Espalhados pelo 2º ato Todas Por Elas, Jornalistas livres captam as expressões de uma revolução em curso.
O ato se concentrou no vão do Masp e terminou na Praça Rooselvelt com performance inesquecível.
Depoimentos de alguns participantes do 2º ato Por Todas Elas, que enfrentou temperaturas abaixo de 15ºC, com sensação térmica de 11ºC. A concentração foi no vão do Masp e terminou na Praça Roosevelt.
Ana Beatriz Moral Duarte
” Nesse dia 8 de junho, as mulheres foram às ruas novamente contra a cultura do estupro que está enraizada e presente em diversas coisas que são vistas como banais nos dias de hoje. A nossa luta é diária! Juntas somos muito mais fortes! Juntas contra a sociedade patriarcal!”
Ana Beatriz Moral Duarte Estudante, aprovada na PUC Goiás para o curso de direito.
Silvia Murgel e Bruna Resende
“Estamos aqui mais uma vez, pra cada dia mais nos fortalecer na luta contra a sociedade machista e patriarcal que mata mulheres todos os dias e de formas variadas e cruéis. A cultura do estupro, do assédio não pode ser considerada normal e nem aceitável, a sociedade que se cala diante desses fatos é cúmplice.”
Silvia Murgel Estudante de jornalismo 25 anos; Bruna resende Estudante de arquitetura 18 anos
Carolina Marano
“A luta contra o machismo deve estar presente no dia a dia de todos. Só assim, nós mulheres conseguiremos andar na rua sem medo, com a roupa que quisermos e quando quisermos. A cultura machista e do estupro é inaceitável na sociedade dita modernizada em que vivemos hoje.”
Carolina Marano Estudante, 18 anos.
Victor Bugliani de Souza
“Não sofro opressão como as mulheres mas compartilho da indignação pelo machismo ainda presente no seculo 21. Sou homem e apoio essa causa com todas as minhas forças… Porque as mulheres não deve ser vistas como um objeto de uso mas sim respeitada ate seu ultimo dia de vida.
Victor Bugliani de SouzaEstudante, 19 anos.
Maria Luisa Bannwart
“Estou aqui por todas as mulheres que já sofreram a violência que o machismo, a misoginia e a sociedade patriarcal provoca. Eu luto por mim e por todas elas! Pra que nossos corpos sejam respeitados, pra que nós não sejamos mais invadidas não só de forma física, mas de todas as formas! O machismo mata, violenta e desumaniza as mulheres. E esses atos mostram que todas as mulheres não estão mais caladas. Agora não tem mais volta.”
Maria Luisa Bannwart 18 anos, ultimo ano do colegial.
Eu não fui Beatriz, nem Luana, Rayzza, Eloá, Maria – nem da Penha, nem do Rosário, muito menos Madalena. Não fui Aurora, Etienne, nem Anas ou Luizas. Não ainda. Não hoje. Não nos últimos onze minutos. Sei que vou ser, quando os homens vierem por mim, porque eles virão. E quando os eles vierem, quando meu choro dolorido e angustiado não sair da garganta,vão me culpar.
Vocês vão olhar pro meu passado e dirão: ela tava pedindo por isso. Ela dava pra qualquer um, pra vários. Fumava maconha, cheirava pó. Usava o short enfiado no rabo nos bailes de sexta a noite. Andava com marginal, com um bando de vagabundo, tudo comunista. Traiu o namorado. Era uma puta. Feminista, mal comida.
Porque o meu corpo não nasceu pra ser meu, pra ter tesão, é objeto de desejo que não deseja. Helena de Troia. Geni, territórito do Estado – não tão laico assim.
Fotografia por Max Vilela, feita dia 06/01/16, durante o ato Por Todas Elas – Belo Horizonte, MG.
Se fosse moça direita não tinha acontecido.
Porque moça direita não faz essas coisas, não exibe o corpo, não fica se oferecendo. Moça direita fala baixo, senta de perna cruzada e não retruca. Não fuma, não bebe, não trepa. Namora, fica noiva e casa. E segue a vida, sem retrucar, porque mulher que é mulher, não revida, segue calada e de contrato firmado. Daí depois de dona de casa, parabéns vai ser mãe! E tem que ficar feliz, é um presente de Deus. E tem que se dar o respeito. Bela recatada e do lar.
E mesmo assim, os monstros vem. E quando vierem: Acabou. Você tava pedindo.
Pedido que foi selado antes mesmo que a gente tivesse a mínima ideia de como as coisas funcionam no mundo, quando nos furam as orelhas e sentenciam: é uma menina. E nos ensinam que a culpa é nossa, e que garotos serão garotos.
E a prece de minhas irmãs manda: Endureçam seus corações e aprendam a matar.
Fotografia por Max Vilela, feita durante ato Por Todas Elas – Belo Horizonte.
E eu me recuso a aceitar até o dia que 33 homens destroem uma menina, queimam viva uma irmã de luta, violentam e arrancam o coração de uma criança, espancam outra, e outra e mais outra. E os jornais noticiam: foi por ciúme, por amor demais, por um fim de relacionamento que não foi aceito. Eu conheço e sinto a dor delas. Conheço suas culpas, que não são suas, mas nos foram dadas desde Eva. É nosso pecado original que nos condena carregar as culpas alheias.
Culpas que são de uma sociedade que não discute gêneros e sexualidades nas escolas, onde pornografia é pedagogia, em que estupradores ganham premios, fazem piadas com a nossa dor e seguem como se nada tivesse acontecido, enquanto permanecemos destruídas.
Culpas de uma sociedade onde homens que agridem suas companheiras são representantes políticos, em que meu direito de escolha não é respeitado. Uma sociedade que romantiza estupro na TV. Que tem um aparato policial despreparado que desacredita as vítimas e as assediam, relativizam seus traumas.
Uma sociedade que se recusa a acreditar que estupradores são homens sãos, na plenitude de suas faculdades, e por isso os chama de doentes, uma classe, um tipo totalmente direferente.
São homens como meu pai, avô, namorado, primos, amigos e professores. Não tem estrelinha na testa, seta de neon, aviso de mantenha a distância. Uma sociedade que diz que meu medo de homens é irracional, é exagerado – como fazer um escândalo, revidar, ousar ter uma voz. Uma sociedade que acredita que é só denunciar e tudo bem, pronto acabou. Vida que segue. Sociedade que aplaude Woody Allen, Marlon Brando, Bill Cosby e vira a cara pra Keshas, Ambers, Marilyns, Beatrizes, Luanas, Rayzzas.
A culpa não é minha. Nem do meu short, do meu batom vermelho ou da minha sexualidade.
Não é de Eva, de Maria, Beatriz, Rayzza, nem de Luana e de Eloá também não.
Não é de nenhuma de nós.
E é inacreditável que em 2016 a gente ainda tenha que explicar isso.
Endureçam seus corações e defendam suas irmãs.
Pois por nós, só nós mesmas.
Fotografia por Max Vilela, feita 01/06/16, durante o ato Por Todas Elas – Belo Horizonte, MG.
Era um velho de cabelos brancos, tal sábio dos grandes sertões. Abrem-se as portas do teatro e ao som de pequenos grilos, feito com o estalido dos dedos e a ponta das línguas, artistas nos inserem na fábrica de cultura, uma oficina e seus mistérios, uma usina e seus moinhos. Nada a esconder, há apenas o anúncio da boa nova, a voz dos que cultivam a terra.
Na oferenda em construção na rua imaginária Lina Bo que corta o teatro, homens elásticos e suas ninfas delimitam um círculo de terras misturadas com o solo da aldeia, das ocupações e da terra da resistência do Teatro Oficina. José Celso Martinez anuncia a todos, em voz calma e firme, o martírio da nação nesse momento, nossas aflições e dúvidas.
À roda xamânica juntam-se Sônia Guajajara e Guilherme Boulos. O som de tambores e suaves percussões arrefecem as desilusões da nova ordem, querem todos saber o que fazer nesse momento das batalhas que nos unem.
A lucidez de Sonia Guajajara nos desconcerta, como salvar os rios, a terra quando a palavra de ordem agora é o desenvolvimento econômico? Aquilo que afeta a terra não afetará apenas os povos indígenas. Guilherme Boulos nos fala do despejo silencioso que se faz na grande cidade, onde o avanço de obras e aparelhos sociais como metrô e vias novas despejam os mais pobres para periferias mais distantes, pela valorização do solo urbano.
Novamente a pergunta incide, o que fazer? Cultura. Cultura é a atitude que nos reporta e redime do medo e tempos incertos. Somos da cor da terra e a terra está embaixo do asfalto. Todos são convocados, na náusea desse momento de conflito, a romper o chão e fazer-se flor.
“É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”
Laura Capriglione abre seminário da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação é uma das convidadas da mesa. Laura dispara:
“Para fazer este golpe eles dependem
dos jornais tradicionais para esconder as maldades que farão”,
afirmou. Para Capriglione, com todas as críticas que se possa ter aos governos Lula e Dilma, fica cada dia mais claro o caráter nefasto de derrubada de direitos conquistadas desde o período Vargas. O seminário ocorre em Brasilia nesta segunda e terça (6 e 7 de junho).
Laura, com experiência de reportagem nos principais veículos de comunicação comercial, relembra que haviam disputas comerciais e diversidade de conteúdos entre vários veículos.
“Folha era adversária do Estadão, Veja da Isto é, SBT da Globo e Globo da Record,
mas agora, como explicitou Paulo Henrique Amorim,
de um dia para o outro se unificaram todas as vozes para criminalizar os governos do PT.
Como disse PHA unificou-se o Partido da Imprensa Golpista, o PIG”.
Ela destaca que seu coletivo, os Jornalistas Livres, fizeram críticas também à falta de firmeza das gestões do PT pela não realização de reformas básicas, como as das comunicações. Mas demonstra como o golpe está sendo denunciado internacionalmente, apesar dos mesmos veículos tradicionais brasileiros estarem construindo uma narrativa completamente enviesada.
Laura trouxe o exemplo da participação ativa na cobertura dasocupações das escolas em São Paulo.
“Enquanto Geraldo Alckmin (governador de SP) era vitimizado
pela mídia tradicional que criminalizava os movimentos estudantis nós (Jornalistas Livres) estávamos dentro mostrando a molecada reformando as escolas, limpando, desentupindo, as avós dando conselhos, dicas, eles fazendo saraus, e de repente, a verdade veio à tona e até o eleitorado de São Paulo, berço do Tucanistão, virou em.defesa dos estudantes”,
afirmou.
Ela lembrou que nesta cobertura os Jornalistas Livres costumavam participar ativamente das ocupações, colaborando com oficinas, empoderando os estudantes com ferramentas populares e técnicas para que eles mesmos pudessem produzir essa comunicação dos processos.
“E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento sigo mais sozinho caminhando contra o vento e entendo o centro do que estão dizendo: Aquele cara e aquela: É um desmascaro. Singelo grito: Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.”
O Estrangeiro – Caetano Veloso
Neste sábado (4/6) mais de 30 refugiados e imigrantes que moram nas ocupações do MSTC (Movimento dos Sem Teto do Centro) reuniram-se na ocupação do Hotel Cambridge, no centro de São Paulo, para uma conversa.
Conversar é um ato revolucionário nesses tempos de bocas abertas e ouvidos fechados. A roda foi uma iniciativa do GRIST (Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Teto de São Paulo) partiu da constatação de que:
1) os estrangeiros muitas vezes têm dificuldade de entender o movimento;
2) há alguns conflitos entre moradores estrangeiros e brasileiros e
3) está havendo alguns problemas entre líderes do MTSC e os refugiados e imigrantes.
A ideia é fazer rodas de conversa tanto com estrangeiros como com os coordenadores brasileiros para tentar encontrar soluções e diminuir os conflitos. No primeiro encontro havia líderes do MTSC e pessoas do Congo, Haiti, Bolívia, Paraguai, Peru e Colômbia. Duas questões apareceram com força na conversa, como:
1) a necessidade de tradução das regras do MTSC para diferentes línguas;
2) a existência de preconceito, especialmente em situações de conflito. Um participante deu um exemplo: “Se um haitiano rompe com uma regra do movimento, há imediatamente uma generalização para a cultura haitiana ou para todos os imigrantes haitianos”;
3) muitos estrangeiros deixam as ocupações sem dar satisfação, não participam de manifestações e ficam à parte nos processos comunitários;
4) finalmente, o maior problema é que o morador imigrante não se sente parte do movimento, cumpre as orientações para não ter problemas mas não sente que está construindo um projeto comum.
Nos próximos sábados haverá novas rodas, inspiradas pelos caminhos para o diálogo indicados por Paulo Freire e facilitadas por integrantes da Rede de Médicos Populares.
Hélio Carlos Mello, dos Jornalistas Livres, fez as fotos do encontro e escreveu seu relato emocional da experiência: “Parecia uma boca banguela, mas não pensarei surrealista aqui que é outra onda. É chegada a hora da reeducação de alguém. O certo é saber que o certo é certo. A cidade se escancara em minha cara, antigas canções e personagens virtuosos despertam em minha mente profetas em desterros como Gentileza e Caetano, fulanos cariocas e baianos em minha carência paulista desse outro estrangeiro no entendimento da cidade. Em revelação se reúnem em plenária, em ocupação urbana dos desabrigados. São outros românticos na Babel paulistana, protagonistas de caldo cultural que nos projeta ao futuro em utopias radicais e contemporâneas, em momento histórico de poder ilegítimo usurpado na nação, mas sagaz em nosso corpo e atitude. Meus parentes humanos de terras distantes querem voz, querem trabalho, querem dignidade. Entender o Brasil, seu povo, sua lei, hábitos e regras é o caminho dessa prosa. Não serão poetas em solo tão árido de direitos, nem querem em sua busca furtar empregos e benefícios, querem sim um lar, a dignidade da cidadania e o exercício da inteligência. Construir uma nação livre e digna é movimento. Vejo sim o sol quando ele se alvora, coisas naturais da vida.”