Dois estudantes de Florianópolis, sem qualquer relação com o ataque a Bolsonaro (PSL), inclusive uma adolescente de 17 anos, estão sendo expostos à violência nas redes sociais e incriminados gratuitamente na agressão. Eles sofrem ameaças de morte e linchamento moral com insultos de baixíssimo calão promovidos por seguidores do político. Não há limites de fraude nem de violação da lei para os bolsonaristas tentarem forjar na marra um vínculo entre o atentado sofrido pelo candidato e o Partido dos Trabalhadores. Homens e mulheres eleitores do candidato passaram o feriadão inundando a internet com Fake News criminosas que colocam em grande risco a vida e a integridade dos dois jovens, cuja inocência é comprovada pela comparação física absurda com o criminoso e sua falsa comparsa e pela distância de 1,5 mil KM em que se encontravam do local do crime, ocorrido no dia 6/9, em Juiz de Fora (MG). Ambos já estão sendo assessorados por advogados e vão processar os difamadores por crime de calúnia e difamação, além de exposição de adolescentes à situação humilhante, perigosa e vexatória.
O primeiro post incriminando a adolescente como comparsa de Adélio foi produzido e postado pelo bolsonarista Alfredo José Assumpção, às 12h7 do dia 7 de setembro, em sua página no Facebook, que alcançou 46 mil compartilhamentos. O enunciado não deixava dúvidas: “Essa é a mulher que carregou a faca na mochila e que passou a um segundo e a que a fez chegar às mãos do terceiro bandido que esfaqueou Bolsonaro (…)”. Natural do Rio de Janeiro e morador de São Paulo, Alfredo é sócio-fundador da empresa Fesap Group. Segundo seu currículo no Face, estudou Desenvolvimento de Recursos Humanos na Fundação Getúlio Vargas, estudou na Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro e “andou” na escola Western University State of Colorado Denver, nos Estados Unidos. Sua página é uma fábrica de Fake News grosseiras, como a fotomontagem de Lula em comício, ao lado da imagem do agressor de Bolsonaro, toscamente recortada e colada em cima de um eleitor negro do ex-presidente. Ele também produziu postagens falsas incriminando a jovem Clara Ribeiro, de Juiz de Fora, apontada por essa rede de caluniadores como “o cérebro do atentado”, vítima de incontáveis ameaças de morte e xingamentos. Consta ainda de sua página a foto da presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, em selfie com um rapaz falsamente identificado como o agressor, produzida no dia 7 de setembro, às 23h15, por MaryTheresa Barbosa, outra contumaz caluniadora.
Encorajadas por figuras públicas de extrema-direita, como o líder do MBL Kim Kataguiri e pela jornalista Joice Hasselmann, filiada ao PSL, ex-Revista Veja e hoje radialista da Jovem Pan em São Paulo, as fotos são curtidas, endossadas e compartilhadas cegamente por muitos milhares de homens e mulheres seguidores do líder fascista. Todas vêm acompanhadas de pesados xingamento, palavrões, ofensas morais, promessas e ameaças de morte por linchamento. Muito nervosos, principalmente a menina, os dois jovenzinhos, que estudam em escolas da Capital, se identificaram para os Jornalistas Livres, mas sua identidade será protegida até que eles se sintam seguros e formalizem ação contra os responsáveis. A advogada de um deles, Rosângela de Souza, do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores, estuda solicitar proteção policial pelas ameaças de linchamento sofridas pelos dois. Somente um dos posts tinha cerca de 50 mil compartilhamentos pouco antes desta publicação.
Em seu Twitter, Kataguiri e Joice publicaram as fotos da secundarista, de 17 anos, ao lado do estudante universitário, de 19, que faz parte da Juventude do PT, vestidos de camiseta vermelha com a estampa Lula Livre e portando uma bandeira lilás com o símbolo da União Nacional dos Estudantes, que os boateiros espalharam como se fosse do partido. A foto, postada na página do agressor, foi tirada numa manifestação ocorrida no Largo da Catedral, em Florianópolis, em junho passado. Trata-se, segundo o universitário, de um protesto convocado pela CUT durante a greve dos caminhoneiros contra o aumento do preço da gasolina e em defesa da Petrobrás. Acima da foto, Kim e Joice publicam um texto muito parecido, ironizando o fato de que a Globo News, ao reproduzir os argumentos da Polícia Federal, afirmou que o acusado não tinha partido nem ideologia definida, já que defendia posições radicalmente díspares e seus comentários políticos eram contraditórios e confusos. Em entrevista por áudio, o jovem deu o seguinte depoimento:
Estudante – Eu não lembro de ter visto esse cara, nem de ele ter batido a foto; eu não posaria para um desconhecido. Lembro de ter me deixado fotografar por alguém conhecido do movimento que deve ter publicado em sua página. O Adélio Bispo Oliveira pegou a foto e postou no seu perfil do Facebook.
Jornalistas Livres – Você acha que houve aproveitamento político da imagem?
Estudante – Como a única coisa que liga o acusado ao PT e ao Lula é essa foto com a nossa camiseta, começaram a espalhar a imagem dizendo que eu era o Adélio.
Jornalistas Livres – Você ficou preocupado?
Estudante – Num primeiro momento, eu fiquei muito preocupado, mas ao mesmo tempo ele já estava preso; então os riscos de linchamento nas ruas de uma pessoa presa não existiria. O problema foi no dia seguinte à agressão, quando começaram a divulgar a foto ao lado da minha colega e a afirmar que ela era a comparsa do Adélio que passou a faca para ele. Na própria quinta-feira, fiz um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia contra a calúnia e comprovando que eu estava aqui em Florianópolis no dia do crime, ocorrido em Minas Gerais.
O mais revelador da fúria coletiva da rede de bolsonaristas é que o estudante, 20 anos mais jovem que Adélio, não guarda a menor semelhança com o acusado, que tem 40 anos, é bem mais moreno, estampa muitas rugas na testa e em torno da boca. Isso não bastou para impedir a horda insana de incriminar a secundarista, que foi identificada, através de flechas amarelas à imagem de uma mulher de óculos escuros visivelmente mais gorda e mais velha, apontada como suspeita pelos próprios bolsonaristas, de ter alcançado a faca para o agressor golpear o líder fascista. A única semelhança entre as duas é o cabelo liso e negro. Estarrecedor que nos comentários, alguns dos internautas questionam a veracidade dos posts, uma jovem avisa que está printando a ameaça de morte e vai denunciar, mas raros param para ponderar ou se dar conta de que as associações são absurdas. Uma pessoa indaga por que a esquerda não precisa de provas, só a direita e afirma que as provas já estão dadas. Os bolsonaristas xingam os comunistas, esquerdopatas, petralhas, pedem a prisão preventiva dos garotos, prisão perpétua, expulsão do país, atacam a moral da menina, divulgam até o telefone de uma mulher de codinome Aryane Petista como se fosse dela.
Enquanto sites ligados ao candidato Jair Bolsonaro divulgam fotos obscuras de suspeitos de participar do atentado ao político na quinta-feira (6/9), um turbilhão de Fake News criminosas continua a levantar calúnias perigosas contra pessoas que nada têm a ver com a agressão. No Youtube, as produções escarificando os dois estudantes com paralelos entre suas fotos, a do agressor e de pessoas que estavam em torno da manifestação onde ele foi esfaqueado se avolumam com a mesma rapidez que milícias fascistas tomaram conta da Itália sob a égide de Mussolini. Em nome do líder ferido, o exército de internautas adoradores do político busca fazer justiça com as próprias mãos, jogando aos leões os que eles apontam e propondo a eliminação dos que chamam de comunistas, petralhas e esquerdopatas.
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MORAL E AMEAÇAS DE MORTE CONTRA ADOLESCENTES