Jornalistas Livres

Categoria: LGBT

  • Purpurina em Jair Bolsonaro

    Purpurina em Jair Bolsonaro

    O deputado federal Jair Bolsonaro (Partido Progressista) acaba de ser escrachado em Porto Alegre pelo jovens do movimento Levante Popular da Juventude. Bolsonaro é conhecido por atacar os direitos humanos de forma agressiva, desrespeitando principalmente a comunidade LGBT e as mulheres.

  • Um ano de transcidadania

    Um ano de transcidadania

    Por Léo Moreira Sá, para Jornalistas Livres

    Foi realizada na quarta-feira (20/1), no Paço das Artes, em São Paulo, a comemoração de um ano do programa Transcidadania. No mesmo dia, 38 bolsistas do programa receberam o certificado do Ensino Médio e Fundamental. Estavam presentes na cerimônia o prefeito Fernando Haddad e sua esposa, Ana Estela Haddad, os secretários municipais Eduardo Suplicy (Direitos Humanos), Gabriel Chalita (Educação), Denise Motta Dau (Políticas para Mulheres), Cristina Cordeiro (Assistência e Desenvolvimento Social) e o coordenador de políticas LGBT da Secretaria de Direitos Humanos, Alessandro Belchior.

    Trancidadania 2

    “Em 12 meses foi possível transformar a vida de pessoas que já não tinham esperança de que podiam alcançar os seus objetivos e que muitas vezes se dedicavam às atividades que não eram condizentes às suas aspirações. Agora, pela educação, elas terão oportunidades renovadas”, declarou o Haddad, que anunciou a abertura de mais 100 vagas para esse ano.

    O programa Transcidadania foi lançado em 29 de janeiro de 2015. Oferece uma ajuda de custos de R$ 820 (atualizada neste ano para R$ 910) para que travestis, mulheres transexuais e homens trans cumpram uma carga horária de 6 horas diárias de estudos envolvendo ensino tradicional, cursos de capacitação profissional e de Direitos Humanos . São 200 pessoas beneficiadas que ficam por um período de dois anos sob os cuidados de professores, psicólogos, assistentes socias, além de terem acesso à hormonização, saúde integral e assistência jurídica.

    A coordenação do programa é feita pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), em parceria com as secretarias de Políticas para Mulheres (SMPM), Educação (SME), Saúde (SMS); Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo (SDTE) e Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), além de outros colaboradores.

    “A nossa intenção é que as pessoas tenham novas oportunidades de vida: de estudar, de sonhar, de ter desejo, de poder minimamente criar seu próprio sonho” declarou June, coordenadora do Transcidadania

    A bolsista Paloma Castro, de 24 anos, que se formou no Ensino Fundamental, disse que retomar os estudos era um sonho que só pode ser realizado com a sua adesão ao Transcidadania. Agora quer recuperar o tempo perdido para construir um futuro melhor. Antes, todo o seu tempo era gasto na sobrevivência do trabalho nas ruas, como profissional do sexo. “Meu sonho de trabalho é ser médica, trabalhar na área de saúde. Vou lutar pra isso e não vou parar por aqui”, avisa.

    O homem trans Luciano Medeiros, 38 anos, passou 28  sem estudar por não ter suportado a relação transfóbica de estudantes e alun@s nas salas de aula.  Se formou no curso de Direitos Humanos e Cidadania e já concluiu o Ensino Fundamental. Neste ano, começa a estudar no Ensino Médio. “Hoje tenho outras perspectivas na minha vida. Sonho em ser um advogado e assistente social. Minha vida mudou completamente pra melhor. O Transcidadania significa para mim o resgate da minha dignidade.”

    Jornalistas e delegações estrangeiras já visitaram o Brasil interessados em conhecer a estrutura do projeto com o objetivo de levar a experiência pioneira para seus países. O coordenador, Alessandro Melchior, anunciou a sua ida aos Estados Unidos para apresentar o Transcidadania. O programa também está sendo planejado para operar em Minas Gerais.

    “Implantamos essa política no país que mais assassina travestis e homossexuais. É uma política pública séria, uma opção corajosa e arriscada que pode mudar a vida das pessoas, servindo de exemplo para outros municípios e estados”, declarou Melchior.

    O Transcidadania é um programa de inserção social para travestis, mulheres transexuais e homens trans pioneiro no mundo. Completa um ano com sucesso ao resgatar das ruas pessoas historicamente excluídas e as  capacita com estudo e qualificação profissional. Como declarou Haddad “é o programa mais ousado que se tem notícias”, em referência à situação de exclusão social e violência a que estavam submetidos integrantes desse grupo social. O importante agora é acelerar a inclusão de uma porcentagem maior do que os 5% beneficiados. São cerca de 4.000 travestis, mulheres transexuais e homens trans vivendo de subempregos ou como profissionais do sexo no Brasil.

  • Viva a organização dos Sem-Terra LGBTs!

    Viva a organização dos Sem-Terra LGBTs!

    Acontece hoje (11), durante o 28º Encontro Estadual do MST na Bahia , a 1º Roda de Conversa com os LGBTs Sem Terra com a participação de cerca de 50 gays, lésbicas, bissexuais, travestis, mulheres transexuais e homens trans militantes de todo o país. O tema do encontro é “Reforma agrária e relações de gênero: desafios para a construção de um projeto popular” que tem como objetivo levantar questões relacionadas a identidade de gênero, lutar contra a homotransfobia e promover o uso do nome social .  A travesti Scarlet de Rui Barbosa (BA), declarou que existe muita homotransfobia em seu estado onde a cada 36 horas uma pessoas lgbt é morta: “As travestis são as que mais morrem, porque ficam mais expostas.”

    De acordo com a página do MST, há 10 anos está sendo construído dentro do movimento um setorial de luta contra a homotransfobia e em defesa dos direitos das pessoas LGBTs, com seminários, grupos de estudos, encontros e manifestações. Entre os dias 7 e 9 de agosto, aconteceu, na Escola Nacional Florestan Fernandes em Guararema, São Paulo, o primeiro encontro LGBT do MST a nível nacional, dentro do seminário “MST e a Diversidade Sexual” com a participação de 40 pessoas de vários estados do país. Na Bahia foram realizados durante dois anos consecutivos várias manifestações e panfletagens contra a LGBTfobia nas marchas estaduais do MST.

    Tiago Hungria, do coletivo de gênero do MST, disse que é preciso agregar tod@s @s trabalhador@s sem terra, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, e que a inserção e o protagonismo de pessoas LGBTs só fortalece o movimento que luta por uma sociedade mais justa.

    “Para isso é necessário pautar a participação, o protagonismo e construir de maneira auto-organizada espaços em que as opressões possam ser colocadas em xeque, para serem superadas”, destaca Hungria.

    Dessa forma, o MST inaugura um momento histórico em sua trajetória, mostrando que a esquerda vai aos poucos se libertando da antiga postura ortodoxa que até meados dos anos 80 defendia a idéia de que pessoas LGBTs eram portadoras de “desvios burgueses”, além de quererem minar –com a sua militância– a luta maior, que é a luta de classes. Esse foi um grande equívoco que finalmente está sendo esclarecido. Se o MST luta contra a opressão e exploração do Estado capitalista moderno, deve incluir em sua bandeira a causa LGBT, na defesa de pessoas que não só são discriminadas, mas assassinadas cotidianamente pelo simples fato de não comungar com os modelos propostos pela cultura cisheteronormativa burguesa.

    Com informações da página do MST.     

  • Ultraje amazônico: Bolsonaro homenageado no dia dos Direitos Humanos

    Ultraje amazônico: Bolsonaro homenageado no dia dos Direitos Humanos

    Por Leo Moreira Sá, especial para os Jornalistas Livres

    Platiny se elegeu com apenas 22 anos deputado estadual, um ano depois de liderar a greve da PM amazonense deflagrada em abril de 2014, com o compromisso de lutar por melhoria das condições de trabalho dos militares do seu Estado.

    Entregar uma das maiores honrarias do Amazonas a Jair Bolsonaro, em pleno Dia Internacional dos Direitos Humanos, é uma afronta ao Estado democrático e à luta dos movimentos sociais brasileiros. É execrável, inaceitável além de ser surreal.

    “A Comenda Ordem do Mérito Legislativo do Amazonas é concedida a qualquer cidadão brasileiro que tenha se destacado por seus trabalhos de relevância pelo interesse da sociedade, e não tenho dúvidas que a atuação do deputado Bolsonaro no Exército Brasileiro e na Câmara dos Deputados, em Brasília, são dignas desse reconhecimento”, afirmou Platiny Soares.

    O deputado federal Jair Bolsonaro, conhecido internacionalmente por suas declarações racistas, machistas e homotransfóbicas, já foi protagonista de várias situações criminosas contra pessoas comuns e colegas de profissão.

    Autor do projeto que queria instituir o “Dia do orgulho hétero”, participou de outras projetos de lei com o objetivo de barrar ou anular direitos já conquistados pela comunidade LGBT. Se tivéssemos uma legislação específica para crimes homotransfóbicos, e se nesse país não houvesse tanta impunidade relativa a ações de policiais militares fascistas, Jair Bolsonaro não estaria recebendo nenhuma homenagem no dia Internacional dos Direitos humanos, e sim voz de prisão por seus muito crimes desde que se elegeu deputado pelo Partido Progressista do Rio de Janeiro em 1990.

    Entre algumas pérolas do seu discurso de ódio podemos destacar:

    “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.”

    “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.”

    “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados” (para Preta Gil, quando ela perguntou o que ele faria se seus filhos se relacionassem com uma mulher negra ou com homossexuais)

    “Você é uma idiota. Você é uma analfabeta. Está censurada!”. (pra uma repórter da rede TV)

    “Não te estupro porque você não merece” (para a deputada federal Maria do Rosário)

    “O erro da ditadura foi de torturar e não matar”

    “A PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos.” (sobre o Massacre do Carandiru)

    “Essa homenagem é negativa. O Platiny foi infeliz nesse posicionamento, uma vez que o deputado Jair Bolsonaro é declarado um opositor ao que prega o PV, e ao que preconiza a nossa plataforma política’, disse o vereador Everaldo Faria.

    Colega de legenda de Platiny, Everaldo pediu a expulsão do deputado do partido durante uma reunião extraordinária com a Direção Estadual do PV, no dia 1º de dezembro , que acatou a solicitação de conduzir Platiny à Comissão de Ética.

    A presidente estadual do PV, Eliana Ferreira também se posicionou:

    “O Partido Verde irá se reunir para discutir a decisão pessoal do deputado estadual Platiny Soares, de homenagear o deputado federal Jair Bolsonaro, e que vai totalmente de encontro com o que preconiza o estatuto da nossa sigla. Desde já quero deixar observado que o Partido Verde é veementemente contra esta comenda”.

    A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas (OAB/AM) divulgou uma nota de repúdio à homenagem ao deputado.

    “Causa-nos estranheza os critérios utilizados na escolha para o recebimento de tamanha deferência do Legislativo Estadual, visto estarmos ladeados por um grande número de aguerridos caboclos e personagens amazonenses que se esmeram diariamente na fundação dos princípios do Estado Democrático de Direito, pois tal comenda deveria ter sido concedida apenas ao cidadão brasileiro que tenha se destacado pelos seus trabalhos de relevância pelo interesse da sociedade, qualidades estas não vislumbradas na pessoa homenageada, por conta inclusive de suas incitações e posicionamentos homofóbicos e preconceituosos.”

    Platiny, mesmo ciente da possível expulsão do partido, confirmou a homenagem com a seguinte declaração:

    “Estou preparado. Se pedirem a minha expulsão, não tem problema. Soldado que tem medo de ir à guerra é covarde. Não irei recuar da homenagem ao Bolsonaro”.

    Um grupo de representantes de 15 instituições que trabalham em defesa dos Direitos Humanos no Amazonas foi até a Assembléia Legislativa do Amazonas para exigir do deputado uma explicação para a homenagem, mas foram barrados por seguranças e convidados a se retirarem.

    De lá do Amazonas nos chega o grito de revolta de Alessandro Alcântara, um militante Homem Trans amazonense:

    “Eu não quero esse homem sendo homenageado pelo poder legislativo daqui! Ainda mais que a população aqui é de majoritariamente cabocla, ou seja, de miscigenação indígena. E Jair Bolsonaro odeia indígenas, pardos e negros! É um acinte a casa do povo amazonense homenagear o algoz do seu próprio povo!”

    Para piorar a vergonha amazônida, amanhã, 11 de dezembro, Bolsonaro vai “dar aula” na Ulbra, Centro Universitário Luterano de Manaus — o que será que esses alunos estão aprendendo em termos de ética e respeito ao próximo? À tarde, o “inimigo do povo” visitará o Comando Militar da Amazônia.

  • “Precisamos de mais mulheres trans em cima dos palcos e menos nos caixões”

    “Precisamos de mais mulheres trans em cima dos palcos e menos nos caixões”

    Foto: Brunno Covello

    O Largo da Ordem, em Curitiba, parecia dividido em dois. O primeiro lado ecoava risadas em tom de deboche, assobios maldosos, cantadas baratas e olhares curiosos. O segundo, bem mais interessante, estava preenchido com gargalhadas, batuques de salto alto, purpurina, cílios postiços e orgulho. Ali, a tristeza não teve vez.

    Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

    “Nasci menino, mas sempre me senti mulher”, foi o que ouvimos logo na entrada do camarim. Um dia para entrar para a história da “cidade mais transfóbica do país”. Dia de Miss Curitiba Trans.

    O evento foi todo delas. Comunidades trans de Curitiba, Ponta Grossa, do litoral paranaense, Santa Catarina e Rio Grande do Sul marcaram presença. Noite de gala, trajes de corte fino e “I’m Alive”, de Céline Dion, rufando nas caixas de som. Passarela, tapete vermelho e os holofotes das câmeras fotográficas. Discursos de aceitação, gritos pelo fim da exclusão e uma oportunidade rara para as candidatas exporem suas ideias, para construírem um legado que envolva mais protagonismo das pessoas trans.

    “A minha maior dificuldade é entender a origem do preconceito. A bancada evangélica, por exemplo, tem me exigido horas de paciência. Eu não consigo compreender como alguém usa da sua crença pessoal para decidir a vida de milhares de pessoas. Religião é uma coisa, trabalho é outra. O Estado é laico”, explicou Ana Paula Barreto, presidente da ONG de Transexuais e Travestis de Balneário Camboriú e Região, que veio à Curitiba para prestigiar evento. Ela continuou: “Estou falando de amor, de luta por reconhecimento. Ser transex é o meu caso e de várias outras que têm a identidade gênero-feminina 24 horas por dia. Eu me deito e me levanto mulher. Buscamos uma transformação, mudamos o nosso corpo com cirurgias plásticas, hormônios femininos. Operamos, mudamos de sexo. Somos mulheres de verdade”.

     

    Fotos: Brunno Covello

    A dona da faixa

     

    Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

    Patrícia Veiga, ou Paty Veiga, foi eleita a Miss Curitiba Trans 2015 e é dona da faixa da sexta edição do evento. Ela foi coroada hoje de madrugada no Espaço Cult, no coração do Largo da Ordem, em uma festa de arromba que reuniu apoiadores, familiares, amigos e a sociedade civil. Recebeu o título das mãos de Sabrina Mab Taborda, Miss Curitiba Trans 2010, data da última edição desse grito. Emocionada, Sabrina, que costurou seu próprio vestido para a festa, parabenizou a nova estrela do universo trans.

    Nallanda Bioche ficou com a faixa de 1ª Princesa e Alícia Krüguer com a de 2ª Princesa. Natalia Wolkan ganhou o prêmio de Melhor Traje de Gala da noite e Lana de Cássia foi eleita a Miss Simpatia Trans 2015.

     

    Natalia Wolkan e Lana de Cássia. Fotos: Brunno Covello e Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

    Dezesseis candidatas postularam o título. Mulheres que divaram (e muito) em três desfiles: o de apresentação, com trajes de banho e por último o dos vestidos de gala. Elas também responderam a perguntas do corpo de jurados, composto por artistas, intelectuais e militantes dos Direitos Humanos. Deena Love, cantora que participou do programa “The Voice Brasil 2014”, da Rede Globo, participou do júri, apresentou-se no palco e deixou uma mensagem motivacional para as candidatas. Igo Martini, coordenador da Assessoria de Direitos Humanos da Prefeitura de Curitiba, e Fabiana Mesquita, consultora da UNAIDS, programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS, também votaram.

    Fabi Mesquita é jornalista e trabalha no projeto de Jovens Lideranças das Populações-Chave Visando o Controle Social do Sistema Único de Saúde. Ela se disse honrada pelo convite e presidiu o júri. “Tudo o que essas mulheres precisam é desse sentimento de divas, maravilhosas, fortalecidas. Elas sofrem discriminações diárias de todos os tipos e aqui (no Miss) elas são quem realmente são, mulheres fortes, mulheres sonhadoras.”

     

    Foto: Brunno Covello

    “E se você pudesse mudar alguma coisa do passado, o que faria?”, perguntou um jurado a Maria Fernanda Ramos, uma das concorrentes. “Não mudaria nada. Acho que não precisamos mudar nada. Eu gostaria de mudar os outros, mudar a vontade das pessoas em ir atrás da compreensão de que somos mulheres”. Alícia Krüguer, 1ª Princesa, ao falar sobre sua influência como liderança e os frutos da visibilidade, disse que o Miss Curitiba Trans é um concurso que não olha apenas para a beleza das candidatas. “O que precisamos é deixar um legado, lutar por essa população que é estigmatizada. Curitiba é a cidade que mais procura diversão sexual com transexuais e também a que mais mata, a capital que mais mata transexuais no país. Temos que usar essa visibilidade para diminuir o preconceito e a criminalidade. Precisamos de mais mulheres trans em cima dos palcos e menos nos caixões”.

    “Curitiba é uma cidade violenta, conservadora e hipócrita. Isso porque é a capital do Sul do Brasil que mais mata transexuais, e também é a que melhor paga pelo programa com pessoas trans, o que significa que temos mercado aqui”, disse Rafaelle Wiest em uma reunião na Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública na Câmara Municipal de Curitiba, em maio desse ano.

    Fotos: Brunno Covello
     

     

    Fotos: Amanda Souza
    Foto: Brunno Covello

     

     

    Fotos: Amanda Souza

    Antes de dar início à cerimônia, Carla Amaral, organizadora do Miss Trans e diretora do Transgrupo Marcela Prado, lembrou a morte trágica de uma colega vitimada pela pressão do isolamento social. Fabi Mesquita, pouco antes da cerimônia, sofreu preconceito ao tentar pegar um táxi com as meninas em Curitiba. “Todos os dez taxistas que estavam estacionados em um ponto se recusaram a nos levar até o evento”. Nas cercanias do Largo da Ordem, pouco antes de começar a cerimônia, um homem assediava mulheres que passavam por ele com beijos. Mesmo as acompanhadas.

    Exemplos recorrentes em qualquer lugar, realidade extremamente difícil, mas da porta para fora. Por quase cinco horas de evento, todas as candidatas e a comunidade se sentiram representadas, ouvidas, protagonistas. Famílias, coros e torcida. Dividiram histórias emocionantes, como a da candidata trans que teve todo o amor do mundo de um homem trans, sua mãe. Ou da candidata que teve que sair de casa aos 14 anos por que os pais não aceitaram sua escolha. Dificuldades que o concurso abraçou e eliminou. Histórias que as meninas compartilharam durante os meses que antecederam o Miss Curitiba Trans 2015 e durante toda essa noite de glória.

    Patrícia Veiga. Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

    Ontem elas foram tudo. Revolucionárias.

    “Você não precisa passar por cima dos outros, tudo tem que ser de coração”, falou Patrícia Veiga, a Miss Curitiba Trans 2015. Ela é a voz desse grupo pelo próximo ano.

     

    Foto: Brunno Covello
  • Marcha do orgulho LGBTQ de Buenos Aires lembra assassinato homofóbico na Marinha argentina

    Marcha do orgulho LGBTQ de Buenos Aires lembra assassinato homofóbico na Marinha argentina

    Terrível suspeita mancha de novo as Forças Armadas, acusadas de crime contra a humanidade

    Neste sábado, 7 de novembro, dia da Marcha do Orgulho LGBT de Buenos Aires, mais uma vez será lembrado o assassinato homofóbico do jovem oficial da marinha argentina Octavio Romero, 33 anos, morto no dia 11 de junho de 2011.

    A terrível suspeita que pesa sobre as Forças Armadas argentinas é que Octavio tenha sido assassinado porque pretendia se tornar o primeiro oficial a se casar com outro homem, dentro de sua corporação.

    Acusadas de dezenas de milhares de assassinatos de opositores políticos, durante a Ditadura Militar que se instalou no país a partir de 1976, as Forças Armadas argentinas têm um histórico volumoso de crimes contra a humanidade e de atentados aos direitos humanos.

    Um novo juiz, Jorge Anselmo De Santo, está encarregado do caso, e um dossiê com detalhes sobre a morte do oficial acaba de chegar às mãos da chefe de polícia que investiga o crime. A militância LGBT exige a imediata elucidação do homicídio, a fim de que esse tipo de ataque homofóbico não mais se repita.

    Octavio planejava se casar com seu companheiro Gabriel Gersbach com quem já estava vivendo havia 12 anos. O casamento igualitário havia sido aprovado e a Argentina se tornou o primeiro país da América Latina a sancionar o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.

    Infelizmente, o sonho de Octávio foi interrompido de forma trágica e enigmática: ele desapareceu no dia 11 de junho de 2011 quando se preparava para comemorar o aniversário de uma amiga… Seu corpo foi encontrado por um barqueiro flutuando no Rio de La Plata, que banha a cidade de Buenos Aires, seis dias depois, nu e com marcas de espancamento.

    Gabriel que é motorista de táxi em Buenos Aires, estava trabalhando na noite em que seu companheiro Octavio desapareceu. “O Tavo desapareceu sábado à noite e as amigas que ele pretendia encontrar ligaram dizendo que ele não foi à festa. Eu liguei para ele e ele não respondeu. Em casa, encontrei a porta destrancada, as luzes acesas, a tv ligada. O paletó que ele colocaria para sair ainda estava lá, e as garrafas de vinho que ele levaria para a festa de aniversário de uma amiga estavam dentro do congelador… Parecia que ele tinha dado uma saidinha e voltava logo, mas já eram 2 horas da manhã e ele não estava. Eu acredito que alguém foi em casa ou fez uma ligação.”

    Gabriel descreve seu companheiro como uma pessoa “extraordinária”, amado pelos amigos, invejado pelos colegas de trabalho e admirado pelos chefes de sua corporação: “Ele era uma estrela dentro da prefeitura (administração) naval. Fazia ginástica acrobática, sempre com um sorriso, de bom humor, um exemplo de pessoa. Tinha uma presença excelente e falava português e inglês muito bem. Ele era querido pelos chefes mais altos. Os colegas da idade dele tinham muita inveja.”

    A madastra de Gabriel, Luiza Rotbart, que vive no Brasil e conhecia Octavio, o descreve como alguém muito requisitado: “Ele era sempre chamado para as atividades mais importantes da corporação, para ser o mestre de cerimônias. Era aquela pessoa mais diplomática. Octavio naquele ano de 2011 foi chamado para ser mestre de cerimônias de vários eventos.”

    Octavio era oficial da PNA (Prefeitura Naval Argentina que cuida de todas as vias navegáveis internas e externas do país) e a sua jurisdição era justamente a região do Rio de la Plata onde seu corpo foi encontrado. Assim que assumiu ser homossexual, apareceram pichações homofóbicas no espelho do banheiro de sua corporação e ameaças chegavam via sms e internet.

    Gabriel acredita que foi um crime homofóbico cometido dentro da própria corporação e que o corpo foi deixado como mensagem no rio. Trata-se de uma ameaça a quem ouse usar a farda da corporação para um casamento gay. “Eu acredito que o crime aconteceu dentro das forças navais porque o Octavio apareceu no rio, no setor onde a prefeitura cuida… apareceu nu. Foi uma mensagem para que outros homossexuais pensem bem antes de querer se casar.”

    Gabriel descreve o dia em que o corpo de Octavio apareceu boiando no Rio de La Plata como um momento muito difícil porque os policiais o procuraram e não informaram que já sabiam da morte de seu companheiro.

    “Pra ter uma ideia, o dia que apareceu o corpo do Octavio, de manhã vieram na minha casa dois policiais civis, e me levaram para o departamento de investigações da polícia muito longe. Fiquei 3hs sendo interrogado e depois fui levado para a sala de espera. Lá, a tv estava ligada e, de repente, apareceu a imagem do corpo do Octavio no rio. Desesperado, perguntei para o cara que me entrevistava, e ele disse: Fica tranquilo que não é ele. O chefe de polícia pediu para eu esperar uma psicóloga que ia me atender. Fiquei esperando mais de uma hora para a psi só me perguntar como eu estava. Ninguém falava se era ou não o Octavio. Cheguei em casa e liguei pra um dos chefes do Tavo e ele confirmou.”

    A Argentina foi o primeiro país da América Latina a instituir o casamento igualitário em 2010 e em 2012 sancionou a mais avançada Lei de Identidade de Gênero do mundo, mas não tem uma legislação específica contra a homotransfobia.

    “Quando acontece uma coisa como aconteceu comigo fica tudo parado, o sistema não ajuda as vítimas. Consegui entrar no Processo e descobri que fui tratado como suspeito e que ficaram atrás de mim durante 2 anos. Investigaram minhas contas, meu carro, imagens da garagem. Vieram oficiais da polícia em minha casa com ordem judicial para procurar a arma.”

    Gabriel fala de Estela Andrades De Segura, a chefe de polícia encarregada do caso, que ele acredita estar sendo pressionada por oficiais da marinha para que não dê seguimento à investigação que pode revelar um assassinato homofóbico cometido dentro das forças navais.

    “A chefe de polícia Estela Andrades De Segura me recebeu e eu falei das ameaças que ele havia sofrido. Tavo nunca falou nomes, mas falou de coisas que fizeram. Desesperado, eu chorava e ela mandava que eu parasse com o depoimento e voltar outro dia. “Se vai chorar paramos por aqui”, ela dizia. “A vítima não pode chorar”.

    Agora, as leis mudaram e gays e lésbicas não precisam mais pedir permissão nas Forças Armadas para se casar, mas Gabriel não poderá nunca mais realizar seu sonho de casar e viver com seu amor. É negado a ele inclusive o direito de saber quem foi o assassino e em que condições seu companheiro perdeu a vida. Mas Gabriel segue firme em busca de Justiça para ‘Tavo’.

    “Eu conheci o cara com o qual pensei em me casar e ficar velhinho com ele. Doze anos de relacionamento. Planejamos um monte de coisas. Me tiraram um braço, uma perna minha. Até agora eu estou tentando ir para a frente e tentando fazer com que o sistema mude. Eu agradeço muito à Comunidade LGBT Argentina que me ajudou muito denunciando o assassinato como um crime homofóbico. Eu tento mobilizar todo mundo para que se faça Justiça.”