Investigação da PF descarta participação de brigadistas em incêndio em Alter do Chão, Pará

  • Ocorrido em setembro do ano passado, as investigações foram conduzidas paralelamente pela Polícia Civil Paraense e pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal
  • Sem provas e sem perícia, a Polícia Civil deduziu que quatro brigadistas atearam fogo na região, para conseguir doações para a Brigada de Alter
  • Inquérito da PF concluiu não ser possível identificar a autoria do incêndio, e a análise das imagens de satélite mostram que o fogo não começou onde a polícia civil diz ter começado
  • Brigadistas seguem com restrição de liberdades

Diferentemente do inquérito cheio de lacunas e sem elementos de perícia, conduzido pela Polícia Civil do Estado do Pará e que levou à absurda prisão de quatro brigadistas que dedicavam e arriscavam suas vidas para combater incêndios num dos mais conhecidos destinos da região Norte do país, as investigações conduzidas pela Polícia Federal concluiu não ser possível apontar culpados pelos incêndios que devastaram a região em setembro do ano passado.

Após analisar imagens de satélite, a investigação sigilosa conduzida pela PF descobriu que os dois locais onde o fogo começou se encontram fora da região conhecida como Capadócia. Sem apresentar laudos periciais à época, a Polícia Civil paraense concluiu que os quatro brigadistas haviam ateado fogo nessa região, com o objetivo de arrecadar doações para a Brigada de Alter. As acusações foram feitas a partir em boatos e trechos descontextualizados de ligações telefônicas interceptadas pela polícia.

Foto: Brigada de Alter

“Considerando que foram feitos diversos estudos técnico-científicos e levantamentos e que apesar de todos os esforços empreendidos, nenhum resultou em uma definição significativamente clara de autoria, e que efetivamente não existe nenhum elemento que comprove a ação de algum dos investigados para a ocorrência do incêndio”, conclui o relatório da PF.

Constrangidos e expostos ao julgamento público, os quatro brigadistas tiveram suas cabeças raspadas, e foram tratados pela polícia civil e  pela justiça do Pará como condenados, apesar de terem sido presos preventivamente. Na época, a prisão ocorreu na véspera de uma visita de Jair Bolsonaro à região; o presidente da república acabou usando politicamente a prisão dos brigadistas para dar respaldo à sua narrativa de que ONGs seriam responsáveis por desmatar e queimar a Amazônia. Bolsonaro também insinuou que o ator Leonardo DiCaprio seria um dos financiadores dessas ONGs, o que foi desmentido pela imprensa mundial.

O pedido de prisão dos jovens foi feito pelo Juiz Alexandre Rizzi, cuja a família é dona de uma madeira no Pará. Apesar de terem sido soltos três dias após sua prisão, e apesar da conclusão do inquérito conduzido pela PF, os quatro brigadistas seguem com suas liberdades restringidas: usando tornozeleiras eletrônicas, com passaportes apreendidos e tendo que ficar em casa durante os período que não estiverem trabalhando, são vítimas do autoritarismo bolsonarismo que tomou conta do país, que persegue, e às vezes mata, ambientalistas e integrantes de movimentos sociais.

((o))eco apurou que edificações estão sendo feitas, atualmente, por residentes nos locais das queimadas.

Foto: Brigada de Alter

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