Jornalistas Livres

Categoria: Rio Doce

Cobertura sobre o maior desastre ambiental da história do Brasil, envolvendo o vazamento das barragens da Samarco e envolvendo principalmente os moradores que vivem próximo ao Rio Doce.

  • ‘Esta água tem uma coisa dentro dela que está acabando com a vida da gente’

    ‘Esta água tem uma coisa dentro dela que está acabando com a vida da gente’

    Texto: Larissa Gould. Fotos: Leandro Taques.

    Dona Eliane Gomes da Silva, tem 67 anos, 28 em Cachoeira Escura. No rosto e nas mãos as marcas de uma vida cheia de privações. Nos convida para entra em sua casa, durante a marcha do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, em sua passagem pelo distrito. O único cômodo é dividido em quarto, sala e cozinha. Nos recebe na porta, sua filha senta em um sofá ao lado, o outro filho ao seu lado, o terceiro deitado em uma cama nos fundos. Começa a falar rápido, antes mesmo de ligarmos os equipamentos. As angustias de mãe têm pressa para serem botadas para fora. Contadas àqueles jornalistas desconhecidos que se colocam em sua frente. No desespero por ajuda, nos confere sua confiança.

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    É casada e têm três filhos. Arrimo de família, recebe uma pensão de R$ 600,00 “e ainda pago aluguel”. O marido faz pequenos serviços gerais e de pedreiro para complementar a renda. Os dois pescavam no Rio Doce para fazer um extra. “Era muito bom antes da Lama, o povo todo pescava e nadava. Dava para tomar a água direto do Rio que não tinha problema”, lembra.

     

    Nos mostra as manchas na pele dos filhos, e até do cachorro “Já passei óleo queimado nele, não funciona, um até já morreu”, relata.

     

    A família toda está doente. Assim como os vizinhos. Ela perdeu 30 kg e sente dores no corpo, na barriga e na cabeça. Seu marido  tem uma infecção no ouvido há meses “saí pus com sangue”. A filha de 17 anos teve uma infecção uterina. Todos têm doenças na pele. Mas o caso mais grave, é o do filho mais velho, enfermo na cama: não anda, não fala. “Ontem eu gastei meu último dinheiro para pagar o carro que faz mudança para levar ele na UPA, por que a ambulância não quis vir pegar”. O médico não dá diagnóstico algum. “Disse nada. Perguntou o que ele tinha comido. Digo: é a água. Daí ele não falou mais nada. Aplicou as injeções, mandou tomar uns comprimidos e mandou para casa. Os comprimidos eu não comprei não por que não tenho dinheiro”. Na hora ele até melhorou, mas foi só chegar em casa que já caiu de cama.

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    Por conta disso, teve que comprar os mantimentos da família fiado na vendinha local. Não sabe como vai passar até receber. “Liguei na Samarco, eles dizem que ‘vão vir visitar, vão vir visitar’ até hoje não veio ninguém.”
    Na conversa, dona Eliane relata, além dos problemas com a água contaminada e doenças, dificuldades para a realização do cadastros dos atingidos, até hoje ela e sua família não receberam o cartão, com o valor de um salário mínimo + 20% por dependente, que a empresa deveria dar aos atingidos.

    Veja seu relato (a parte que conseguimos gravar =] )

     

    Jornalistas Livres: O que mudou na vida da senhora e do Distrito depois da Lama?

     

    Eliane: A situação aqui é essa, nós sobrevivíamos dos peixes. Nós não pescava, não era com carteira, mas nós pescava para comer e para vender. E a barragem vai, arrebenta e vai tudo embora as nossas armadilha. Agora, estamos vivendo com as graças do senhor, e nós bebemos dessa água. Por que a bica que tem a outra água é tanta gente que até seca. E nós bebemos dessa água e cozinhamos dessa água e ficamos tudo doente. Esta daqui (aponta para a filha) foi para o hospital 4 vezes, este daqui (aponta para o filho ao lado) deu pereba na perna e no corpo todo. Eu adoeci e tô com gosto de barro na boca.

     

    JL: A família toma esta água todo dia? Existe outra água para usarem?

     

    E: Uai, vai fazer o quê? A gente tem que comer, dinheiro para comprar água mineral não tem. No começo o povo começou a partir as águas mineral aqui. Depois ó (faz um gesto de fim com as mãos) parou. Tavam batendo até nos outros aí por causa de água. Teve até briga, tirando sangue aí dos outros.

     

    Disse que tinha gente pegando água mineral e vendendo. Eles tavam dando para matar necessidade. Mas disse que tavam vendendo água mineral. É por isso que parou. Por causa de uns, outros dançam, né?

     

    Filha: E ninguém mais aguenta ter que ir buscar água na bica.

     

    JL: E onde fica a bica? Como funciona?

     

    E: É uma bica que tem ali embaixo. Tá que nem procissão de tanta gente. Dá até briga naquela bica ali por causa de água. E a água lá quando o sol tá muito quente a água seca. A água seca. E aí a gente tem que beber desta água, cozinhar com ela, tomar banho com ela.

     

    JL: Quantas vez por dia vocês vão buscar água?

     

    Filha: Não dá para ficar ir buscando toda hora, né. Meu pai tem problema na coluna e não pode ficar indo toda hora.

     

    E: Ele tá indo buscar água doente. O prefeito diz que também toma desta água. Eu digo: toma dessa água? Cê é rico, se paga para para buscar água longe e para comprar água mineral. Agora, nós que somos pobres que vive das graças do senhor não temos condições de comprar. Mas Deus vai ver o que faz para nós, por que a minha vida tá sofrida viu? Tá sofrida com esse problema desta água, adoecendo a gente dentro de casa aqui. Não tem jeito não, é só Deus mesmo para tomar conta de nós. O povo já pegou número de CPF e nada.

     

    JL: Mas onde a senhora fez o cadastro?

     

    E: Fiz ali com o pessoal ali, já tem quase um ano e não resolveu nada. Diz eles que cadastrou né, eu ligo para a Samarco e a Samarco todo dia diz que tá vindo aqui visitar. Todo dia eles tão vindo visitar aqui e nunca que eles vêm visitar. Eles tá querendo é isso, que a gente morra. É isso que eles querem. Eu não tenho uma casa, um lugar para mim poder mudar daqui para mim usar uma água que não tem infecção nela. Água não tenho condições de comprar, então a gente tem que morrer aqui mesmo, bebendo a água.
    JL: Mas quem fez o cadastro da senhora? Te deu algum comprovante?

     

    E: A gente fez o cadastro lá com o Celso.

     

    JL: Mas o Celso é da Samarco, da prefeitura, de alguma igreja ou instituição?

     

    Não é de igreja não, nem da Samarco, é um homem que conserta televisão. Ele pegou nossos dados e falou para a gente entrar com um advogado. Eu digo, me dá o dinheiro que eu pago o advogado.

     

    JL: Então, na verdade a senhora nem sabe se o seu cadastro foi feito. Esse tal de Celso pegou os dados da senhora, mas não deu nenhum comprovante. A Samarco não veio aqui fazer o cadastro?

     

    E: Não sei.

     

    Filha: Não, não veio ninguém da Samarco aqui.

     

    JL: Nem da prefeitura?

     

    Filha: não, nada.

     

    E: Eu ligo para a Samarco e eles dizem que vão vir nos entrevistar e não vêm. Eu digo, ‘depois que nós estiver tudo no caixão vocês não precisam vir mais não. Não precisa vir.

     

    Filha: E tem um monte de gente recebendo por aí e a gente nada.
    JL: E a saúde da senhora?

     

    E: Eu vou secando, vou só secando. Meu peso não é este, meu peso era 60 kg. Eu tô pesando 32 Kg. Aqui em mim (aponta para a barriga) dói tanto que parece que tem uma bola, demora duas horas pra mim conseguir andar e eu tenho que ficar assim (se contraí) parece que tem uma coisa me cortando. Quando eu bebo está água eu vomito, dá vomito. É essa água. Esta água tem uma coisa dentro dela que está acabando com a vida da gente.

     

    Filha: o médico falou que eu não estou mais conseguindo fazer ‘as coisas’ por causa desta água, que dá problema no intestino.

     

    E: Ele ali (aponta para o filho ao lado) pegou pereba na perna, sabe o que eu tive passar? Pó secante. Secou, mas ir por dentro? Como fica?
    A gente tá todo intoxicado, aquela ali (aponta para a filha), teve até infecção no útero. Na garganta também. Meu marido tá com o ouvido todo inflamado, sai até pus com sangue.

     

    O único dinheiro que eu tinha, que era para eu fazer compra pra mim comer mais meus filhos, eu paguei o carro para levar meu filho para a UPA. Por que a ambulância não quis socorrer. O restantinho que eu tinha para comer dentro da minha casa. Agora eu precisei de comprar troço fiado pros filho comer. Não sei da onde eu vou arrancar esse dinheiro para pagar.

     

    JL: E os vizinhos?

     

    Mesma coisa. Muitas pessoas aqui intoxico tudo. Aquela vizinha ali (aponta para o lado) adoeceu tudo e perdeu até o pai. O pai da minha vizinha morreu, por causa desta água aí. A água infeccionou ele todo.

     

    JL: E os animais de estimação da senhora?

     

    Morreu até um. Já morreu um cachorro já. Morreu um cãozinho dos meu. Da mesma água que nós bebe, eles bebe. Da mesma comida que nós come eles come. Eu passei óleo queimado no cachorro e não adiantou nada. Um até já morreu.

     

    JL: E um ano depois do desastre? Como tão as coisas?

     

    E: Nada foi resolvido, então eles tá querendo é isso. Que a gente morre.

    1 ano de Lama e Luta – Cachoeira Escura: no mapa da tragédia

    A lente encontra um rosto, mas não conclui o clique: “Moço, entra aqui para ver o estado do meu filho, essa água está matando ele”.

    Entramos em sua casa, uma casa simples, de um único cômodo. A Marcha dos Atingidos por Barragens passava em sua porta. Dona Eliane Gomes da Silva, uma senhora de idade, é uma das atingidas pelo desastre da lama.
    A Marcha saiu de Regência/ES e chegou ao distrito de Cachoeira Escura em seu segundo dia, depois de ter passado por Colatina, Mascarenhas, Baixo Guandu e Governador Valadares.

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    Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, fica na Macrorregião do Vale do Rio Doce, no Vale do Aço, a cerca de 250 km da capital mineira. Saindo da rodovia BR-381, à direita, uma ruazinha de mão dupla, com um restaurante e um bar, dá boas vindas ao distrito. A rua segue com uma fileira de casas térreas, igreja, praça, gente sentada nos banquinhos em frente às casas vendo a marcha passar…

    Em torno de 12 mil pessoas moram lá, não é uma cidade “nunca vai virar, porque aqui tem a Cenibra, empresa de Eucalipto que gera a maior parte do PIB do município”, explica Camila Brito, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, que acompanha a região.

    Mas talvez nunca ficássemos sabendo de nenhuma dessas coisas, não fosse o crime cometido pela Vale/Samarco/BHP. Em 05 de novembro de 2015, a barragem da mineradora rompeu. O Mar de Lama tóxica soterrou Bento Rodrigues, distrito de Mariana, e outros municípios vizinhos, deixando 21 mortos, e a contagem continua. “Estávamos em uma reunião quando ficamos sabendo do rompimento, mas não tínhamos dimensão do tamanho do desastre naquele momento” lembra Camila. Ninguém tinha.


    A Lama tóxica seguiu o do Rio Gualacho do Sul, para Rio Carmo até Rio Doce, envenenando a água até Regência, no Espírito Santo, onde desembocou no mar. Os danos ambientais e sociais são imensuráveis. Cachoeira Escura e seus 12 mil habitantes fazem parte dos atingidos.

    Dona Eliane. Foto: Leandro Taques.
    Dona Eliane. Foto: Leandro Taques.

    Quando eu tomo essa água sinto o gosto de barro na boca, dói tudo, dói o peito, a barriga, a cabeça”, relata dona Eliane. Sua família toda está doente. O marido tem uma infecção no ouvido há meses “saí pus com sangue”, a filha de 17 anos teve uma infecção uterina, ela própria perdeu 30 kg. Todos têm doenças na pele. Mas o caso mais grave, que motivou o seu convite é o filho, enfermo na cama: não anda, não fala. “Ontem eu gastei meu último dinheiro para pagar o carrinho que faz mudança para levar ele na UPA, por que a ambulância não quis vir pegar”. – E o médico disse para a senhora o que ele têm? “Disse nada. Perguntou o que ele tinha comido. Digo: é a água. Daí ele não falou mais nada. Aplicou as injeções, mandou tomar uns comprimidos e mandou para casa. Os comprimidos eu não comprei não por que não tenho dinheiro”. – E ele ficou melhor? “Na hora ficou sim, mas chegando em casa já caiu de cama de novo”.

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    Camila. Foto: Leandro Taques.

    Assim que o crime foi cometido, o MAB passou a visitar as cidades e distritos atingidos. No primeiro contato com Cachoeira Escura, moradores influentes da região trataram logo de dispensar o movimento. Ali, de acordo com eles, nada havia acontecido. “O prefeito fala que bebe dessa água, digo: ele tem dinheiro e manda buscar longe”, reclama dona Eliane.
    Estranhando a reação, voltaram com uma outra abordagem. “Coloquei logo um carro de som na rua, falando que o Movimento dos Atingidos por Barragens estava ali para denunciar o crime da Samarco, e que ia fazer uma reunião em uma escola municipal”, conta Camila. Uma multidão apareceu.

    Um ano depois as famílias ainda não foram indenizadas. Tampouco foi soluciona o problema da água envenenada. “O meu vizinho morreu com infecção e o corpo cheio de perebas.” – Tem médico? A Samarco já cadastrou a família da senhora? “Não cadastrou não. Aqui tem uma médica cubana, que vem aqui e passa pra gente pomada, remédio. Ela fala que é para a gente não tomar a água, mas não tem como. Dinheiro para comprar não tem. Tem uma biquinha ali na frente, para o povo todo, dá até briga. Tem dia que a gente fica o dia todo lá para voltar com dois galões de 5 L de água. Não tem outro jeito, tem que tomar a água”.

    É assim a rotina do vilarejo. A bica que D. Eliane se refere é um cano na rua. Depois do acidente, ela conta que o vizinho, solidário, puxou um cano da fonte de água do seu quintal até a rua. Está é a única fonte de água potável e gratuita da vizinhança.

    Passamos por ela no caminho da marcha. E a marcha seguiu. No caminho, outros atingidos relataram problemas de saúde e nos mostram manchas na pele. De acordo com a prefeitura, a água não apresenta riscos.

    De cidade a cidade a marcha dos atingidos cresce. Em Cachoeira Escura eramos cerca de 300. Em cada parada um ato simbólico representava a luta e a esperança de todos. Lá, plantaríamos mudas de árvore às margens do Rio Doce.

    Lá também fica uma estação da Vale, uma das proprietárias da Samarco, patrocinadora do crime da lama tóxica. Acontece que a Vale e o Estado não gostam de luta.

    Ora, que mal haveria mulheres, crianças, trabalhadoras e trabalhadores, atingidos e atingidas, plantarem mudas? O mal de plantar a resistência.

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    A Vale não facilitou, colocou os trens no meio do caminho, e avisou aos funcionários que um bando de baderneiros estava a caminho, que poderiam até tentar quebrar os trens. O Choque se colocou entre os manifestantes e os trens. Que ironia, o mesmo Estado que negligencia os atingidos é o que protege a empresa assassina. Ironia, mas não novidade.

    Munidos de cassetetes, escudo e cães. Tentaram parar a marcha.

    Coitados. Como se depois de caminhar centenas de quilômetros alguns vagões e militares fossem parar aquele povo de luta. Deram a volta. Plantaram as mudas, plantaram a esperança, plantaram a resistência. Um ano de lama, um ano de luta. 

    Veja também:

    Povo de luta não esquece crime de Mariana

    “O problema é que muito pescador só sabe pescar. Todo dia vivia no rio e agora não pode ir para o rio mais”

     

  • 1 ano de Lama e Luta – Cachoeira Escura: no mapa da tragédia

    1 ano de Lama e Luta – Cachoeira Escura: no mapa da tragédia

    A lente encontra um rosto, mas não conclui o clique: “Moço, entra aqui para ver o estado do meu filho, essa água está matando ele”.

    Entramos em sua casa, uma casa simples, de um único cômodo. A Marcha dos Atingidos por Barragens passava em sua porta. Dona Eliane Gomes da Silva, uma senhora de idade, é uma das atingidas pelo desastre da lama.
    A Marcha saiu de Regência/ES e chegou ao distrito de Cachoeira Escura em seu segundo dia, depois de ter passado por Colatina, Mascarenhas, Baixo Guandu e Governador Valadares.

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    Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, fica na Macrorregião do Vale do Rio Doce, no Vale do Aço, a cerca de 250 km da capital mineira. Saindo da rodovia BR-381, à direita, uma ruazinha de mão dupla, com um restaurante e um bar, dá boas vindas ao distrito. A rua segue com uma fileira de casas térreas, igreja, praça, gente sentada nos banquinhos em frente às casas vendo a marcha passar…

    Em torno de 12 mil pessoas moram lá, não é uma cidade “nunca vai virar, porque aqui tem a Cenibra, empresa de Eucalipto que gera a maior parte do PIB do município”, explica Camila Brito, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, que acompanha a região.

    Mas talvez nunca ficássemos sabendo de nenhuma dessas coisas, não fosse o crime cometido pela Vale/Samarco/BHP. Em 05 de novembro de 2015, a barragem da mineradora rompeu. O Mar de Lama tóxica soterrou Bento Rodrigues, distrito de Mariana, e outros municípios vizinhos, deixando 21 mortos, e a contagem continua. “Estávamos em uma reunião quando ficamos sabendo do rompimento, mas não tínhamos dimensão do tamanho do desastre naquele momento” lembra Camila. Ninguém tinha.


    A Lama tóxica seguiu o do Rio Gualacho do Sul, para Rio Carmo até Rio Doce, envenenando a água até Regência, no Espírito Santo, onde desembocou no mar. Os danos ambientais e sociais são imensuráveis. Cachoeira Escura e seus 12 mil habitantes fazem parte dos atingidos.

    Dona Eliane. Foto: Leandro Taques.
    Dona Eliane. Foto: Leandro Taques.

    Quando eu tomo essa água sinto o gosto de barro na boca, dói tudo, dói o peito, a barriga, a cabeça”, relata dona Eliane. Sua família toda está doente. O marido tem uma infecção no ouvido há meses “saí pus com sangue”, a filha de 17 anos teve uma infecção uterina, ela própria perdeu 30 kg. Todos têm doenças na pele. Mas o caso mais grave, que motivou o seu convite é o filho, enfermo na cama: não anda, não fala. “Ontem eu gastei meu último dinheiro para pagar o carrinho que faz mudança para levar ele na UPA, por que a ambulância não quis vir pegar”. – E o médico disse para a senhora o que ele têm? “Disse nada. Perguntou o que ele tinha comido. Digo: é a água. Daí ele não falou mais nada. Aplicou as injeções, mandou tomar uns comprimidos e mandou para casa. Os comprimidos eu não comprei não por que não tenho dinheiro”. – E ele ficou melhor? “Na hora ficou sim, mas chegando em casa já caiu de cama de novo”.

    lama7
    Camila. Foto: Leandro Taques.

    Assim que o crime foi cometido, o MAB passou a visitar as cidades e distritos atingidos. No primeiro contato com Cachoeira Escura, moradores influentes da região trataram logo de dispensar o movimento. Ali, de acordo com eles, nada havia acontecido. “O prefeito fala que bebe dessa água, digo: ele tem dinheiro e manda buscar longe”, reclama dona Eliane.
    Estranhando a reação, voltaram com uma outra abordagem. “Coloquei logo um carro de som na rua, falando que o Movimento dos Atingidos por Barragens estava ali para denunciar o crime da Samarco, e que ia fazer uma reunião em uma escola municipal”, conta Camila. Uma multidão apareceu.

    Um ano depois as famílias ainda não foram indenizadas. Tampouco foi soluciona o problema da água envenenada. “O meu vizinho morreu com infecção e o corpo cheio de perebas.” – Tem médico? A Samarco já cadastrou a família da senhora? “Não cadastrou não. Aqui tem uma médica cubana, que vem aqui e passa pra gente pomada, remédio. Ela fala que é para a gente não tomar a água, mas não tem como. Dinheiro para comprar não tem. Tem uma biquinha ali na frente, para o povo todo, dá até briga. Tem dia que a gente fica o dia todo lá para voltar com dois galões de 5 L de água. Não tem outro jeito, tem que tomar a água”.

    É assim a rotina do vilarejo. A bica que D. Eliane se refere é um cano na rua. Depois do acidente, ela conta que o vizinho, solidário, puxou um cano da fonte de água do seu quintal até a rua. Está é a única fonte de água potável e gratuita da vizinhança.

    Passamos por ela no caminho da marcha. E a marcha seguiu. No caminho, outros atingidos relataram problemas de saúde e nos mostram manchas na pele. De acordo com a prefeitura, a água não apresenta riscos.

    De cidade a cidade a marcha dos atingidos cresce. Em Cachoeira Escura eramos cerca de 300. Em cada parada um ato simbólico representava a luta e a esperança de todos. Lá, plantaríamos mudas de árvore às margens do Rio Doce.

    Lá também fica uma estação da Vale, uma das proprietárias da Samarco, patrocinadora do crime da lama tóxica. Acontece que a Vale e o Estado não gostam de luta.

    Ora, que mal haveria mulheres, crianças, trabalhadoras e trabalhadores, atingidos e atingidas, plantarem mudas? O mal de plantar a resistência.

    lama4

    A Vale não facilitou, colocou os trens no meio do caminho, e avisou aos funcionários que um bando de baderneiros estava a caminho, que poderiam até tentar quebrar os trens. O Choque se colocou entre os manifestantes e os trens. Que ironia, o mesmo Estado que negligencia os atingidos é o que protege a empresa assassina. Ironia, mas não novidade.

    Munidos de cassetetes, escudo e cães. Tentaram parar a marcha.

    Coitados. Como se depois de caminhar centenas de quilômetros alguns vagões e militares fossem parar aquele povo de luta. Deram a volta. Plantaram as mudas, plantaram a esperança, plantaram a resistência. Um ano de lama, um ano de luta. 

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  • Água contaminada é distribuída a população na bacia do rio doce

    Água contaminada é distribuída a população na bacia do rio doce

    Reportagem especial da cobertura da Marcha realizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, um ano após a tragédia de Mariana (MG), que refaz o trajeto da lama de Regência (ES) até a barragem em Minas Gerais.

    Foto: Lidyane Ponciano/ CUT Minas
    Foto: Lidyane Ponciano/ CUT Minas

    A pequena comunidade do Vale do Aço mineiro é uma das 11 cidades que continuam sendo abastecidas pela água do Rio Doce depois do rompimento da Barragem de Fundão em Novembro do ano passado. Situado as margens do rio, o vilarejo possuí uma estação de tratamento de água que supostamente a tornaria própria para consumo humano. No entanto, a população permanece receosa em relação a qualidade do que saí de suas torneiras.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

    “Olha minha mão!” exclama Sueli, mostrando as palmas descamadas pelo rejeito. Ela diz que só molha as mãos com a água do rio ao lavar suas roupas, mesmo assim isto já bastou para manchá-las. “Eu até já liguei há pouco tempo para a Samarco e o cara falou que a água aqui é potável. Eu disse para ele vir aqui e beber da minha torneira que eu quero ver.”

    Todos da comunidade se recusam a beber a água ou usá-la no preparo de alimentos. E não é por menos, em Agosto deste ano, um laudo técnico do Ministério Público de Minas Gerais e Federal afirmou que a água distribuida em Governador Valadares – que utiliza o mesmo tratamento de Belo Oriente – é imprópria para o consumo devido a alta concentração de alumínio.

    Adenilson, socorrista do Samu, de Governador Valadares, 40 anos, diz que mesmo depois de um ano a população que ele atende ainda sofre com os problemas de saude causados pela lama contaminada, principalmente os moradores perto do rio, que bebem a agua e tem diarreia. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
    Adenilson, socorrista do Samu, de Governador Valadares, 40 anos, diz que mesmo depois de um ano a população que ele atende ainda sofre com os problemas de saude causados pela lama contaminada, principalmente os moradores perto do rio, que bebem a agua e tem diarreia. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    “Considerando que os rejeitos das barragens apresentam em sua composição elevadas concentrações deste metal, é bem possível que o alumínio tenha sido transportado ao longo do rio Doce, ocasionando alterações na composição química em diversos trechos deste curso d’água, conforme a direção dos ventos, os índices pluviométricos e a vazão do rio”, explica o documento.

    A investigação acrescenta que o consumo desta água pode levar a sérios problemas de saúde: “Inúmeros estudos demonstram que a presença do alumínio na água, em concentrações superiores ao padrão de potabilidade, pode contribuir para o aparecimento de algumas doenças no organismo humano, tais como a osteoporose e doenças neurológicas e alterações neurocomportamentais, incluindo a encefalopatia, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson, demência dialítica e mal de Alzheimer”.

     

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    O governo dos municípios e de Minas, em conjunto da Samarco, argumentam que os rejeitos da Barragem de Fundão é inerte, não sendo tóxica. Segundo a mineradora, a lama derramada é constituída apenas de água, silica e minérios de ferro e manganês, que realmente não são danosos para a saúde humana. O tratamento de água, feito tanto em grandes cidades como Governador Valadares, com quase 300 mil habitantes, quanto pequenas comunidades como Cachoeira Escura, busca separar a água do barro, utilizando de agentes floculantes que combatem a turbidez do rio. De fato, o processo consegue dar uma aparência de pureza à água, que saí dos canos limpa e transparente.

    Porém, este processo desconsidera a contaminação da água por lixo, esgoto e outros materiais que foram carregados pela corrente de lama. Substâncias que, apesar de não estarem inicialmente dentro da barragem, são altamente tóxicas ao ambiente e às pessoas. Mesmo cientes disto, o serviço público e a mineradora insiste em distribuir essa água contaminada a população.

    Foto: Guiga Guimarães
    Foto: Guiga Guimarães

    Sem acreditar ingenuamente nas corporações, a população local improvisa para conseguir água potável.  A alternativa encontrada por Evangelista Luis é gastar suas reservas para construir um poço artesiano. Outra moradora da cidade, Dona Maria José Carvalho fez uma Mina D’água nos fundos de sua casa. Porém, os mais pobres, sem recursos para reformar o estoque de água de seus domicílios, ainda dependem de algumas bicas espalhadas pela cidade. Estas fontes funcionam por bombas manuais, sendo que a vazão também varia muito conforme as chuvas. Uma pessoa pode ficar horas enchendo garrafas pet ou baldes para conseguir prover sua família.

    Foto: Guiga Guimarães
    Foto: Guiga Guimarães
  • “O problema é que muito pescador só sabe pescar. Todo dia vivia no rio e agora não pode ir para o rio mais”

    “O problema é que muito pescador só sabe pescar. Todo dia vivia no rio e agora não pode ir para o rio mais”

    Reportagem especial da cobertura da Marcha realizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, um ano após a tragédia de Mariana (MG), que refaz o trajeto da lama de Regência (ES) até a barragem em Minas Gerais.

    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres

    Chegando no cais de Regência, seja de manhã, tarde ou noite, se vê vários barcos de pesca, entre canoas e pequenas embarcações, algumas ancoradas e outras já estacionadas no leito do rio. Um pequeno grupo de pescadores se reúne no cais e conversam sobre o vilarejo, família e trabalho, se divertindo da contação de causos. Quando me aproximei, eles riam das travessuras do saci que, sem explicação, conseguia bagunçar suas redes na água e jogar areia nas suas camas. “E caboclo d’água? Alguém já viu?”, perguntei brincando. “Nunca vi e nem quero ver”, diz um mais jovem, temendo a criatura, seguido pela resposta do ancião do grupo: “Agora que a gente nunca vai ver mesmo”.

    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres

    O episódio resume o sentimento da população ribeirinha do Rio Doce, que se encontra na trágica contradição de estar próxima às águas, mas se mantém distante pelo bom senso. O Ministério Público Federal (MPF) proibiu a pesca na foz desde fevereiro deste ano, formalizando a sina determinada pelo crime de novembro de 2015. As comunidades locais se recusam a beber ou se banhar no rio, muito menos pescar. “Rapaz… eles falam que o peixe vai dar câncer na gente, que vai matar as pessoas com doença e não sei o que…” conta Antônio, apelidado de “Costinha”, pescador em Mascarenhas, distrito no interior de Baixo Guandu (ES). A pesca no interior do Rio ainda é permitida, porém não há comprador por receio dos efeitos de seu consumo.

    Antonio Gomes, "Preto", pescador em Mascarenhas, ES, mostra com orgulho carteira de pescador. Foto: Danilo Candombe
    Antonio Gomes, “Preto”, pescador em Mascarenhas, ES, mostra com orgulho carteira de pescador. Foto: Danilo Candombe

    O medo não é infundado.  Em Março, análises feitas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam alta concentração de metais pesados nos pescados do Rio Doce. “Os dados são preocupantes. A contaminação de peixes e camarões por metais está acima dos limites permitidos pela Anvisa. Nestas condições, o consumo de pescados representa riscos para a saúde humana e para a ecologia”, explica o presidente do ICMBio, Cláudio Maretti.

    “Hoje eu vivo de bico, trabalhos que a gente não sabe fazer. Faz um serviço de pedreiro ali, de eletricista lá… Tem que ir se virando porque se não não dá para sobreviver” conta Clavelanio Soares Peçanha, conhecido como Preto, pescador em Regência, distrito de Linhares (ES).

    “O problema é que muito pescador só sabe pescar. Um cara desses está passando aperto. Todo dia vivia no rio e agora não pode ir para o rio mais”.

    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres

    Alguns pescadores recebem um benefício emergencial da Samarco que, de acordo com a Mineradora, no Espírito Santo e em Minas Gerais, é de um salário mínimo, mais 20% o valor do salário por membro da família e o valor em dinheiro de uma cesta básica. No entanto, para os pescadores este valor é muito baixo, considerando o que recebiam antes. “Quando a pesca estava fraca, a gente conseguia mais de R$1.500 por mês e quando estava forte, dava entre R$6000 e R$8000”, explica Glaucimar Soares, 41 anos. Segundo o pescador, sua filha teve que sair da Universidade, onde estudava Biologia em Linhaes porque o pai não consegue mais sustentá-la.

    Segundo a Samarco, no Espírito Santo e em Minas Gerais, quase 5 mil pessoas recebem o auxílio, porém muitos ribeirinhos reclamam que não são contemplados. É o caso de Joelmir Sampanho, de 27 anos, colega e vizinho de Glaucimar. Apesar de trabalharem juntos e viverem na mesma condição, Joelmir afirma que a mineradora se recusa a explicar por quê de não ser contemplado.

    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
  • Debate sobre Democracia movimenta escolas em Governador Valadares

    Debate sobre Democracia movimenta escolas em Governador Valadares

    803711779_63627_3720176916800452036   Por: Samuel Perpétuo
    Foto: Patrick de Souza

    Na noite dessa terça feira (26), o comitê da Democracia de Governador Valadares (MG) esteve presente na Escola Municipal José Ângelo de Marco para discutir junto com os alunos o atual cenário político do país. Com jogos e dinâmicas, a turma conseguiu debater de forma leve a democracia, os três poderes, as esferas de governo e o sistema político.

    A roda de conversa foi liderada pela Militante do MAB, Talita Silva e pelo Vinícius Maia, Militante do Levante Popular da Juventude.

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    Primeiro os alunos foram provocados a pensar sobre problemas do cotidiano, como a falta de água, preço da luz e valores dos impostos. Qual é a responsabilidade do governo para cada uma dessas demandas. Foi proposta uma dinâmica para se aprofundar no assunto. Em pedaços de papeis foram escritos alguns direitos como ensino superior, ensino médio, educação infantil, Trânsito e saúde. A turma foi dividida em duas equipes, o líder de cada equipe perguntava de quem era à responsabilidade de garantir esses direitos, governo municipal, estadual ou federal. A vontade da maioria vencia. Com isso, foi introduzido conceito de democracia, no caso a direta, que é o próprio povo que escolhe qual dessas esferas possui essa responsabilidade.

    Em seguida, foi pedido que todos se levantassem e ficasse apenas uma pessoa em pé.

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    A dinâmica ajudou a refletir como uma minoria pode mandar no país e que essa minoria não está interessada em defender os interesses do povo. Ao longo do encontro a turma também relatou os problemas e enfatizou a necessidade de lutarmos pela manutenção dos direitos e qualidades dos serviços. E no fim questionaram se de fato o povo está no poder.

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  • 7 meses depois: futuro dos atingidos incerto e angústia presente

    7 meses depois: futuro dos atingidos incerto e angústia presente

    A vida em comunidade foi destruída. Hoje não se vai mais à pé pra missa, pra casa do vizinho, quase todos eles parentes. O convívio que os moradores de Paracatu e Bento Rodrigues tinha, parece ter ido embora com a lama no dia 5 de novembro de 2015. Nessa data, a barragem de Fundão, da empresa Samarco (leia-se Vale e BHP Bilinton), se rompeu, atingindo distritos rurais de Mariana, Barra Longa e toda a bacia do Rio Doce, chegando ao mar do Espírito Santo, e da Bahia também.

    Fotografia: Caio Santos / Jornalistas Livres
    Fotografia: Caio Santos / Jornalistas Livres

    Essa separação que a lama trouxe é o que mais causa angústia nos atingidos de Mariana hoje. Casais estão se separando e muita gente teve que procurar ajuda psicológica e psiquiátrica. Quem perdeu entes no crime então…

     

     

     

     

     

     

    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

    O subdistrito de Mariana, Bento Rodrigues, foi todo arrasado. Não sobrou nada: igreja, bar, campo de futebol, casas, plantações…Em Paracatu de Baixo, outro distrito atingido, sobrou alguma coisa e alguns moradores ainda resistem em ficar lá, pois não suportam a vida longe da roça. Mas uma segunda barragem, a Germano, quatro vezes maior que a de Fundão, está ali próxima e também corre o risco de se romper.

     

    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

     

    O povo que sempre viveu na zona rural está sofrendo muito. Não sei quem sofre mais: Marta, que hoje vive próxima à casa toda destruída pela lama em Paracatu de Cima, ou Maria do Carmo, de Paracatu de Baixo, que hoje está numa casa alugada pela empresa dona da lama no centro de Mariana e só de se lembrar da vida na roça quer chorar.

     

    Marta de Paracatu de Cima. Fotografia: Aline Frazão
    Marta de Paracatu de Cima. Fotografia: Aline Frazão
    José Patrocínio e Maria do Carmo, de Paracatu de Baixo. Fotografia: Aline Frazão
    José Patrocínio e Maria do Carmo, de Paracatu de Baixo. Fotografia: Aline Frazão

    Sete meses após o maior crime ambiental do mundo relacionado à mineração, várias famílias estão sem direitos, garantidos com muita luta: a justiça, os atingidos e a empresa acordaram em dezembro passado que as famílias receberiam um salário mínimo para se manter (afinal viviam em sítios com plantações e criação de animais), e uma antecipação de indenização com valores de 10 e 20 mil reais.

     

    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

    Segundo a coordenadora estadual do MAB

     

    (Movimento dos Atingidos por Barragens), Letícia Oliveira, não há uma construção de propostas junto aos atingidos e há angústia e incerteza pois não se sabe o prazo para reconstrução das comunidades, quem poderá morar nelas, e como será a retomada da vida rural, pois as pastagens foram tomadas por lama.

    “Aqui em Mariana a gente percebe, como em várias outras situações de barragens, que o primeiro direito humano a ser violado é o da informação. Desde o dia 5 de novembro a informação é disputada, ela é controversa, e ela é de várias formas divulgada. E até hoje, sete meses depois, isso ainda acontece. As famílias vão pras reuniões sem saber o tema, a proposta da reunião. Eles não têm informação técnica suficiente e nem de confiança para os atingidos”.

     

    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

    Em Mariana, o número de famílias que ainda não recebeu nenhum direito, como os já citados, chega a 100. Ao longo da Bacia do Rio Doce, o número é muito maior, como se comprova na denúncia o MAB.

    Os meses vão passando e a situação dos atingidos não melhora. A empresa ainda consegue convencer muitos deles de que ela não tem dinheiro. Na zona rural as pessoas dizem ” ela está quebrando né ?”. Teve atingido, na sua humildade, que chegou a dizer que não queria mais indenização, os 20 mil bastava porque “coitada, a empresa não tem dinheiro”. Ainda bem que muitos já sabem que a Vale e a BHP Billinton, as donas da Samarco, são as maiores empresas de mineração do mundo.

     

    Fotografia: Aline Frazão
    Paracatu de Cima sete meses depois do crime – Fotografia: Aline Frazão

     

    Assista o vídeo feito pelo Jornalistas Livres publicado na página do Facebook dia 2/6: