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Greve Geral em São Paulo termina com repressão violenta da Tropa de Choque

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Começou às 13 horas com algumas pessoas concentradas no Masp que ajudaram a fechar a Avenida Paulista, pois até aquele momento continuava aberta para os carros. Após o fechamento a população ocupou a avenida e assim apareceu o colorido da multidão.

O dia era simbólico, 14 de Junho, comemoração de nascimento de Ernesto Guevara, um dos maiores líderes dentre os revolucionários do mundo conhecido como Che Guevara, dia da Greve Geral no Brasil, dia de lutar contra a Reforma da Previdência e o desmonte da educação no país.

Metrô, trem, ônibus, em sua maioria não circularam, foi possível assistir trabalhadores nas portas das indústrias pedindo para que seus direitos garantidos em constituição fossem respeitados. Escolas públicas e privadas aderiram e fecharam suas portas, ensinando a verdadeira história e cidadania para seus alunos, a aula foi nas ruas.

De acordo com as entidades 45 milhões de pessoas paralisaram a economia do país. Portos e bancos foram fechados, trabalhadores de indústrias fabris e de montadoras do ABC aderiram ao movimento.

As ruas de São Paulo estavam vazias, sem trânsito, em plena sexta-feira. A proposta de greve bem-sucedida era confirmada pelo trânsito fluído em uma cidade que vive caótica de carros.

Com o passar das horas, a Avenida Paulista foi tomada por manifestantes, que levantavam suas bandeiras e cartazes contra a Reforma da Previdência, Bolsonaro, desmonte da educação, da saúde e dos programas de moradias populares.

E assim começou o ato pacífico, colorido por jovens e adultos, com muita música e poucas bandeiras partidárias, a luta central não eram os partidos e sim o direito humano do cidadão brasileiro de viver com dignidade.

O que começou de forma pacífica, terminou com a polícia militar e a tropa de choque violentando os direitos da população paulistana.

Quando o ato chegou no início da Avenida Paulista com intuito de descer a Consolação, policiais sem motivos para truculência, se acharam no direito de jogar bombas de gás lacrimogêneo nos jovens que estavam na linha de frente da manifestação.

Policiais mandados como ratos, que não entenderam até o momento que também são funcionários públicos, que recebem salários miseráveis e que estão sendo tomados dos seus direitos, ainda sim, revidaram na população que estava lá, lutando por eles e pelos seus filhos.

Logo a fumaça do terror, tomou conta do local. Centenas de jovens foram atingidos pelo horror de uma ditadura disfarçada de democracia, impedidos de apenas caminhar num protesto legal e previsto em constituição. A linha de frente do ato, como uma forma de proteção, criou barreiras e atearam fogo para que a polícia não se aproximasse das pessoas com seus cruéis cassetetes.

Não foi possível descer a Consolação, mas ainda assim, o ato persistiu e seguiu pelas ruas paralelas com destino ao centro de São Paulo. Mais tropas de choque chegaram à Praça da República para esperar a manifestação que seguia adiante.

O movimento se dividiu como uma alternativa a represália, metade seguiu até o Teatro Municipal, outra parte se dirigiu para a Praça da República. Todos chegaram, objetivo cumprido apesar da força tarefa da polícia, comandada pelo Governador João Dória, de destruir o que estava lindo.

Na Praça da República mais de cem policiais esperavam os manifestantes, em uma postura clara de violência e repressão por quem lutava pelos direitos dos cidadãos.

Naquele momento as mulheres foram as protagonistas, de mãos dadas fizeram um cordão para que a polícia não continuasse a agir com truculência e mesmo ameaçadas pelas bombas que se via claramente nas mãos da tropa de choque resistiram e gritaram “Violência não”.

A pergunta que não quer calar!

Fica a pergunta, quão legítima é uma Reforma da Previdência, proposta por um presidente que se aposentou aos 33 anos e por um governo que votou a favor de uma aposentadoria especial para eles?

O Brasil não precisa da Reforma da Previdência

É de extrema importância que entendam que a Previdência Social tanto como política pública quanto como uma ferramenta jurídico-estatal foi conquistada após uma longa luta travada entre a classe trabalhadora, composta pela maioria da população e a burguesia, composta pela minoria da população detentora dos meios de produção e da exploração à mão de obra do trabalhador, os donos do capital.

E desde então a elite ainda alimenta em cadeia cíclica todas as relações sociais presentes sejam por interesses individuais de cada classe ou segmento social, como também por interesses coletivos (no caso de vocês, a bancada favorável à Reforma) e a Previdência Social foi elaborada, proposta e aprovada para garantir o mínimo de equilíbrio e ordem social como um acordo de paz pública.

A Previdência Social garante ao trabalhador e seus dependentes menores, amparo quando ocorre a perda, permanente ou temporária de sua capacidade colaborativa, ela está inserida em um conceito mais amplo que o da Seguridade Social, Saúde, Assistência Social e Previdência Social, é um fator muito importante no combate à pobreza e à desigualdade, que promove aos idosos e as pessoas por ela beneficiadas uma relativa estabilidade social.

Nesse contexto a população entende que, para que continue a existir é necessário que cada trabalhador contribua com um percentual do seu salário, fato que ocorre mensalmente em toda a classe trabalhadora, eles pagam a sua parte. Mas por força de interesses individuais ou coletivos em favorecimento de grandes empresários a parte deles não é repassada.

Segundo relatório datado de 2017 da CPI da Previdência, foi constatado que empresas privadas sonegaram, até aquela presente data, mais de R$ 450 bilhões à Previdência e conforme a Procuradoria da Fazenda Nacional, somente R$ 175 bilhões correspondem a débitos recuperáveis, isto quer dizer que, além de não repassarem para a Previdência as contribuições dos trabalhadores, esses empresários também embolsam recursos que não lhes pertencem.

Desta forma, o fato da corrupção exercida entre alguns políticos e empresários, colocam o povo trabalhador brasileiro a pagar uma conta que não é dele. Assim estão dispostos a abrir mão da forma amistosa e romântica a qual a relação burguesia e proletariado tomou nos últimos anos e não mais se colocaram em função da submissão popular em prol de interesses pessoais, que é continuar a elevar cada vez a corrupção político-empresário no país.

Um recado aos políticos favoráveis a Reforma da Previdência

Aos senhores políticos favoráveis a Reforma da Previdência, existe uma oportunidade de repensar seus próximos passos, em uma análise que demonstrará o quanto é inconstitucional a aprovação da medida, na certeza de que não será interessante para o governo uma ruptura completa de paz entre o capital e o proletariado.

Melhor escolherem pelo justo e pela paz entre a nação, única forma para que o sangue do povo brasileiro não suje vossas mãos e marque o sobrenome de cada um dos políticos favoráveis a Reforma e de seus familiares por todo o futuro da história.

Abaixo motivos pelos quais você não deve apoiar essa Reforma

  • A Reforma da Previdência fere o Art. 6º da Constituição que prevê como direito a todos os trabalhadores brasileiros a proteção social e a Previdência pública.
  • A Reforma da Previdência fere o Art. 60º que define o princípio do “não retrocesso” de direitos e garantias individuais.
  • Exigir 40 anos de contribuição para se ter acesso ao benefício integral em um país que findou sua legislação trabalhista é transformar a classe trabalhadora em escravos.
  • Rebaixar o BCP para menos da metade de um salário mínimo é colocar em seres humanos em situação de pobreza extrema.
  • A Reforma favorecerá os mesmos bancos que devem a previdência, obrigando cidadãos a contribuição privada.
  • O problema do país são os juros da dívida pública e não a Previdência, em 2018 pagamos R$ 380 bilhões de juros.
  • 1% da população, os verdadeiros privilegiados, não pagam tributo sobre a renda que recebem. É preciso findar a lei que garante isenção para lucros e dividendos de acionistas, só em 2018 foram R$ 50 bilhões gerados entre lucros e dividendos que deveriam ser taxados.
  • Antes de qualquer Reforma da Previdência é preciso de uma Reforma Tributária. Nossa tributação é taxada sobre o consumo e o certo seria taxá-la sobre a renda e a propriedade da classe mais rica. É muita desigualdade cobrar do pobre a mesma taxa de imposto que é cobrado do rico, que se utiliza da mão de obra trabalhadora para enriquecer cada vez mais, assim desestabilizando a desigualdade social do nosso país.
  • De acordo com o relatório emitido pela CPI da Previdência não há déficit. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) citados no relatório da CPI, a Seguridade Social apresentou média de saldo anual positivo de R$ 50 bilhões entre 2005 e 2016.
  • Ainda segundo o relatório emitido pela CPI da Previdência os analistas foram categóricos: “As inconsistências nos modelos de projeção do governo descredenciam qualquer avaliação séria sobre esses números”. Isso quer dizer que vocês não possuem capacidade para realizar estimativas populacionais e financeiras adotadas pelo governo para definir o déficit da Previdência Social.
  • Em um país tão desigual se tornará impossível para os trabalhadores pobres comprovarem a idade mínima e o tempo de contribuição. Eles serão jogados para a assistência e isso tornará nosso país a maior população de idosos miseráveis.
  • Para que a economia do nosso país gire é preciso que a população tenha dinheiro para gastar, conceito básico aprendido no ensino fundamental. Se os senhores cortam a verba da população a mesma não terá a renda necessária para consumir, levando a economia brasileira ao colapso.
  • A Reforma deve ser igualitária, para todos a mesma reforma, por que militares e políticos terão privilégios, o que difere os senhores de nós? Senhores sinto informar, mas somos todos Seres Humanos.
  • Essa Reforma vai custar caro para o país, pois durante a transição estima-se que a Previdência gaste mais de R$ 6,6 trilhões, pois quando os trabalhadores migrarem para o novo sistema, deixarão de contribuir com o atual, causando um rombo financeiro para pagar os já aposentados.

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Nota da ABI – Bolsonaro mente na ONU e envergonha o Brasil

No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.

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No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.
Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais.
Bolsonaro mentiu
O presidente responsabilizou, ainda, índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas.
Como se vê, de novo Bolsonaro mentiu.
O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de “gripezinha” e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de Saúde.
Assim, mais uma vez Bolsonaro mentiu.
A ABI, com a autoridade de seus 112 anos de existência em defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional, repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório que o governo está impondo ao País.
Paulo Jeronimo – Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

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Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

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Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

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Por Diane Valdez, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, militante do Movimento de Meninos(as) de Rua e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno

 

 

Hilário Ab Reta Awe Predzaw, 43 anos, morador da Aldeia Xavante N. S. de Guadalupe, em Barra do Garças, Mato Grosso, morreu na madrugada de 18 de junho de 2020, vítima do descaso governamental que permitiu a chegada do Coronavírus em sua comunidade. Era aluno do 5º período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Sua tia morreu há pouco mais de uma semana vítima do mesmo descaso, a mãe e seus dois irmãos, seguem contaminado pelo vírus, assim como outros Xavantes e outras pessoas de etnias indígenas de todo o Brasil.

Hilário entrou na UFG, pelo sistema de cota para indígenas, no ano de 2018. Chegou com o já conhecido atraso histórico de acesso dos povos originários no ensino superior, ainda que a UFG seja uma das universidades públicas que tem buscado cumprir com o direito de povos indígenas ao ensino universal, o acesso e a permanência ainda sofrem de fragilidade.

A trajetória de Hilário, na UFG, não se limitou às dificuldades ocasionadas pela pobreza, como muitos de nossas/os alunas/os enfrentam. A academia era um outro mundo, distante de sua comunidade, não só em quilômetros, como também em movimentos culturais, sociais e políticos. Talvez essa distância, o fazia um aluno reservado e observador, sem abrir mão da seriedade e interesse pelo conhecimento.

Era umas das lideranças de seu povo, portanto, sabia da responsabilidade que assumia frente a comunidade, ele seria um professor, um educador de seu chão, de sua gente. Hilário trabalhava em uma escola, com o formato de um Tatu Bola, na sua aldeia, trabalhava na área de serviços gerais, em breve voltaria como Professor!

No primeiro ano de curso, Hilário, na desconfiança de seu silêncio indígena, que não significava submissão, tentava se inserir no mundo acadêmico. Veio um tempo, que largou tudo e voltou para a aldeia, não por opção dele, mas por opção deste desgoverno que é incansável na destruição de direitos dos povos originários.

O Ministério da Educação e Cultura, suspendeu todas as bolsas de permanência para a população indígena e quilombola. Um grupo de alunas e professoras se juntaram, arrecadaram dinheiro e o trouxeram de volta para a Faculdade. Foi feita uma mobilização de docentes e discentes sensibilizados e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFG, cumprindo seu importante papel, disponibilizou uma bolsa e outros auxílios emergenciais.

Nessa ocasião, quando perguntado sobre o porquê de não falar nada dos problemas para colegas, e voltar para sua comunidade, Hilário disse que achava que ninguém sentiria falta dele.

No segundo ano, trouxe seu curumim para estudar em Goiânia, começou a trabalhar como intérprete na escola, acompanhando seu filho na dificuldade com a lingua. Era visível seu orgulho de exercer a função de intérprete. Lutou e enfrentou as diferenças que separavam as culturas e, como muitos, guerreou como seus ancestrais, para não perder seu lugar de legítima conquista.

No início da Pandemia, que começou junto com o semestre letivo, Hilário resistiu em voltar para sua comunidade, tinha medo das aulas retornarem e ele não estar presente na Faculdade, isso aponta o lugar que a UFG ocupava em sua vida. Quando percebeu que seu povo não estava acreditando na letalidade do vírus, retornou para alertar todos sobre o perigo. A UFG, cumprindo seu papel de instituição pública, providenciou o transporte para seu retorno no Mato Grosso.

Em maio, informou para duas amigas, que sua comunidade precisava de cobertores, pois fazia muito frio, e seu povo estava adoecendo. Elas mobilizaram, imediatamente, uma Vakinha On Line, onde arrecadou-se pouco mais de três mil reais, no entanto, como o total da arrecadação demora para ser liberado, emprestaram dinheiro e compraram os cobertores de forma mais hábil, enviando-os dia seguinte.

Os sintomas que atingia a comunidade, febre, falta de ar etc. já indicavam que era Coronavírus, no entanto, isso não foi motivo de interesse governamental, que poderia ter evitado o alastramento do vírus.

Ao apresentar os sintomas da doença, Hilário mostrou-se resistente em ir para o hospital, tinha dificuldade de aceitar o tratamento “dos brancos”. Acreditava nos rituais de seu povo, no tratamento natural que conhecia há tempos. Por outro lado, a histórica resistência dele, fazia todo sentido, pois sabemos como os povos indígenas são tratados neste país tão indígena que não se reconhece como indígena. Foi convencido a ir para o hospital e, na última conversa com as amigas em chamada por vídeo, estava muito escuro, e a família arrumou uma lanterna para as meninas verem o rosto dele, que disse para elas, em lágrimas, que estava somente suado, quando perguntado se estava com medo, disse que sim, que estava com muito medo…

A ida para o hospital foi acompanhado de longe pelas amigas, falavam sempre com a Assistente Social que afirmava que Hilário estava se recuperando, que receberia alta a qualquer momento. Nessa madrugada, ao pedirem informações sobre o amigo no hospital, alguém disse que alguém havia morrido, mas não sabia o nome. O nome de mais um número morto é Hilário Ab Reta Awe Predzaw, que deixou a mulher, filhos e todo seu povo Xavante.

O acesso dos povos indígenas ao ensino superior é recente, no entanto, é marcado por extrema coragem e resistência, pois o mundo acadêmico não é de todo um espaço acolhedor. Ainda que a dureza prevaleça na universidade, Hilário encontrou solidariedade e amizade na Faculdade de Educação, ainda que não seja uma solidariedade coletiva, foi construído uma rede de apoio, tanto de alunas/os, como também de docentes, isso pode ter aliviado sua dura estrada longe de seu chão.

Hilário não morreu porque “chegou a hora dele”, morreu por não ter o direito de ser mais um indígena, digno de necessários cuidados. Hilário, era um homem parte do “povo indígena”, um povo invisibilizado, injustiçado, espezinhado, humilhado e, odiado por este desgoverno.

Um povo com suas terras ameaçadas e roubadas pelo latifúndio, mortos por pistoleiros do agronegócio, ironizado e menosprezado por representantes deste desgoverno, ignorado por gente nativa que se acha descendente de europeus, machucados por todos que acham que universidade não é lugar de indígenas.

Não sei falar de fé, nem de ‘destino’, nem de coragem para aliviar o cansaço de um tempo incansavelmente dolorido. Ironicamente, para não dizer, funestamente, o tal ministro da educação, que afirmou odiar a expressão “povos indígenas”, ampliando seu descaso com a educação, revogou hoje [H OJ E], (19/06) a portaria assinada pelo ex-ministro de educação, Aluísio Mercadante, que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Hilário, estaria fora da pós-graduação, se dependesse deste ser desumano.

Quando lanternas começaram a iluminar caminhos de direitos para esta população, no interior de nossas universidades públicas, ainda que timidamente, um furacão de perversidade em formato de governo, dá pontapés e pisa, moendo, as possibilidades de justiça. Feito bandeirantes, grupos genocidas a frente das decisões da nação, estimulam a morte em todos os formatos. Deixar que o coronavírus atue, sem controle, é a proposta de morte atual para os povos originários.

Como Hilário, temos medo, muito medo, mas agarremos as lanternas, e assumimos nosso lugar na defesa dos povos indígenas, não os condenando a escuridão, como muitos fazem.

Hilário Ab Reta Awe Predzaw presente!

Este texto foi escrito com informações coletadas com as alunas, companheiras de Hilário, da turma do quinto período de Pedagogia da Faculdade de Educação/UFG, Dorany Mendes Rosa e Raysa Carvalho.

A elas e a toda turma, meu carinho e solidariedade.

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