Jornalistas Livres

Autor: Fabiana Oliveira

  • OPINIÃO: O PT NÃO É UM PARTIDO SEM POVO

    OPINIÃO: O PT NÃO É UM PARTIDO SEM POVO

    Ontem estive em São Bernardo do Campo (SBC) para receber o ex-presidente Lula, livre após 580 dias de uma prisão arbitrária e política, junto de milhares de pessoas que enfim puderam experimentar alguma sensação de esperança nesta conjuntura política. Timidamente, abordei algumas pessoas para uma breve entrevista. O roteiro era simples: apresentação e uma resposta para a pergunta: “Por que a liberdade de Lula é uma vitória do povo?” Ninguém hesitou em responder. Não havia voz vacilante a não ser as que se embriagavam de alguma (ou toda) emoção. Estar em SBC, berço de tantas lutas que constróem a história da classe trabalhadora no Brasil, era mesmo emocionante. Éramos muitas/os. Éramos todas/os!

    Lula iniciou seu discurso dizendo que foi ali que ele aprendeu lutar por direitos. A homenagem é merecida, mas quero ousar dizer que foi antes, ainda menino, sendo personagem de uma história que se repete Brasil afora, de fome e privação de direitos. O operário nordestino era o espelho de muita gente que – certamente com dificuldade, mas também com muita certeza – se dirigiu até São Bernardo. Eram mulheres e homens das classes populares, trabalhadoras e trabalhadores de todos os estados. Haviam militantes do movimento sem terra, sem teto, feminista, indígena, LGBT. Trabalhadoras domésticas, petroleiras/os, professoras/es, estudantes, etc. Tinha povo. O Partido dos Trabalhadores (PT) não é um partido sem povo!

    “Lula Livre é a possibilidade de fortalecer as nossas lutas, pra gente reconstruir esse país e lutar contra o desmonte das políticas públicas que o governo que está ai está fazendo e o veneno na nossa comida. Lula é o povo e o povo é Lula. A liberdade de Lula não basta. A gente tem que estar na rua e tem que lutar, para que a gente mantenha essa liberdade e para que ele saia com o julgamento anulado, com todos os direitos políticos, pra gente reconstuir a nossa nação”, afirmou Maria Flor Guerreira, da etnia Pataxó, de Minas Gerais.

    Sarah de Roure, militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), lembrou que “a liberdade do ex-presidente Lula é uma liberdade que não representa só um homem fora da prisão. Ela representa a possibilidade do povo brasileiro voltar a sonhar. A prisão do Lula fez parte de um longo processo de golpe no Brasil, que começou em 2016 e viabilizou a eleição do Bolsonaro. Pra reconstruir a democracia, a gente precisa do Lula nas ruas, rodando esse país falando com as mulheres, com os homens, com a juventude. Falando sobre os problemas concretos do povo brasileiro”.

    O sentimento de quem se misturava a toda essa gente, alegre, cantante, era o de que ali ardia uma fagulha de esperança. A de que venceremos as muitas batalhas a serem enfrentadas para construir um país justo, talvez com a dignidade de um homem de 74 anos que venceu a fome que marcou sua vida, ajudou a combater a miséria que assola milhões de pessoas no Brasil e mesmo aprisionado não baixou a cabeça. Lula nunca ofereceu o que seus algozes queriam. Lula manteve o seu compromisso com o povo. O PT não é um partido sem povo!

    Sabemos que a luta continua – e que ela nunca parou. Não se trata de uma esperança torpe, imobilizante, mas de uma crença de que não se faz luta sem gente. Ontem, esta gente de luta, que constróe greves, mobilizações, que vai às ruas, hasteia bandeiras, sabia exatamente onde era o nosso lugar. O mesmo se dará no futuro.

    Lula Livre!

  • Violência golpista avança na Bolívia e Evo Morales anuncia novas eleições

    Violência golpista avança na Bolívia e Evo Morales anuncia novas eleições

    Na manhã deste domingo (10), o presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, anunciou a realização de novas eleições no país. A decisão foi tomada após a casa de sua irmã ser incendiada durante a noite, em mais um ataque que compõe uma série de tentativas violentas e desesperadas da oposição, que visam deslegitimar o pleito eleitoral que se encerrou no mês passado e consolidar o golpe fascista que Evo e o povo boliviano vêm denunciando para o mundo.

    No sábado (9), a oposição golpista atacou a emissora Bolívia TV e a rádio Pátria Nova, cortando sinais. Além disso, José Aramayo, diretor da rádio Comunidade, ligada à Confederação de Trabalhadores Campesinos (CSUTCB), foi levado da sede e amarrado em uma árvore. Diante do recrudescimento da violência dos opositores, Evo propôs um amplo diálogo com a sociedade boliviana, mas a oposição não aceitou o convite.

    Em pronunciamento transmitido pela TV Unitel, na manhã deste domingo, Evo pediu à imprensa e à toda a população que se comprometam com a pacificação da Bolívia.

  • Construção estratégica de movimento é discutida em seminário internacional da MMM

    Construção estratégica de movimento é discutida em seminário internacional da MMM

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Nesta quarta-feira (19), último dia do seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, que teve início no dia 17 de junho, feministas de diversos países discutiram construção estratégica para o feminismo. A atividade, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), reuniu militantes das das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio.

    Nesta reflexão, conduzida por Miriam Nobre, da MMM do Brasil, e Cindy Wiesner, da Glassroot International (EUA), as mulheres buscaram pensar sobre as especificidades do atual momento histórico e os desafios para a construção política de uma agenda internacionalista para o feminismo. A discussão foi dividida em três momentos diferentes: no primeiro, Tica Moreno, militante da Marcha no Brasil e Carmen Diaz, da MMM do México, compartilharam reflexões sobre a economia feminista. No segundo, Nalu Faria e Clarisse Paradis, da MMM no Brasil, falaram sobre democracia e Estado. Por fim, houve um momento de discussões em grupos, que foram coletivizadas em seguida.

    Tica afirmou que a economia feminista é uma aposta política e teórica, uma ferramenta de construção de imaginários da nova sociedade que queremos construir, tanto quanto é a base das práticas que estão sendo empreendidas pelas mulheres nesta construção. Neste sentido, o feminismo faz uma crítica a ideia reducionista de economia como aquilo que é passível de monetarização. A economia é o conjunto de trabalhos, processos e relações que sustentam a vida.

    O modelo hegemônico que propõe uma separação artificial entre o trabalho produtivo e reprodutivo o faz hierarquizando, explorando e invisibilizando a esfera dita reprodutiva, da qual as mulheres seguem sendo as principais responsáveis. Ao colocar a vida e a sustentabilidade no centro do debate e da ação política, a economia feminista nos coloca em uma outra posição, não hierarquizada, mas de interdependência entre as pessoas e ecodependência em relação à natureza.

    Carmen organizou os elementos que já haviam aparecido durante o Seminário e que tem relação com este debate sobre economia feminista. Falou sobre a crise internacional, o ataque às democracias e as falsas soluções que estão sendo apresentadas neste cenário pelas empresas e forças de direita. Embora o atual momento político guarde características que são de fato novas, muitas contradições que hoje estão aparentes para o conjunto da sociedade são, na verdade, características intrínsecas do capitalismo heteropatriarcal e racista. Hoje falamos em “plataformização” do trabalho e destruição do vínculo laboral. Há muito falamos da precarização do trabalho e da vida das mulheres e homens.

    “Extrativismo, megaprojetos, cortes em educação, saúde, privatização dos comuns, do Estado e mudança climática são todas manifestações concretas da lógica predatória que organiza o neoliberalismo”, listou. Desde territórios diversos, as mulheres denunciam há tempos que esta organização é incompatível com a vida.

    Nalu reafirmou que temos a tarefa militante de refletir, historicamente, sobre o papel e a formação do Estado. Neste momento, é preciso considerar a anormalidade da conjuntura. Forjar uma suposta normalidade democrática nos coloca de frente para falsos dilemas e, sobretudo, falsas soluções. “Não há como estar nos espaços de poder sem um processo de construção de poder popular, de organização e mobilização permanente”, nos lembra.

    Ela completa dizendo que o capitalismo se consolidou com um discurso de liberdade que falseia a realidade, o que não significa que a liberdade e a democracia não sejam uma luta de quem quer superar este sistema econômico e político. “Somos quem melhor podemos falar de liberdade e democracia, porque queremos construir condições para que elas aconteçam. Queremos acumular forças para uma mudança mais forte e transformadora”, afirma Nalu.

    Para Clarisse, “a ideia dos comuns vem como um instrumento de enfrentamento ao processo de mercantilização e de esvaziamento da política”. Os comuns dizem respeito à natureza, à nossa comunicação feminista, à luta contra-hegemônica, aos nossos espaços auto-organizados e populares. São, portanto, uma das chaves fundamentais para nossa organização, que precisa “cumprir seu necessário papel diante dos ataques do capitalismo”.

    Cindy, da MMM dos EUA, refletiu sobre as sínteses e convergências na construção da economia feminista como alternativa e estratégia de luta e de força popular para transformar as estruturas de poder e as bases que sustentam a vida.

  • Desafio de organização de feminismo anticapitalista é discutido pela Marcha Mundial das Mulheres

    Desafio de organização de feminismo anticapitalista é discutido pela Marcha Mundial das Mulheres

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Na tarde desta terça-feira (18), o seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), que reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio no centro de São Paulo, entre os dias 17 e 19 de junho, discutiu os desafios do movimento feminista na nova ordem neoliberal.

    O debate coletivo partiu de grupos em que as participantes refletiram sobre as dinâmicas do feminismo em seus países e regiões, identificando questões comuns e desafios para a construção de um feminismo antissistêmico. É comum a avaliação de que as mulheres são a principal força de resistência e confrontação ao ascenso da extrema direita em diferentes partes do mundo.

    Mas também é comum a percepção da tendência de mercantilização e instrumentalização do feminismo, com a apropriação fragmentada de slogans despolitizando os conteúdos. Isso é perceptível tanto na atuação de grandes empresas transnacionais, que passam uma maquiagem lilás em sua atuação de exploração do trabalho e acaparamento dos territórios – estratégia também encontrada no âmbito da luta socioambiental – como pela forma como a Organização das Nações Unidas (ONU) tem reformatado os discursos de gênero e defesa dos direitos das mulheres.

    Coletivamente, reafirmamos que o feminismo que queremos é aquele que muda a vida das mulheres para mudar o mundo, e muda o mundo para mudar a vida das mulheres, em um só movimento. Este feminismo tem no centro um compromisso profundo com a transformação da sociedade, com a luta pelo fim do capitalismo, do patriarcado e do racismo, porque entendemos que estes sistemas de exploração são base da opressão que vivemos. Não nos basta representação nesta sociedade. Queremos uma sociedade inteira nova.

    Para construí-la, é preciso acumular os aprendizados e experiências, e também participar da organização do tempo presente, como refletiu Sandra Morán, da MMM da Guatemala, que compôs a coordenação da mesa. Nesse sentido, é preciso construir sínteses políticas e organizativas considerando as diferentes gerações políticas que se encontram no feminismo.

    E por isso o foco do debate foi o desafio da organização permanente, para além de grandes datas de mobilização. Apostamos na auto-organização das mulheres, como sujeito político e no processo de reorganização das relações econômicas, e portanto, da vida em âmbito local. Esta nova organização social vem sendo construída, cotidianamente, pelas mulheres, a partir de seus territórios. Questionamos a violência e o fazemos ao mesmo tempo em que criticamos e apontamos o sistema que possibilita que essas violências sejam reproduzidas e naturalizadas. Para nós, transformar a sociedade é romper com a divisão sexual do trabalho, com o extrativismo e a militarização dos corpos, vidas e territórios. Para Nalu Faria, da MMM do Brasil, que também coordenou a mesa, “muitas vezes, as experiências concretas das mulheres já confrontam o patriarcado. O processo é importante. É um desafio nosso conseguir que a palavra ‘feminismo’ reúna esse conjunto de experiências, que são muito mais do que as ideias reduzidas e banalizadas que se espalham”.

    Desde o nosso feminismo, reafirmamos que é preciso fazer uma crítica integral ao sistema capitalista, patriarcal e racista. O desafio é conectar as lutas por autonomia sobre o corpo, a sexualidade e a vida, com a resistências as novas estratégias de colonização dos nossos corpos e territórios. As participantes afirmaram o feminismo como um movimento social, não apenas como um comportamento e um discurso, ou seja, como um processo político de um sujeito coletivo. A classe é uma dimensão central nesse movimento, assim como é o reconhecimento de que as mulheres trabalhadoras, camponesas, negras, quilombolas e indígenas tem sido sujeitos coletivos, capazes de grandes mobilizações e de confrontos cotidianos ao capitalismo racista e patriarcal. Um desafio – que também é resistência – é não permitir que essas lutas sejam apagadas e ocultadas do presente como já foram na história. Sobre isso, Nalu concluiu: “é urgente que sejamos capazes, desde o campo antissistêmico, de construir uma força que possa inspirar outros setores para que participem desse processo”.

    “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres” é o nosso lema e horizonte. O repetimos sempre porque reconhecemos nossa diversidade e ela é nossa potência. Somos muitas e só seremos livres quando todas forem.

  • Seminário internacional feminista segue com discussão sobre resistências nos territórios

    Seminário internacional feminista segue com discussão sobre resistências nos territórios

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Nesta terça-feira (18), tem continuidade o seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres. Nesta manhã, o debate intitulado “Resistências nos territórios: acúmulos, lições e desafios” contou com a participação de Alessia Dro, que é membro do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e integra o Movimento de Libertação das Mulheres do Curdistão, Sophie Ayoo Ogutu, que é militante da MMM no Quênia e atua na articulação de organizações populares feministas em seu país, e Osawa Binesh Albert, que é membro do conselho da Rede Indígena de Meio Ambiente (IEN) dos Estados Unidos. A discussão foi mediada por Chung-Wha Hong, diretora da Grassroot Internacional.

    Mulheres insurrecionárias

    Alessia apresentou reflexões sobre a resistência das mulheres curdas e propôs um questionamento coletivo sobre o que é a política para as mulheres. A área de atuação do Movimento de Libertação das Mulheres do Curdistão corresponde ao norte da antiga mesopotâmia, que foi dividida pelos colonizadores. De acordo com ela, apesar desta divisão, o povo curdo sempre teve uma tradição de organização junto de outros povos e, sobretudo, uma tradição de insurreição popular. A última – das 29 que ela contabiliza – ainda está em curso.

    Hoje as mulheres estão organizadas em comunas feministas e decidem coletivamente quem irá participar de comunas mistas. Elas resistem tanto ao poder do Estado quanto das corporações. Alessia defende que a organização social deve ter como base a comunidade e não a nacionalidade. Em sua visão, tanto o capitalismo quanto o estado-nação são projetos masculinos e patriarcais. “Precisamos ver a história não desde a civilização hegemônica dos Estados, mas sim desde a civilização democrática dos povos”, afirma. A partir destes princípios, as mulheres curdas resistem à militarização, ao autoritarismo e à intervenção religiosa.

    Feminismo em comunidade

    Sophie falou sobre a experiência de auto-organização das mulheres em comunidades no Quênia, resultado da resistência a diversas opressões. Como colônia britânica, o povo queniano foi muito explorado, sobretudo as mulheres. Ela relata que as mulheres caminham muito nas florestas por água, lenha e comida e que no caminho são violentadas sexualmente pelos colonizadores. Quando o estupro resulta em gravidez, após o nascimento os homens decidem se as crianças são mortas, e nestes casos as mulheres são banidas das comunidades.

    “Que tal se nos reuníssemos e vivêssemos juntas?” foi uma das questões que impulsionaram a aliança entre mulheres, a fim de sobreviver e transformar suas vidas e o mundo.  Atualmente “Umoja Uaso Village” (palavra que significa “juntas”) é o nome desse primeira comunidade, onde toda a economia, política e vida são organizadas coletivamente pelas mulheres. Depois dessa experiência exitosa, outras comunidades auto organizadas de mulheres tem sido construídas no país, como alternativa de sobrevivência e exercício de uma vida sem violência. Sophie afirmou a importância da articulação dessas experiências à luta feminista de resistência ao capitalismo, que concretizam o que é a economia feminista no âmbito local e se potencializa na construção da Marcha Mundial das Mulheres. “Resistimos para viver, marchamos para transformar” é justamente o tema da 5ª Ação Internacional da Marcha, que acontece em 2020. Esta é uma realidade vivenciada por mulheres diversas, em lugares também diversos do mundo.

    O capitalismo destrói a vida e a natureza

    Binesh contou sobre a resistência das mulheres indígenas nos Estados Unidos. Ela falou sobre a cosmologia de seu povo, que é conflitante com a visão ocidental. Para elas, proteger a terra e as águas é algo muito sério e importante, porque visualizam uma relação de dependência entre as pessoas e a natureza e, portanto, a responsabilidade com o cuidado – ao contrário do sistema capitalista, que calcula, banaliza e destrói os bens comuns. “Eles acham que é certo saquear a terra e varrer seu povo de lá”, diz ela. Uma das lutas das mulheres indígenas nos EUA é contra o desaparecimento e assassinato das mulheres, que acompanha a violação e expropriação das terras e dos territórios pelo chamado “progresso” do capitalismo.

    Ela também comenta que o governo Trump acirra a violência e as contradições, mas que, mesmo assim, a ideia de desenvolvimento cumpria este papel. “O desenvolvimento ataca as mulheres e a Mãe Terra”, critica. Há muito tempo, as mais de 500 nações indígenas dos EUA lutam contra o controle das corporações nos territórios.

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    Resistência é vida

    A força dessas experiências de construção de resistência e auto-organização popular e feminista inspiram os debates dessa manhã, que contribuem para a construção do imaginário político do mundo onde queremos viver, dos desafios e contradições que encontramos no caminho de sua construção. A discussão coletiva afirmou a centralidade de empreender lutas que ao mesmo tempo resistam à violência e exploração do capitalismo racista e patriarcal, mas que construam simultaneamente sociedades baseadas na igualdade, justiça e solidariedade. A expressão curda “Berxwedan Jiyane” (“resistência é vida”) sintetiza essa visão política que orienta o feminismo internacionalista da Marcha Mundial das Mulheres.

    Nesta tarde, as discussões seguem, com o tema “Feminismo em movimento”.

  • Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal

    Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    A segunda discussão do primeiro dia do Seminário Internacional “Resistência e construção de Movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), teve o “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo” como tema central, na tarde desta segunda-feira (17).

    A mesa de debate teve mediação de Tica Moreno, que é da coordenação executiva da MMM no Brasil, e participação de Graça Samo, que é coordenadora do Secretariado Internacional da MMM, sediado em Moçambique, Karin Nansen, que é fundadora e presidente da rede Amigos da Terra – Internacional, que atua com foco em justiça ambiental, social e de gênero, e Wendy Cruz, que é integrante da Via Campesina, articulação que reúne organizações e movimentos camponeses de todo o mundo.

    Wendy afirmou que estamos vivendo um desaparecimento do estado como garantidor de direitos e que, em contrapartida, há um falso discurso sobre representatividade que faz algumas mulheres se sentirem parte deste sistema que produz ganância e desesperança. Ela alertou que o capitalismo tem maneiras diversas de se recompor e que nós, que lutamos contra este sistema, temos que forjar novas estratégias para enfrentá-lo.

    É preciso, segundo ela, apontar a concretude deste sistema de morte. Os megaprojetos, o agronegócio e a militarização dos corpos e territórios, que são expressões desta organização patriarcal e neoliberal, são atentados contra a vida. Não se pode permitir que estas violências se normalizem. Para ela, as respostas coletivas a esta realidade também têm que ser concretas. Para a Via Campesina, a soberania alimentar e dos povos é esta proposta de resistência. Neste sentido, a economia feminista também é uma aposta de longa data.

    Para Karin Nansen, é sob as bases da economia feminista que se deve construir a crítica à crise econômica, cuja causa é o modo de funcionamento do sistema capitalista, onde os bens comuns e o trabalho das mulheres são compreendidos como fontes inesgotáveis de exploração. Romper com este sistema, portanto, é romper com a divisão sexual do trabalho. Se hoje as mulheres são linha de frente nas lutas socioeconômicas, é porque há um compromisso profundo com a transformação do mundo e da vida das mulheres e não por uma conexão natural.

    Karin lembra que as mulheres também são protagonistas da luta contra a militarização. Em diversos territórios, a militarização tem estreita conexão com as empresas transnacionais, que utilizam o aparelho repressivo do estado para defender seus interesses corporativos. Para ela, a resistência para tantas violências está na construção do poder popular.

    Graça Samo acredita no mesmo. Para ela, é preciso que as mulheres estejam juntas para enfrentar os “gigantes” deste sistema que mata, todos os dias. É a partir das experiências das mulheres que se torna possível pensar em soluções para a espoliação. Graça também defende que o movimento feminista antissistêmico precisa ter agenda própria e valorizar os próprios processos organizativos. De acordo com ela, a cooptação e o ataque às lutas feministas sempre existiram, mas a organização coletiva é capaz de resistir a estes processos.

    Para Tica Moreno, do Brasil, a diversidade de experiências e de mulheres que compõe as organizações feministas antissistêmicas deve ser uma fortaleza, ao invés de fonte de fragmentação. São estas organizações que têm a capacidade de fazer uma crítica integral ao sistema capitalista e colocar a defesa da vida como interesse central.

    Com estas reflexões, encerrou-se o primeiro dia de Seminário Internacional. A atividade reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio e é um espaço de formulação de reflexões estratégicas.