Censura marca ocupação da Universidade Estadual de Londrina

Os alunos do curso de comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) tinham acabado de ocupar a Rádio UEL FM. Era Dia de Finados, 2 de novembro de 2016, um feriado isolado no meio de semana. Oito dos dez cursos de comunicação e arte da universidade tinham suas instalações ocupadas naquele momento e a estratégia dos alunos era clara: aproveitar a estrutura da emissora e o alcance do rádio para proporcionar ao público londrinense uma narrativa alternativa à da grande mídia para as ocupações promovidas pelos estudantes. Na UEL, estão ocupados os cursos de comunicação, a rádio e a reitoria.

Segunda maior cidade do Paraná, com aproximadamente meio milhão de habitantes, Londrina abriga sucursais das principais emissoras de televisão do Estado: RPC (retransmissora da Globo), Rede Massa (SBT), TV Tarobá (Bandeirantes) e RIC TV (Record). Abriga ainda a Folha de Londrina, que nos áureos tempos alcançou a condição de jornal de maior circulação do Paraná. O cenário da mídia paranaense em nada difere do restante do Brasil. Sem exceção, são todos veículos de posição conservadora, controlados por grupos empresariais e familiares antipáticos às mobilizações sociais. Sem surpresa, tratam a ocupação como invasão.

A prestação de serviço público pensada pelos estudantes, no entanto, não estava nos planos da reitoria da UEL, que se empenhou em silenciá-los. Não houve tempo nem ao menos de organizar uma grade de programação. O prédio foi ocupado na manhã de 2 de novembro. Já no início da tarde, cerca de três horas depois da ocupação da Rádio UEL, a transmissão da emissora foi interrompida. E isso no meio de um feriado.

“Primeiro achamos que a transmissão tinha caído por causa de uma chuva daquele dia”, afirmou um representante do movimento Ocupa Rádio UEL ao receber o Jornalistas Livres. “Até a transmissão da CBN caiu por causa daquela chuva”, observou ele, que preferiu não ser identificado. Mas a CBN voltou ao ar depois de alguns minutos. A Rádio UEL continuava fora do ar mais de uma semana depois.

“O diretor da rádio chegou a dizer que foi uma decisão dele, mas depois recebemos informações de que o desligamento do sinal ocorreu a mando da reitoria”, disse o representante do Ocupa Rádio UEL.

A própria reitoria admitiu a censura, ainda que sem usar o termo, ao tratar da ocupação da rádio em nota divulgada pela Agência UEL de Notícias em 8 de novembro, com direito a vírgula separando verbo de sujeito: “É do conhecimento de toda a comunidade, que a Rádio UEL FM é uma emissora educativa, que existe por ser uma concessão pública, que está submetida às normas e controle da Anatel e constitui-se em órgão suplementar da UEL. Serve à difusão do conhecimento, dos projetos acadêmicos e das atividades universitárias de toda a UEL. Desconsiderar estas premissas significa contribuir para a perda do direito a esta concessão federal, e à própria existência da Rádio, conforme previsão constitucional” (sic).

Com a rádio fora do ar, os alunos passaram a discutir alternativas para levar sua mensagem ao grande público. A solução encontrada foi colocar ao ar uma webradio. Mas a reitoria da UEL também não gostou muito dessa ideia. Pouco depois de a webradio entrar ao ar o sinal de internet sem fio da universidade foi cortado. E não havia chuva para desviar a atenção. Na visão dos alunos, a intenção da reitoria era clara: censurar a versão dos alunos para a ocupação.

A ideia de silenciar os estudantes até funcionou por alguns dias, mas não desmobilizou a ocupação. No dia 7, o sinal de wi-fi começou a voltar, primeiro de modo intermitente e depois constante, apesar de mais fraco que o normal. Os alunos então recolocaram a webradio ao ar às 18h do dia seguinte. Passaram a debater as ocupações, as PECs 241 e 55, a MP 746, manutenção das cotas e moradia estudantil, além de outros assuntos diretamente relacionados à ocupação. Também abriram os microfones para alunos de outros cursos, mantendo a prestação de serviços, tocaram música ao vivo e difundiram informações sobre questões internas da universidade.

Aproveitaram ainda para ir além, muito além das fronteiras da UEL. Na manhã de 9 de novembro, horas depois da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos, os alunos levaram ao ar um debate sobre o resultado.

Em uma página no Facebook, eles pedem aos ouvintes opiniões sobre a programação e anunciam o que vai ser transmitido a seguir. No alto da página, mantêm fixa uma mensagem: “Cortam o sinal da nossa rádio pública, cortam o nosso acesso a internet. A nossa energia cai mais que gota d’água em dia de chuva. Mas se nós lutamos é porque precisamos derrubar essas medidas que implicam em retrocesso social, contra a PEC 241 e 55, por liberdade de expressão. Vamos resistir! Ocupa tudo! Sintoniza lá e manda um alô, venha aqui para a rádio dar o seu recado, pede uma música. Tudo nosso!”

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