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Energia

Eletropaulo: o mito da privatização

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Para evitar esse risco a solução é vender as estatais. Seria como dizer que para evitar o carrapato e melhor matar o boi. Estatais vitoriosas existem na França, China, Noruega, com boa governança. A solução do problema no Brasil é blindar as estatais do risco de indicações politicas e não vendê-las a qualquer preço para evitar indicações politicas.

Na realidade os “privatistas” usam essa razão para justificar privatizações sem critério.

Ao contrário do que pregam alguns dos sócios remidos do clube carioca de privatizadores, gente com prazo de validade vencido há muito tempo, a privatização não teve ainda um bom balanço no Brasil. Os privatistas tem o clássico argumento do telefone, “antes o telefone era vendido etc.”, esquecendo de falar sobre os ultra rápidos avanços tecnológicos na telefonia celular que tornaram a telefonia fixa irrelevante e foi isso que popularizou a telefonia e não a privatização da rede fixa, sempre registrando que o produto maior da telefonia privatizada, a OI, FALIU, depois de servir de instrumento para uma série de falcatruas PURAMENTE PRIVADAS em que se lambuzaram vários “grupos privatizadores” do Clube do Real, que compraram a Telebras sem dinheiro, sorveram depois macro dividendos e largaram o osso como massa falida. ESSE CAPITULO OS PRIVATISTAS NÃO CURTEM CONTAR, eles gostam de contar a ladainha que a “privatização é sempre boa para o Pais, tralalá, tralalá…” nem o disco trocaram desde os anos 90. É chocante que o pré-candidato à Presidência Alckmin tenha selecionado um ex-muso e uma ex-musa das privatizações dos anos 90 como “conselheiros” de seu programa econômico, como se o mundo tivesse parado nos anos 90 e o legado de Thatcher e Reagan não tivesse implodido como pesadelo na crise financeira de 2008, fruto da desregulamentação total do sistema bancário inventada pelos neoliberais.

Um dos símbolos da novela NÃO tão cor de rosa da privatização dos anos 90 é o caso da ELETROPAULO, comprada pelo grupo financeiro americano AES que tem tudo a ver com finança, criado por dois corretores da Bolsa de Nova York e nada a ver com empresa de energia vocacionada tecnicamente com uma cultura de engenharia e inovação.

É impressionante a queda da qualidade de serviços e a perda de eficiência da empresa após a privatização. Quando vendida tinha 27.500 funcionários, hoje tem pouco mais de 3.000, a meta é TERCEIRIZAR tudo, se possível até o escritório brasileiro do grupo que foi transferido de São Paulo para a margem de uma rodovia estadual para economizar aluguel. A ELETROPAULO estatal era uma OTIMA empresa, os funcionários vestiam a camisa e não havia crise financeira ou operacional, foi vendida para atender a ideologia privatista então na moda.

As quedas de energia se multiplicaram muito após a privatização, mas esse não é o maior problema. A tragédia é o TEMPO de religação que no passado estatal era de 1 ou 2 horas, padrão internacional, cito a Luz del Sur de Lima, Peru, com média de duas interrupções por ano, a ELETROPAULO tem quantidade de interrupções impressionantes, com religações que começam em 7 horas e chegam em certos bairros e quadras a 24 horas ou mais.

A razão é a mesma que gerou a tragédia de Mariana pela ação da SAMARCO: obsessão com a redução de custos para gerar lucros em beneficio dos acionistas. No DNA da tragédia de Mariana está a VALE privatizada e seus sócios estrangeiros, todos só focados em finança.

O núcleo de comando da ELETROPAULO, como é padrão nesse tipo de empresa oriunda do financismo de bolsa, é a Vice-Presidência Financeira, o Chief Financial Officer (CFO), ele é o coração da empresa, no financeiro estão os altos salários e excelentes bônus, o poder que manda na empresa é o Vice de Finanças é o homem mais importante da empresa, aliás o ultimo presidente era o anterior Financeiro promovido a presidente, tudo gira em função dos resultados financeiros que impactam o preço das ações, os dividendos a remeter, a valorização em beneficio do acionista, a avaliação do mercado e dos fundos de investimento, os bônus são calculados com base na cotação das ações, o corpo operacional que cuida das instalações, das estações transformadoras, dos cabos e fios é a terceira classe do navio, não está nela a preocupação da cúpula de “gurus”, os gênios das finanças, a alma do grupo, tudo gira em torno do dividendo e da cotação das ações, é a única coisa que interessa.

Para reduzir custos e gerar lucros para remeter é preciso ver onde se pode cortar custos até o osso. Se for preciso 400 equipes terceirizadas de manutenção de rede stand by, cada uma precisa ser paga permanentemente, então o negócio é cortar para 50, fica muito mais barato.

O outro lado da moeda é que quando há uma chuva forte a energia cai em 200 lugares e as 50 equipes não dão conta, os reparos de linha tem que esperar numa fila porque o número de equipes de manutenção é menor que o número de situações a resolver. Há nitidamente menos equipes de manutenção do que o necessário, isso já tem sido apontado há mais de dez anos, o próprio Governador de São Paulo deu entrevistas sobre isso reclamando, está no Google, quem quiser pesquisar verifique quantas vezes Alckmin reclamou da Eletropaulo em função de quedas de energia e demora para religar.

O que aconteceu em Mariana com a implosão da barragem foi falta de manutenção para cortar custos, esticando a economia até a faixa de risco. Os gerentes financeiros são premiados por isso, é a cultura do financismo levada até o ultimo nível da empresa, esticar a corda até o ultimo milímetro antes de arrebentar mas as vezes ela arrebenta, como em Mariana.

Os que defendem as privatizações precisam levar em conta que a alegada “eficiência” que atribuem à empresa privada é eficiência para o acionista e pode NÃO coincidir com a eficiência para os consumidores e para o País, mais ainda, muitas vezes a eficiência de curto prazo gera a ineficiência do longo prazo, corta-se custos no trimestre, mas sacrificando o futuro da empresa.

A ineficiência atribuída à empresa estatal por sua natureza é falsa. O Brasil foi construído a partir de 1945 pelas empresas estatais, foram elas as grandes impulsionadoras do desenvolvimento da infra estrutura, do petróleo, da construção de aviões, da petroquímica, das maiores hidroelétricas do mundo, do gás da Bolívia, dos metrôs nas grandes cidades, da PETROBRAS com investimentos pioneiros na exploração marítima de petróleo, desenvolvendo tecnologia inovadora de pesquisa e perfuração no pré-sal.

Casos de corrupção não invalidam o modelo estatal que já teve ao longo da história brasileira grandes administradores de visão nacional, como Octavio Marcondes Ferraz, Mario Thibau, Roberto Campos, Faria Lima, Stenio de Albuquerque Lima, João Camilo Penna, todos executivos de grandes estatais e que legaram grandes realizações.

As empresas privadas também têm formas e meios de causar graves prejuízos ao País e à população por mecanismos de sonegação, cartelização, preços extorsivos, em relação ao consumidor a empresa privada NÃO é sempre a melhor provedora de serviços, especialmente em situações de monopólio como são as distribuidoras de energia elétrica, e quando há corrupção interna através de conluio dos administradores com fornecedores, algo relativamente comum na empresa privada, os custos dos produtos e serviços são aumentados por conta desses desvios, batendo no bolso do consumidor e diminuindo a arrecadação.

Então é uma lenda que a empresa privada é sempre do bem e a estatal sempre do mal.

A empresa privada, especialmente as muito grandes, tem um poder politico impactante que pode custar caro ao País e a seus consumidores, ela não é sempre benigna, como pregam os defensores ideológicos do mercado em qualquer circunstancia.

Quando o Presidente Theodore Roosevelt mandou implodir em seis pedaços o grupo Standard Oil em 1905 ele visava com isso o interesse público, prejudicado por aquela empresa privada. O Presidente Kennedy enfrentou o cartel do aço, ameaçando com prisão os diretores de siderúrgicas. Hoje temos no Brasil um cartel de bancos privados que cobram juros extorsivos de seus clientes, onde está a benignidade dos bancos privados brasileiros, muitos deles engrandecidos exatamente pela compra de bancos estatais que foram na década de 90 estigmatizados pelos “privatistas” para justificar sua privatização a preços irrisórios?

Na crise dos subprimes de 2008, o mal foi causado pelos bancos privados e a solução foi dada pelo Estado americano, naquele momento o capital privado representou o MAL, não se viu virtude alguma na ação da Goldman Sachs e do Lehman Brothers.

Nos Estados Unidos, centro do financismo global, não há uma ideologia de privatização como politica de governo, como se quer implantar no Brasil pela ressurreição do “clube PUC Rio””, os mesmos nomes de 1990 que ainda pregam na mesma cartilha agora gasta e desbotada, os méritos das privatizações da década de 90 que trouxeram extraordinários lucros aos banqueiros de investimentos, entre os quais eles mesmos e patrocinaram alguns grandes fracassos como a OI e outros de duvidoso beneficio ao Pais como a siderurgia pessimamente privatizada e hoje com usinas combalidas como COSIPA e USIMINAS.

Nos EUA os grandes aeroportos são do Estado ou dos municípios, as rodovias são públicas e não privatizadas (salvo raros casos), portos são estatais, os sistemas de transportes coletivos nas cidades são de propriedade do município, as usinas hidroelétricas são federais porque têm interferência com os recursos hídricos, os trens de passageiros são estatais (Amtrak), assim como empresas de seguros de hipotecas, de financiamento à exportação (Eximbank), de crédito e seguro agrícola (Commodity Credit), o Brasil como é usual importa ideologias por imitação sem fazer triagem e acha que assim fazendo vira moderno por cópia daquilo que julgam ser a cartilha dos países ricos, nessa transferência de ideias o Brasil faz muita confusão.

Ao fim e ao cabo o ciclo de privatizações dos anos 90 não fizeram um Brasil melhor, não contribuíram para o desenvolvimento e crescimento do País, não criaram empregos, não melhoraram a distribuição de renda, não abateram a divida publica, não diminuíram a carga fiscal, ao contrário, apenas serviram a banqueiros de investimentos, especuladores e seus associados “economistas de mercado” que agora voltam com a mesma receita velha e gasta para fazer um refogado do mesmo plano que propunham no governo FHC em um mundo muito diferente onde hoje a China, potência econômica em ascensão, opera com uma enorme linha de frente de estatais, o maior setor da economia, com pleno sucesso, fazendo a China crescer com as maiores taxas do mundo e ocupando a cada ano maior espaço geopolítico inclusive no Brasil com a grande onda de investimentos chineses que se faz, por essas ironias da História, por empresas estatais chinesas comprando estatais brasileiras, o Brasil na contramão da História caindo em contos do vigário para se desfazer do patrimônio nacional, o índio entregando a terra em troca de “espelhinhos” lusitanos.

Fonte: GGN

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2 Comments

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  1. realista@hotmail.com

    29/01/18 at 22:24

    KKKKKKK … André, eu não sei quantos anos você tem, mas se você conhecesse a antiga LIGHT, saberia que a ELETROPAULO é 1000 X melhor do que a LIGHT. Tem que privatizar sim ! ! ! Por um Estado Mínimo ! Estado só deve investir em Saúde, Educação e Segurança. Ou fazer parcerias. Fizeram MUITO BEM EM PRIVATIZAR A ELETROPAULO ! Esses Mortadelas são eternos insatisfeitos e do contra.

  2. FelipePSantos

    01/02/18 at 6:21

    Sr. “realista”, se não me engano, a Light S.A.é há pelo menos 25 anos uma empresa privada, tendo também iniciado as suas operações como uma empresa privada até a estatização por parte do Governo Militar nos anos 70, durando esta até 1992.

    A Light estatal sempre funcionou de acordo com os recursos e a tecnologia disponíveis em sua época, e ainda era vista sob um olhar positivo, tanto que a Eletropaulo se formou a partir da mesma.

    A questão é que, como dito no artigo, a modinha privatista de 1992 nos deixou duas empresas de energia de caixa bilionário, mas tecnologia antiquada, péssimo serviço e funcionando como versões pioradas das anteriores, sendo a Eletropaulo o caso mais visível.

    …Não sei se há um cinismo velado em seu argumento ou se é mesmo mais um entusiasta desinformado, mas o que é verdadeiramente realista nesta discussão se resume na política do rentismo especulativo perpetrada pelos empresários de penteado escovinha que nada entendem do assunto que lá estão lidando, mas apenas de números e como engordá-los.

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Energia

INSTALAR USINA NUCLEAR EM ITACURUBA FERE A CONSTITUIÇÃO

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por Daniel Filho

O sertão de Pernambuco, especificamente a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas (de acordo com IBGE 2015), além da pandemia convive, ainda, com a possibilidade de se ver materializar em seu território a construção de um complexo com seis reatores nucleares.
O debate perdura ainda que contrariando a própria Constituição do Estado de Pernambuco que em seu artigo 216 reza:

“Fica proibida a instalação de usinas nucleares no território do Estado de Pernambuco enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e oriunda de outras fontes”.

Conversamos com Célio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo que nos aponta: o Estado está longe de esgotar as possibilidades de geração de energia. Nas suas próprias hidrelétricas é possível, a um custo 20 vezes menor da construção do complexo de usinas, garantir a metade dessa produção energética:

“Meus cálculos sobre o investimento necessário para colocar as oito turbinas e os oito geradores faltantes nas usinas hidrelétricas de Itaparica e Xingó, se tiver água suficiente para tanto no rio São Francisco:

Itaparica: quatro turbinas de 250 MW cada – 600 milhões de dólares

Xingó: quatro turbinas de 500 MW cada – 1 bilhão e duzentos milhões de dólares

Ou seja, para se ter quase a metade da energia das usinas nucleares que querem construir em Itacuruba ou em qualquer outro lugar nas margens do São Francisco (3.000 MW contra 6.600 MW) vai se gastar um total de 1 bilhão e oitocentos milhões de dólares, contra 36 bilhões de dólares.
Ou seja: vinte (20) vezes mais barato.
E sem precisar fazer nenhuma grande obra, bastando motorizar as duas usinas colocando as oito turbinas e os oito geradores faltantes.”

No próximo sábado (4 de Julho) o canal “Conexão Xô Nuclear” fará uma roda de Conversa Antinuclear que contará com a participação do relator da PEC em discussão na Assembleia, Deputado João Paulo (PCdoB) e Anivaldo, presidente do Comitê da Bacia do Rio São Francisco.
A partir das 16H00min no YouTube e Facebook:

https://www.youtube.com/ConexãoXôNuclear

https://www.facebook.com/XoNuclear/live

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Ação Humanitária

A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

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tuxas contra usina nuclear

Com a promessa de empregabilidade em uma região carente e que já sofreu uma tragédia, quando na década de 1980, a construção da barragem de Itaparica, inaugurada em 1988, inundou todo o território das cidades de Itacuruba, Petrolândia e Rodelas, atingindo assim as comunidades indígenas e quilombolas, o Governo Federal vem prometendo mundos e fundos para a pequena população de menos de 5 mil habitantes da cidade de Itacuruba.

 

 

Sobre a inundação, no livro “Tuxá, os Índios do Nordeste, o autor Orlando Sampaio lembra o fato: “Com a cidade de Rodelas, ficaram sob as águas as habitações e as ilhas dos índios Tuxá. A ilha da Viúva, a mítica terra em que esses índios faziam a agricultura e praticavam seus rituais, tornou-se um acidente histórico submerso no lago.”

Viajamos até lá e entrevistamos várias pessoas de comunidades indígenas, quilombolas e das cidades de Itacuruba e Floresta, onde se concentra o movimento da igreja católica que é contrária a construção da Usina Nuclear com seis reatores na região e que conta com dois lobistas do Governo Federal e Estadual respectivamente: Fernando Bezerra Coelho, senador (MDB) e Alberto Feitosa, deputado estadual (SD).

 

tuxas contra usina nuclear

Entrada do aldeia do povo Tuxá, em Itacuruba, Pernambuco

Em breve traremos novas entrevistas sobre um assunto tão absurdo e surreal, pois é totalmente na contramão da tendência mundial, que é desligar todas as Usinas Nucleares, a exemplo da Alemanha e Japão, que já vem nesse processo há alguns anos, mas que se tratando de desgoverno Bolsonaro, a gente até entende.

Videorreportagem: Sergio Gaspar, Veetmano Prem, Daniel Barros e Eduardo Nascimento

Texto: Rodrigo Pires

#XôNuclear #Itacuruba #UsinaNuclear #Pernambuco

LEIA MAIS EM NOSSO SITE SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

*Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.

Patrocinadores:

FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco

Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)

SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco

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Campinas

Guilherme Estrella fala sobre o Pré-sal em palestra na Unicamp

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Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras entre os anos de 2003 e 2012
” Energia é questão de soberania ou dependência. O que estão fazendo com a Petrobras não é privatizar; é desnacionalizar o que nos garante a soberania, de forma a nos colocar de volta na condição de colônia”, apontou o geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, em palestra realizada no Instituto de Geografia da Unicamp, em Campinas/SP.

 

Na última terça-feira (5), a UNICAMP recebeu o Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras entre os anos de 2003 e 2012, é considerado o “Pai do Pré-Sal”, rótulo que rejeita, exaltando a equipe superqualificada com quem ele trabalhava. “Era como ser o técnico da seleção brasileira de 58. Só precisava fazer um pedido: ganhem o jogo”, disse.

Estrella começou sua fala exaltando as qualidades naturais do Brasil: “Temos a maior floresta tropical do mundo. Somos o país mais bem servido de recursos hídricos. Os dois maiores aquíferos do mundo estão no Brasil. Temos uma produção agrícola que nos coloca como segundo maior produtor de alimentos do mundo. E também somos muito ricos em minérios, sendo a maior província mineral do planeta”.

Em seguida, ele começa a demonstrar a relação do acesso a fontes de energia e desenvolvimento de Estados ao longo da história. Começando com a revolução industrial na Inglaterra, propiciada pelo acesso ao carvão mineral. Num segundo momento os EUA descobrem petróleo e em seguida se tornam potência mundial. Enquanto que a primeira fonte de energia do Brasil foi a eletricidade. Então já percebemos que nosso desenvolvimento foi tardio em relação a essas grandes nações.

Então, devido a muita luta política chegou o fim a política café com leite com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Com ele construímos a Companhia Siderúrgica Nacional, a Eletrobrás e a Petrobrás, além de diversas outras empresas estatais. A partir de então, com um esforço 100% do Estado brasileiro, começamos a desenvolver tecnologias e entender a geologia do nosso país, o que muitos anos depois resultou no descobrimento do pré-sal, em 2006.

No momento do descobrimento do pré-sal, nenhuma empresa queria assumir o risco exploratório de desenvolver estas áreas tão desafiadores. Quem assumiu esse risco foi a Petrobras. Foram instituídas duas formas de explorar e produzir o pré-sal: o regime de partilha, onde nas licitações promovidas pela ANP, a empresa vencedora será aquela que oferecer ao Estado brasileiro a maior parcela de petróleo e gás natural (ou seja, a maior parcela do excedente em óleo), e a Cessão Onerosa que é um contrato celebrado entre a Petrobrás e a União através do qual a empresa adquiriu pelo montante total de R$ 75 bilhões o direito de produzir um volume total de 5 bilhões de barris de petróleo equivalente a partir de seis áreas onde a estatal já havia conduzido estudos exploratórios.

Na quarta-feira (6) aconteceu o leilão do excedente da cessão onerosa. Considerando a descoberta posterior de volumes superiores ao limite do contrato, de cinco bilhões de barris, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou a ANP a licitar esse excedente, no regime de partilha da produção, na Rodada de Licitações do Excedente da Cessão Onerosa.

O valor de R$ 106 bilhões inicialmente apresentado pelo governo como sendo algo maravilhoso não é bem assim. A rodada do “excedente da Cessão Onerosa” leiloará uma área que possui um volume de 6 a 15 bilhões de reservas provadas, ou seja, reservas com uma probabilidade de 90% de que serem produzidas. Nesse caso, praticamente não há risco exploratório. Portanto, estão entregando praticamente de graça uma das maiores riquezas do mundo. Enfático, Estrella disse que a energia não é mercadoria, é questão de soberania ou dependência. E o que estão fazendo com a Petrobras não é privatizar; é desnacionalizar o que nos garante a soberania, de forma a nos colocar de volta na condição de colônia.

Das quatro áreas, duas foram concedidas, e pelo lance mínimo. Quem levou foi a própria Petrobrás, com a arrecadação de R$ 69,9 bilhões dos R$ 106 bil que o governo esperava arrecadar. Ontem (7), a Petrobras, também em sociedade com uma estatal chinesa, fechou o contrato por R$ 5,05 bilhões dos R$ 7,8 bi previstos.

Para concluir a palestra, Estrella afirmou: “Nós, petroleiros, sozinhos, dificilmente enfrentaremos essa parada com perspectiva de êxito. Nós temos que ter a sociedade ao nosso lado. Temos que convencer o cidadão brasileiro que ele é proprietário disso. Quando você entrega o pré-sal, quando você vende uma refinaria brasileira, nós estamos vendendo uma riqueza que pertence ao cidadão brasileiro”.

 

Assista à palestra “Território e energia: geologia do pré-sal e geopolítica do petróleo”, com Guilherme Estrella realizada no Instituto de Geografia da Unicamp, em Campinas/SP

https://youtu.be/8J3Z4uGW-RU

 

Com informações:

Geopetro – Coletivo de Geopolítica do Petróleo da Unicamp.

Facebook.com/geopetrounicamp

Instagram: @geopetrounicamp

Twitter: @geopetrounicamp

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