possibilidade de troca, com todo amparo jurídico, no entanto, os empresários interromperam as negociações e nem se interessaram em conhecer os lugares propostos.
“os que sempre dizem defender “mistura de classes” são os que falam contra as torres residenciais porque levariam moradores com maior poder aquisitivo para a região.”
Mistura de classes não é bem uma “inovação” para o bairro do Bixiga, que é, sobretudo, reconhecido por ser um bairro histórico identificado pelas suas misturas: de povos, de línguas, de culturas, de gerações, de classes sociais. Numa caminhada que se faça desde as ruas Abolição e São Domingos, que tem uma grande concentração de cortiços, passando pelo conjunto da Japurá, em direção ao Morro dos Ingleses, onde predominam moradores mais ricos do bairro, o que se verá é uma coexistência de habitantes distintos e uma diversidade de classes em proporção surpreendente, considerando um trecho tão reduzido.
3 condomínios de alto padrão, com aproximadamente 1000 apartamentos, impõem, na realidade, um uso único, chapado, que abre precedente para uma monocultura imobiliária que, sabemos, costuma descaracterizar bairros antigos, bairros históricos, bairros turísticos, eliminando, justamente, suas misturas.
“para resolver qualquer questão: quem falar em “uso cultural” ou “parque”, voilà, não importa qual seja a situação, parecerá estar do “lado do bem comum”.”
O bairro do Bixiga guarda características singulares de um bairro histórico, construído a muitas vidas e culturas (de povos originários, quilombo, à migrantes, imigrantes e mais recentemente, a chegada de refugiados), destacando-se como um território cultural plural, fértil pelas misturas entre povos, línguas, histórias, culturas, culinária, artes — que evidenciam a força histórica de um bairro formado por modos de existir que resistem: aos processos de verticalização urbana de São Paulo; ao avanço da especulação imobiliária sem precedentes; à imposição de modos de viver dentro dos grandes centros urbanos massacrados pelo planejamento urbano hierárquico.
Desse arbitrário processo de urbanização de São Paulo — com uma verticalização imposta, sem incorporar as características culturais e geográficas de cada região — o bairro do Bixiga herdou um deserto de pelo menos onze mil metros quadrados, fabricado pelo mercado imobiliário — o terreno entre as ruas Jaceguai, Abolição, Japurá e Santo Amaro, no entorno do Teatro Oficina.
A palavra cultura, que parece ser para o autor seu termo tabu, é protagonista, desde as primeiras formações do Bixiga, dos usos comuns deste espaço. Hoje, diferentes atores, grupos, movimentos, ligados a cultura — essa palavra vasta — promovem ações de força no bairro. O pensamento da especulação imobiliária constitui uma cultura; as tradições do bairro formam também a sua cultura; uma plantação é uma cultura; práticas artísticas, teatro, artes visuais, cinema, dança, poesia… são cultura; uma comunidade de Kefir é uma cultura viva com + de 30 tipos de microflora em simbiose; saber que tudo é cultura é uma cultura.
O Terreyro Coreográfico, projeto nascido entre os baixios do minhocão na altura do bairro do Bixiga, cria projetos arquitetônicos a partir de uma perspectiva coreográfica, dando a ver as dimensões Públicas do espaço, através de Ritos, Celebrações, Danças, Cantos — são como coreografias para arquiteturas que trabalham a construção de um espaço a partir dos seus fluxos, das forças invisíveis e visíveis q o constituem, dos seus movimentos, desenhos…
Para se ter ideia da movimentação do projeto para o bairro foram:
– Mais de 10 mutirões de limpeza dos baixios do viaduto Libertas tirando quilos de lixo, lavando o espaço com caminhões pipa, sal grosso e defumações. Envolvendo mais de 300 pessoas entre artistas, moradores e trabalhadores da subprefeitura da Sé;
– Mais de 15 transformações arquitetônicas nos baixios e arredores, envolvendo mais de
500 pessoas;
– 03 grandes celebrações juninas, envolvendo mais de 1.500 pessoas entre público, artistas e vendedores do Bixiga;
– outras 07 celebrações coreográficas envolvendo mais de 2.000 pessoas;
– 10 coreografias de confluência percorrendo diferentes bairros em torno do Bixiga e envolvendo mais de 500 artistas;
– 03 mostras cinematográficas com mais de 10 dias de programação e horas de
filmes, envolvendo mais de 300 pessoas;
– O Disseminário coreográfico com 14 dias de programação intensiva transitando por diferentes espaços do Bixiga e envolvendo mais de 50 artistas convidados e mais de 1.000 pessoas no público;
– o ExCurso LICHT, conferência com 07 dias de programação de 14 horas, envolvendo mais de 420 pessoas;
– Outros 02 disseminários envolvendo mais de 1.000 pessoas;
– O Cerco Coreográfico Delta com duração de três meses que recebeu 260 inscrições e mais de 150 pessoas;
– O Cerco Coreográfico ~ Coisa Coreográfica com duração de cinco meses que recebeu
224 inscrições e envolveu mais de 600 pessoas; (aulas de Tarot no Teatro Oficina)
– Outros dois intensivos de feitura dos corpos com dez dias em imersões na aldeia Kalipety Guarani,
– 07 debates na Àgora envolvendo mais de 200 pessoas entre artistas, moradores dos baixios, funcionários públicos, outros grupos e parceiros;
Há ainda ações vindas da Vila Itororó; da casa de cultura palestina Al Janiah; do Mundo Pensante; do casarão de mídia, cultura e informação que abriga o Outras Palavras; da Casa de Mestre Ananias, do Teatro do Incêndio, do ETA, do Centro Cultural Saci, do Atelier do Gervasio, do Rizoma Móvel, que se movimenta bastante mas também mantém endereço cativo na rui Barbosa, e, mais recentemente, da Casa 1, espaço de acolhida LGBT próximo a Cia Teatro Oficina, entre tantos outros.
“um bom empreendimento poderia transformar a área”
Chegando até aqui na leitura desse texto já é possível compreender o encadeamento de factóides feitos pelo autor num grave circuito de desinformações em série.
Um bom empreendimento soa evasivo, sobretudo na fragilidade de um discurso que quer ganhar adeptos no chavão dos pré-conceitos de efeito: incorrendo mais uma vez no falso binarismo entre sonho x realidade, artistas x sociedade, cultura x capital. O uso do verbo transformar só aparece para, de fato, não se modificar nada.
Na construção do raciocínio de Rostay, transformar poderia ser substituído por violentar: um empreendimento do porte dessas torres no tecido urbano de um bairro tombado, singular e histórico como o Bixiga, poderia, de fato, ser um bom empreendimento para violentar a área, completamente desconectado de seu entorno, completamente obtuso.
POR QUE, AFINAL, UM PARQUE PARA O BIXIGA?
Entre os 31 distritos da capital, apenas 8 possuem área verde adequada. Essas áreas estão espalhadas pela zona norte, pelo extremo sul e em uma pequena parte da zona leste, formando uma espécie de borda verde pela metrópole, que permanece com grande parte de seu miolo cinza. O Parque do Bixiga é uma necessidade de saúde pública para a cidade de São Paulo, e mais ainda para o Bixiga.
A subprefeitura da Sé possui hoje o indicador de área verde de 2,45 m²/hab.Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) o recomendado é um MÍNIMO de 12 m² de área verde por habitante. O território do Bixiga ocupa o pior número dentro desse perímetro, com a menor taxa de área verde por habitante. Por isso, o Parque do Bixiga é questão de saúde pública: para as pessoas, para o bairro, para a cidade. É a nossa vida no bairro da Bela Vista que está em jogo. E o mais assustador desse projeto é que com ele também não haverá mais sol. Isso porque essas 3 torres de apartamentos farão uma sombra grande o suficiente para deixar muitos moradores do Bixiga sem a luz do sol durante quase todo o dia, todos os dias do ano.
IMPACTOS DAS TORRES
Aumento do custo de vida
Aumento dos aluguéis;
Aumento exponencial do tráfego;
Violenta transformação da paisagem de um bairro que tem como característica um conjunto arquitetônico baixo;
Interferência na insolação e na ventilação, com assombroso sombreamento nas áreas (prédios e casas) que ficarão sob o impacto das torres;
Impacto direto no rio do Bixiga que atravessa o terreno todo debaixo da terra;
Impacto sobre a cultura de um bairro cultural, popular, que cultiva a força do encontro entre os teatros, os sambas, os churrascos de rua, o futebol, as caminhadas a pé, as feiras urbanas, o pequeno comércio, o corpo a corpo entre moradores, artistas migrantes e imigrantes;
Impacto sobre as fundações das casas da rua Japurá;
BENEFÍCIOS DE UM PARQUE NO SEU BAIRRO
O reflorestamento do Parque do Bixiga com resgate da vegetação originária de São Paulo, sobretudo da região do Bixiga, é previsto também como forma de amenizar o impacto de ruídos, trazendo melhorias acústicas e climáticas que são fundamentais para a população de um bairro, predominantemente de casas, que sofre com o resultado das construções viárias massivas do fim da década de 60 em São Paulo.
+
Amenização de ruídos e impactos sonoros
Diminuição da temperatura ambiente
Redução da velocidade dos ventos
Melhora considerável da qualidade do ar
Diminuição do surgimento de asma em crianças
Queda do risco de problemas cardiovasculares
Aumento da qualidade de vida e melhora no estado de saúde em geral
Redução do risco de depressão e ansiedade
Preservação da fauna e da flora
Melhora na permeabilidade do solo, o que evita enchentes, dando um destino para a água das chuvas. Toda cidade precisa ter áreas permeáveis.
“O imbróglio entre o Grupo Sílvio Santos e o diretor do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa, é muito ilustrativo de uma série de nossos problemas urbanos”
No verbete do dicionário aurélio se diz imbróglio: situação confusa. enredo complicado ou confuso, geralmente de peça de teatro. mal-entendido. abacaxi.
A esta altura, quem lançar mão do imbróglio, imbrogliado esta.
No próximo capítulo, o Teatro Oficina, e sua relação direta entre encenação, arquitetura, urbanismo cultura e arte através de quase 6 décadas de trabalho incessante, e porque se tornou o teatro mais bonito e intenso do mundo, segundo o The Guardian.
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