Jornalistas Livres

Categoria: fascismo

  • Aos incomodados com o antifascismo

    Aos incomodados com o antifascismo

    Por Gustavo Barbosa*, da agência Saiba Mais

    Angela Davis ensina que não basta não ser racista, é necessário ser antirracista. Davis, como boa marxista, pauta suas reflexões não em filosofias meramente especulativas, mas na prática política: os efeitos da negação pura e simples do racismo, sem que seja combatido direta e efetivamente, são nulos na vida real, não contribuindo em nada para a construção de uma ética verdadeiramente antirracista. O antirracismo “passivo”, vamos chamar assim, acaba tendo consequências diversas do antirracismo ativo e militante: enquanto o primeiro, com sua inércia, não apresenta obstáculos para a continuidade do fluxo da discriminação racial, o segundo tenta interrompê-lo, seja pelas instituições, pela organização coletiva e, também e principalmente, pelo uso da força.

    ​A mesma lógica se aplica ao nazi-fascismo, cujo projeto gira em torno da aniquilação física de seus adversários políticos e das raças que considera inferior (não raro integrados em um mesmo grupo, a exemplo do Partido dos Panteras Negras e dos próprios soviéticos durante a Segunda Guerra). É bom perceber que, contra quem defende a Solução Final, não basta afirmar em convescotes alcoólicos que “discorda dessas ideias”. O compromisso em combatê-las passa necessariamente pelas consequências das escolhas políticas na vida concreta. Nesse sentido, os herdeiros dos derrotados de 1945 têm um profundo débito de gratidão com os “antifascistas limpinhos” que, com medo de serem considerados comunistas, querem combatê-los com notas de repúdio e denúncias contra as torcidas organizadas que puseram os Galinhas Verdes para correr no último domingo.

    Antirracismo e antifascismo são movimentos indissociáveis. Se Brecht dizia que não há diferença entre um fascista e um burguês assustado, Malcolm X complementa ao concluir que não existe capitalismo sem racismo. Não causa surpresa a histórica e duradoura convivência pacífica entre escravidão e liberalismo, como reconhece ninguém menos que James Madison, pai da Constituição norte-americana, quando disse que “o domínio mais opressor jamais exercido pelo homem sobre o homem, fundado na mera distinção de cor, se impõe no período mais iluminado”. Madison, George Washington, Thomas Jefferson e demais Pais Fundadores eram todos proprietários de escravos.

    O elo estrutural entre racismo e capitalismo reside no fato da mão-de-obra escrava ter sido fundamental para a acumulação primitiva de capital, que acabaria por impulsionar avanços tecnológicos como o da máquina a vapor na primeira revolução industrial. Isso não seria possível sem que houvesse a desumanização dos negros, uma necessidade das forças produtivas que, para lucrar, impôs-lhes a condição de mercadoria, cuja troca e circulação é a alma da acumulação capitalista.

    Os anti-antifascistas, que se preocupam muito mais em demarcar sua posição quanto aos comunistas – aqui em sentido amplo e vulgar, incluindo a esquerda não-marxista – do que em bater no fascismo – “bater” em toda sua riqueza semântica -, reproduzem seu papel histórico de linha auxiliar do Fürher ou do Duce do momento. No decorrer do enfrentamento ao imperialismo japonês na China durante a Segunda Guerra Mundial, também era essa a preocupação do Partido Nacionalista (Kuomintang). Por mais que não fosse possível ignorar que seu país estava sendo invadido pelo fascismo (vamos lembrar que o Japão era parte do Eixo), ainda assim não deixou de esconder que seus verdadeiros inimigos eram os comunistas. O saldo dessa proximidade com os invasores está no lado que a massa camponesa tomou em 1949.

    Nenhum, absolutamente nenhum, dos anti-antifascistas que votaram 17 e que hoje reclamam do fato das hordas bolso-fascistas terem levado porrada no último domingo deram sequer um assobio quando o mestre Moa do Katendê foi esfaqueado e morto em 2018 por ser eleitor do PT. Também não demonstraram revolta quando o capitão por quem têm uma tara sexual homenageou, em plena tribuna da Câmara, um torturador condenado na justiça que, dentre outras atrocidades, ficou conhecido por enfiar animais vivos em vaginas durante suas sessões de tortura. Não esperemos que quem faz a egípcia para essas coisas levante uma bandeira que não seja a da barbárie genocida defendida por Solange Vieira, assessora de Paulo Guedes responsável pela Reforma da Previdência, para quem a “a morte de idosos melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit de pensão”.

    Quando o presidente, dirigindo-se a uma multidão em êxtase, falou em levar adversários para a Ponta da Praia, local onde a ditadura militar executava opositores, e metralhar petistas, os liberais Paulo Guedes/NOVO também ficaram calados. Quando bolsominions arregaçaram jornalistas e enfermeiras que protestavam pacificamente, silêncio também. Quando Roberto Justus, Luciano Hang – conhecido nas redes como o véio da Havan – e o dono do restaurante Madero defenderam em público seus interesses empresariais à custa da morte de pessoas pelo novo coronavírus, a paz republicana pesou sob suas pálpebras e tapou seus ouvidos, insensíveis ao genocídio da juventude pobre e preta do país, cuja última e mais notória vítima foi o adolescente João Pedro, crivado por balas da PM enquanto brincava em casa com seus primos.

    Em 2011 Bolsonaro ainda não era levado a sério, mas grupos neonazistas já organizavam “atos cívicos” em seu apoio. Skinheads engrossaram a comitiva que recebia o ex-deputado em aeroportos. Bandeiras contendo o símbolo de uma auto-denominada facção fascista ucraniana adornam os trios elétricos dos seus apoiadores que saem às ruas pedindo o fim do isolamento e um novo AI-5. Em Campina Grande, o presidente se embriagou na retórica hitlerista ao esgoelar que “vamos fazer um Brasil para as maiorias! As minorias têm que se curvar às maiorias! A lei deve existir para defender as maiorias! As minorias se adequam ou simplesmente desapareçam!”. David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan, chegou a falar que suas ideias eram muito próximas às do mandatário.

    É esse pessoal que está disposto a sair às ruas para defender o clã de milicianos. O liberal anti-antifascista pode ficar à vontade para se juntar à turma. Vai encontrar do outro lado antifascistas, comunistas, anarquistas, negros, indígenas, feministas, estudantes, sem-terras, sem-tetos, sindicalistas, professores, artistas, gays, lésbicas e todos os demais segmentos que, sentindo no pescoço o bafo da cadela do fascismo, reivindicam o legado histórico do antifascismo.

    O encontro pode não ser agradável.

    * Gustavo Freire Barbosa, advogado e professor, mestre em direito constitucional pela UFRN.

  • Coronel da PM causou tumulto para provocar a repressão ao ato pela Democracia

    Coronel da PM causou tumulto para provocar a repressão ao ato pela Democracia

     

     

    O coronel Américo Massaki Higuti, oficial da reserva da Polícia Militar, foi o causador de uma briga que serviu de pretexto para a brutal repressão contra os manifestantes antifascistas que foram no domingo (1/6) à avenida Paulista  para defender a Democracia.

    Embora na reserva, o coronel Américo Higuti compareceu à avenida Paulista trajando uma farda do COE, Comando de Operações Especiais, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo. Acontece que o uso de uniforme é privativo dos militares em serviço ativo. Os militares da reserva e os reformados podem usar seus uniformes por ocasião de cerimônias sociais, militares e cívicas, categorias em que a manifestação de domingo na avenida Paulista definitivamente não se encaixa.

    O coronel Américo Higuti é um ativo apoiador de Jair Bolsonaro. Ele mantém três perfis no facebook, em que posta fotos ao lado de celebridades de extrema direita, como o príncipe destronado Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Carla Zambelli e o próprio presidente.

     

    Xingamentos na travessia

     

    No domingo, ele participaria do ato em apoio a Bolsonaro e contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que acontecia a um quarteirão de onde se reuniam os Torcedores pela Democracia –corinthianos, palmeirenses, sãopaulinos e santistas contra o fascismo.

    Um cordão de isolamento formado por uma fileira de policiais militares separava um grupo do outro. Apesar das provocações fascistas dirigidas ao grupo dos torcedores, a situação estava sob controle. Cada grupos gritava suas palavras de ordem e agitava suas bandeiras.

    Foi então que o coronel Américo Higuti, o sargento PM Valdani, também fardado irregularmente, já que é da reserva, e um manifestante bolsonarista embrulhado na bandeira brasileira decidiram atravessar a pé a manifestação dos torcedores pela Democracia e contra o Fascismo. O grupo estava sendo escoltado por um soldado fardado da PM.

     

    Ao se aproximarem, em atitude claramente provocativa, os homens foram advertidos. “Não entrem aí, vocês estão querendo briga? Não vão!” Mas foi inútil. Torcedores presentes na manifestação relataram aos Jornalistas Livres que o grupo bolsonarista do coronel Américo Higuti entrou, xingando, na concentração pela Democracia: “ladrões”, “vândalos” e “maconheiros” foram algumas das ofensas.

     

    O coronel Américo Higuti, ao sair do outro lado da manifestação, alegou ter sido espancado, esfaqueado e “vítima de uma emboscada”.

     

    O sargento Valdani, também da reserva, alegou ter sido violentamente agredido pelos Torcedores.

     

    Foi a senha para começar a repressão.

     

    Os PMs que atuavam na segurança dos atos entraram em alvoroço e começou a confusão. Arremessaram bombas contra os torcedores enquanto o coronel Américo Higuti conversava com um soldado, parecendo dar-lhe ordens.

     

    Quando a avenida Paulista já havia se transformado em uma praça de guerra, o coronel Américo Higuti ainda foi visto tomando água, ladeado por PMs, no posto móvel da polícia, em frente ao parque Trianon e ao Masp.

     

    Depois do ato, o coronel foi ao 78º Distrito Policial, denunciando ter sido agredido, esfaqueado, “vítima de uma emboscada” e “impedido de se manifestar livremente”. Mas as imagens mostram que, ao contrário, foi ele que armou contra os manifestantes. Quanto à facada, será mesmo que ocorreu? Um homem esfaqueado não estaria tranquilamente assistindo à repressão que desencadeou e, depois, tomando um copo de água com os soldados do posto móvel da PM. Nem muito menos dando entrevista na porta da delegacia para sites fascistas. 

     

    O sargento Valdani também conversou com blogs da extrema direita tão logo terminou de prestar queixa no 78º DP. Estava firme e forte. Estranhamente, logo depois, foi internado, alegando fortes dores causadas pelas supostas agressões dos torcedores.

     

     

    Jornalistas Livres encaminharam às 10h43 à assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo as seguintes questões. Recebemos a nota em resposta às 16h46.

     

    PERGUNTAS:

     

    Prezados senhores,

     

    (…) Gostaríamos de obter as seguintes informações:

     

    1. Qual o estado de saúde presente do coronel Américo Massaki Higuti? E do sargento Valdani?

     

    1. Por que o coronel Américo Massaki Higuti e o sargento Valdani compareceram à avenida Paulista trajando uniformes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar? PMs da reserva podem usar fardamento em atos políticos?

     

    1. Por que um policial militar da ativa escoltou os manifestantes pró-bolsonaro em sua passagem por dentro do grupo contra Bolsonaro, colocando em risco a segurança dos escoltados?

     

    1. Torcedores que entrevistamos dizem que a “provocação” do coronel Higuti foi o que deu pretexto para a repressão que se iniciou a partir daí. Gostaríamos que a PM descreva o fato que deflagrou a repressão.

     

    RESPOSTAS:

    Nota da Secretaria de Segurança Pública a respeito dos questionamentos feitos pelos Jornalistas Livres
    Nota da Secretaria de Segurança Pública a respeito dos questionamentos feitos pelos Jornalistas Livres

     

    Prezados senhores,

     

    (…) Gostaríamos de obter as seguintes informações:

     

    1. Qual o estado de saúde presente do coronel Américo Massaki Higuti? E do sargento Valdani?

     

    1. Por que o coronel Américo Massaki Higuti e o sargento Valdani compareceram à avenida Paulista trajando uniformes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar? PMs da reserva podem usar fardamento em atos políticos?

     

    1. Por que um policial militar da ativa escoltou os manifestantes pró-bolsonaro em sua passagem por dentro do grupo contra Bolsonaro, colocando em risco a segurança dos escoltados?

     

    1. Torcedores que entrevistamos dizem que a “provocação” do coronel Higuti foi o que deu pretexto para a repressão que se iniciou a partir daí. Gostaríamos que a PM descreva o fato que deflagrou a repressão.

     

    Leia mais sobre Manifestação dos Torcedores Antifascistas em:

     

    Torcedores antifascistas: Heróis da Resistência, Povo em Luta, nossos Panteras Negras

    Torcidas do Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo se unem contra o fascismo

     

     

  • Brasil e EUA: dois experimentos sociais falidos

    Brasil e EUA: dois experimentos sociais falidos

    Os episódios recentes de protestos no Brasil e nos EUA não deveriam surpreender. É compreensível que, em meio ao surto virótico, milhares de pessoas ocupem as ruas nas duas maiores nações do continente americano. A escalada de confrontos e violência reflete problemas estruturais em ambos os países que os caracterizam, até certo ponto, como “casos únicos” no mundo. Não que protestos violentos demandando igualdade, justiça social e melhores condições de vida não aconteçam em outras partes do globo. Mas Brasil e EUA possuem uma combinação maléfica entre passado e presente que os empurra a um conflito interminável caso mudanças profundas na economia e sociedade não ocorram.

    A similaridade entre os dois países torna insustentável a convivência pacífica em sociedade, conforme demonstrado pelo cotidiano violento e cruel aqui e acolá.  As diferenças entre Brasil e EUA não podem obliterar características comuns à formação e consolidação de suas estruturas econômica e social. É importante insistirmos que ambos nasceram da expansão comercial europeia entre os séculos XV e XVIII calcada no escravismo e que o capitalismo, em sua face mais livre e, portanto, selvagem, reina nas duas maiores economias do Novo Mundo. Forjados na crueldade do trabalho escravo e vitaminados pelo capitalismo sem peias, a guerra entre “vencedores” e “perdedores” é uma constante nas duas localidades. 

    À base fundante excludente que, desde o início, apartou os proprietários de terra brancos dos negros, indígenas, mestiços e brancos pobres, acrescentou-se a competição desregulada no mercado de trabalho e no sistema econômico como um todo, ausente da devida intervenção estatal necessária à amenização das injustiças e distorções oriundas da dinâmica capitalista. O resultado não poderia ser outro: dentre as nações industrializadas, Brasil e EUA possuem as maiores desigualdades econômicas e sociais. Em ambas as nações, riqueza e pobreza têm cores.  

    Repressão e violência nos EUA e no Brasil: o legado do escravismo e do capitalismo feroz
    Repressão e violência nos EUA e no Brasil: o legado do escravismo e do capitalismo feroz

    A desigualdade do ponto de partida foi aprofundada pela desenfreada, injusta e não-meritocrática concorrência capitalista, ampliando a distância entre ricos e pobres, brancos e negros, incluídos e excluídos. Os favorecidos inicialmente saíram na frente na corrida com um acúmulo de riqueza e propriedades e foram turbinados pelas políticas discriminatórias de educação, saúde, habitação, cultura, direitos e afins… o resultado é que ficou impossível, via trabalho, esforço ou mérito, alcançar os privilegiados. O Abismo ficou deveras grande. O capitalismo prometeu prosperidade mas entregou disparidade. Os ricos já deram voltas e voltas em cima dos excluídos na corrida da luta pela sobrevivência cotidiana. Impossível alcançá-los correndo. A única maneira é mudar o curso da corrida. Dar meia volta e cruzar a linha de chegada pelo outro lado. O problema é que na inversão, choca-se com quem está vindo na direção oposta. Ou esses viram e saem correndo para o mesmo lado, ou serão atropelados. Necessário lembrar que nessa colisão o número, a quantidade, leva vantagem. Ou toda a sociedade caminha para o mesmo lado, ou a violência continuará na ordem do dia.    

    O debate precisa, entretanto, ir além. Reivindicamos mesmas oportunidades, igualdades de condições. Mas igualdade de condições para que? Para competir? Para participarmos da corrida? Para continuarmos moendo pessoas através da concorrência por dinheiro? Mas será que precisa haver corrida? Será que precisamos competir e aniquilar o próximo em 2020?

    O passado e o presente dos dois países resultaram em um sistema no qual, independente da vontade individual, não importando quem ocupa determinada posição, os valores capitalistas, a exploração e a exclusão são permanentes.

    Criou-se um sistema no qual o narcisismo, o individualismo, o egoísmo, a competição tresloucada, o enriquecimento ilimitado, o consumo exacerbado e o culto ao corpo imperam. Tais atributos não são, obviamente, predicados brasileiros e estadunidenses, mas, sem dúvida, avançaram mais nesses dois países. E nesse sentido a fala de Cornel West, viralizada nas redes sociais, caminha nessa direção quando afirma que “Estamos testemunhando a América como um experimento social falido”.

    O sistema precisa mudar. Não adianta substituir um homem por uma mulher como CEO de um banco, se ela continuar ganhando 400 vezes mais do que o auxiliar de almoxarifado. Não adianta substituirmos um modelo branco por um modelo negro na propagando da Zara se a lógica consumista de destruição dos recursos terrestres permanecer. Não adianta darmos educação de qualidade se o objetivo é trucidar o próximo na entrevista de emprego. É inútil substituirmos as peças se o jogo continua o mesmo. Não se trata de indivíduos melhores ou piores, bons ou maus. Trata-se de relações perniciosas derivadas do próprio sistema; um sistema nocivo ao bem-estar coletivo que precisa urgentemente mudar.

    Temos por obrigação reconhecer que falhamos como sociedade. Permanentemente, excluímos mais que incluímos; destruímos mais que construímos. É preciso mudar a lógica do sistema, seus valores. Enaltecer o coletivo, o bem-estar, o amor ao próximo e não a competição, o individualismo, a diferença, a desigualdade, o “mérito”. É preciso libertar a humanidade do jugo mercantil. O momento é propicio para reflexões e atitudes que realmente mudem o sistema, transformem nossas vidas. Não dá mais para vivermos num mundo onde a maioria sofre. É insustentável. É impossível. É imoral. Uma bomba relógio.

    O ideal é que o nascimento de uma nova sociedade ocorra através das vias democráticas, sem violência. Mas parece que a democracia não funciona no mundo do livre-mercado. As histórias do Brasil e dos EUA mostram que no capitalismo selvagem, sem a devida mediação/proteção econômica e social do Estado, os interesses da maioria são relegados ao esquecimento. Isso é sentido na pele pelos excluídos. Que as forças democráticas se unam a favor de um mundo novo pois, é bom relembrar, a violência é a parteira da história.

    Daniel de Mattos Höfling

    é doutor em Economia

    pela Unicamp

    (Universidade Estadual de Campinas)

    Leia também de Daniel Höfling:

    DANIEL HÖFLING: Onipresença e Onisciência Neoliberal

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  • Torcedores antifascistas: Heróis da Resistência, Povo em Luta, nossos Panteras Negras

    Torcedores antifascistas: Heróis da Resistência, Povo em Luta, nossos Panteras Negras

    Neste domingo (31/5) em São Paulo, torcedores do Corinthians, do Palmeiras, do Santos e do São Paulo estiveram juntos e misturados na avenida Paulista, em defesa da Democracia e contra o fascismo e a Ditadura. O povo foi com suas camisetas, bonés, baterias e gritos de guerra. Foram de metrô, de ônibus, foram de carona. E foram. Junto deles, militantes anarquistas antifascistas. Heróis!

    E eles encheram o domingo de esperança, de luta e de resistência. “A Periferia não apoia Ditador”, gritavam em uníssono.

     

     

     

    Era o povo pobre, periférico, muitos negros, muitas mulheres, levantando bem alto a faixa “Somos pela Democracia!” Somaram-se os trabalhadores desempregados que vivem como recicladores nas ruas, a maioria carregando sacos de latinhas vazias de refrigerante e cerveja, que acabavam de ser recolhidas do lixo e do chão. Nenhum dos que entrevistamos tinha conseguido sacar o benefício emergencial de R$ 600, apesar de viverem em condições mais do que precárias.

    Neonazistas na Avenida Paulista, defendendo Bolsonaro

    Os apoiadores de Bolsonaro, que também estavam na avenida Paulista, não escondiam suas intenções sinistras: querem acabar com a Democracia no Brasil. Seu propósito é entregar todo o poder ao seu “Mito”, que já prometeu “matar uns 30.000”, para completar o serviço assassino da Ditadura Militar.

    Eram poucos, não passavam de 100 gatos pingados gritando contra o STF, contra o comunismo, contra a Rússia, contra a China, contra a imprensa, contra Moro. Só Bolsonaro serve para esses fanáticos do autoritarismo e da opressão.

    Uma dondoca já de cabelos brancos trajava camiseta em que se lia: “Foda-se”, em letras garrafais. Ódio puro. Outra portava uma máscara com as listras e estrelas da bandeira americana. Amarrada na cintura, ela levava uma bandeira do Brasil que arrastava no chão. Na mão, a mulher carregava um taco de beisebol em que estava escrito “Rivotril”. Significa que, como o calmante poderoso, o taco põe as pessoas para dormir. Violência explícita. Os apoiadores de Bolsonaro xingavam muito (e aos berros) o grupo antifascista, que estava a um quarteirão de distância.

     

    PM protege fascistas e ataca com milhares de bombas os torcedores antifascistas

     

    Entre a pequena aglomeração fascista e a grande concentração antifascista perfilava-se uma linha de contenção, formada pela Polícia Militar do governador João Doria Junior. Era curioso ver que a PM ficou o tempo todo encarando as torcidas de forma ameaçadora enquanto dava as costas para o pequeno grupo fascista. “A polícia militar virou segurança de fascista, uma vergonha”, reclamou um corinthiano indignado com a diferença de tratamento entre os dois grupos.

    Provocadores bolsonaristas entravam na concentração das torcidas antifascistas, para arrumar briga. Eram rechaçados e voltavam para seu grupo. Numa das vezes, entretanto, a PM atacou. E começou a violência. Milhares de bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, de balas de borracha foram disparadas contra os antifas, que respondiam à injusta agressão da PM com pedras. Como Davis contra os Golias da PM. Alguns dançavam na frente das tropas ameaçadoras. Outros protegiam-se com placas de compensado, usadas como escudos. Durou quase duas horas o ataque policial aos jovens antifascistas, que não arredavam o pé da avenida Paulista.

     

     

    E assim o povo pobre mostrou que, contra o fascismo, não pode haver hesitação. É todo mundo junto e misturado, lutando com coragem e amor pela liberdade.

    Coragem, neste domingo, foi o sobrenome de cada um dos torcedores do Corinthians, do Palmeiras, do Santos e do São Paulo que foram para a avenida Paulista defender a Democracia.

     

     

     

     

    Que os partidos políticos de oposição a Bolsonaro entendam a mensagem desses jovens e destemidos heróis democratas.

     

  • Torcidas do Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo se unem contra o fascismo

    Torcidas do Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo se unem contra o fascismo

    Corinthians e Palmeiras juntos? Com o Santos e o São Paulo? Impossível!

    Neste domingo (31/5) em São Paulo, os torcedores desses times estavam juntos e misturados na avenida Paulista, em defesa da Democracia e contra o fascismo e a Ditadura. O povo foi com suas camisetas, bonés, baterias e gritos de guerra. Foram de metrô, de ônibus, foram de carona. E foram. Junto deles, militantes anarquistas antifascistas.

    E eles encheram o domingo de esperança, de luta e de resistência. “A Periferia não apoia Ditador”, gritavam em uníssono.

    Era o povo pobre, periférico, muitos negros, muitas mulheres, levantando bem alto a faixa “Somos pela Democracia!” Somaram-se os trabalhadores desempregados que vivem como recicladores nas ruas, a maioria carregando sacos de latinhas vazias de refrigerante e cerveja, que acabavam de ser recolhidas do lixo e do chão. Nenhum dos que entrevistamos tinha conseguido sacar o benefício emergencial de R$ 600, apesar de viverem em condições mais do que precárias.

    A convocação deste Primeiro Ato Antifascista foi feita pelas redes sociais. Os torcedores perceberam que o Brasil está caminhando para uma terrível armadilha, montada pelos fascistas que apoiam Jair Bolsonaro, para os quais é preciso fechar o Supremo Tribunal Federal, o Congresso, destruir a imprensa, e usar a polícia para ensinar, na base da porrada e dos massacres, que quem manda no Brasil são os banqueiros, os empresários, os generais e os milicianos. E o povo que obedeça.

    No sábado, 30 desses fascistas covardes foram para a porta do STF, em Brasília, ameaçando ministros da mais alta corte do Brasil com gritos e xingamentos. Já seria grave. Mas esses criminosos fizeram questão de desfilar na frente do STF com tochas acesas, imitando dois símbolos da pior opressão: a ku klux klan, que assassinou centenas de negros nos Estados Unidos, e os nazistas, que também amavam tochas acesas.

     

    A mensagem ameaçadora, somada a repetidas ofensas à Democracia por parte de Bolsonaro e seus filhos, levou o ministro Celso de Mello a enviar aos seus colegas do Supremo uma mensagem de alerta:

    “GUARDADAS as devidas proporções, O “OVO DA SERPENTE”, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) , PARECE estar prestes a eclodir NO BRASIL! É PRECISO RESISTIR À DESTRUIÇÃO DA ORDEM DEMOCRÁTICA, PARA EVITAR O QUE OCORREU NA REPÚBLICA DE WEIMAR QUANDO HITLER, após eleito por voto popular e posteriormente nomeado pelo Presidente Paul von Hindenburg , em 30/01/1933 , COMO CHANCELER (Primeiro Ministro) DA ALEMANHA (“REICHSKANZLER”), NÃO HESITOU EM ROMPER E EM NULIFICAR A PROGRESSISTA , DEMOCRÁTICA E INOVADORA CONSTITUIÇÃO DE WEIMAR, de 11/08/1919 , impondo ao País um sistema totalitário de poder viabilizado pela edição , em março de 1933 , da LEI (nazista) DE CONCESSÃO DE PLENOS PODERES (ou LEI HABILITANTE) que lhe permitiu legislar SEM a intervenção do Parlamento germânico!!!! “INTERVENÇÃO MILITAR”, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, NADA MAIS SIGNIFICA, na NOVILÍNGUA bolsonarista, SENÃO A INSTAURAÇÃO , no Brasil, DE UMA DESPREZÍVEL E ABJETA DITADURA MILITAR !!!!”

    Neonazistas na Avenida Paulista, defendendo Bolsonaro

    Os apoiadores de Bolsonaro estão assanhados: querem acabar com a Democracia urgentemente no Brasil. Seu propósito é entregar todo o poder ao seu “Mito”, que já prometeu “matar uns 30.000”, para completar o serviço da Ditadura Militar.

    Por isso, neste domingo, bolsomínions de São Paulo também foram para a avenida Paulista. Eram poucos, não passavam de 100 gatos pingados gritando contra o STF, contra o comunismo, contra a Rússia, contra a China, contra a imprensa, contra Moro. Só Bolsonaro serve para esses fanáticos do autoritarismo e da opressão.

    Uma dondoca já de cabelos brancos trajava camiseta em que se lia: “Foda-se”, em letras garrafais. Ódio puro. Outra portava uma máscara com as listras e estrelas da bandeira americana. Amarrada na cintura, ela levava uma bandeira do Brasil que arrastava no chão. Na mão, a mulher carregava um taco de beisebol em que estava escrito “Rivotril”. Significa que, como o calmante poderoso, o taco põe as pessoas para dormir. Violência explícita. Os apoiadores de Bolsonaro xingavam muito (e aos berros) o grupo antifascista, que estava a um quarteirão de distância.

    Manifestante carrega bandeira de movimento neonazista da Ucrânia (preta e vermelha) em ato pró-Bolsonaro - Marlene Bergamo
    Manifestante carrega bandeira de movimento neonazista da Ucrânia (preta e vermelha) em ato pró-Bolsonaro – Marlene Bergamo

    Mas o sinal mais grave das vocações opressoras dos fascistas foi a presença de uma bandeira vermelha e preta, com um tridente estilizado no centro. Trata-se do símbolo do Pravyi Sektor (Setor Direito), organização neonazista e terrorista da Ucrânia, criada em 2013. O Pravyi Sektor está envolvido em crimes de guerra e perseguição de minorias, como homossexuais, ciganos, judeus e russos. O homem que carregava a bandeira dizia ter sido treinado na Ucrânia, hoje considerada uma meca do anticomunismo mundial. Sara Winter, que organiza o grupo 300 de Brasília, e que chefiou a manifestação das tochas defronte o STF, diz também ter sido treinada na Ucrânia.

    Apesar dessa preocupante proximidade entre os militantes fascistas brasileiros e os ucranianos, incluindo a ostentação de símbolos nazistas daquele país, a Polícia Militar, que acompanhava as manifestações na avenida Paulista, ignorou a Lei 7.716/89 que, no parágrafo 1º do artigo 20, prevê o “Crime de Divulgação do Nazismo”, para o qual estabelece pena de 2 a 5 anos de reclusão e multa. A PM nada fez para coibir a exibição da bandeira do Pravyi Sektor e, em vez disso, protegeu vergonhosamente a manifestação bolsonarista e reprimiu selvagemente a das torcidas antifascistas.

     

    PM protege fascistas e ataca com milhares de bombas os torcedores antifascistas

     

    Entre a pequena aglomeração fascista e a grande concentração antifascista perfilava-se uma linha de contenção, formada pela Polícia Militar do governador João Doria Junior. Era curioso ver que a PM ficou o tempo todo encarando as torcidas de forma ameaçadora enquanto dava as costas para o pequeno grupo fascista. “A polícia militar virou segurança de fascista, uma vergonha”, reclamou um corinthiano indignado com a diferença de tratamento entre os dois grupos.

    Provocadores bolsonaristas entravam na concentração das torcidas antifascistas, para arrumar briga. Eram rechaçados e voltavam para seu grupo. Numa das vezes, entretanto, a PM atacou. E começou a violência. Milhares de bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, de balas de borracha foram disparadas contra os antifas, que respondiam à injusta agressão da PM com pedras. Como Davis contra os Golias da PM. Alguns dançavam na frente das tropas ameaçadoras. Outros protegiam-se com placas de compensado, usadas como escudos. Durou quase duas horas o ataque policial aos jovens antifascistas, que não arredavam o pé da avenida Paulista.

    E assim o povo pobre mostrou que, contra o fascismo, não pode haver hesitação. É todo mundo junto e misturado, lutando com coragem e amor pela liberdade.

    Coragem, neste domingo, foi o sobrenome de cada um dos torcedores do Corinthians, do Palmeiras, do Santos e do São Paulo que foram para a avenida Paulista defender a Democracia.

    Que os partidos políticos de oposição a Bolsonaro entendam a mensagem desses jovens e destemidos democratas.

     

     

    Veja aqui a manifestação de hoje (31/5) na avenida Paulista, que os Jornalistas Livres cobriram em transmissão ao vivo da avenida Paulista

     

     

    Veja a análise dos fatos de hoje (31/5) na avenida Paulista, com Chico Malfitani, fundador da Gaviões da Fiel

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • Irmão de Sara Winter torce para que ela seja presa por fabricar fake news

    Irmão de Sara Winter torce para que ela seja presa por fabricar fake news

    Diego Giromini, irmão de Sara Winter, torce para que a irmã seja presa logo por causa das ofensas aos ministros do STF
    Diego Giromini, irmão de Sara Winter, torce para que a irmã seja presa logo por ofensas ao STF

    Heroína da extrema direita brasileira e uma das apoiadoras mais famosas de Jair Bolsonaro, Sara Winter, de 27 anos, foi alvo de um mandado de busca e apreensão da Polícia Federal na operação que investiga as fábricas de fake news e ameaças contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF).

    Na quarta-feira (27/5) Sara Winter teve seu celular e computador apreendidos, o que a levou a gravar um vídeo com novas ameaças e mais xingamentos contra o ministro Alexandre de Morais, que havia autorizado a operação. Ela chegou a dizer que pretendia “trocar socos” com Morais, a quem chamou de “covarde”, “filho da puta” e “arrombado”.

    Sara Winter foi uma militante nazifascista na Inglaterra durante a II Guerra Mundial. A atual Sara Winter, na verdade, não tem esse nome. Trata-se apenas do pseudônimo escolhido por Sara Fernanda Giromini —este o seu verdadeiro nome.

     

    Briga em Família

     

    A família Giromini vive em São Carlos, no interior de São Paulo. Mas não é tranquila a convivência de Sara Winter com seus parentes de sangue.

    Diego comenta o post da irmã Sara Winter: "presa logo"
    Diego sobre o post de Sara Winter: “Logo vc vai”

    Irmão dela, Diego Giromini postou no facebook que a PF não deveria ter levado apenas o celular e o computador de Sara. Deveriam levar vc também irmã querida. Mas logo vc vai”.

    No seu perfil no facebook, Diego Giromini se apresenta de uma forma inusitada: “Infelizmente irmão da Sara Winter”. Seguem-se emojis de fezes e de carinhas vomitando.

    Diego Giromini não suporta a irmã Sara. No youtube, ele conta que Sara foi prostituta, diz que ela não vê o filho desde o nascimento, já que o abandonou para que a mãe dela o criasse, denuncia que Sara é usuária de drogas.

    Sara Winter, que foi candidata a deputada federal pelo Democratas do Rio, nas eleições de 2018, afirma ser ex-feminista. Diz que agora está consagrada ao cristianismo, embora seja uma defensora fanática das armas. Ela afirma que pretende criar o filho “com base nos Dez Mandamentos”. Com esse currículo, trabalhou durante sete meses como coordenadora nacional de políticas para a maternidade no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, da ministra Damares Alves.

    Atualmente, Sara Winter organiza o grupo paramilitar chamado “Os 300 do Brasil”, que pretende defender à força de armas o governo de Bolsonaro. O grupo fica acampado na Praça dos Três Poderes.

     

    Diego Giromini: "Infelizmente irmão da Sara Winter"
    Diego Giromini: Infelizmente