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Categoria: Negras e Negros

  • Artistas e ativistas lançam carta contra censura em Sinop – MT

    Artistas e ativistas lançam carta contra censura em Sinop – MT

    A cidade de Sinop, em Mato Grosso, está no centro de uma nova polêmica envolvendo censura artística e ideológica. A prefeitura do município tem um projeto para revitalizar e embelezar os pilares de sustentação dos viadutos com grafites que tenham como tema a flora e a fauna. Em tempos de queimadas recordes no estado e de manifestações pelo meio ambiente na Organização das Nações Unidas, os artistas Rai Campos e Matias Souza incluíram em seus grafites, pintados semana passada, as figuras do conhecido líder indígena Kayapó, Cacique Raoni, e da jovem ativista sueca Greta Thunberg, que fez um dos mais duros discursos em defesa da vida no planeta na abertura da Cúpula do Clima, na ONU. Apesar de estarem na periferia da cidade, os desenhos atraíram a fúria de adeptos da extrema direita, que têm tentado deslegitimar quem luta pela vida na Terra.

    Segundo reportagem do portal Olhar Direto, o diretor de cultura do município de Sinop, Daniel Coutinho, defende que o rosto da ativista sueca não condiz com as regras do evento (1º Encontro Internacional de Graffiti – Matograff), que tem como tema principal a fauna e a flora. “Não será apagado devido à censura. Esse é um projeto de incentivo à cultura que foi feito pelos grafiteiros do município. E o tema é a fauna e a flora. Eles iam trabalhar elementos voltados à natureza, à floresta Amazônia, insetos, animais, enfim”, teria dito Coutinho. “Agora, o lance da imagem da polêmica é a Greta mesmo, por ela estar em evidência, ter toda essa situação política… então eu penso que se tivesse sido uma menina qualquer desenhada lá, estaria fora do contexto também, mas talvez não teria causado toda essa polêmica”.

    O painel completo pintado por Matias Souza antes do vandalismo

    Na manhã de ontem, o painel com o rosto da ativista sueca foi pichado citando de forma pejorativa a prisão ilegal do ex-presidente Lula. Até o momento, ainda não há uma decisão sobre o apagamento ou não do grafite com Raoni, que ontem também foi novamente alvo de ofensas pelo presidente Jair Bolsonaro em evento para mineradores.

    Hoje, artistas e ativistas de Mato Grosso publicaram uma carta com dezenas de assinaturas contra a censura e em apoio aos grafiteiros. Veja abaixo na íntegra:

    O artista Rai Campos publicou em suas redes sociais protestos contra o possível apagamento de sua obra

     

    Carta em Apoio às Artes e Contra a Censura

    Nós, artistas de Mato Grosso e sociedade civil, abaixo-assinados, vimos a público expressar nossa solidariedade aos artistas visuais, Rai Campos e Matias Souza que pintaram as imagens do Cacique Kayapó Raoni e da ativista sueca Greta Thunberg no contexto do 1º Encontro Internacional de Graffiti – Matograff, que reuniu artistas de toda a América Latina na cidade de Sinop-MT, entre 24 e 26 de setembro de 2019. Ao mesmo tempo, repudiamos a atitude vergonhosa de parlamentares da Câmara de Vereadores de Sinop e demais envolvidos que, de forma arbitrária e antidemocrática, censuram a expressão artística. Em diversas mídias foi divulgado que as obras serão apagadas e serão pintadas outras imagens no local com justificativas infundadas que se caracterizam como intolerantes e sem o mínimo de compreensão do papel da arte para a sociedade.
    Gostaríamos de relembrar a Constituição da República de 1988 – artigo 5º, inciso IX – a qual garante a liberdade de pensamento e expressão artística como um direito fundamental do cidadão ao prescrever ser “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
    Os artistas censurados fazem parte de uma geração de artistas que democratizam a arte por meio do grafite, linguagem contemporânea que sai dos espaços institucionalizados (como museus e galerias) e inserem as obras nos mais diversos suportes dos espaços públicos e particulares, tornando-as acessíveis à todos.
    Queremos, portanto, reiterar o nosso posicionamento e ressaltar a importância da liberdade de expressão e respeito às manifestações culturais que fortalecem a democracia.

    Mato Grosso 02/10/2019

    Assinam:

    Adnilson Silva Lara (Dj Taba) – Músico

    Adir Sodré – Artista visual

    Gervane de Paula – Artista visual

    Ruth Albernaz – Artista visual / bióloga

    Vitoria Basaia – Artista visual

    Eduardo Mahon – Advogado / escritor

    Ivens Scaff – Escritor

    Willian Gama – Curador de Arte

    Vinicius Souza – Jornalistas Livres / UFMT

    Jean Siquera (Siq) – Grafiteiro / tatuador

    Adriano Figueiredo – Artista Visual

    Marília Beatriz de Figueiredo leite – Escritora

    Luiz Marchetti – CALM Centro Visual Luiz Marchetti

    Vera Capilé – Cantora / compositora / psicóloga

    Maria Teresa Carrión Carracedo – Editora

    Naine Terena – Artista / Jornalista

    Ludmila Brandão – Professora UFMT

    Rosylene Pinto – Artista Visual

    Amanda Gama – Advogada / galerista

    Adriano Souza – Secretário Adjunto de Cultura de Juína – MT

    Rosemar Coenga – Escritor

    Livia Bertges – Escritora

    Imara Quadros – Arte educadora

    Ivan Belém – Artista / arte educador

    Lúcia Palma – Atriz

    Roberto Ferreira – Ator / arte-educador

    Anna Maria Ribeiro Fernandes Moreira da Costa – Antropóloga

    Silvia Turina – Artista Visual

    Zuleica Arruda – Arte educadora/ artista visual

    Vera Baggetti – Arquiteta/ artista visual

    Luciene Carvalho – Poeta

    Flávio Ferreira – Diretor do teatro Cena Onze

    Gloria Albues – Cineasta / jornalista

    Otília Teófilo – Artista livre

    Reinaldo Mota – Médico / professor

    Amarildo Ferreira – Psicanalista

    Santiago do Pântano – Tatuador / Músico

    Jean Carlos Bass – Músico

    Hector Flores – Músico

    Roger Perisson – Publicitário / músico

    Odilio Marcelo da Costa (Xito CondUta do Gueto) – Músico

    Paulo Cesar – Rondonópolis MT

    Jeff Keese – Arquiteto / curador / expógrafo

    Claudete Rachid Jaudy – Atriz / professora

    Carlina Rabello Leite – Produtora cultural

    Volney Albano – Jornalista/Presidente Municipal do PT Cuiabá

    Ricardo Correia – Diretor Artístico / Publicitário

    Zilda Barradas – Conselheira Estadual de Cultura / Artes Visuais

    Amandla Silva Sousa – Artista Livre

    João Luiz do Couto – escritor / ator / contador de histórias

    Caio Augusto Ribeiro – Coletivo Coma A Fronteira

    Pedro Duarte – Coletivo Coma A Fronteira

    Ligia da Silva Viana – Favelativa

    Thaylayne Vanessa Cansi – Movimento Ocupa

    Justina Fiori – Jornalista

    Valdiná da Silva Ferreira/ Kaco do CPA – Coletivo Avante CPA

    Hend – Músico

    Ronaldo Adriano – Ator membro do Teatro Experimental de Alta Floresta

    Carlos Augusto Abicalil – Professor / mestre em educação / ex-deputado federal

    Instituto Superior de Cultura Gervásio Leite – Cuiabá/MT

    CCF – Coletivo Correria Forte

    Coletivo Não Reclame do Calor Plante uma Flor – Cuiabá/MT

    Maloca do Quati Espaço D’Arte – Cuiabá/MT

    Nelson Borges de Barros – Eng. Agrônomo/Assessor Parlamentar

    Jefferson Jarcem – Diretor geral do Grupo Tibanaré

    Elaine da Silva Santos – Produtora

     

  • Grupo vegano sofre golpe machista e moderadoras são banidas

    Grupo vegano sofre golpe machista e moderadoras são banidas

    Foi através do ativismo antiespecista e culinário que surgiu no Facebook o Ogros Veganos, o maior grupo de veganismo do Brasil – e um dos maiores do mundo. Falando de comida por um viés político, sua a ideia é mostrar que a alimentação sem exploração animal não é só salada, como pensa a maioria das pessoas, e que pode, sim, ser variada e apetitosa.

    Ellen Guimarães, 31, é vegana há sete anos e foi uma das idealizadoras do grupo. Na época, Paulo Victor Pinheiro, 33, era casado com Ellen e criou através de seu perfil o grupo na plataforma. Apesar de “criador”, ele não se envolveu com o grupo por muito tempo. Pelo menos desde 2016 Paulo não tem qualquer atuação dentro do espaço de ativismo culinário vegano.

    Até a noite do último dia 29 de setembro o grupo contava com sete moderadoras, seis mulheres feministas e um moderador aliado à luta das mulheres. Durante a madrugada do dia 30 o golpe foi dado: todas foram retiradas da moderação e excluídas do grupo.

    “Paulo não fez nada além de criar o grupo através de seu perfil. Estávamos eu e ele na cozinha quando ele abriu o computador, criou e colocou uma capa – coisa que ele adora usar como prova para dizer que o grupo é dele. Quem compôs a moderação fui eu, quem administrou as confusões fomos nós, moderadoras. Nós criamos as regras, quem cuida do grupo há mais de cinco anos somos nós. Eu e todas as moderadoras, nunca Paulo. Ele se absteve de moderar o grupo há muitos anos. Não participava das discussões, não se inteirava dos assuntos e não estava presente em nada” disse Ellen em um comentário no Facebook que foi apagado por Paulo minutos depois.

    Sem diálogo e usando de uma autoridade técnica-virtual, Paulo baniu, e vem banindo, todas as mulheres que se posicionaram contra sua ação tirana. Nas redes sociais, ele se apresenta como Paru Vegan – fisioculturista vegano – e “defende” os direitos das mulheres.

    Antes do golpe, a última publicação de Paulo no grupo aconteceu no dia 17 de julho de 2017 e não se tratava de uma publicação de moderação.

    paru vegan

    Ativismo com dedicação

    Com 175 mil membros, o grupo é o maior do segmento no país e serve como fonte de informação, inspiração e troca de experiencias entre pessoas do mundo todo. No ambiente é possível falar sobre veganismo, libertação animal, reforma agrária, direito a alimentação, ecologia, meio ambiente e feminismo. O Ogros Veganos se define como ativismo antirracista, anticapitalista, feminista, pelo direitos humanos e pela libertação animal.

    O grupo é declaradamente de esquerda e defende um veganismo político e não um movimento dependente da indústria e pautado pelo mercado.

    Durante as eleições de 2018, foi um dos poucos grupos de Veganismo a adotar uma postura contrária a Bolsonaro. Em 28 de outubro, dia em que Bolsonaro foi eleito presidente, uma das moderadoras sofreu uma tentativa de invasão em sua conta do Facebook.

    Da esquerda pra direita:
    Talita, Mieko, Sara, Tamine e Ellen, moderadoras do Ogro Veganos. Tamine e Sara não compõem o time atual de moderação. A foto foi feita após a acusação de que a moderação era muito dura por colocar sempre as regras em primeiro lugar

    Com dedicação diária por parte das sete moderadoras, o grupo conta com a contribuição de mulheres de diferentes regiões do país. A pesquisadora Talita Silva Xavier, de 32 anos, entrou na moderação quando o grupo tinha apenas 18 mil membros e diz que desde essa época Paulo não participava com frequência. Mãe de uma bebê de 6 meses, ela se divide entre as tarefas da vida pessoal, o ativismo vegano e materno.

    “Dedico umas duas horas por dia ao grupo. Vou moderando ao longo do dia e quando acordo para amamentar minha filha de madrugada. Na madrugada/manhã do último domingo, por exemplo, ajudei uma mulher também puérpera que postou uma dúvida sobre amamentação. Dividi minha experiência pessoal e recomendei um grupo específico de maternidade vegana” explicou Talita. “Diariamente, temos centenas de posts e dezenas deles estão fora das regras. Além disso, cuidamos do conteúdo dos comentários – não pode ferir direitos humanos ou dos animais”, observou.

    Mieko Cabral, 28, e a advogada Andréa Albuquerque, 36, também eram moderadoras. Elas destacam a importância de pontuar que todo o trabalho é voluntário e que não há nenhum envolvimento financeiro dentro do grupo. Em 2018 uma empresa chegou a procurar a moderação interessada em comprar o grupo, mas a proposta foi recusada por conta dos principios ideológicos e éticos do Ogros Veganos.

    Posicionamento do Facebook e deturpação da missão do grupo

    Segundo apurou os Jornalistas Livres, o Facebook entende a questão com uma lógica empresarial e vê Paulo como criador da empresa, mesmo que ele nunca tenha atuado. Portanto, cinco anos de trabalho diário feito por mulheres serão roubados com o aval da plataforma, já que ela se recusou a fazer uma análise específica sobre o caso, levando em conta que o grupo Ogros Veganos não se trata de uma empresa.

    Ainda segundo a apuração o grupo somente seria devolvido caso o conteúdo atual deturpasse a missão e visão do grupo. Desde ontem os posts estão passando pela aprovação de Paulo e diversos deles tem conteúdos não-veganos. As moderadoras aguardam agora o posicionamento do Facebook sobre a questão.

    1. Publicação com uso de Mel – proibido pelas regras do grupo
    2. Publicação com marca não-vegana – proibido pelas regras do grupo

    Manifestação dos membros

    Em todas as publicações do grupo há comentários pedindo que o grupo seja devolvido às moderadoras. Pelas redes sociais Paulo foi cobrado por centenas de pessoas pela atitude tirana e, excluindo de qualquer possibilidade de diálogo, trancou os comentários de suas publicações.

  • Exclusivo: Fogo e negligência nas políticas ambientais ameaçam a Amazônia

    Exclusivo: Fogo e negligência nas políticas ambientais ameaçam a Amazônia

    Por: Cyro Assahira (Doutorando em em Ciência Ambiental e Juliana Lins (Mestre em botânica).

    Fotos: Cyro Assahira

    “o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) recebeu a denúncia de que grupos que apoiam o governo iriam promover queimadas pela Amazônia em um denominado “Dia do Fogo”.

    Desmontes das instituições de preservação e conservação da Amazônia, aumento do desmatamento, negligência a dados ambientais e fogo na Amazônia colocaram a região no centro do mundo. 

    Não seria exagero dizer que a Amazônia agora é o centro do mundo, é para onde os debates políticos, econômicos, científicos e culturais estão voltados. As discussões têm tomado cada vez mais corpo desde o anúncio pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial) do aumento do desmatamento na Amazônia em 88% com relação ao mesmo período do ano passado [1]. Em seguida, uma nuvem de fumaça que veio das queimadas percorreu grande parte do Brasil, colocando preocupações na cabeça de todo o mundo. Nesse preâmbulo uma guerra de informações e a disputa por uma verdade têm ocorrido. 

    A importância global da Amazônia para a manutenção da biodiversidade, ciclos da água e como estoque de carbono é amplamente debatida e de alguma forma se coloca como um assunto comum em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, a imagem de um ambiente selvagem à parte da sociedade humana ganhou contornos. Com a suposta separação entre sociedade dos homens e a natureza, somos colocados em um caminho de intensa exploração dos recursos naturais sem refletir que o que está sendo destruído faz parte da própria ecologia em que estamos inseridos. Junto a esse preâmbulo vem a narrativa econômica neoliberal a favor da intensa atividade exploradora do meio natural com a justificativa de ser uma necessidade para o desenvolvimento do país.

    Ao longo das últimas décadas, a perspectiva da Amazônia ou qualquer ambiente natural estar a parte das sociedades humanas tem sido questionada. Em muitos casos refutada diante de estudos científicos que têm trazido à tona o fato de que a Amazônia é amplamente habitada por povos originários e tradicionais desde tempos pré-colombianos. A floresta foi moldada a partir da interação sustentável e duradoura com os povos indígenas, que ainda hoje perpetuam tais práticas. Aliás, seus territórios se encontram especialmente preservados com relação às áreas de floresta fora desses territórios [2].

    Pesquisas têm demonstrado que o desmatamento está relacionado com maiores incidências de queimadas [3], derrubar a floresta a deixa mais suscetível a propagação do fogo com a maior incidências de ventos e a presença de materiais de fácil combustão como galhos e madeira secas [4]. Nesse sentido o aumento do desmatamento também pode estar relacionado com a intensidade e a quantidade dos incêndios que estão ocorrendo neste instante. No mês anterior à atual onda de incêndios, o desmatamento na Amazônia aumentou em 88% com relação ao mesmo período no ano passado. Tal desmatamento foi tratado como descaso, com a exoneração do diretor do INPE logo após a publicação desses dados. Os mesmos dados foram questionados pelo atual ministro do meio ambiente Ricardo Salles, apontando que teria sido um erro nas estimativas. A postura do ministro do meio ambiente diante do aumento do desmatamento, não foi tomar medidas que freassem a devastação da floresta e sim buscar formas de invalidar os fatos publicados por um órgão do próprio governo [5]. 

    Desde o início da gestão do atual ministro Salles, os órgãos fiscalizadores do meio ambiente estão sofrendo desmonte, o orçamento do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) foi reduzido em 24%, o que não cobre nem as despesas fixas do ano, refletindo na diminuição da capacidade de fiscalização [6]. Diante da negligência do governo brasileiro em combater o desmatamento, os principais financiadores do Fundo Amazônia (um fundo criado para projetos de preservação e conservação da Amazônia), Noruega e Alemanha, bloquearem seus repasses e com isso o cenário de devastação da Amazônia pode se agravar ainda mais nos próximos meses. A questão ambiental no governo Bolsonaro tem sido tão controversa que em maio de 2019, todos os ex-ministros do meio ambiente de governos anteriores se reuniram em uma frente de oposição ao projeto ambiental em andamento [7].

    O que chama a atenção em muitos dos fatos que têm chocado a opinião pública [8], é que tudo isso fez parte da campanha eleitoral, ou seja, está tudo de acordo com as promessas de governo para área ambiental. Assim, é difícil não atribuir, em algum nível, as queimadas que chocam o mundo ao projeto político e ao discurso do atual governo brasileiro.

    Anualmente no período de seca, em especial de agosto a setembro, as queimadas se acentuam na Amazônia. Considerar somente os dados de fogo em isolado, sem levar em conta o contexto em que se insere, tem sido utilizado como argumento de membros do governo federal para atribuir as queimadas às causas naturais e à terceiros, ausentando-se da responsabilidade – O ministro Sales atribuiu às condições climáticas e o presidente Bolsonaro trouxe a hipótese de ter sido causado por ONGs ambientais insatisfeitas com os cortes financeiros [9]. No entanto, 2019 não é um ano especialmente seco na Amazônia, que são os anos em que ocorrem as maiores incidências de queimadas. E contradizendo a afirmação do presidente de que os incêndios podem ter sido causados por ONGs Ambientalistas, segundos documentos publicados pelo site Poder 360 [10,11], o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) recebeu a denúncia de que grupos que apoiam o governo iriam promover queimadas pela Amazônia em um denominado “Dia do Fogo”. O Ibama solicitou ajuda à Força Nacional para combater o grupo, mas não foi atendido. No dia 25 de agosto, o site da revista Globo Rural [12] publicou uma reportagem que revela que mais de 70 ruralistas (fazendeiros, criadores de gado e proprietários de grandes propriedades rurais) haviam combinado por Whatsapp de colocar fogo em diversos pontos da floresta. Segundo a reportagem, o ato teve como justificativa mostrar apoio ao presidente Bolsonaro que têm afrouxado a fiscalização ambiental. 

    Ao longo das últimas semanas, diversos protestos têm ocorrido pelo Brasil e pelo mundo contra as políticas ambientais do governo Bolsonaro. Este momento tem gerado profunda comoção acerca da Amazônia e muitos se questionam sobre o que fazer. Sabe-se que a principal causa de desmatamento na Amazônia está atrelada a expansão da agropecuária com suas plantações de soja e a criação de gado [13], assim, a proteção da Amazônia passa pelas mudanças de hábitos alimentares e de consumo. Outros processos relacionados com as mineradoras [14] e empreendimentos que precisam do recurso hídrico para a produção da energia elétrica [15] também possuem um enorme peso destrutivo na região e estão todos relacionados com o modelo de desenvolvimento atual. O cenário atual gera reflexões sobre as imediatas consequências da negligência com as questões ecológicas e se coloca como um importante momento para se pensar criticamente como resistir aos processos estruturais que têm que levado a crise ambiental na Amazônia. 

    Políticas que já vinham acontecendo em governos anteriores – em maior ou menor grau – em relação à Amazônia ajudaram a frear um pouco o desmatamento: iniciativas de geração de renda com produtos da sociobiodiversidade, investimento do Estado para fiscalização de territórios, incentivo a vigilância de território pela própria população local, multas aplicadas contra crimes ambientais, programas de monitoramento do desmatamento, incentivo a pesquisa na região amazônica, demarcação de Terras Indígenas, criação de Unidades de Conservação, incentivo ao transporte fluvial na região amazônica em detrimento a abertura de estradas. 

    É importante uma parceria entre Estado, movimentos sociais e a sociedade civil organizada. A maneira que o Estado brasileiro vem agindo a partir desse ano vem de encontro a tudo isso. As consequências são drásticas. Algumas regiões amazônicas, como o Estado do Acre e Rondônia foram desmatados muito rapidamente, a partir da década de 70, em um processo de ocupação da Amazônia com forte incentivo de migração de pessoas advindas das regiões sul e sudeste e a abertura de estradas. A Amazônia é imensa e é difícil acreditar que é possível acabar com ela, mas ao se aprofundar na história das regiões mais desmatadas, percebe-se, com perplexidade, que o processo de destruição é rápido e irreversível. Perde-se de muitas formas: perde-se biodiversidade, perde-se em mudanças climáticas, perde-se em centenas de modos de vida que nos ensinam que outros mundos são possíveis. Possíveis e necessários.   

    Sobre os autores:

    Juliana Lins é bióloga, vive e trabalha na Amazônia há 8 anos. Durante suas pesquisas de mestrado em botânica, pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, trabalhou com etnobotânica em interfaces com a arqueologia com o objetivo de entender os processos que levaram a Amazônia a ser, pelo menos em parte, uma floresta domesticada e cultural, resultado do manejo de populações indígenas desde tempos pré-colombianos. Nos últimos 3 anos trabalhou com pesquisas interculturais em parceria com pesquisadores indígenas no Noroeste da Amazônia.

    Cyro Assahira é fotógrafo que durante o bacharel em biologia marinha estudou a percepção das mudanças climáticas por pescadores artesanais no ambiente costeiro. No mestrado em botânica, realizou pesquisas com o impacto das hidrelétricas nas florestas alagáveis da Amazônia. Também colaborou com pesquisas de dinâmica florestal na Amazônia. Atualmente é doutorando em Ciência Ambiental (Procam/USP) e investiga as conexões entre democracia, questões ecológicas e o Comum.

    1. Fearnside, P.M. 2019. Brazilian Amazon deforestation surge is real despite Bolsonaro’s denial (commentary). Mongabay, 29 July 2019. https://news.mongabay.com/2019/07/brazilian-amazon-deforestation-surge-is-real-despite-bolsonaros-denial-commentary/
    2. Nepstad, Daniel et al. Inhibition of Amazon deforestation and fire by parks and indigenous lands. Conservation biology, v. 20, n. 1, p. 65-73, 2006.
    3. Aragao, Luiz Eduardo OC, et al. “Interactions between rainfall, deforestation and fires during recent years in the Brazilian Amazonia.” Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences 363.1498 (2008): 1779-1785.
    4. Cochrane, Mark A. Fire science for rainforests. Nature, v. 421, n. 6926, p. 913, 2003.
    5. Fearnside, P.M. 2019. As Amazon deforestation in Brazil rises, Bolsonaro administration attacks the messenger (commentary). Mongabay, 3 August 2019. https://news.mongabay.com/2019/08/as-amazon-deforestation-in-brazil-rises-bolsonaro-administration-attacks-the-messenger-commentary/
    6. Arroyo, Priscilla, (2019, 1st May). Corte de recursos do Ibama ampliará desmatamento. Retrieved from. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/588764-corte-de-recursos-do-ibama-ampliara-desmatamento

    7. Gortazar, Naiara Galarraga e Betim Felipe, maio de 2019. Uma inédita frente de ex-ministros do Meio Ambiente contra o desmonte de Bolsonaro. El País, Brasil.  https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/08/politica/1557338026_221578.html

    8. Fearnside, P.M. 2018. Why Brazil’s New President Poses an Unprecedented Threat to the Amazon. Yale Environment 360, 8 November 2018. https://e360.yale.edu/features/why-brazils-new-president-poses-an-unprecedented-threat-to-the-amazon

    9. O Globo, 2019. Ministro do Meio Ambiente afirma que parte dos incêndios na Amazônia é intencional, 27 agosto de 2019. https://oglobo.globo.com/sociedade/ministro-do-meio-ambiente-afirma-que-parte-dos-incendios-na-amazonia-intencional-23894245

    10. Roscoe Beatriz, 2019. Força Nacional ignorou alerta sobre ‘Dia do Fogo’, mostram documentos. Poder 360 https://www.poder360.com.br/brasil/forca-nacional-ignorou-alerta-sobre-dia-do-fogo-mostram-documentos/

    11. Revista Fórum, 2019. Amazônia em chamas: Ruralistas combinaram “dia do fogo” no Whatsapp por apoio a Bolsonaro. Revista Fórum. https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro/amazonia-em-chamas-ruralistas-combinaram-dia-do-fogo-por-whatsapp-por-apoio-a-bolsonaro/

    12. Matias Ivaci, 2019. Grupo usou whatsapp para convocar “dia do fogo” no Pará. Revista Globo Rural. https://revistagloborural.globo.com/Noticias/noticia/2019/08/grupo-usou-whatsapp-para-convocar-dia-do-fogo-no-para.html

    13. El País, 2019. Ibama diz que Força Nacional ignorou alertas sobre “Dia do Fogo” no Pará. El País. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/27/politica/1566859677_529901.html

    14. Zycherman, Ariela. “Cultures of soy and cattle in the context of reduced deforestation and agricultural intensification in the Brazilian Amazon.” Environment and Society 7.1 (2016): 71-88.

    15.  El Bizri, Hani Rocha, et al. “Mining undermining Brazil’s environment.” Science 353.6296 (2016): 228.

    1. Fearnside, Philip M.; PUEYO, Salvador. Greenhouse-gas emissions from tropical dams. Nature Climate Change, v. 2, n. 6, p. 382, 2012.

     

     

  • Tribunal de Justiça suspende despejo do Acampamento Marielle Vive!

    Tribunal de Justiça suspende despejo do Acampamento Marielle Vive!

    Hoje, dia 29 de agosto, o Desembargador do TJ de SP concedeu o efeito suspensivo da ação de reintegração de posse movida pela Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários onde vivem as famílias do Acampamento Marielle Vive!, no município de Valinhos/SP. No dia 12 de agosto a juíza de primeira instância, Bianca Vasconcelos, sentenciou pelo despejo das famílias que desde o dia 14 de abril de 2018 vivem na área. Em caráter de urgência, a juíza estabeleceu 15 dias úteis para saída voluntária após publicação da decisão. O prazo encerraria no dia 09 de setembro de 2019.

    A decisão do desembargador estipula a suspensão da reintegração pelo prazo de 90 dias, enquanto analisa as apelações da DPE e dos advogados do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que requerem o efeito suspensivo.

    O recurso de apelação movido pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE) solicita a nulidade da sentença da juíza por considerar, conforme despacho do TJ, “que não houve ‘delimitação precisa’ da área, que ‘a prova documental colacionada pela requerente nos presentes autos é absolutamente insuficiente para demonstrar o exercício de posse anterior sobre o imóvel em litígio’, que ‘os réus conferiram função social ao imóvel em questão’, que ‘a proprietária formal, ora apelada, não exerceu a posse do imóvel desde a sua aquisição’, que ‘o terreno se encontrava em situação de abandono à época’, que atualmente há várias famílias ali residindo, as quais estão em ‘situação de vulnerabilidade’, sem outro local para se dirigir.”

    A proposta do Movimento Sem Terra é construir um assentamento agroecológico para a produção de alimentos saudáveis, a suspensão da reintegração no TJ do traz esperança às famílias sobre a possibilidade de ter esse sonho conquistado com a nulidade da sentença de reintegração de posse. O projeto do assentamento contempla a preservação ambiental, solução de demandas sociais das famílias envolvidas e desenvolvimento regional.

    As famílias que vivem no Acampamento Marielle Vive! lutam pelo seu direito à terra, através da realização da Reforma Agrária em áreas improdutivas, como a Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários. Com muita organização interna o Acampamento possui produção de alimentos agroecológicos, não utiliza agrotóxicos, realiza plantios de árvores e ações de preservação ambiental na Serra dos Cocais.

    Fonte: Comunicação MST

  • Campinas protesta contra a destruição ambiental

    Campinas protesta contra a destruição ambiental

    No sábado, 24 de agosto, centenas de pessoas se reuniram no Largo do Rosário, na cidade de Campinas, para o Ato em Defesa da Amazônia e contra  a desastrosa  política ambiental do Governo Bolsonaro (PSL).

    O ato em Campinas faz parte de um protesto nacional contra o incentivo à destruição de matas, reservas ambientais e das populações que vivem nessas áreas, promovidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro que ao criticar as reservas ambientais e propôr as   revisão das leis e flexibilização da fiscalização dá poder aos ruralistas e latifundiários para que ataquem as áreas, como foi o “dia do fogo” no início desse mês.

    As nuvens negras que cobriram cidades  denunciavam  a gravidade do desastre
    A ação massiva dos ruralistas e latifundiários  consternou o país, quando grandes cidades do sul e do sudeste viram o dia  se tornar noite de repente com as imensas nuvens escuras causadas pela fumaça dos incêndios.

    Diversos dados meteorológicos de fontes confiáveis, como da NASA estadunidense, comprovam o aumento das queimadas na Amazônia e em diversas regiões do país, assim como a relação deste desequilíbrio ambiental com os efeitos climáticos no sul do Brasil.

    As queimadas aumentaram 82% no Brasil este ano em comparação com o mesmo período de 2018. Foram mais de 70 mil focos de incêndio entre janeiro e agosto registrados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no país. O Mato Grosso é o estado que lidera a lista, com mais de 13 mil incêndios.

    A região de Campinas corre a longos passos para o desastre ambiental

    No Ato em Defesa da Amazônia, além de protestos contra o incentivo à destruição do meio ambiente estimulado pelo governo Bolsonaro,  os manifestantes fizeram fortes criticas aos governos  estadual -do Governador Dória (PSDB) – e municipal – do prefeito Jonas Donizette (PSB) – que também estão promovendo ações de forte impacto ambiental na região.

    Campinas e as cidades da região também estão sofrendo constantes ataques ao meio ambiente.

    A construção de barragens na região, a aprovação de desmatamento da APA Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas que foi aprovado pela Câmara Municipal da cidade e, também a ação de despejo arbitrária do Acampamento Marielle Vive , em Valinhos, são ações  que vulnerabilizam as regiões o meio ambiente causando a devastação e o desastre ambiental.

     

  • Mato Grosso quer aumentar desmatamento legal na Amazônia

    Mato Grosso quer aumentar desmatamento legal na Amazônia

    Não bastasse o número recorde de queimadas emitindo a fumaça que ajudou a encobrir São Paulo, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), surfa na onda de ataques ao meio ambiente pelo governo federal e encaminha à Assembleia Legislativa do Estado (AL-MT) um substitutivo de Projeto de Lei Complementar (PLC) no qual pretende ampliar a área legal para desmatamento na Amazônia. O texto atual do PLC 48/2019, apresentado semana passada, é fruto de uma manobra política da base governista, visto que um projeto semelhante já havia sido barrado pela oposição há duas semanas.

    Mendes, que demonstra especial simpatia pelo presidente da República, pretende alterar a Política Florestal do Estado e assim beneficiar mais uma vez o agronegócio. A ideia é ampliar o limite de exploração de madeira de 12 mil m³ para 49,5 mil m³ por ano para pessoas físicas ou jurídicas, sem necessidade de reflorestamento. Além disso, pretende permitir que o pequizeiro, árvore de grande valor social e ambiental, possa ser legalmente derrubado em áreas do bioma amazônico.

    Atualmente, o pequizeiro é uma espécie protegida por lei estadual, em portaria expedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema -MT) em 2010. Com a aprovação do projeto, a espécie passa a ter sua proteção garantida dentro de Mato Grosso somente no bioma do Cerrado. Segundo ambientalistas, a presença do pequizeiro é importante para garantir a sobrevivência de muitas espécies vegetais e animais que são essenciais ao equilíbrio dos ecossistemas, já que as flores e frutos do pequizeiro se constituem em alimentos para abelhas, insetos, morcegos, pássaros e mamíferos.

    Pequizeiro (Foto: João de Melo / Empaer-MT)

    Entre as justificativas para a alteração da Política Florestal, segundo o documento enviado pelo Governo do Estado, é de que a atual legislação causa “inúmeros transtornos e prejuízos, tanto ao Estado, quanto ao setor empresarial”. A modificação é um pedido do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem).

    AMAZÔNIA SOB RISCO

    As declarações insensatas do presidente da República e sua equipe se multiplicam rapidamente e evidenciam a ameaça sob a qual a Amazônia está submetida. Em o curto espaço de tempo, a atenção do chefe do Executivo votou-se fortemente à pauta (anti) ambientalista. Bolsonaro criticou dados que demonstram o avanço do desmatamento na Amazônia, exonerou o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) graças à divulgação desses dados e confirmou a apresentação de um Projeto de Lei que pretende legalizar a atividade garimpeira em áreas indígenas. Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), condenado por adulterações de mapas do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê para favorecer mineradora, afirmou esta semana, em entrevista à BBC Brasil, que “a Amazônia precisa de soluções capitalistas”.

    Segundo a Organização Não Governamental Imazon, em levantamento divulgado na última sexta-feira (16), houve entre agosto do ano passado e julho deste ano, um aumento de 16% na degradação da floresta amazônica. De acordo com o estudo, os estados que mais destacaram foram Amazonas, Pará e Mato Grosso. A estimativa que é cerca de 5.054 km² de floresta foram perdidos durante o período analisado.

    Os dados e as declarações bolsonaristas têm preocupado ambientalistas de todo mundo e chegaram a causar desconforto com membros da União Europeia (UE), que colocaram em xeque a confirmação do acordo de livre-comércio que está em vias de ser assinado com o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Noruega e Alemanha anunciaram esta semana o bloqueio da verba repassada para o ‘Fundo Amazônia’, que em parte era destinado a instituições ambientais do Governo, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).