A Vai-Vai não caiu pelos seus erros, mas pelos seus acertos: direção de negros, maioria de negros, presença das famílias negras, história negra quase centenária, resistência negra no centro de São Paulo, temática negra, invocar orixás nos samba-enredos, e orgulho negro!
Só os “supremacistas brancos” nos querem humildes!
Camisa, Peruche e Nenê caíram porque eram escolas negras.
Ninguém, nos tempos áureos dessas escolas, melhor representou a majestade negra em São Paulo.
Quando caíram, chorei, porque sou negro, e vi o que se desenhava no horizonte.
Pensei: se derrubaram essas escolas, se não aprendermos, seremos os próximos.
E não aprendemos! Eles, sim!
A disputa é pelo território, pelas suas lutas e riquezas. A cadeia de criação e produção das escolas de samba é uma das maiores da indústria da nova economia no estado de São Paulo!
Só para lembra, a capoeira é a maior difusora da língua portuguesa no mundo e o candomblé é a mais rica expressão da cultura ancestral africana preservada no Brasil.
É mais do que desfile, cara pálida!
Quero o orgulho e a arrogância negra no samba de São Paulo, novamente, pois do contrário, perdemos todos!
O enredo da escola de samba Gaviões da Fiel, que levou à avenida a mensagem “O Diabo Venceu”.
Como evangélicos se escandalizaram, e por isso o teólogo Tiago Silva decidiu explicar por que o carnavalesco da Gaviões deu uma demonstração de que entende mais de Cristianismo do que aqueles que seguem Silas Malafaia e similares.
A Bancada Evangélica protestou e pretende processar a escola por ataque a fé cristã. É um absurdo num estado laico, querer se punir uma escola de samba por ter uma opinião diversa da direita evangélica.
A Escola colocou fotos no Insta que Jesus venceu e que o anjo de branco vence o demônio.
O teólogo Tiago Santos escreveu um belo texto em resposta a este pensamento moralista conservador:
“Quando a igreja fez arminha com a mão, o diabo venceu.
Quando os pastores e missionários, mesmo atuando nas comunidades mais pobres e obtendo o seu sustento do salário dos trabalhadores, apóiam a retirada de direitos destes para favorecerem os mais ricos, o diabo venceu.
Quando a igreja ri de uma criança que morre, o diabo venceu.
Quando a igreja comemora que uma líder social é assassinada a tiros numa emboscada, o diabo venceu.
Quando a igreja zomba de um líder político que precisa deixar o país sob ameaça de morte, o diabo venceu.
Quando a igreja vive uma expectativa que entremos em guerra com outro país para atender interesses geopolíticos de superpotências, o diabo venceu.
Quando a igreja se torna o principal grupo social do país a espalhar mentiras na internet, o diabo venceu.
Quando a maior preocupação da igreja, em um país extremamente desigual, é que meninos vistam azul e meninas rosa, o diabo venceu.
Quando a igreja fica em angustiante silêncio frente ao racismo, a xenofobia, ao feminicídio, a homofobia, o diabo venceu.
Quando a igreja considera armar toda a população como forma de buscarmos a paz, o diabo venceu.
Quando a igreja considera justo que fazendeiros que já tanto tem esmaguem os povos indígenas para lhes tomar o pouco que resta, o diabo venceu.”
O Carnaval de Belo Horizonte abriu com uma tentativa de censura por parte da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). O capitão Lisandro Sodré, do 13º Batalhão, ameaçou abandonar o policiamento do Desfile do Bloco Tchanzinho da Zona Norte após um dos vocalistas puxar um canto de repúdio a Jair Bolsonaro (PSL) e de apoio ao ex-presidente Lula.
[aesop_video src=”youtube” id=”pVpkLgn3nlE” align=”center” caption=”O portal de notícias BHAZ registrou o grito puxado por um dos vocalistas do Tchanzinho da Zona Norte.” disable_for_mobile=”on” loop=”off” controls=”on” autoplay=”off” mute=”off” viewstart=”on” viewend=”on” revealfx=”off” overlay_revealfx=”off”]
Dezenas de milhares de pessoas acompanhavam o cortejo do bloco, que desfilava pela avenida Sebastião de Brito, no bairro Dona Clara, na região da Pampulha. O evento transcorria normalmente até cerca das 20 horas, quando um dos cantores clamou “Bolsonaro é o cara*** e Lula Livre”. Após a manifestação, Sodré subiu no trilho elétrico do bloco e afirmou que ia abandonar a segurança da festa caso o grito se repetisse. “Ele falou que se a gente continuasse, ele iria embora.” declarou Laila Heringer, uma das organizadoras do Tchanzinho, à Rádio Itatiaia:
“A gente se sentiu intimidado com relação à nossa liberdade de expressão. Nós também nos preocupamos com a segurança de todas essas pessoas que vieram fazer essa festa linda e estão curtindo em paz. E a gente está sendo censurado? Eu não estou entendo o que está acontecendo”
Também a rádio Itatiaia, o major Sérgio Dias, comandante da 16ª companhia do 13º batalhão da PM, sugeriu que os cantores do trio elétrico fizeram um “estímulo a violência” ao criticar Bolsonaro: “Todos nós acompanhamos as eleições no ano passado e como o clima ficou acirrado, como ficou polarizado. Isso não pode ser transportado para um evento carnavalesco. Essa foi a orientação.”
O porta-voz da Polícia Militar, Major Flávio Santiago, admitiu para o portal BHAZ que a polícia vai agir para “coibir manifestações políticas” no Carnaval. “É um ambiente em que não há previsão de manifestações políticas. Como pode haver divergências de opiniões, em um ambiente com muitas pessoas, pode haver uma perda de controle, prejudicando a segurança, podendo provocar até uma briga generalizada, com necessidade de uso de instrumento de menor potencial ofensivo”, afirmou o major.
Se o objetivo era evitar violência, o resultado foi o oposto. Sentindo-se autorizados pela polícia, vários LGBTfóbicos começaram a agredir parte do público. Logo após a intervenção do policial Lissandro, um homossexual foi agredido a socos após ser chamado de “viado”. O conflito foi tanto que o desfile teve que terminar mais cedo que o previsto, explica o bloco Tchanzinho da Zona Norte em nota publicada na tarde de sábado (02/03):
“atitudes como a do capitão Lisandro Sodré, ao contrário de estimular uma convivência pacífica entre pessoas de posicionamentos políticos divergentes (como sempre ocorreu em nossos desfiles), se presta à incitação de atos de intolerância por parte de foliãs e foliões, que se vêem legitimado por atitudes de semelhante intolerância vindas de uma instituição pública de tamanha importância, como é o caso da Política Militar.”
No texto, o bloco reforçou o caráter político da festa e afirmou que pedirá aos orgãos públicos competentes, como a Corregedoria da PM e o Ministério Público, se expressem e tomem medidas cabíveis.
O Carnaval é político
Ao contrário do que dizem os militares, o Carnaval em Belo Horizonte é tradicionalmente um evento político. Hoje com um público estimado de 4,6 milhões e com mais de 600 cortejos de rua, o feriado na capital mineira é uma das maiores festas do Brasil. No entanto, ele se distingue por ter surgido e crescido justamente devido a uma década de manifestações populares. Organizadas por diferentes movimentos urbanos, essas manifestações apelavam para a estética carnavalesca como forma de mobilizar a população e reivindicar diversas demandas sociais. Foram justamente nesses atos políticos que muitos dos blocos atuais foram formados, alguns como o Alô Abacaxi e Angola Janga compostos justamente para defender direitos dos negros, das mulheres e dos LGBTs. Mesmo após se tornar massivo, manifestações, performances e gritos políticos são e sempre foram de praxe durante o evento.
Para mais detalhes sobre o resgate do Carnaval de Belo Horizonte pelos movimentos de rua, clique aqui.
*Reportagem original foi revista às 14:01 do 2 de março de 2019 para acrescentar o posicionamento oficial do Bloco Tchanzinho da Zona Norte.
Não tiraremos as máscaras, não tiraremos nossos pés das ruas, não tiraremos nossas roupas de super-heróis que morreram de overdose, não tiraremos a purpurina de nossos corpos, não tiraremos o glitter e muito menos nossa bandeira feminista, black power, LGBTQ e indígena.
Cantaremos marchinhas, cantaremos do Largo da Batata até a Paulista, da Maré ao Leblon, Federação à Boca do Rio.
Pularemos como se não houvesse amanhã, sabe por quê? O evento mais subversivo do ano chegou: O CAR-NA-VAL.
Estaremos a postos, ocupando as cidades, ajudando a fazer do Carnaval a celebração da Carne e da Liberdade —que foi pra isso que ele foi inventado. Estaremos com nossos punhos levantados, com nossos pés marchando em direção a um Estado democrático, que comemore a manifestação popular, em vez de reprimi-la.
Somos a manifestação quente, suada, calorosa, amorosa, companheira, empática.
Somos a manifestação de um corpo vivo, que reluz sonhos. Uma juventude que não nasceu para ficar calada, que vai enfrentar o sinal fechado, que fará o carnaval livre, sem repressão, sem perdas.
Faremos um carnaval progressista —na diversão, não esqueceremos dos nossos censores, dos ratos em nossas piscinas e nem dos nossos inimigos que estão no poder.
Por isso, Jornalistas Livres convidam todas as foliãs e todos os foliões do País pra registrarem essa beleza, porque a ideia é publicar tudo em um diário colorido e multifacetado do Carnaval!
Basta mandar fotos, vídeos, textos para jornalistaslivres@gmail.com ou contato@jornalistaslivres.org
Leia agora com voz de jogral:
Veeeeem, veeeem pra rua vem, pro Carnaval livre
#CarnavaLivre #JLnoCarvaldeRua #DemocraciaNoCarnaval
Esse texto foi escrito por Estela Aguiar, com base nas propostas discutidas e aprovadas coletivamente
Veja abaixo uma galeria de algumas coberturas que fizemos até agora:
#MG BLOCO BRUTA FLOR
17.02.2019 o Bloco Bruta Flor abriu o Carnaval de BH
Por Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
#MG BLOCO BOI ROSADO
GRITA: VALE ASSASSINA!
O bloco Boi Rosado sai às ruas do bairro Santa Tereza (Belo Horizonte) em protesto contra os crimes da Vale.
Imagens: Henrique F. Marques | Jornalistas Livres #ValeAssassina#ValeMata
Sábado (23/02), o bloco Acadêmicos da Ursal (antigo Bloco Soviético) tomou a Rua Augusta, em São Paulo, com cantos de protesto e camisas vermelhas. A Prefeitura enviou um grupo identificado como “apoio à remoção” para confiscar alimentos e bebidas que estavam sendo comercializados, onde os foliões se concentravam antes do bloco sair. Fotos: Estela Aguiar e Vinicius Barbosa.
#SP BLOCO CLANDESTINO
Sofre com a truculência policial e a repressão na dispersão, no buraco da minhoca, em baixo da praça Roosevelt.
#SP BLOCO DOS SEM TETO
Bloco dos SEM TETO, se manifesta pelas ruas do Centro de São Paulo, no dia 23.02.2019. Por Lorenna Kogawa | Jornalistas Livres
#MG BLOCO SAGRADA PROFANA
Vai às ruas de BH, 23.02.2019, para derrubar o patriarcado. O cortejo é marcado por discursos feministas, homenagens à grandes mulheres e a alegria do corpo feminino. Fotos: Lucas Bois / Jornalistas Livres
#MG BLOCO PULA CATRACA
O Bloco Pula Catraca do movimento Tarifa Zero pautando a mobilidade urbana, aumento tarifário e oligopólio das empresas de transporte público, pelas ruas de BH e, 24.02.2019. Por Cadu Passos | Jornalistas Livres
O Bloco Afro Afirmativo Ilú Inã, desfilou dia 25.03.2019, Abordando os arquétipos sociais de três orisàs do panteão Yoruba/Nago, Exú, Ogum e Yemanjá. Por Fernando Sato l Jornalistas Livres
Esquentam os tambores de Norte a Sul do país! Já é Carnaval e baterias, escolas de samba e foliões já preparam a fantasia e a mensagem para botar o bloco na rua. Como sempre um ambiente de sátiras e críticas políticas explícitas, o Carnaval de 2019 já ganhou um tom “laranja”. Além das críticas ao Governo que recém-começou, os foliões e as foliãs têm entoado juntos um grito que promete marcar a folia este ano: “Lula Livre!”
No último fim de semana, diversos blocos manifestaram sua indignação com a prisão injusta de Lula, que já perdura por mais de dez meses. Em São Paulo, foram diversas as manifestações por Lula Livre, como as alas no Bloco da Abolição e no Bloco da Ursal, além de várias fantasias nos blocos que saíram no Centro da cidade. O Rio de Janeiro presenciou um gigantesco Lulaço no Parque Lage e não faltaram manifestações nas prévias em Olinda e no Recife.
A partir do início das festividades de Momo, na próxima sexta-feira (01), os principais carnavais do país têm articulações dos blocos para cantar a liberdade e gritar Lula Livre. No RJ, os blocos Viemos de Egyto, AGYTOÊ, Orquestra Voadora, Tocoxona, Tambores de Olokum, Terreirada Cearense e Cordão do Boitatá são polos de manifestações pela Democracia e por Lula Livre. Também em São Paulo a lista é extensa: Toca do Saci, Jegue Elétrico, Bloco do Hercu, Salete Campaty e o Navio Pirata do BaianaSystem.
Na Bahia já se espera o grito por Lula Livre nas apresentações de Xênia França, Luedji Luna, do ÀTTØØXXÁ e do Afrocidade. Na capital mineira, os Meninos de Santa Tereza vão levar a marchinha premiada “Solta a Jararaca” para diversos blocos em todos os dias de folia.E em Olinda o destaque vai para o Blocão da Democracia na próxima segunda-feira (04), que sai puxado pelo Bloco do MST acompanhado de mais de 20 outros blocos engajados.
Para agitar a folia, o Comitê Nacional Lula Livre elaborou um Kit especial para o Carnaval, que contém máscara, seleção de marchinhas e frevos, cards para uso nas redes sociais e até tatuagens. O Kit está disponível fisicamente nos blocos articulados para gritar Lula Livre, mas também pode ser baixado pelo link www.bit.ly/KitCarnavalLULALIVRE .
Para a cobertura colaborativa, basta postar sua foto na folia com a tag #CarnavalLulaLivre.
Sem dúvida, um dos pontos altos do ano de 2019, e que merecerá toda nossa atenção, será o desfile que a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro preparou para Marques de Sapucaí.Mordida depois do terceiro lugar obtido no último ano, em que homenageou as mulheres negras com um carnaval luxuoso, o Salgueiro aposta desta vez em nada menos que seu padroeiro, Xangô, em um enredo que mexe com emocional de seus componentes de uma forma especialíssima.
Impulsionada, ainda, por samba entre os melhores que foram apresentados nos últimos anos, com versos em português e iorubá, a melodia parece convocar, de fato, o orixá que também dá o tom das cores da escola, para disputa pelo título.
Diz o refrão:
“Olori, Xangô, oiêo
Kabelice, meu padroeiro
Traz a vitória para o meu Salgueiro”
Na Umbanda e Candomblé, Xangô é associado à justiça, ao fogo e aos trovões. Quem viu os ensaios técnicos pelas ruas da Tijuca, imediações do morro do Salgueiro, onde fica a escola, ou na Sapucaí, garante que há muito não se via essa escola tão afiada e animada.
Na bateria, que teve troca de comando, o maestro Jorge Cardozo ouviu a cinco ogãs, e introduziu o alujá, espécie de marcha de percussão que é um toque para Xangô nos ritos tradicionais de matriz africana. Mais um ponto de intersecção entre fé e carnaval nesse desfile.
Em um ano que marca para o Rio de Janeiro a consagração política de personalidades hostis às tradições afrobrasileiras, com Crivella, Witzel e Bolsonaro no poder, e ainda sob ameaças persistentes de corte de patrocínios para os desfiles apesar da festa atrair milhares de turistas para cidade, a ode à entidade nagô será também uma catarse para boa parte do público.
Outras boas novidades devem aparecer neste carnaval, mas o que todas as plumas e paetês do Rio de Janeiro sabem neste momento é que o desfile do Salgueiro será histórico.