Em ato #Mulheres contra Cunha, polícia prende casal em BH; após ameaça com chegada da Tropa de Choque, manifestantes encerram movimento
Por Aline Frazão, para os Jornalistas Livres
Enquanto movimentos feministas e de direitos humanos lutam pela descriminalização do aborto (no Brasil as ricas abortam, as pobres morrem), o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, quer tirar um direito duramente conquistado. Desde 1940, a lei prevê que as mulheres podem realizar aborto nos casos de estupro e se for comprovado que o bebê é acéfalo.
Esse senhor quer incluir um ARTIGO no Decreto Lei do Código Penal. O texto do ARTIGO, o 127 A, diz que “anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto, induzir ou instigar gestante a usar sustância ou objeto abortivo, instruir ou orientar gestante sobre como praticar aborto, ou prestar-lhe qualquer auxílio para que o pratique, ainda que sob o pretexto de redução de danos”, a pena é detenção, de quatro a oito anos. Se o agente for funcionário da saúde pública, ou exercer a função de médico, farmacêutico ou enfermeiro, a pena é prisão, de cinco a dez anos. Reparou na maldade? Preste atenção ao “ainda que sob o pretexto de redução de danos”.
As mulheres não querem parir filhos de seus estupradores.
Esse recado ficou explícito nas manifestações que ocorreram nesta semana. Para protestar contra esse retrocesso, ativistas criaram o movimento
#MulheresContraCunha, que ocorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo, e no último sábado em BH. Apesar de não ter recebido tanta força quanto nas duas maiores metrópoles do país, onde foram organizados atos com milhares de pessoas, as mineiras insistiram em também tomar as ruas e protestar por seus direitos. Começando um pouco tímido na Praça da Liberdade, na frente do Palácio do Governador do Estado, aglomerou-se cerca de 500 pessoas que partiram em marcha para o epicentro da cidade, a Praça Sete de Setembro.
Elas caminharam pela avenida João Pinheiro. Alcançaram a Avenida Afonso Pena, e em frente à prefeitura entoaram um canto já conhecido na Capital mineira: “ei Lacerda, seu governo é uma merda! Dança lacerda, dança até o chão, chegaram as mulheres pra fazer revolução”.
A manifestação ocupava todas as pistas. No entanto, o trânsito estava tranquilo e a ideia era andar até a Praça da Estação. Porém antes de chegar à Praça Sete, a PM pediu aos manifestantes para liberar uma faixa. Liberaram. Logo em seguida eles quiseram a liberação da segunda faixa. Nessa hora se formou uma confusão. Policiais correram atrás de um rapaz e o deteve. Sua namorada questionou a prisão, e acabou sendo detida também. De forma violenta. Cinco policiais a seguravam pelos braços e pernas.
Vários manifestantes tentaram proteger o casal, outros já saíram correndo, assustados. O que era uma bela manifestação até então, se tornou cena de ditadura militar, ainda comum no Brasil. Um novo grito de ordem começou a ser bradado: “que coincidência, sem a polícia, não tem violência”.
O casal foi levado. Os gritos contra Cunha e seu projeto bizarro, como “Legaliza! O corpo é nosso! é nossa escolha! é pela vida das mulheres”, tiveram de se voltar contra a PM: “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”.
Depois disso, os manifestantes continuaram na Afonso Pena, por pouco tempo, resolvendo o que fazer com a questão dos companheiros detidos. Enquanto isso, a PM cercava o grupo que sobrou e mandou um aviso: “a tropa de Choque estava a caminho”. Ficou decidido que seria criada uma comissão, composta por representantes dos movimentos e por advogados, para liberar os presos.
A deputada federal pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil), Jô Moraes, acompanhava o ato e fez alguns telefonemas. Em conversa com um tenente da PM ela afirmou: “ a mulher foi presa por cinco policiais. Como é que precisa de cinco policias pra prender uma mulher? Eles saíram correndo atrás dela. Eu estou chocada. Eu espero que o senhor me assegure que não haja nenhum problema na delegacia. O batalhão não veio e realmente, era pouca gente pra tanto espetáculo”, concluiu, agradecendo.
Os manifestantes tiveram de liberar toda a avenida, sob a ameaça de uma ação truculenta da polícia. O movimento se dispersou, enquanto alguns foram até a Central de Flagrantes mais próxima, com a comissão.
O casal preso foi liberado durante a madrugada de sábado. Eles devem responder por processo. A comissão formada por integrantes dos movimentos que tomaram a frente do ato vai acompanhar o caso.
A polícia reconheceu que foi necessário usar da força para dominar a jovem detida. A força de cinco homens contra uma mulher.