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Movimentos Sociais

Efeito Terapêutico dos Movimentos Sociais

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No dia 12 de junho promovido pela Livraria Tapera Taperá um debate com Tales Ab Sader, Maria Rita Kehl e Guilherme Boulos veio trazer questionamentos, luz e entusiasmo para um grupo de participantes psicoterapeutas e demais profissionais.

A temática interessou e mobilizou um grupo de pessoas diverso extrapolando a capacidade do Tapera Taperá para o corredor central e os espaços laterais da Sobreloja da Galeria Metrópole. Esta presença maciça numa noite de frio e chuvosa reflete a inquietude com este momento de crise tão profunda que estamos vivendo desde o golpe de 2016.

A perda de direitos, de entrega de nossas riquezas do país e a prisão política do Lula ultrapassou todos os limites.

Segundo Tales, o Brasil é um espaço cindido desde sua origem. O Brasil fascistóide é herança da tradição colonial/escravocrata. A psicanálise trabalha com as estruturas simbólicas e a nossa modernidade não é a europeia da luta de classes. Historicamente a vida popular e a simbologia do desejo cotidiano do brasileiro, está fora dos direitos civis.

O “homem cordial” precisa estar sempre fiel às classes dominantes, o que caracteriza o bovarismo e a vida ilusória do povo brasileiro seguindo os “homens de bem”, fazendo o jogo imaginário.  Segundo uma visão dialética, a atualização social, sob perspectiva histórica, traz a dimensão clínica da política: a solidariedade como valor e força do desejo no sentido mais radical.

Para Boulos, diante dos tempos de intolerância, ódio, política do medo é fundamental para a esquerda debater a barbárie simbólica do medo.

Nas ocupações temos muitos exemplos de pessoas que deixaram de tomar antidepressivo após a luta. A história de vida das pessoas que vão para as ocupações é de gente em situações extremas.

As ocupações permitem o resgate de um sentimento comunitário “eu descobri que não estou mais sozinho”. As atividades de mutirão, limpeza, arrumação de espaços e cozinha comunitária, resgatam o brilho da vida e do incentivo que haviam perdido.

As relações humanas que se estabelecem nas ocupações de solidariedade fortalecem o indivíduo e o povo deixa de ser visto “como parte da paisagem”, passa a ser sujeito da sua história e esta redescoberta da solidariedade dá a dimensão da sua própria potência. Muitas pessoas afirmam que em busca da moradia, encontraram o lugar da relação humana. As ocupações, no entanto, reproduzem o sofrimento e o medo, algumas vezes a violência generalizada da sociedade.

Uma grande lição das ocupações para a esquerda brasileira é trazer a solidariedade para o centro do debate da política. Os problemas, retrato da sociedade de dominação acontecem e a ocupação dá oportunidade para que estes processos de dominação sejam discutidos, conversados, elaborados. Precisamos falar do sofrimento e da subjetividade, enfrentar este ambiente que produz a violência e o ódio. No Brasil, o capitalismo é primitivo, o ataque aos direitos dos trabalhadores vai impactar ainda mais os pobres, negros e periféricos. O capitalismo se distribui de formas diferentes pelas diferentes comunidades. Além da tendência local, tem a tendência global, em que o fascismo é transcendente à história. O capitalismo não consegue devolver os benefícios do trabalho e no Brasil hoje o tempo é grave para ficarmos em discussões. Não podemos correr o risco de permitir a barbárie e para isto temos que nos organizar para introduzir um mínimo de racionalidade para enfrentar o ódio.

Maria Rita Kehl afirmou sua atuação militante, e falou sobre seu livro em lançamento “Bovarismo brasileiro” que contém alguns ensaios sobre o Brasil: a preguiça no samba, sobre a Globo que na década de 70 detonou a  festa de Iemanjá, sobre o Lula em que analisa também a TV brasileira, dentre outros.

Destaca que o próprio petismo teve que rever as suas origens para chegar ao governo e ter maioria no Congresso e fazer aliança com o PMDB “partido me dá uma boquinha”, para fazer algumas coisas, que ninguém tinha feito antes: tirou o país do Mapa da Fome. Tenho criticas ao Lula e ao PT que ficou refém deste partido, que não tem nenhuma ideologia.

Apesar de 3 governos e meio de governo petista, destaca o profundo conservadorismo do Brasil, o último país do mundo a ser livre da escravidão.  Aqui, a libertação dos escravos diferente dos EUA e de outros países, não teve reparação: nos EUA os escravos libertos ganharam um pedaço de terra e um animal de tração. Os senhores de terra no Brasil deixaram os escravos sem casa, sem terra e sem emprego e até hoje tem gente da elite golpista e canalha que mantém a escravidão por dívida que é a forma mais perversa de escravidão.

As próprias forças progressistas tem que se adaptar. O Brasil vive um profundo conservadorismo, um momento muito triste e talvez a única coisa que eu posso dizer de mais interessante é que a luta continua.

Maria Rita destaca sua participação militante junto ao MST e hoje também na clinica da praça Roosevelt na “Luta que Cura”. Esta atuação desenvolve e ocupa os espaços públicos em que o aspecto mais importante é desenvolver a Escuta: “estamos aqui para aprender juntos, para debater, para aprender com o outro”. Nessa troca com esta população profundamente espoliada e aviltada em seus direitos, acho que eu aprendo muito mais com eles: onde tem coletivo de direitos, não há o apagamento do eu e as pessoas passam por um processo de afirmação da subjetividade, de empoderamento, passam a ser sujeitos e a lutar pela própria história.

O MST não trata o movimento social como massa. Se estrutura a partir de pequenos núcleos, brigadas e interesses locais, que tem o sentimento de igualdade no seu coração. Onde há igualdade de direitos e dispositivos que promovem a coletividade, as pessoas agem com solidariedade.

Isto me faz lembrar o final da ditadura, quando as coisas começaram a acontecer: voltamos a debater e voltamos a ocupar o espaço público.

Toda essa gente que está aqui não está só para ouvir 3 pessoas mas pela necessidade de debater, de estar junto e de dizer a luta continua!

Maria Rita lembrou ainda do discurso do Lula em São Bernardo antes de se apresentar para a prisão: “não sou o Lula, mas uma ideia”, somos milhões de Lulas e cabe a nós lutar por Lula Livre” nos mais diferentes espaços!

Campinas

Famílias da Comunidade Mandela fazem ato em frente à Prefeitura de Campinas

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Comunidade Mandela Luta por Moradia

Em busca de uma solução, mais uma vez, moradores tentam ser atendidos

Os Moradores da Comunidade Mandela  fizeram nesta quinta-feira (17), um ato de protesto em frente à Prefeitura  de Campinas. O motivo da manifestação  é o   impasse  para o  problema da moradia das famílias que se arrasta desde 2016. E mais uma vez,  as famílias sem-teto  estão ameaçadas pela reintegração de posse, de acordo com despacho  do juiz  Cássio Modenesi Barbosa, responsável pelo processo a  sua decisão  só será tomada após a manifestação do proprietário.
Entretanto, o juiz  não considerou as petições as Ministério Público, da Defensoria Pública que solicitam o adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19, e das especificidades do caso concreto.
O prazo  final   para a  saída das famílias de forma espontânea  foi encerrado no dia 31 de agosto, no dia  10 de setembro, dez dias depois de esgotado o a data  limite.

As 104 famílias da Comunidade ” Nelson Mandela II” ocupam uma área de de 5 mil metros quadrados do terreno – que possui 300 mil no total – e fica  localizado na região do Ouro Verde, em Campinas . A Comunidade  Mandela se estabeleceu  nessa área em abril de 2017,  após sofrer  uma violenta reintegração de posse no bairro Capivari.

Negociação entre o proprietário do terreno e a municipalidade

A área de 300 mil metros quadrados é de propriedade de Celso Aparecido Fidélis. A propriedade não cumpre função social e  possui diversas irregularidades com a municipalidade.

 As famílias da Comunidade Mandela já demonstraram interesse em negociar a área, com o proprietário para adquirir em forma de cooperativa popular ou programa habitacional. Fidélis ora manifesta desejo de negociação, ora rejeita qualquer acordo de negócio.

Mas o proprietário  e a municipalidade  – por intermédio da COAB (Cia de Habitação Popular de Campinas) – estão negociando diretamente, sem a participação das famílias da Comunidade Mandela que ficam na incerteza do destino.

As famílias querem ser ouvidas

Durante o ato, uma comissão de moradores  da Ocupação conseguiu ser liberada  pelo contingente de Guardas Municipais que fazia  pressão sobre os manifestantes , em sua grande maioria formada pelas mulheres  da Comunidade com seus filhos e filhas. Uma das características da ocupação é a liderança da Comunidade ser ocupada por mulheres,  são as mães que  lideram a luta por moradia.

A reunião com o presidente da COAB de Campinas  e  Secretário de  Habitação  – Vinícius Riverete foi marcada para o dia 28 de setembro.

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Campinas

Ocupação Mandela: após 10 dias de espera juiz despacha finalmente

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Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam,  o juiz despacha no processo  de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo.
No despacho proferido , o juiz do processo –  Cássio Modenesi Barbosa –  diz que  aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário.
A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017,   lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação  em relação ao despacho  do juiz  em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.

Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:

“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”

Hoje também foi realizada uma atividade on-line  de Lançamento da Campanha Despejo Zero  em Campinas -SP (

https://tv.socializandosaberes.net.br/vod/?c=DespejoZeroCampinas) tendo  a Ocupação Mandela como  o centro da  discussão na cidade. A Campanha Despejo Zero  em Campinas  faz parte da mobilização nacional  em defesa da vida no campo e na cidade

Campinas  prorroga  a quarentena

Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.

 A  Comunidade Mandela e as ocupações

A Comunidade  Mandela luta desde 2016 por moradia e  desde então  tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas  públicas habitacionais. Em 2017,  cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam.  Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde.  O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade.  As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura.
Leia mais sobre:  
https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/

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Campinas

Em meio à Pandemia a Comunidade Mandela amanhece com ameaça de despejo

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O dia de hoje (31/08) será decisivo para as 108 famílias que vivem na área ocupada na região do Jardim Ouro Verde em Campinas, interior de São Paulo.  Assim sendo, o último dia do mês de agosto, a data determinada como prazo final para que os moradores sem-teto deixem a área ocupada, no Jardim Nossa Senhora da Conceição.   A comunidade está muito apreensiva e tensa aguardando a decisão do juiz  Cássio Modenesi Barbosa – da 3ª Vara do Foro da Vila Mimosa que afirmou só se manifestar sobre a suspensão ou não do despejo na data final, tal afirmativa só contribuiu ainda mais para agravar o estado psicológico e a agonia das famílias.

A reintegração é uma evidente agressão aos direitos humanos  dos moradores e moradoras  da ocupação, segundo parecer socioeconômico  do Núcleo  Habitação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo . As famílias não têm para onde ir e cerca de entre as/os moradoras/es estão 89 crianças menores de 10 anos, oito adolescentes menores de 17 anos, dois bebês prematuros, sete grávidas e 10 idosos. 62 pessoas da ocupação pertencem ao grupo de risco para agravamento da Covid-19, pessoas idosas e com doenças cardiológicas e respiratórias, entre outras podem ficar sem o barraco que hoje as abriga.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara de Campinas e o Ministério Público (MP-SP) se manifestaram em defesa do adiamento da reintegração durante a pandemia. A Governo Municipal  também  se posicionou favoravelmente  a permanência após as famílias promoverem três atos de protesto. Novamente  a  Comunidade  sofre com a ameaça do despejo. As famílias ocupam essa área desde 2017 após sofrem uma reintegração violenta em outra região da cidade.

As famílias

Célia dos Santos, uma das lideranças  na comunidade relata:

“ Tentamos várias vezes propor  a compra do terreno, a inclusão das famílias em um programa habitacional, no processo existem várias formas de acordo.  Inclusive tem uma promessa que seriam construídas unidades habitacionais no antigo terreno que ocupamos e as famílias do Mandela  seriam contempladas. Tudo só ficou na promessa. Prometem e deixam o tempo passar para não resolver. Eles não querem. Nós queremos, temos pressa.  Eles moram no conforto. Eles não têm pressa”

Simone é mulher negra, mãe de cinco filhos. Muito preocupada desabafa o seu desespero

“ Não consigo dormir direito mais. Eu e meu filho mais velho ficamos quase sem dormir a noite toda de tanta ansiedade. Estou muito tensa. Nós não temos para onde ir, se sair daqui é para a rua. Eu nem arrumei  as  coisas porque não temos nem  como levar . O meu bebê tem problemas respiratórios e usa bombinha, as vezes as roupinhas dele ficam sujas de sangue e tenho sempre que lavar. Como vou fazer?”

Dona Luisa é avó, mulher negra, trabalhadora doméstica informal e possui vários problemas de saúde que a coloca no grupo de risco de contágio da covid-19. Ela está muito apreensiva com tudo. Os últimos dias têm sido de esgotamento emocional e a sua saúde está abalada. Dona Luisa está entre as moradores perderam tudo o que possuíam durante a reintegração de posse em 2017. A única coisa que restou, na ocasião, foi a roupa que ela vestia.

“ Com essa doença que está por aí  fica difícil  alguém querer dar abrigo  para a gente. Eu entendo as pessoas. Em 2017 muitos nos ajudaram e eu agradeço a Deus. Hoje será difícil. E eu entendo. Eu vou dormir na rua, junto com meus filhos e netos.
Sou grupo de risco, posso me contaminar e morrer.
E as minhas crianças? O quê será das crianças? Meu Deus! Nossa comunidade tem muitas crianças. Esses dias minha netinha me perguntou onde iríamos morar? Eu me segurei para não chorar na frente dela. Se a gente tivesse para onde ir não estaria aqui. Não é possível que essas pessoas não se sensibilizem com a gente.
Não é possível que haja tanta crueldade nesse mundo.”

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